Nikole olhou para a enorme mansão à sua frente na ilha de Milos e não pôde deixar de lembrar de seus pais. Foi por ter feito uma promessa à mãe recém falecida, que estava ali em uma das mais belas e caras ilhas da Grécia.
O que ela não pode imaginar é que essa visita iria mudar drasticamente sua vida. Impaciente, olhou para o relógio e viu que eram quase cinco da tarde. Às seis sairia a última barca da ilha e ela não podia perder. Já estava esperando há mais de duas horas para ser recebida. - O Sr Smiths vai receber a Srta agora! A governanta em seu uniforme impecável a recebeu na entrada da mansão. - Obrigada! Entrou na imponente mansão e seguiu a mulher até um escritório no final do extenso corredor. A sala era decorada com os melhores móveis que o dinheiro pode pagar. Parece ter saído de um desses filmes onde tudo era perfeito, Sofás de couro, cadeiras forradas de veludo vermelho e móveis de madeiras nobres. Sentado à mesa, um idoso e ao seu lado um jovem de uns vinte e seis ou sete anos, a encarava com atenção! Era Dominico Zaffari, um gênio na administração das empresas Smiths e herdeiro da complicada família Zaffari. Com seu talento e vontade férrea, era um jovem muito respeitado na Grécia. - Sr. Arturo, a Srta Smiths. O rosto do Sr de uns setenta e poucos anos empalideceu sobre a pele bronzeada. - Você é... - Nikole Smiths. - Eu sou Arturo Smiths, como deve saber. E esse é Dominico Zaffari. Com um aceno de cabeça, Nikole deu um rápido olhar ao homem que não tirava os olhos dela, deixando um certo desconforto. - Desculpe incomodar, minha mãe pediu para entregar esse objeto em suas mãos. Tirou da mochila uma caixa requintadamente talhada a mão. Arturo conhecia bem aquela caixa, pertenceu a sua finada esposa cujo rosto estava impresso na figura à sua frente. Não tinha como negar, ela era a cópia fiel de Nikolina. - Então Helena teve filhos! - Na verdade, só uma filha. Eu! Arturo abriu a caixa e lá estava o conjunto de pérolas negras raríssimo, que pertenceu a sua esposa. - Sempre achei que sua saúde frágil não lhe permitiria ser mãe. Nikole sorri com desdém. - Então sou um milagre da vida. Arturo abriu o pequeno pedaço de papel que retirou do envelope e leu com as mãos trêmulas de emoção. "Sr Smiths, se está lendo essas linhas, é porque nem eu nem seu filho estamos mais nesse mundo. Nikole não tem ninguém por ela, se houver um pouco de compaixão em seu coração, cuide dela. Ela não tem mais ninguém nesse mundo e nem culpa do nosso passado. Helena Smiths." - Você sabe que esse conjunto é raro e custa uma fortuna? - Não tenho a mínima ideia! - Porque quis devolver? - Foi uma promessa que fiz para minha mãe em seu leito de morte. Espero que sua alma, agora descanse em paz! - Não vejo sentido em devolver. Minha esposa deu a ela e ao seu pai. - Era a vontade dela, minha missão está cumprida. Agora eu preciso ir, com licença. - Para onde você vai? Nikole verificou as horas, eram quase cinco da tarde. - A barca sai às seis, não posso perdê-la. - Hoje é feriado, a última saiu às quatro da tarde. Só pode ser brincadeira! O motorista do Uber disse que sairia as seis da tarde a última barca para o continente. - Obrigada por informar. Adeus, Sr Smiths, passar bem! - Onde você pretende ir? Eu disse que não tem transporte. - Vou verificar se há outro jeito de sair daqui. Caso contrário vou para um hotel! - Não existe outra forma. Também não é adequado você ir para um hotel. O que as pessoas vão pensar de mim ao saber que minha neta está num hotel? Foi um choque ouvir essas palavras. Havia uma tensão no ar e um certo desconforto também. - Ninguém sabe quem sou, não pretendo divulgar qualquer parentesco entre nós. - Nem precisa. Além do nome, você e a cópia fiel de sua avó. - Que seja, não pretendo passar a noite aqui. Dominic falou pela primeira vez: - Você não tem outra opção, basta eu dar um telefonema e nenhum dos hotéis na ilha vão te hospedar. - O Sr não seria capaz! Nikole não sabia quem era Dominico Zaffari, mas a hostilidade era evidente em seu rosto. - Não quero fazer isso, acabei de descobrir que tenho uma neta e ela quer se hospedar em um hotel? A gente tem muito que conversar, então fique aqui e vamos colocar tudo em ordem. - Sr Smiths, não tem mais o que discutir. A caixa já foi entregue, faça de conta que nunca estive aqui. - Impossível! Nunca soube da sua existência. Agora que sei, não posso simplesmente ignorar. Por favor, fique aqui e vamos nos conhecer melhor. A voz embargada do velho deixava claro sua emoção, surpresa e vontade de conhecer melhor a neta. Dominico não deixou espaço para discussão. - Claro que ela vai ficar! Srta Nikole por aqui por favor, vou acomodar você. Pegou ela pelo braço e saiu do escritório. A pressão aumentou assim que fechou a porta atrás deles. - Não engoli essa história de promessa. Mas já que está aqui, não vou permitir que contrarie o padrinho. - Eu não tenho que dar satisfação a você. Agora me solte, estou de saída. - Não vai a nenhum lugar! O padrinho tem problema no coração e não pode se exautar, se ele tiver uma dor de cabeça por sua causa, vai se arrepender de ter aparecido aqui. A governanta estava por perto e logo que ele chamou, se materializou ao lado deles. - Ivana, coloque ela em um dos quartos de hóspedes. Não deixe que saia daqui essa noite! Virou sem olhar para trás se afastando enquanto falava: - O jantar é as oito, o padrinho não gosta de atraso. Furiosa Nikole bateu o pé no chão. - Ditador arrogante! Ivana sorriu com suas palavras. - Ele não é tão assustador como parece, só está tendo dias difíceis. - A culpa não é minha? - Srta Smiths, venha vou te levar ao seu quarto. - É normal obrigar uma estranha a ficar contra vontade? - Você não é estranha! Nikole ficou chocada com a declaração de Ivana. - Claro que sou! Nunca estive na Grécia e nunca vi essas pessoas. - Não tem como negar que você é da família. Venha, vou te mostrar! Entrou conduzindo Nikole até a sala onde uma foto enorme estava pendurada na parede central. A mulher da foto era a cara de Nikole em todos os detalhes. - Essa é Nikolina, não tenho dúvidas que seja sua avó. Claro, ela sabia que parecia com a avó. Só não imaginou que fossem idênticas.De volta ao escritório, Dominico encontrou Arturo pensativo. - Melhor descansar um pouco padrinho. O Sr teve um dia agitado hoje, o médico disse que precisa evitar emoções fortes. - Parece até que minha Nik está de volta. Talvez seja a reencarnação dela. Dom não acredita nessa possibilidade e está desconfortável com a situação. Era muita coincidência o aparecimento de Nikole, e mais ainda, ser a cópia fiel de Nikolina Smiths. - Temos que investigar, pode não ser sua neta. Já pensou nisso? - Não tem como negar. Ela é a cópia fiel da avó. - Padrinho, sei que está feliz em encontrar uma neta, e ainda por cima tão parecida com a madrinha. Mas temos que ser cautelosos, ela pode ser uma vigarista querendo se aproveitar. - Não tem como! Até a voz é parecida com a da Nik. E as jóias? Como ela teria acesso se não fosse filha do Demi?- Charlatões têm recursos para tudo. Vou mandar avaliar as pérolas e ver se são verdadeiras. - Claro que são! Esse é o conjunto que dei à minha mu
Nikole correu para amparar a avó, ao mesmo tempo que Sofia resmungava: - Velha estúpida! Até então, Nikole estava se segurando para ignorar Sofia. Sua paciência chegou ao fim. - Escuta aqui sua menina mimada, pode me atacar que não ligo, mas a minha avó, você respeita! Alessa emocionada, chorava enquanto Nikole a ajudava a se levantar, abraçou a avó emocionada, ambas com olhos cheios de lágrimas. - Vá para seu quarto Sofia. - Mas tio eu.. - Não vou falar de novo, você ultrapassou todos os limites! Batendo o pé, ela saiu fazendo um barulho alto com seus saltos. - Venham, vamos deixar as duas conversarem um pouco. Arturo saiu com o restante da família. - Vovó, eu sou Nikole. Estou feliz em te encontrar. Alessa levou a neta para fora da casa e se sentaram no jardim. Ela nunca soube que tinha uma neta e também não sabia que a filha havia falecido. Devido a anemia falsiformica, sempre se supôs que Helena não poderia ter filhos. - Eu sinto muito vovó, não sabia onde te encontra
Dominico se aproximou, a deixando sem ação. - Está com calor e agitação, o beijo que te dei mexeu com você não foi? - Você se acha demais Dominico Zaffari! - Então não vai ter nenhum problema em te beijar de novo. Só para tirar a prova. - Fica longe de mim seu convencido. Nikole até se esqueceu de beber água, deixou o copo em cima da mesa e se virou para sair. Dominico não facilitou em nada para ela. Puxou-a em seus braços e novamente selou seus lábios com um beijo. A paixão violenta do beijo a deixou assustada, empurrando Dominico com toda a sua força, ela se libertou. No minuto seguinte, Nikole subia as escadas como dá outra vez, correndo como se houvesse visto um fantasma. Os lábios do rapaz se curvaram em um sorriso, algo em Nikole o deixava muito excitado. Depois de uma noite mal dormida, Nikole não conseguia entender a atitude de Dominico. Então ela se levantou cedo e se preparou para partir. Arrumou a cama, tomou um banho rápido, pegou sua mochila e desceu. Ia esperar
Terminando o café, Nikole acompanhou o avô até o escritório. - Sente-se Nikole! A forma que ele falava era mais branda do que usualmente usava. Seu rosto parecia abatido e cansado. - Estou muito feliz que esteja aqui. Não teve um único dia em que eu não pensasse em seu pai, e o quanto fui duro com ele. Arturo não a encarava e ela permaneceu em silêncio. - Minha esposa morreu de tristeza e saudades do nosso único filho. Não tenho como mudar isso, mas quero que você fique conosco e tenha uma família e a proteção que os Smiths podem te dar. - Não acho uma boa ideia. Eu tenho projetos e um trabalho que gosto muito. - Você é jovem e tem uma vida toda pela frente. Eu sou só um velho arrependido e cheio de remorso, se você ficar vou me redimir com seu pai de alguma forma. Acho que ele gostaria disso! - Realmente não posso ficar aqui, estou terminando meus estudos e pretendo estudar um pouco mais. - Posso pagar a escola que quiser, não importa o valor. Você terá acesso ao que há de
Passaram o dia andando pela ilha de Milos e Zacary era um ótimo guia. Almoçaram à beira mar e Nikole estava encantada com o lugar. Seu grego era impecável apesar de ter nascido na Itália e posteriormente mudado para a Espanha. Falava fluentemente quatro idiomas. O inglês foi necessário para a evolução de sua carreira. Como assistente administrativa de uma rede de varejo, era indispensável falar inglês. - Eu queria me desculpar pelas bobagens de Sofia. Não sei o que está acontecendo com ela. - Você não tem que se desculpar por ela. Sofia já é bem grandinha, sabe perfeitamente o que faz. - Não sei, sinto que ela tem ciúmes de você. - O que há para ter ciúmes? Claramente ela se orgulha de ser superior. Acho que tem prazer em humilhar as pessoas. - Perdemos nossos pais muito cedo, talvez ela se sinta insegura. - Isso não é desculpa para ser tirana e mal educada. - Ela sempre foi muito mimada. Estou tentando fazer com que entenda que o lugar que ela ocupa, originalmente é seu. -
Preocupada, Nikole viu sua avó se contorcendo de dor, com dificuldade a ajudou a se levantar. - Aguenta firme, vou pedir ajuda. Então se lembrou que os rapazes haviam saído e seu avô estava dormindo. - Vou te levar para o hospital. No living, estavam as chaves dos carros e ela pegou qualquer uma. Foi ao quarto da avó e pegou sua bolsa com os documentos, não encontrou Sofia em nenhum momento. Reunindo todas as suas forças, colocou Alessa no carro e desceu em direção ao centro de Milos. Aquela hora não tinha um único carro na rua e seu deslocamento foi rápido e preciso, sua memória fotográfica a ajudou a encontrar o caminho rapidamente. Logo sua avó estava sendo atendida e medicada. - Srta Smiths, sua avó foi sedada e deve acordar entre cinco a seis horas. No entanto, precisa ser enviada para o quarto ou para a enfermaria. Após discutir os custos de ambos, Nikole colocou sua avó em um quarto, sem pensar duas vezes. Faria a família Smiths pagar por todos os gastos. - Então vou b
- Tenha um pouco de compaixão, o padrinho está no final da vida. Não vê que tamanho desgosto vai fazer com que seu coração não resista? - Balela, Sr Smiths está muito bem e ninguém teve consideração com minha avó. Passou a vida servindo a família, o que ganhou em troca? Dominico não tinha como desculpar pelo que Sofia fez. Mas era injusto dizer que Alessa era maltratada pela família.. Frustrado, chegou ao hospital com Nikole irredutível. Não havia argumentos para que a fizesse mudar de ideia. Sentado de frente para o quarto, pelo vidro viu ela arrumar as coisas da avó. Depois se sentou em um canto e abriu o notebook sobre a mesa, ficando a mexer até que o resto da família chegou. - Como ela está Dom? - Ainda não acordou. A médica disse que ela terá que ficar hospitalizada por alguns dias. Abatido, Arturo olhou para a mulher frágil na cama. Pela primeira vez se sentiu incapaz de tomar uma atitude firme, Nikole estava furiosa com razão. Sofia estava ficando fora de controle
Apesar de ser descendente de gregos, Nikole tinha muito da cultura italiana onde nasceu e foi criada. Sua aparência natural e exuberante, eram naturalmente gregas, com um metro e setenta de altura. Tinha cintura fina e os quadris alargados, bumbum avantajado e seios tamanho G. Seu temperamento era o oposto, talvez por nascer na Itália. Nikole era dócil com as pessoas próximas e fria com outras. Sentimental e romântica, acreditava no amor verdadeiro e fiel. Seus pais eram a prova viva de amor profundo. - Nikole, você voltou! Ela se aproximou da avó e depositou um beijo em sua face. - Eu disse que voltaria! Está tudo bem? - Está sim! Você comeu alguma coisa? - Acabei de tomar café. Vou tomar um banho e descansar um pouco. Deliberadamente ela ignorou as pessoas a volta. - Venha, vou te levar para casa. - Obrigada Zacary! Vou ficar aqui com minha avó. Vocês podem ir agora, eu assumo aqui. - Nikole, a gente precisa conversar. - Não é um bom momento Sr Smiths. Estou realmente ca