Terminando o café, Nikole acompanhou o avô até o escritório.
- Sente-se Nikole! A forma que ele falava era mais branda do que usualmente usava. Seu rosto parecia abatido e cansado. - Estou muito feliz que esteja aqui. Não teve um único dia em que eu não pensasse em seu pai, e o quanto fui duro com ele. Arturo não a encarava e ela permaneceu em silêncio. - Minha esposa morreu de tristeza e saudades do nosso único filho. Não tenho como mudar isso, mas quero que você fique conosco e tenha uma família e a proteção que os Smiths podem te dar. - Não acho uma boa ideia. Eu tenho projetos e um trabalho que gosto muito. - Você é jovem e tem uma vida toda pela frente. Eu sou só um velho arrependido e cheio de remorso, se você ficar vou me redimir com seu pai de alguma forma. Acho que ele gostaria disso! - Realmente não posso ficar aqui, estou terminando meus estudos e pretendo estudar um pouco mais. - Posso pagar a escola que quiser, não importa o valor. Você terá acesso ao que há de melhor. - Falta poucos meses para concluir meu curso. Não vejo sentido em mudar agora! - Então volte para cá depois que terminar. Nikole sentiu uma dor de cabeça se aproximar. Não tinha intenção de se mudar para a Grécia e também não queria viver sob a asa do avô. Preferiu ser sincera. - Posso vir ocasionalmente para visitar, morar aqui não é uma opção. - Era a vontade de sua mãe, era isso que ela me pediu na carta. Chocada, Nikole não acreditou que sua mãe havia feito isso. Vendo sua expressão de incredulidade, Arturo retirou o papel da gaveta e entregou para ela. A letra de sua mãe não deixava dúvidas. O tempo todo, era esse o objetivo da visita. Ela ficou sem palavras, nunca iria supor que a mãe fizesse tal pedido ao homem que a expulsou da Grécia no passado. - Desculpe, minha mãe não deveria ter feito isso. Já sou uma mulher adulta, não precisa se preocupar comigo. desconsidere a carta, se soubesse que era sobre isso, não teria vindo. - Se não viesse, eu nunca saberia que tenho uma neta tão encantadora. Me perdoa em nome dos seus pais e vamos seguir em frente. Depois de conversar com o avô por mais de uma hora, Nikole não cedeu. Apenas se comprometeu a lhe fazer algumas visitas periódicas, mas continuaria morando e estudando na Espanha. Ao sair do escritório, não foi novidade encontrar Dominico. Este a empurrou para um quarto próximo sem lhe dar chance de fuga. - Não pense que me engana! Seu exatamente porque está aqui. Com o sangue já esquentando, Nikole o encarou desafiadora. - O que pensa que sabe? Você não me conhece ou sabe qualquer coisa sobre mim. - É muita coincidência você aparecer justo agora que saiu em todos os jornais a fusão do grupo Smiths com o grupo Zaffari. Mas a fusão já aconteceu há mais de um ano, agora e que tornamos público. - Não sei nada sobre isso e não estou interessada! - Não engulo sua falta de pretensão, e acho que você é uma impostora. - Terminou? Tenho outras coisas para resolver. Nikole não iria dar a ele o gosto de saber que a tinha irritado. - Vou querer um teste de DNA e saiba, vou te investigar até te conhecer melhor do que você mesma. - Boa sorte para você! Quanto ao DNA pode esquecer, não tenho que te provar nada. - Se é realmente filha do Demitre, não tem que se preocupar. - Não estou nem um pouco preocupada, sei quem sou! Dom não conseguiu segurar ela, saindo do quarto foi direto até a cozinha falar com sua avó. - Vovó, vou sair para dar uma volta. Quero conhecer um pouco a ilha antes de partir. - Não vai só. Depois do almoço vejo alguém para te acompanhar. - Não se preocupe, vou ficar bem. - O que você quer comer? Seja o que for, faço para você. - Não vou almoçar aqui. Vou sair e fazer umas compras, como qualquer coisa na rua. - Eu vou te acompanhar no passeio. Onde quiser ir eu te levo. Zacary apareceu atrás delas. - Não precisa se incomodar! - Não é nenhum incomodo. Estava esperando você terminar para te oferecer um passeio por aí. - Vai com ele querida, assim eu fico mais tranquila. - Está bem vovó. Até mais tarde! Assim que entrou no carro com o rapaz, ela informou: - Preciso comprar algumas coisas, se puder me deixar em uma loja. - Tudo bem, eu já prévia isso. Desceram para a área comercial e Zacary parou em uma loja. Mas, ao ver o estilo das roupas, Nikole não ficou satisfeita. - Tem outra loja por aqui? - Essa é a mais famosa da ilha de Milos. As pessoas vêm de longe só para comprar aqui. Ela não queria magoar o rapaz, mas as roupas ali eram bem do estilo de Sofia. Nada de práticas para o dia a dia. - As roupas aqui não combinam comigo. Quero algo mais casual para o dia a dia, essas são praticamente todas roupas de festa. Sem contar que os preços eram bem elevados. Apesar de ganhar bem, Nikole estava pagando um empréstimo que fez para pagar as despesas da mãe no hospital. A empresa descontava direto em seu contracheque, não era o momento de gastar sem pensar. - Acho que sei um lugar. Zacary a levou para o carro e pouco depois entraram em uma galeria onde de cara já se via várias lojas. Satisfeita, ela escolheu três vestidos básicos, um conjunto de malha, duas blusas e duas calças. Também separou um par de chinelos, uma sandália baixa e uma sapatilha. - Pode deixar que pago para você. Ele estendeu o cartão para a vendedora. - Não é preciso Zacary. Já me ajudou bastante. Nikole recusou e deu seu próprio cartão. - Não me custa nada. Além disso, quero te dar um presente e demonstrar minha alegria de ter você aqui. Ela o abraçou agradecendo, enquanto fazia um sinal para a moça passar seu cartão. - Só de me trazer para conhecer a ilha já é uma ótima recordação. Vai ser inesquecível, tenho certeza. Tudo foi tão rápido que o rapaz nem se deu conta. Quando ela o soltou, pegou o cartão e as sacolas, pronta para sair. - Obrigada Sra, volte sempre! - Obrigada a você.Passaram o dia andando pela ilha de Milos e Zacary era um ótimo guia. Almoçaram à beira mar e Nikole estava encantada com o lugar. Seu grego era impecável apesar de ter nascido na Itália e posteriormente mudado para a Espanha. Falava fluentemente quatro idiomas. O inglês foi necessário para a evolução de sua carreira. Como assistente administrativa de uma rede de varejo, era indispensável falar inglês. - Eu queria me desculpar pelas bobagens de Sofia. Não sei o que está acontecendo com ela. - Você não tem que se desculpar por ela. Sofia já é bem grandinha, sabe perfeitamente o que faz. - Não sei, sinto que ela tem ciúmes de você. - O que há para ter ciúmes? Claramente ela se orgulha de ser superior. Acho que tem prazer em humilhar as pessoas. - Perdemos nossos pais muito cedo, talvez ela se sinta insegura. - Isso não é desculpa para ser tirana e mal educada. - Ela sempre foi muito mimada. Estou tentando fazer com que entenda que o lugar que ela ocupa, originalmente é seu. -
Preocupada, Nikole viu sua avó se contorcendo de dor, com dificuldade a ajudou a se levantar. - Aguenta firme, vou pedir ajuda. Então se lembrou que os rapazes haviam saído e seu avô estava dormindo. - Vou te levar para o hospital. No living, estavam as chaves dos carros e ela pegou qualquer uma. Foi ao quarto da avó e pegou sua bolsa com os documentos, não encontrou Sofia em nenhum momento. Reunindo todas as suas forças, colocou Alessa no carro e desceu em direção ao centro de Milos. Aquela hora não tinha um único carro na rua e seu deslocamento foi rápido e preciso, sua memória fotográfica a ajudou a encontrar o caminho rapidamente. Logo sua avó estava sendo atendida e medicada. - Srta Smiths, sua avó foi sedada e deve acordar entre cinco a seis horas. No entanto, precisa ser enviada para o quarto ou para a enfermaria. Após discutir os custos de ambos, Nikole colocou sua avó em um quarto, sem pensar duas vezes. Faria a família Smiths pagar por todos os gastos. - Então vou b
- Tenha um pouco de compaixão, o padrinho está no final da vida. Não vê que tamanho desgosto vai fazer com que seu coração não resista? - Balela, Sr Smiths está muito bem e ninguém teve consideração com minha avó. Passou a vida servindo a família, o que ganhou em troca? Dominico não tinha como desculpar pelo que Sofia fez. Mas era injusto dizer que Alessa era maltratada pela família.. Frustrado, chegou ao hospital com Nikole irredutível. Não havia argumentos para que a fizesse mudar de ideia. Sentado de frente para o quarto, pelo vidro viu ela arrumar as coisas da avó. Depois se sentou em um canto e abriu o notebook sobre a mesa, ficando a mexer até que o resto da família chegou. - Como ela está Dom? - Ainda não acordou. A médica disse que ela terá que ficar hospitalizada por alguns dias. Abatido, Arturo olhou para a mulher frágil na cama. Pela primeira vez se sentiu incapaz de tomar uma atitude firme, Nikole estava furiosa com razão. Sofia estava ficando fora de controle
Apesar de ser descendente de gregos, Nikole tinha muito da cultura italiana onde nasceu e foi criada. Sua aparência natural e exuberante, eram naturalmente gregas, com um metro e setenta de altura. Tinha cintura fina e os quadris alargados, bumbum avantajado e seios tamanho G. Seu temperamento era o oposto, talvez por nascer na Itália. Nikole era dócil com as pessoas próximas e fria com outras. Sentimental e romântica, acreditava no amor verdadeiro e fiel. Seus pais eram a prova viva de amor profundo. - Nikole, você voltou! Ela se aproximou da avó e depositou um beijo em sua face. - Eu disse que voltaria! Está tudo bem? - Está sim! Você comeu alguma coisa? - Acabei de tomar café. Vou tomar um banho e descansar um pouco. Deliberadamente ela ignorou as pessoas a volta. - Venha, vou te levar para casa. - Obrigada Zacary! Vou ficar aqui com minha avó. Vocês podem ir agora, eu assumo aqui. - Nikole, a gente precisa conversar. - Não é um bom momento Sr Smiths. Estou realmente ca
De volta ao quarto da avó, Nikole estava inquieta. Era tudo muito novo para ela e não sabia como lidar com a situação. Seu instinto lhe dizia que isso não iria terminar bem. - Hora da sua medicação vovó! Ajudou a avó a se acomodar e lhe serviu água para tomar os remédios. Na sequência, aplicou hidratante nos braços e pernas dela, penteou seus cabelos e fez massagem em algumas partes do corpo. Dominico observava admirado ela cuidar de Alessa. Quando o almoço veio não foi diferente, com paciência Nikole alimentou a avó que tinha o braço direito imobilizado. Terminando a tarefa, era hora dela almoçar e ele bateu na porta antes de entrar. - Nikole, podemos almoçar no restaurante do hospital? - Vou pedir para enviar aqui mesmo. Obrigada! - Vá lá filha, é bom que você se distrai um pouco. Nikole só mudou de ideia para não deixar a avó preocupada. Mas, ainda não tinha concluído sua reflexão sobre ela e Dominico. - Está bem, não me demoro. - Pode almoçar com calma, não tenha pressa
Na mansão, Arturo estava dando um duro sermão em seus sobrinhos. - Nikole é minha única neta. Eu falhei com ela por acreditar em você Sofia, não vou tolerar mais nenhuma provocação contra ela. - Desculpa tio! - Não é comigo que você deve se desculpar. E bom se entender com Nikole ou as coisas vão ser diferentes. O remorso e arrependimento estavam acabando com Arturo. E para piorar, Nikole sequer queria falar com ele. Nikole havia tirado dez dias de férias, quatro já se passaram e ela precisava voltar para casa. No entanto, a saúde da avó a fez ficar em Milos. - Vovó, vou ficar mais quatro dias com você e depois tenho que ir. Era segunda-feira, dia em que ela iria embora. Alessa ficou exultante com a notícia. - Eu fico feliz. Se dependesse de mim, você não sairia mais daqui. - Vem comigo, não tem porque continuar aqui. - Assim que me aposentar, eu vou morar com você. Nikole passou a data de sua formatura para ela se programar para ir, mas não lhe deu o endereço. - Vou te en
Nikole não sentia pena, a garota era arrogante e merecia uma boa lição. Ela não iria amaciar. - Para começar, tire a mesada dela. Ela terá que se ocupar de coisas úteis, assim aprende a valorizar o trabalho das outras pessoas. - Tio, eu não sei fazer nada. - Não sabe porque se acha melhor que todo mundo. É hora de aprender e sem fazer corpo mole. - Eu vou arrumar uma ocupação para ela. Arturo falou sem sequer olhar para ela. - Ela pode fazer o trabalho da minha avó. - Impossível! - Nada é impossível! Minha avó está incapacitada por sua causa. Ou então, fico satisfeita se for olho por olho. Nem Zacary ou Zander se manifestaram até então. Zacary estralou a língua enquanto Zander deixou escapar: - Isso é loucura! Nikole olhou feio para ele, não se deixou intimidar. - Ela agredir e machucar minha avó é normal, se o mesmo acontecer com ela é loucura? Onde está a igualdade e o respeito? - Foi um acidente que ela se envolveu em um momento de raiva. - Nossa! Então se eu estive
Deus, ela é perfeita! Os olhos dele não conseguem se desviar da visão de Nikole, nesse momento ele soube que estava perdido. Nikole é perfeita em todos os sentidos, sim, ela é uma deusa! Foi com um esforço sobre-humano que ele se controlou antes de se aproximar da cama. - Nikole, acorde! Sem resposta após chamar várias vezes, ele a sacudiu e nada. Foi até a porta e pediu para enviar uma camareira e chamar um médico. - O que aconteceu Sr Zaffari! - Eu não sei, ela está em um sono profundo e não acorda. A camareira veio e foi instruída a vestir Nikole, pouco depois o médico também chegou. - O que ela tem, doutor? - Aparentemente nada. Apontou para a cartela de remédios no criado e explicou : - Ela tomou remédio para dormir, deve estar esgotada só a medicação não iria deixar ela assim. Ou tomou uma dose maior que a recomendada. - O que fazer agora? O alívio era evidente na voz de Dominico. - Deixe ela dormir e acordar naturalmente. seria bom se alguém a monitorasse a noite.