Capitulo 4

Alana Miller

Olhei-me no espelho pela milésima vez. O vestido branco que cobria meu corpo parecia mais uma prisão do que um símbolo de pureza. A renda, as pérolas, o véu… nada disso me faz sentir como uma noiva sonhada. Era como se fosse cada centímetro do tecido, o peso de uma decisão que não ficou mais pesada. O reflexo que eu via não era o meu, mas o de alguém que havia sido comprado.

Fechei os olhos, tentando ignorar o aperto no peito, mas ele só aumentou.

Meu pai sempre disse que o dinheiro era a solução para todos os problemas. Quando ele me contou sobre o acordo com Anthony Ferraz, ainda não consegui entender completamente. A dívida dele com o homem mais rico da cidade, que sempre me pareceu intocável, fora finalmente salgado, mas não de uma maneira qualquer. Ele me deu como garantia. Me deu como moeda de troca.

"Alana, isso é uma oportunidade, filha. O Ferraz pagou as dívidas, e agora ele quer você. Você tem que fazer isso. Isso é o melhor para todos nós", meu pai falou com aquele olhar frio e pragmático.

E eu? O que eu queria? Queria ser ouvida, queria ser entendida, queria uma escolha. Mas não, não havia espaço para minhas opiniões, nem para meus sentimentos. Eu era apenas uma mercadoria em uma troca de favores que nunca escolhi.

Anthony Ferraz... Eu o conheço de nome, claro e o vi pela primeira e única vez em nosso "noivado". O magnata, o empresário de sucesso, o homem que controlava tudo o que podia. Sempre com seu sorriso confiante e seus olhos calculistas, como se nada escapasse ao seu controle. Eu era apenas uma peça em um tabuleiro de xadrez. E quando meu pai me contou que ele havia pago todas as dívidas e que, em troca, pediu minha mão, uma sensação de impotência foi avassaladora.

Agora, enquanto me preparava para a cerimônia, senti um nó na garganta, como a corda no pescoço de alguém que vai para a forca. Eu não poderia sequer imaginar como seria minha vida ao lado dele. Não havia espaço para amor, para carinho. O que existia entre nós era um contrato planejado de casamento. Ele pagou, para mim, ter. Eu não era uma esposa, era um bem adquirido.

O vestido me apertou em alguns pontos, como se ele também estivesse me sufocando. O brilho das joias parecia mais uma armadilha, e a maquiagem no meu rosto me fazia sentir como uma boneca. Uma boneca de porcelana que seria entregue a um homem que já sabia exatamente o que esperar de mim.

O barulho das vozes do lado de fora me tirou dos meus pensamentos. Minha mãe, com seu sorriso imposto, dando os últimos ajustes, e meu pai, que caminhava de um lado para o outro, verificando se tudo estava em ordem. Todos ficaram tão empolgados, tão felizes. Mas ninguém via o que eu via. Ninguém sabia o que eu estava sentindo. Não havia espaço para isso. A alegria deles estava em ver suas dívidas pagas, seus problemas resolvidos, e minha tristeza era irrelevante.

Quando a porta se abriu, vi o reflexo do meu pai no espelho. Ele me olhou com uma expressão satisfeita, como se estivesse prestes a presenciar um grande evento.

— Está pronta, filha? — Ele disse com um sorriso. Eu não respondo imediatamente. O peso daquelas palavras era demais. Estava pronta, sim. Mas não para o que ele imaginava. Estava pronta para ser entregue a um homem que, na verdade, não me queria por quem eu era, mas pelo que eu representava.

Fui obrigado a sorrir, porque era isso que ele esperava de mim. Desculpe, como se eu estivesse feliz, como se essa fosse a melhor coisa que poderia acontecer na minha vida. Mas não era. Nada disso era. E, no fundo, eu sabia que, por mais que ele me dissesse que isso era o melhor para todos, a única coisa que realmente importava era o quanto ele havia ganho com isso. Eu não era uma filha para ele, era apenas uma moeda de troca.

E ali estava eu, disposto a seguir para o altar, com meu coração esmagado, sabendo que não havia mais volta.

Caminhei pelo corredor estreito que levava à sala principal, sentindo o peso de cada passo. O som dos meus saltos ecoava nas paredes, um lembrete cruel de que não havia para onde fugir. Quando finalmente alcancei o topo da escadaria que dava para o salão, meu olhar caiu sobre as dezenas de rostos ansiosos. Eles estavam ali para testemunhar o que deveria ser o “dia mais feliz da minha vida”. Que ironia.

Anthony Ferraz estava de pé no altar. Seu terno preto impecável e sua postura ereta faziam dele uma figura intimidadora. Ele era exatamente como eu lembrava: frio, calculista, quase mecânico. Seus olhos se encontraram com os meus, e por um momento achei ter visto algo diferente ali, mas talvez fosse apenas a minha mente pregando peças. Eu sabia o que ele era, sabia o que representava, e nada poderia mudar isso.

Desci os degraus devagar, cada passo mais difícil que o anterior. Minha mãe caminhava ao meu lado, ajustando o véu que cobria parcialmente meu rosto. “Mantenha a cabeça erguida, Alana”, ela sussurrou, como se isso pudesse fazer alguma diferença. Como se uma postura impecável fosse o suficiente para esconder o caos que se instalava dentro de mim.

Quando cheguei ao corredor principal, meu pai estendeu o braço. Hesitei por um segundo antes de segurá-lo. Sua expressão era de orgulho, como se ele estivesse entregando uma obra-prima ao comprador mais exigente. Não consegui evitar o nó na garganta. Ele era meu pai. Ele deveria me proteger, mas ali estava ele, me entregando de bandeja para um homem que ele mal conhecia.

A marcha nupcial começou, e os convidados se levantaram. Tudo parecia uma cena de filme, uma cena que eu não queria protagonizar. Meu coração batia descompassado, e por um instante pensei em correr. Mas correr para onde? Para quem? Não havia ninguém esperando por mim do outro lado.

Quando finalmente cheguei ao altar, meu pai soltou meu braço e deu um passo para trás, deixando-me sozinha diante de Anthony. Ele me ofereceu sua mão, e eu, relutante, a segurei. Sua pele era fria, como gelo. Seu aperto era firme, quase possessivo. Ele não sorriu, nem tentou me confortar. Apenas me olhou, como se estivesse analisando cada detalhe, cada fraqueza.

O celebrante começou a falar, mas eu mal conseguia ouvi-lo. Minha mente estava a mil, buscando uma saída, uma solução. Mas não havia. Eu estava presa. E o pior de tudo era saber que ninguém ali se importava.

Quando chegou o momento dos votos, Anthony foi o primeiro. Sua voz era grave, controlada, como se cada palavra tivesse sido ensaiada. Ele falou sobre compromisso, sobre responsabilidade, mas nunca mencionou amor. Porque amor não fazia parte desse acordo.

Então chegou a minha vez. O celebrante me olhou, esperando que eu repetisse as palavras que ele dizia. Minha boca secou, e por um momento pensei que não conseguiria falar. Mas então, algo dentro de mim despertou. Um desejo ardente de lutar, de resistir, de não me deixar ser esmagada por aquela situação.

— Eu… — comecei, minha voz saindo baixa, quase um sussurro. Respirei fundo, tentando encontrar forças. — Eu… não posso fazer isso.

O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. O celebrante parou, confuso, e Anthony estreitou os olhos, como se não tivesse ouvido direito. Meu pai, que estava no primeiro banco, levantou-se imediatamente, sua expressão mudando de orgulho para raiva em questão de segundos.

— Alana, o que você está fazendo? — ele sibilou, mas eu o ignorei.

Soltei a mão de Anthony e dei um passo para trás. Minha respiração estava pesada, meu coração parecia prestes a explodir. Mas, pela primeira vez em meses, senti algo diferente. Senti liberdade.

— Eu não posso continuar com isso. Não quero me casar com você — disse, olhando diretamente para Anthony. Minha voz tremia, mas minhas palavras eram firmes. — Eu não sou uma mercadoria. Eu não sou um pagamento. Sou uma pessoa, e mereço mais do que isso.

O salão inteiro estava em choque. Murmúrios começaram a surgir entre os convidados, mas eu não me importei. Pela primeira vez, eu não me importei com o que eles pensavam.

Anthony me observou por alguns segundos, sua expressão indecifrável. Então, para minha surpresa, ele deu um passo para trás e ergueu as mãos em rendição.

— Se é isso que você quer, Alana, eu não vou forçá-la — disse ele, sua voz calma, quase… resignada. — Mas saiba que eu quero todo meu dinheiro de volta com juros.

Meus olhos não podiam acreditar naquela cena, sem pestanejar olhei para o celebrante e falei:

— Continue a cerimônia.

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