Alguém tentou abrir a porta, que estava trancada por dentro. Respirei fundo, sabendo que havia sido salva por alguém, já que estava disposta a talvez transar de qualquer jeito.Abri a porta, observando o garoto à minha frente, confuso.- Eu... Acho que entrei no banheiro errado. – Mencionei, arfando, as bochechas completamente vermelhas, parecendo pegar fogo.O rapaz não disse nada. Saí e quando ele tentou entrar Pedro também saiu:- Acho... Que também errei de banheiro. – Pedro justificou.Pedro pegou minha mão e andamos até a porta próxima da sala. Lá ele me beijou novamente e então entramos na aula. Fazer Inglês talvez fosse útil futuramente. Mas ficar com ele... Ah, aquilo não tinha preço. Seriam todas as manhãs, juntos, sentando lado a lado.E claro que eu não sabia porra nenhuma e havia entrado numa turma avançada. E Pedro teria que me ajudar, já que era bom no Inglês.Decidi fazer a prova de direção durante a noite, já que tinha feito as aulas sempre à noite então imaginei que
Ouvimos a gargalhada de meu pai de dentro do quarto:- Está brincando, Josephine? Claro que não irei embora. Esta casa é minha.- Tão sua quanto minha. Quero que pegue suas coisas e vá!- Se atreva a me tirar... Prefiro botar fogo nesta porra do que deixar para você e seus filhos.- “Nossos” filhos! Eles também são seus.- Tenho minhas dúvidas... Afinal, você é uma vagabunda.Não esperei o final da discussão. Saí correndo para fora de casa e abri o portão, atravessando a rua e apertando a campainha do vizinho da frente.Pouco me importei se ele havia acabado de enviuvar. Nós precisávamos de ajuda.Assim que o senhor Félix abriu a porta, percebi sua surpresa ao me ver:- Clara?- Senhor Félix, pode ligar para a Polícia, por favor? – Pedi.- Polícia? – Ele veio para fora da casa, parando na minha frente, do lado de dentro do próprio pátio.- Meu pai... Está fora de si... E ameaçando minha mãe. Por favor... – Implorei, tentando não chorar, embora meus olhos estivessem vermelhos e inchado
Ouvi a respiração de minha tia de forma profunda antes de me dizer:- Clara, meu amor... Eu irei embora de Laranjeiras.Levantei a cabeça do colo dela, encarando-a:- Como assim?- Recebi uma boa proposta de trabalho no litoral. E estarei deixando a cidade em breve. Pode ficar aqui até eu partir... Ou mesmo ir comigo se quiser. Eu ficaria feliz em levá-la junto. Sei que você ama o mar e esta coisa de surf e...Não ouvi mais nada. Na minha mente só veio Pedro Moratti. Não, eu não conseguiria ficar longe dele. Quantas encarnações levei para encontrá-lo para simplesmente perdê-lo por conta de meu pai? Eu não sabia quantos anos, séculos, milênios, minha alma procurou pela dele. E agora que o encontrei, não podia deixá-lo. Era como abrir mão de mim mesma... Da minha felicidade, de todo amor que busquei a vida inteira. Já tive a sorte de achá-lo ainda na nossa juventude. Afinal, poderia ser no fim de nossas vidas e a convivência ser breve, de meses, dias ou mesmo horas. Mas não... Fui agra
Assim que vi Flora naquele quarto todo branco, mais parecendo o paraíso, para quem entrava no céu, fiquei totalmente consternada. Eu não havia morrido para saber onde se parava depois da morte, mas sim, acreditava em Deus e num lugar onde todos vestiam branco, andando descalços sobre a grama, exatamente como mostrava na novela “A viagem”.Dei um beijo na senhora Amorin, que estava sentada numa poltrona de couro branca. Eu queria dizer mil coisas, mas nada saiu da minha boca.Parei ao lado da cama e vi minha melhor amiga, a pessoa mais incrível que conheci na vida, adormecida feito um anjo. Seus cabelos escuros e lisos estavam sobre o travesseiro e o semblante parecia tranquilo... Sim, porque Flora era tão doce e meiga que raramente transparecia irritação ou mesmo raiva por qualquer coisa.O rosto de Flora era triangular e tinha lábios grossos e grandes. O nariz era perfeito, emoldurando-se de forma simétrica à face.Enquanto eu a observava, Flora abriu os olhos grandes e expressivos.
Certamente seria chamada de vagabunda e talvez até levasse algumas bofetadas. Mas por Flora eu estava disposta a enfrentar as consequências de minha chegada em casa fora do horário.- Clara, meu marido foi até sua casa, falar com seu pai.- Foi?Ela assentiu e pegou minha mão:- Preciso que fique aqui esta noite com Flora. Você é a melhor amiga dela e sei o quanto se gostam. E... Minha filha precisará muito de você.- Eu... – fiquei confusa – Tudo bem. – Acabei concordando.- Você sabe quem é o pai do bebê?- Não! – Respondi imediatamente.Se Flora havia decidido não contar, eu faria o mesmo. E não era por Renan ser meu irmão, mas por ela ter tomado aquela decisão.- Vocês não são melhores amigas, Clara?- Sim, somos. Mas Flora não me conta muitas coisas, senhora Amorin. Sempre foi muito discreta, apesar de eu contar tudo sobre a minha vida a ela.- Flora sempre foi muito calada... E contida.- Ainda assim eu respeito o jeito dela. E a amo da mesma forma.A mãe de Flora sorriu e pegou
Naquele final de semana encontrei Renan na locadora de CD’s. O local era numa pequena galeria, onde ficava uma agência de correios, uma loja de vestuário feminino e havia um pequeno bar com algumas poucas mesas em madeira que colocavam na área externa, que interligava as quatro lojas.Meu irmão locou alguns CD’s de heavy metal, que era o que mais gostava e eu fui parar na sessão de surf music, vendo se tinha alguma coisa ali que eu já não tinha locado e gravado.- Tem um CD novo do Hoodoo Gurus que chegou esta semana – o dono da loja me mostrou.Peguei o CD na mão e suspirei, olhando para os demais na parte de baixo da parede. Uma vez eu havia perguntado ao dono da locadora por qual motivo os das bandas de surf music ficavam tão embaixo, sendo ruim para observar o que escolher. A justificativa dele era de que havia pouca procura por aquele estilo/ritmo de música. E ainda explicou que exceto eu, só havia outra pessoa que tinha uma certa obsessão por aquelas bandas.Eu sabia quem era a
- E se eu reprovar? Ainda assim ganharei meus beijos?- Todos eles... Nenhum a menos. Mas sei que vai conseguir.Suspirei:- Pelo menos estou “limpa”... Sem drogas.Pedro gargalhou:- Não teve drogas nenhuma das vezes, sua doida. Era só melissa.Pus as mãos em torno da nuca dele e iria puxá-lo para um beijo quando o meu instrutor chamou:- Clara, você vem ou não?Suspirei e fui. Eu era a aluna última a fazer o exame de direção.Praticamente já sabia como funcionava tudo. Assim como tinha certeza de que o avaliador não era o mesmo. Aliás, não repetiu em nenhuma delas.Pus o cinto de segurança, já que aquilo havia aprendido para sempre. E mais uma vez mal saí da garagem e “morri” na baliza.Quando saí do carro não bati a porta, não gritei enfurecida com o avaliador e sequer briguei com o instrutor.Avistei Pedro e fui calmamente na sua direção.- E então? – Ele perguntou, ansioso.- Adivinha?- Passou?- Não.Ele riu:- É... Brincadeira, não é mesmo?- Acha que eu estaria brincando? Ach
POV PATRICKJá fazia quase três meses que Clara não havia mandado mais uma única carta sequer. Eu estava na frente de casa quando o carteiro chegou, retirando alguns envelopes de sua sacola.- Bom dia, senhor Huxley. – Cumprimentou.- Bom dia. – Peguei as correspondências da mão dele, ansioso.- São todas para a senhora Huxley. – Avisou, acenando e seguindo em frente.Mesmo ele tendo garantido que nenhuma era minha, olhei uma por uma, para ter certeza. E realmente nada estava com meu nome como destinatário.Não que eu estivesse sentindo falta das cartas... Elas eram insignificantes. Inclusive eu estava pensando em jogá-las fora... Quando tivesse coragem. Afinal, quando eu não estava muito bem, elas faziam bem ao meu ego.O que teria acontecido com a fedelha? Será que estava apaixonada? Teria me esquecido?Clara não era feia. E era jovem, alegre e cheia de vida. Certamente mais cedo ou mais tarde encontraria alguém que se apaixonaria por ela... E talvez se apaixonasse também e me esque