- Acho que precisamos parar para comer alguma coisa, Clara. – Disse Artemis, me olhando de canto enquanto dirigia.
- Não... Por favor! – Me apavorei.
- Estou dirigindo há mais de seis horas.
- Eu... Talvez possa pegar a direção e ajudá-lo. Mas não podemos parar, Artemis. Precisa dirigir... Até que o dia acabe. – Implorei.
- Ele não nos encontrará, Clara. Não se preocupe.
- Por favor... – Meus olhos se encheram de lágrimas.
Artemis suspirou:
- Tudo bem. Mas... Não aguento tanto tempo. Sei que você tem medo de dirigir, mas talvez precise tomar o volante alguma hora. Garanto que a autoestrada é tranquila. Me parece bem seguro dirigir na Austrália.
- Eu tento... Juro que tentarei.
Eu tinha dormido boa parte do tempo e agora que despertei sentia meu corpo todo tenso e dolorido, como se tivesse passad
- O que escreveu?- “- E como posso encontrar minha outra parte? – perguntou Brida. - Correndo o risco do fracasso, das decepções, das desilusões, mas nunca deixando de buscar o amor. Quem não desistir da luta, vencerá.”- O que isto quer dizer?- Pode ter inúmeros significados, Artemis. Mas quando juntei letra por letra, formando cada palavrinha, não escolhi este pensamento a toa. Eu estava tentando dizer a Patrick que nunca desisti... Que sabia que um dia, venceria. E esta é a minha vitória... – sorri, abrindo o vidro e sentindo o ar fresco revirar meus cabelos – Eu vivi o fracasso... Todos os tipos de decepções e desilusões. Mas nunca deixei o buscar o amor... No fundo do meu coração... Porque Pedro jamais saberá, mas sempre esteve comigo.Pus o corpo para fora do carro e abri os braços, g
POV PEDROFoi como se instantaneamente todo o saguão do aeroporto ficasse numa temperatura de 0°C. Meu corpo gelou completamente... Principalmente o estômago.E embora eu me mantivesse olhando para frente, fingindo para mim mesmo que não a vi, sentia seu olhar me queimando, como se quisesse derreter todo o escudo que meu corpo acabara de criar para se proteger dela.Era como se eu não tivesse forças para ficar ali, tão próximo, no mesmo ambiente que aquela mulher.Me vi andando em direção ao banheiro, olhando para o chão, fingindo que não existia nada mais importante do que os ladrilhos azuis com branco.Assim que abri a porta do banheiro, entrei na primeira cabine que vi aberta e tranquei-a, sentando-me no vaso sanitário, sentindo o corpo tremer como se estivesse completamente doente... E ela fosse o único remédio.Apertei a pasta entre meus
POV CLARA- Eu... Vou ao banheiro. – Avisei Artemis, levantando do meu assento.Segui pelo corredor e fui ao banheiro que tinha ao final dele. Sentei-me na privada do pequeno espaço e abri minha bolsa. Dela retirei um analgésico, para aliviar minha dor de cabeça... Um Dramin, para acabar com o enjoo... Um Betina, para melhorar a tontura e completei com dois Valium, para terminar com a minha existência, de uma forma branda. Eu só queria dormir. E nunca mais acordar.Assim que ingeri o último comprimido, voltei para o meu assento.- Como é a sensação de estar livre e voltando para casa? – Artemis perguntou-me, com um sorriso.Peguei a mão dele e forcei um sorriso:- Sabe que é engraçado depois de onze anos descobrir que não sei o que é “casa”? Porque embora eu amasse a Austrália... Nunca me senti como estando em casa.
Despertei na enfermaria do aeroporto, sentindo uma leveza no corpo que parecia que havia morrido e despertado em outra dimensão. Olhei para o lado da maca e vi Artemis, com a cabeça abaixada, as mãos nas têmporas, parecendo preocupado.- Pelo visto... Não morri! – Brinquei.Ele me olhou, parecendo bem brabo:- Não mesmo! E não morrerá... Ao menos não enquanto eu estiver ao seu lado.- Eu... Não sei do que está falando.- Joguei a porra dos seus remédios fora. Onde conseguiu aquilo tudo?- Na farmácia... Do aeroporto.- Se tentar se matar de novo, eu mato você.Comecei a rir e ele não se deu ao trabalho de sequer mover os lábios, com olhar recriminador na minha direção:- Isso não é engraçado.Sentei-me na maca e abaixei a cabeça:- Prometo não f
- O conheço o suficiente para saber que ele jamais me perdoaria... – Sorri, olhando para o céu – Acho que vou gostar do Hawaii. Você já esteve lá?- Eu não! O máximo que cheguei foi na Austrália.- Se eu pedisse para você assinar antes de partir um documento dizendo que não me sequestrará por anos, me obrigando a fazer suas vontades, vivendo só para satisfazê-lo enquanto tudo que me dá em troca é dor e sofrimento... Assinaria? – Sorri sem jeito, sendo o mais sincera possível.Artemis me abraçou e aos poucos fui deitando a cabeça em seu peito:- Tudo isto passou, Clara. Você é livre, mulher! Em breve voltará a usar seu sobrenome de solteira e tudo que sobrará é a triste lembrança do tempo que passou ao lado de Patrick.- Ficaram marcadas na alma... E foram onze longos an
Eu já estava no Hawaii quando soube que Sophie Huxley havia morrido, ao Artemis me mostrar uma pequena nota num jornal online australiano. Não que Patrick fosse importante no país, mas Sophie era considerada uma socialite, já que sempre tentou frequentar a alta classe.- Ela não caiu da escada... – Falei, preocupada, sentindo uma onda de frio, num ambiente a quase 30°C, passando pelo meu corpo – Foi ele.- Clara... Patrick pode ser violento, traiçoeiro, ciumento, possessivo... Mas assassino? Eu nasci praticamente com ele... Nos criamos juntos. Eu sei o quanto ele sempre amou a mãe.- Patrick matou a própria mãe! O psicopata busca uma posição de superioridade, quer demonstrar que tem o poder e controle e faz isso degradando e humilhando suas vítimas. Alguns sentem essa sensação com a tortura, outros com o momento do assassinato e tem quem vá ma
- Não importa onde esteja, irei encontrá-la, Clara.- Não tenho medo de você.- Será que seu irmão também não tem?Senti meu coração acelerar:- Do que está falando?- O que você achou do seu sobrinho? É um lindo bebê, não?Meu Deus! Do que Patrick estava falando? Sentei-me na areia, pois minhas pernas tremiam tanto que já não me mantinham de pé. O pesadelo havia voltado à minha vida.- Vai dizer que você não conheceu ainda o filho de Renan? - Não... Eu... Não fiquei em Noriah Norte.- Ah, Clara, eu fico tão feliz em ouvir isto. Por um momento achei que pudesse ter ficado lá e estar no Hawaii somente a trabalho. Isto quer dizer que está morando nos Estados Unidos?- Patrick, é a minha vi
Naquele mesmo ano parti para República Dominicana com uma equipe de filmagem que faria um documentário sobre Mick Fanning, o campeão mundial de surf de 2009. Achei interessante a proposta, já que Mick havia sido ofuscado por seu antecessor e sucessor, que era, incrivelmente, a mesma pessoa: Kelly “Hell” Slater, que a cada vez que dizia que iria se aposentar, levava uma taça de melhor do mundo, abocanhando o título em 2008, 2010 e 2011.Se era meu maior sonho ir para República Dominicana acompanhada de pessoas que eu mal conhecia? Não, não era. Mas era um lugar pequeno e certamente ninguém ouvira falar de Clara Huxley por lá.Quando comentei sobre minha decisão com Artemis, logo ele achou que pudesse ser por conta de Patrick. E embora fosse, eu não queria preocupá-lo, até porque me sentia razoavelmente segura.Patrick me fez voltar a falar com meu irmão, embora aquela não fosse sua intenção. Só queria me botar medo... Quando no fim me fez um bem enorme lembrar que eu ainda tinha famíli