Pus a mão na maçaneta da porta, tentando abri-la, mas estava trancada.- Eu quero sair. – Minha voz soou trêmula, enquanto eu tentava me impor e não demonstrar medo.Patrick alisou minha coxa sob o vestido de tecido fluido, fazendo meu corpo arrepiar-se de pânico e temor. Senti as pernas tremerem de pavor e a respiração ficar acelerada.Olhei para a rua e só via as luzes dos postes iluminando o caminho coberto de chuva intensa, que fazia com que todos procurassem abrigo em algum lugar assim como a visibilidade ficava praticamente nula de fora para dentro, o que me impossibilitava de ser socorrida por alguém.- O que quer de mim, Patrick?- Faz quantos anos que fugiu de mim? Oito?- Queria o que? Que eu ficasse presa para o resto da vida no alto de uma montanha na Austrália?- Achei que éramos felizes.- Nunca fomos. Eu fingi... Por 11 anos eu menti... Eu nunca fui feliz ao seu lado. Mas cumpri com o prometido. Você pegou toda a sua herança. O que quer mais?- Não é sobre o dinheiro, C
Fui até a lateral da pista onde ambos estavam e peguei uma pedra grande que encontrei e não pensei duas vezes, segurando-a com força e mirando na cabeça de Patrick, atingindo-o com um golpe certeiro, que ao gemer de forma forte caiu desacordado no chão.Fiquei em estado de choque, vendo o sangue na pedra, que começava a escorrer pela água da chuva. Artemis levantou-se com dificuldade e foi até Patrick e tocou seu pescoço.- Ele... Não está respirando... Está... Morto. – Me olhou, com os olhos arregalados, em pânico.Fiquei do mesmo jeito que estava, sem me mover, segurando a pedra com a qual havia o golpeado.Artemis veio até mim e pegou-me no colo, levando-me em direção ao seu carro. Me pôs sentada no banco pelo lado do motorista, ainda com a pedra na mão e sentou-se ao volante, dando a partida.Eu olhava para frente, sem dizer nada, sentindo todo meu corpo tremer, como se Artemis dirigisse em câmera lenta.- Respire fundo... Respire fundo, Clara... Estamos vivos... Então está tudo b
- Oi, mãe! – Sorri, não impedindo as lágrimas.Naquele momento chorar não era sinal de fraqueza e sim de alegria... Alegria pelo reencontro, depois de tantos anos.Minha mãe veio até o portão e o abriu e ficamos nos olhando, como se antes de matarmos a saudade através de um abraço precisássemos viver aquele momento de reconhecimento.Josephine em 19 anos não tinha envelhecido e sim remoçado. Foi como se ela tivesse voltado dez anos antes desde o momento que parti.- Você... Está linda, mãe! – Sorri.Ela veio lentamente até mim e me abraçou com tanta força que chegou a doer meus ossos. Senti suas lágrimas mornas molhando meu ombro enquanto não conteve um gemido de talvez surpresa por estarmos novamente juntas.Assim que me soltou, pegou-me pelos ombros e beijou minha testa, descendo pelo nariz, queixo, bochechas e cada um dos olhos.- Eu quero me certificar... De que isto é verdade! Que não é um sonho! – Falou, num fio de voz.Toquei com minhas duas mãos suas maçãs do rosto, quentes e
- Claro. – Ele foi em direção ao telefone.- Irei junto.- Se não se importa... Eu gostaria de fazer isto sozinha. – Pedi – Podemos combinar de irmos juntas amanhã. O que acha?- Claro... Pode ser. Mas você acabou de chegar. E já vai sair?- Preciso ir, mãe. Voltarei melhor, acredite.Ela me deu um beijo na testa e fomos para a frente da casa esperar o táxi, que chegou em menos de cinco minutos.Enquanto eu me dirigia para o lugar onde reclamei a vida toda de morar e nunca fiz nada para mudar o que tanto me incomodava, pensei em Pedro e no nosso encontro no aeroporto.Por mais que eu quisesse pensar que pudesse ter visto errado, que ele naquela fila fosse somente uma imagem projetada da minha cabeça, sabia que era verdade. Pedro sequer olhou nos meus olhos. Fingiu que eu não existia, que nunca me viu em toda sua vida.Como eu conseguiria fazê-lo me ouvir?Sim, eu tinha muito a lhe dizer, porém não poderia obrigá-lo a me escutar. Já havia mandado uma mensagem com boa parte do que queri
- Pai? – Ouvi a voz infantil e o menino abrindo a porta do quarto, deparando-se com dois marmanjos chorando.Renan levantou-se e pegou a mão do filho, orgulhoso:- Clara, quero que conheça Junior, seu sobrinho. Filho, esta é a minha irmã Clara, da qual lhe falei.Observei o menino de cabelos castanho-claro e olhos azuis. Tinha o sorriso do pai, assim como o formato dos olhos e corte de cabelos. Era bem alto para a idade.- Oi, Junior. É um prazer conhecê-lo! Eu acho que sou... Sua tia. – Limpei uma lágrima boba que fugiu dos meus olhos.O menino me deu um abraço, sem que eu pedisse. Alisei seus cabelos fininhos e macios e senti o cheiro adocicado que me remeteu à infância.Meu irmão havia engravidado Flora no passado e ela, por sua vez, fez um aborto sem consultá-lo. Ele havia mencionado que mesmo que ela tivesse pedido sua opinião, teria concordado com a ação da garota. Mas não tinha como saber se Renan realmente aceitaria caso os dois tivessem sentado e conversado sobre o assunto. E
- Vi um vídeo no YouTube dia destes, de propaganda enquanto assistia o seu canal.- Eu aposto que este LP era algo de valor inestimável.- Certo que sim... – Sorri, acariciando as bochechas quentes do garoto.Junior desligou o celular e deitou virado para mim:- Boa noite, tia Clara.- Boa noite, Junior.- Boa noite, papai.- Boa noite, meu anjo. – Renan deu um beijo na testa dele e deitou-se ao seu lado, pondo o braço sobre seu corpinho.- Vocês sempre dormem juntos? – Perguntei baixinho, para não quebrar o clima de sono.- Sim... Sempre! – O menino sorriu.Na manhã seguinte, assim que levantamos, organizamos nossas coisas, pegamos alguns itens que gostaríamos de guardar de recordação e Renan nos deixou na casa de minha mãe. Quando vi que ele sairia com o carro novamente, perguntei:- Onde vai?- Vou buscar um pote de sorvetes. Junior adora comer de sobremesa.- Acho que ele puxou a tia. – Brinquei.- Quer ir junto?- Não! Quero evitar um encontro... Sem planejar. Acho que eu não agu
Senti o rosto queimar e um frio espalhar por minha espinha, parando no estômago. Meu corpo ficou completamente travado, como de costume.Flora certamente percebeu o pânico nos meus olhos:- Clara, está tudo bem?- Não... Não está... – Certamente pelo nervosismo, deixei o celular cair de minhas mãos, espatifando no chão – Eu... Preciso de ajuda.A mulher riu, de forma sarcástica:- Mais uma vez? Voltamos no tempo?Não falei nada. Parecia que o destino queria me pregar uma peça. A vida inteira Flora me ajudou e justo quando me pedia um favor, por mais absurdo que fosse, eu lhe negava. Eis que novamente precisava desesperadamente de socorro. E não havia a quem recorrer... A não ser ela e Pedro.- Preciso de você! – Implorei, jogando fora toda soberba e orgulho que tive um dia.Na verdade, nem era ela em si que poderia me ajudar. E sim Pedro, que eu sabia que era bem conhecido no ramo jurídico em Noriah Norte.- Eu ajudo! Em troca, você fará o que pedi. Dormirá com ele.- Será só uma vez?
Aquilo me doeu como se ela tivesse cravado uma faca no coração. Eu tentava não ser uma filha da puta desde o dia que parti de Laranjeiras, no início do ano 2000. Mas naquele momento senti meu sangue ferver:- Renan tem um filho, que se chama Junior. O menino tem 9 anos. É um fofo.- Ele... Casou? – Foi nítida a dor nos olhos dela.- Ele é feliz... Muito feliz. – Devolvi a frase.- E você é feliz, Clara?Eu ri:- Felicidade? Defina felicidade, por favor... Esta palavra não existe mais no meu dicionário.- Eu serei feliz se quando me for, Pedro ficar com você.- Está louca?- Não acho que ele tenha me amado algum dia. Quero que Pedro se sinta livre e com meu consentimento para que fiquem juntos.- Não... Precisamos do seu consentimento... – Fiquei confusa e tentei me defender.- Pedro não ficaria com você em hipótese alguma se eu não permitisse.O que ela queria? Me destruir definitivamente? Eu não tinha como sofrer ainda mais. Foram 19 incontáveis anos vivendo de passado e tentando seg