- Josephine? – Me impressionei ao vê-la na frente da minha casa, certamente me esperando.
De súbito senti meu coração acelerar, achando que fosse algo sobre Clara. Um recado... Uma notícia... Ou que simplesmente aquela mulher me dissesse que estava ali para me acordar do pesadelo que eu estava tendo há anos... E que voltaria para 1999, ao lado da “minha querida”, recomeçando os nossos planos exatamente de onde paramos: a casa, os dois filhos, a rede na varanda, os cachorros...
- Eu... Gostaria de conversar com você, Pedro. É possível?
- Claro! Entre. – Abri o portão e ela me acompanhou.
Josephine Versiani era uma mulher bonita, embora sofrida. Sua beleza estava escondida sob os cabelos sem corte, o rosto natural, com olheiras profundas e as roupas gastas.
Ela sentou-se antes mesmo de eu convidar. Fiz o mesmo, me pondo ao seu lado.
- O que desej
- Você não deve ter sabido do que houve...- Não... – Fiquei curioso.- Quando falamos sobre a sua mãe... E tudo que houve... Eu tive coragem de falar ao meu marido tudo que sempre desejei, que estava entalado na minha garganta há mais de vinte anos... Depois disto arrumei as minhas malas...- E não foi embora... Porque ele teve um infarto! – Meio que previ o que ela diria.Josephine respirou fundo e pegou minhas mãos novamente:- Eu fui. – Sorriu de forma triste.- Você... Conseguiu? – Fiquei impressionado e senti meu coração acelerar.Fiquei feliz por ela. E senti orgulho por Josephine ter, depois de tantos anos, conseguido se libertar.- Fui embora... Mas não consegui me livrar dele.- Como assim?- Joaquim teve um AVC.- De novo?Ela riu:- Parece loucura, não é mesmo? Mas Clara
Joaquim ficou me olhando, sem dizer nada. E eu não sabia se aquilo me deixava bem, por saber que ele nunca mais falaria ou faria mal a qualquer outra pessoa ou me dava raiva, por querer que ele pudesse ao menos tentar se defender e brigar comigo.Balancei a cabeça, atordoado e respirei fundo:- A vida inteira eu pensei em encontrá-lo e vingar o estado em que você deixou minha mãe... Numa cama de hospital, sem perspectiva de voltar a ser quem sempre foi. Eu... Tinha tantas coisas para lhe dizer. Esperei fazer 18 anos para ter acesso ao processo, já que minha vó me impediu de todas as formas a ter acesso ao seu nome. Quando cheguei a maioridade, pareceu que tudo conspirava para eu não conseguir saber a verdade... – Ri – E talvez fosse o destino agindo... Em favor de mim e Clara.Joaquim virou o rosto e olhou para o teto. Peguei sua face o obriguei-o a me encarar, mesmo a contragosto:- Sabe o que é mais estranho nisto tudo? Eu vim aqui para falar da minha mãe... Mas tudo que consigo pen
- Por me beijar? Sente por ter me dado um beijo, é isto? – Ela ficou confusa.- Eu... Sinto muito por... Tê-la tocado sem talvez você querer...- Sabe que não precisa pedir permissão de uma mulher para um beijo, não é mesmo?- Eu sei... – Ri, balançando a cabeça e me flagrando do quanto estava sendo idiota.- Eu também quis. Não se culpe.- Não estamos fazendo nada errado, Flora.- Eu... Sei. – Ela desviou os olhos dos meus, parecendo confusa.O garçom acompanhou um casal e puxou a cadeira para a mulher que se sentou de costas para nós. Quando o homem ocupou o lugar à frente dela, deparamo-nos com Renan Versiani. E os olhos dele estavam fixos nos de Flora.Observei-a imediatamente e percebi o quanto ficou inquieta e constrangida com a situação. E aquele olhar... Ah, eu conhecia aquele olhar. Era de amor... Amor verdadeiro, daquele que nada apagava da mente. Amor que não importava o que acontecesse, ainda estaria dentro de seu coração.Remeti-me à noite na minha casa, quando olhamos Ti
- Eu só fiz uma brincadeira, cunhado! – Renan bateu no ombro dele, rindo.Patrick depois de um tempo começou a rir também, parecendo entender que meu irmão estava brincando, tentando desta forma talvez se aproximar um pouco dele.- Vou falar com a cozinheira que ficarão para o jantar. – Avisei, indo em direção à cozinha, sem me preocupar com a confirmação deles.Eu e meu irmão conversamos sobre muitas coisas, mas nada muito pessoal, até porque não tivemos um minuto sequer sozinhos. Ouvimos as histórias dos vários países que eles haviam conhecido e Patrick confessou que tinha vontade de se aventurar naquilo futuramente. Minha sogra, por sua vez, deixou claro seu desejo igual ao do filho, me fazendo rir sozinha, certa de que ela não nos deixaria viajar enquanto casal, já que fazia questão de se intrometer na nossa vida o
- Sim... Estou... – Fingi que não havia sido atingida diretamente no coração e que a notícia sobre meu pai era a que menos me importava.POV PATRICKDuvidei que a conversa deles tivesse se resumido àquilo. E Clara era esperta a suficiente para não falar sobre Pedro na minha frente, já que sabia o quanto aquele assunto mexia comigo, mesmo que eu não falasse sobre.Mostrei-lhes as pranchas que eu estava produzindo e torci para que Renan e a esposa logo fossem embora. Eu não esperava pela visita deles. Imaginei que trocando o número de telefone seria o suficiente para tirá-los da vida de Clara. Mas uma vez que sabiam onde morávamos, poderiam vir a qualquer hora que quisessem.Para minha sorte logo que voltamos para a casa, eles foram embora, mesmo sob protesto de Clara para que ficassem mais tempo.Quando Renan e Talía se foram, percebi os ol
Eu estava no hospital com Patrick quando o médico deu a notícia de que ele havia quebrado a mão e precisava de cuidados, já que tinha também trincado um osso do braço.Aquele foi um mês horrível, já que tive que deixar meu trabalho por conta que Patrick não aceitava que ninguém além de mim o ajudasse. O pior foi ele não poder surfar, o que o deixava ainda mais irritado e mal humorado.No entanto naquela tarde ele foi comigo para a praia. Enquanto eu peguei minha prancha e entrei no mar, meu marido ficou com a sua na areia, junto de meus equipamentos, enquanto me observava.Eu não era uma surfista. Só usava a prancha para passar as ondas e poder sentar-me nela ao fundo, onde elas não mais existiam, a fim de contemplar o sol ou a lua, num lugar onde eu conseguia me conectar comigo mesma. Ao longe eu ouvi o revirar das águas e fechava os olhos quand
- Podemos fazer muitas coisas... – Ele alisou minha cintura.- Não gosto de sexo a ponto de viver disto. – Falei seriamente.- E se fosse com ele? – Patrick perguntou, parando de repente.- Do que você está falando?- Que eu gostaria de entrar nos seus pensamentos.- Eu... Tenho direito de pensar... Sem que você interfira nisto.- Naquela noite... Chorava por ele.- Não. – Menti.- Clara, para o seu próprio bem, recomendo que esqueça Pedro Moratti.Engoli em seco e o questionei, preocupada:- Pedro Moratti? Desde quando sabe o sobrenome dele?- Eu tenho dinheiro, Clara.- Você... Mandou alguém atrás dele? – Fiquei incrédula.- Não.- Mandou sim... Ou não saberia o sobrenome dele, já que nunca mencionei.- E se eu tivesse mandado alguém para saber sob
Deitei a cabeça no vidro, enquanto Patrick falava sem parar. E eu sequer conseguia prestar atenção nas palavras dele... Porque elas pouco me importavam. Tudo passava rápido pelos meus olhos... Eu via tudo e ao mesmo tempo nada. Exatamente como minha vida: tive tudo... E agora não tinha nada.Quando o carro parou, percebi que estávamos em frente a um Pronto Socorro. Patrick pegou-me nos braços e levou-me para dentro do lugar, deixando o carro com a chave na ignição, fazendo com que meus olhos só conseguissem focar no chaveiro que ficou a balançar enquanto segurava a chave, como se aquilo fosse a coisa mais importante do mundo. E mesmo vendo as pessoas de branco na minha direção, nos meus ouvidos ainda ecoava o som do carro ligado do lado de fora.Fui posta numa maca e levada para enfermaria. Recebi uma injeção e fechei os olhos, imaginando que fosse para alivia