Fiquei muito atento à Clara e a possibilidade de ela tentar fugir ou mesmo partir pensando que depois que eu recebesse o restante da herança não teríamos mais ligação alguma e eu lhe daria o divórcio.
Mas minha menina era maravilhosa até naquilo. Seguia na nossa casinha perfeita, dançando e cantando suas músicas estranhas, comendo tudo que cabia no seu estômago e ganhando mais alguns quilos, que a deixaram ainda mais gostosa e curvilínea.
Ela já não gostava de sair de casa. E nem o mar lhe interessava mais tanto. Nunca esperei ter uma mulher tão “obediente” e parceira ao meu lado. Mas foi o que Ana Clara Huxley se tornou depois que saiu daquele hospital, achando que poderia estar grávida.
Uma vez por mês íamos ao centro de Gold Coast para fazer compras. Ela adorava produtos para cabelos e camisinhas diferentes, com cores e sabor
Clara passou o tempo todo até a véspera do casamento organizando tudo exatamente como queria. A lista de convidados era bem pequena, já que não conhecíamos muitas pessoas na Austrália. Mas ela fez questão de convidar Kelly Slater, os antigos colegas e chefes da época em que fotograva, bem como alguns outros surfistas com os quais havia trabalhado anos atrás.Artemis veio um dia antes da cerimônia e fiz questão que ficasse hospedado na nossa casa.Ele havia me dito que estava em um relacionamento sério. No entanto chegou sozinho na manhã que antecedia o casamento. Se eu soubesse que não viria acompanhado, não o teria deixado ficar na nossa casa.- E... Sua suposta... Namorada? – Perguntei assim que Artemis passou pela porta.- Calma, Patrick... Não seja tão ansioso. – Clara chamou minha atenção enquanto cumprimentava meu amigo.- Bem... Fui “chutado” – Artemis confessou – A parte boa é vir para Austrália sozinho. Por favor, me digam que terá muitas mulheres solteiras neste casamento.-
Os dois se olharam e ficaram em silêncio, parecendo pegos de surpresa com a minha pergunta e sem saberem o que responder.- Sobre sua performance. – A voz de Artemis saiu rápida demais.Olhei para Clara, que não respondeu nada.- Mas você gesticulava muito! – Observei.- Eu... Estava analisando-o... Assim como sua esposa. Talvez... Tenhamos falado sobre a previsão do tempo para amanhã... Ou como foi minha viagem até aqui... Afinal, se passaram menos de 30 minutos. – Artemis justificou.- Vamos voltar para casa. Clara precisa descansar para amanhã.- Tudo bem – Ele concordou enquanto voltávamos para o jipe – Onde será a lua de mel?- Austrália Central – respondi – Minha esposa quer passar um tempo em Alice Springs e explorar o Uluru-Kata Tjuta National Park.- O que é isso? – Ele olhou para Clara, franzindo a testa, curioso.- Uluru é uma rocha no meio do deserto com mais de 300 metros de altura e 9,4 quilômetros de circunferência. É um local sagrado, porque ali as cerimônias uniram as
- Acho que precisamos parar para comer alguma coisa, Clara. – Disse Artemis, me olhando de canto enquanto dirigia.- Não... Por favor! – Me apavorei.- Estou dirigindo há mais de seis horas.- Eu... Talvez possa pegar a direção e ajudá-lo. Mas não podemos parar, Artemis. Precisa dirigir... Até que o dia acabe. – Implorei.- Ele não nos encontrará, Clara. Não se preocupe.- Por favor... – Meus olhos se encheram de lágrimas.Artemis suspirou:- Tudo bem. Mas... Não aguento tanto tempo. Sei que você tem medo de dirigir, mas talvez precise tomar o volante alguma hora. Garanto que a autoestrada é tranquila. Me parece bem seguro dirigir na Austrália.- Eu tento... Juro que tentarei.Eu tinha dormido boa parte do tempo e agora que despertei sentia meu corpo todo tenso e dolorido, como se tivesse passad
- O que escreveu?- “- E como posso encontrar minha outra parte? – perguntou Brida. - Correndo o risco do fracasso, das decepções, das desilusões, mas nunca deixando de buscar o amor. Quem não desistir da luta, vencerá.”- O que isto quer dizer?- Pode ter inúmeros significados, Artemis. Mas quando juntei letra por letra, formando cada palavrinha, não escolhi este pensamento a toa. Eu estava tentando dizer a Patrick que nunca desisti... Que sabia que um dia, venceria. E esta é a minha vitória... – sorri, abrindo o vidro e sentindo o ar fresco revirar meus cabelos – Eu vivi o fracasso... Todos os tipos de decepções e desilusões. Mas nunca deixei o buscar o amor... No fundo do meu coração... Porque Pedro jamais saberá, mas sempre esteve comigo.Pus o corpo para fora do carro e abri os braços, g
POV PEDROFoi como se instantaneamente todo o saguão do aeroporto ficasse numa temperatura de 0°C. Meu corpo gelou completamente... Principalmente o estômago.E embora eu me mantivesse olhando para frente, fingindo para mim mesmo que não a vi, sentia seu olhar me queimando, como se quisesse derreter todo o escudo que meu corpo acabara de criar para se proteger dela.Era como se eu não tivesse forças para ficar ali, tão próximo, no mesmo ambiente que aquela mulher.Me vi andando em direção ao banheiro, olhando para o chão, fingindo que não existia nada mais importante do que os ladrilhos azuis com branco.Assim que abri a porta do banheiro, entrei na primeira cabine que vi aberta e tranquei-a, sentando-me no vaso sanitário, sentindo o corpo tremer como se estivesse completamente doente... E ela fosse o único remédio.Apertei a pasta entre meus
POV CLARA- Eu... Vou ao banheiro. – Avisei Artemis, levantando do meu assento.Segui pelo corredor e fui ao banheiro que tinha ao final dele. Sentei-me na privada do pequeno espaço e abri minha bolsa. Dela retirei um analgésico, para aliviar minha dor de cabeça... Um Dramin, para acabar com o enjoo... Um Betina, para melhorar a tontura e completei com dois Valium, para terminar com a minha existência, de uma forma branda. Eu só queria dormir. E nunca mais acordar.Assim que ingeri o último comprimido, voltei para o meu assento.- Como é a sensação de estar livre e voltando para casa? – Artemis perguntou-me, com um sorriso.Peguei a mão dele e forcei um sorriso:- Sabe que é engraçado depois de onze anos descobrir que não sei o que é “casa”? Porque embora eu amasse a Austrália... Nunca me senti como estando em casa.
Despertei na enfermaria do aeroporto, sentindo uma leveza no corpo que parecia que havia morrido e despertado em outra dimensão. Olhei para o lado da maca e vi Artemis, com a cabeça abaixada, as mãos nas têmporas, parecendo preocupado.- Pelo visto... Não morri! – Brinquei.Ele me olhou, parecendo bem brabo:- Não mesmo! E não morrerá... Ao menos não enquanto eu estiver ao seu lado.- Eu... Não sei do que está falando.- Joguei a porra dos seus remédios fora. Onde conseguiu aquilo tudo?- Na farmácia... Do aeroporto.- Se tentar se matar de novo, eu mato você.Comecei a rir e ele não se deu ao trabalho de sequer mover os lábios, com olhar recriminador na minha direção:- Isso não é engraçado.Sentei-me na maca e abaixei a cabeça:- Prometo não f
- O conheço o suficiente para saber que ele jamais me perdoaria... – Sorri, olhando para o céu – Acho que vou gostar do Hawaii. Você já esteve lá?- Eu não! O máximo que cheguei foi na Austrália.- Se eu pedisse para você assinar antes de partir um documento dizendo que não me sequestrará por anos, me obrigando a fazer suas vontades, vivendo só para satisfazê-lo enquanto tudo que me dá em troca é dor e sofrimento... Assinaria? – Sorri sem jeito, sendo o mais sincera possível.Artemis me abraçou e aos poucos fui deitando a cabeça em seu peito:- Tudo isto passou, Clara. Você é livre, mulher! Em breve voltará a usar seu sobrenome de solteira e tudo que sobrará é a triste lembrança do tempo que passou ao lado de Patrick.- Ficaram marcadas na alma... E foram onze longos an