POV Pedro
Eu estava na minha sala lendo um processo no computador quando recebi uma notificação sonora, não dando muita importância. Estava cansado, com dor de cabeça e meus olhos ardiam. Talvez estivesse trabalhando demais.
Olhei para a mesa no canto, com café quente e alguns biscoitos salgados. Muito tentei tomar café para ter algo em comum com meus colegas de profissão, mas não consegui me adaptar. Não tinha certeza se era porque não fui acostumado a beber café puro, já que minha avó dizia que não fazia bem por várias questões, principalmente de saúde. Ou se realmente o gosto amargo não me chamava a atenção.
Então quando eu tinha uma reunião ou mesmo atendimento com algum cliente, oferecia café, mas bebia água.
Ouvi uma batida na porta e a secretária entrou, me entregando um
Flora riu, de forma irônica:- Não haviam princípios éticos e morais quando você estava com “ela”, não é mesmo?- “Ela”? Do que você está falando? – Fingi-me de desentendido.- Sobre o pai dela bater na esposa e na filha... E você nunca ter denunciado.- Clara não queria denunciar. Eu não tinha este direito... De fazer por ela. Por que estamos retomando este assunto depois de tantos anos? Não estou entendendo...Flora sentou-se na cadeira à minha frente, pondo-se no lugar dos clientes:- E onde estavam seus princípios éticos e morais? Ela não queria que denunciasse, mas Joaquim fazia algo errado... E ainda assim você fingia não ver.- Clara me disse que ele nunca bateu nela.- Ele bateu sim... Diversas vezes. Não batia só na mãe... Também batia
No ano de 2008 vi na TV, emocionada, a eleição do primeiro presidente negro dos Estados Unidos, Barack Obama. Uma crise econômica se instaurou a nível mundial e teve reflexos no nosso nível de vida. O piloto inglês de Fórmula 1 Lewis Hamilton conquistou o seu primeiro título mundial, tornando-se o primeiro negro e mais jovem campeão na categoria. No Brasil Eloá Cristina, foi mantida em cárcere privado por 100 horas no apartamento em que morava pelo seu ex-namorado, que não aceitava o fim do relacionamento. Acompanhei todo o desenrolar do caso, que culminou com a morte da garota que levou dois tiros, não resistindo. Passei um dia com ânsia de vômito e sentindo como se eu fosse a própria vítima. Chorei por Eloá, por minha mãe, por mim e por todas as mulheres que viviam aquele cárcere, mesmo não se dando conta.E por um ano inteiro eu esperei uma confirmação de um pedido de amizade virtual que nunca veio, o que me convenceu de que “ele” tinha me esquecido. E agora, definitivamente, eu nã
Parei na porta da garagem gigantesca, com os braços cruzados.Um dos homens estreitou os olhos e disse ao outro, com a voz ecoando no grande espaço onde guardávamos os automóveis:- Este carro de novo? Aposto que mexeram... Não pode... Olha a lataria e os pneus... Sem a batida ele ainda está praticamente zero quilômetro.Franzi a testa e andei na direção deles, comentando:- Sim, praticamente zero quilômetro. Peguei duas vezes até hoje... E causei estes pequenos desastres... – Sorri nervosamente.Ele logo estendeu o braço na minha direção, oferecendo-me a mão em cumprimento:- Sou Logan, o mecânico. Meu chefe não pôde vir... Então ficarei responsável por tudo.- Muito prazer... Sou Clara, a desatenta. – Ri, fazendo careta.- Na primeira vez que recebi seu carro já comentei com seu marido que deveria mandar fazer uma vistoria na concessionária e exigir ressarcimento ou mesmo colocar na justiça. Para mim é óbvio que o automóvel teve falha mecânica.- Eu acho... Que a falha foi humana! –
Por mais que eu odiasse Sophie, corri para ajudá-la. Mas Patrick me pegou pelo braço, com força, vociferando furiosamente:- Não encoste nela... Depois de tudo que minha mãe lhe falou, não merece ajuda... Ela não merece sequer que tenha pena.Senti a dor do quanto ele me apertava. Sophie parecia tonta e não conseguia levantar-se, por mais que tentasse.- Eu... Também a ofendi... – Tentei retirar meu braço da posse dele, de forma inútil, ainda sendo contida.Sophie levantou-se, perdendo um dos sapatos. Tocou o maxilar, as lágrimas fazendo com que sua maquiagem borrasse:- Você... Está louco, Patrick?Patrick me pôs dentro do carro, no banco da frente, empurrando-me com força e fechando a porta. Depois pegou minha mala e jogou no banco de trás, com agressividade. Sentou-se no banco do motorista e bateu a porta com força, dando a partida no carro, que derrapou as rodas fazendo um som ensurdecedor e levantar o pó vindo da terra, deixando Sophie para trás, sem que eu conseguisse sequer avi
Sophie saiu furiosa, batendo a porta.Patrick virou na minha direção e girou a chave na fechadura, algo que até então nunca havia sido feito, já que a casa era no meio do nada e não havia risco algum de alguém entrar. Ele percebeu que o maior perigo que corria era eu sair.- Enfim, sós... – sorriu – Depois de oito anos, finalmente viveremos nossa vida sozinhos, como um casal, meu amor.Suspirei, incerta se ainda havia lágrimas para eu chorar. Patrick abriu a mala e pegou a minha caixa de fotos, como se soubesse exatamente o que havia ali dentro. Foi até a lareira e acendeu o fogo.Desci as escadas lentamente, me apoiando na parede:- Por favor... Não... Eu imploro. É... Tudo que tenho. Tudo que resta... Da minha vida.Patrick ajeitou foto por foto sobre as madeiras postas estrategicamente para que o quando fosse ateado o fogo, queimassem de forma rápida e perfeita.Acendeu o isqueiro e me encarou:- Então seja uma boa esposa, Clara. E pare de fazer-se de vítima.Senti a respiração ace
Assim que chegamos em casa, pus a bolsa dentro do armário do quarto para que Patrick não percebesse. Tomei um longo banho e deitei-me rapidamente. Quando vi que ele chegou no quarto, fingi que estava dormindo. E para minha sorte Patrick foi para o banho, deitou ao meu lado e não tentou acordar-me.Claro que na próxima semana fiz a mesma coisa. Mas não imaginei que aquilo duraria para sempre, sabendo o quanto Patrick gostava de transar, sendo que quando estávamos bem nossas relações sexuais eram diárias.Na semana seguinte passei a colocar dois comprimidos de Clonazepam esmagados no suco dele. E sua sonolência era perceptível.E assim eu consegui me livrar por duas semanas de transar com meu marido sem o uso do DIU e ainda poupando minhas pílulas do dia seguinte.Naquela manhã Patrick sentou-se à mesa e quando eu lhe trouxe o suco ele bebeu um gol
Em 2009 assisti ao filme “Quem quer ser um Milionário” ganhar o Oscar. A Gripe Suína assombrou o mundo. O Twitter atingiu 900 milhões de usuários. Chorei a morte de Michael Jackson e Patrick Swayze e assisti Dirty Dancing umas vinte vezes e chorei em todas elas ao me dar em conta de que nunca mais assistiria novos filmes dele, o que fez rever Ghost mais umas trinta. Comemorei o fato de Obama ter ganhado o Prêmio Nobel da Paz. E com tantos filmes bons que passaram ocupando boa parte do meu tempo ocioso, engordei 10 quilos.E já fazia um ano que havia aceitado a minha nova vida ao lado de Patrick Huxley.Embora eu soubesse que ele provavelmente ainda falava com a mãe, nunca mais vi Sophie Huxley.Duas empregadas vinham diariamente: uma fazia a comida e a outra limpava a casa.Todos os dias Patrick e eu íamos até a praia tomar sol e ele surfava enquanto eu ia sentar na prancha, ao fund
POV PatrickJá fazia um tempo que Clara estava no banho e não saía nunca. Eu ainda ouvia o som do chuveiro e nada dela aparecer.Bati na porta e chamei:- Clara? Está tudo bem aí?Não ouve resposta. Bati com mais força:- Clara, se você não disser que está tudo certo, vou entrar sem a sua permissão.Continuei sem resposta, o que era estranho. Teria Clara fugido de mim de alguma forma? Deixou a porta trancada e o chuveiro aberto para eu pensar que estava no banheiro?Dei um pontapé com toda minha força na porta, quebrando-a. E lá estava minha esposa dentro do box, no chão, desacordada.Corri e a peguei no colo, sem roupa, completamente molhada e a pus na cama. Estava pálida e com os lábios sem cor. Mas respirava, embora estivesse fria.Comecei a sacudi-la, desesperado:- Clara, por favor... Acorde,