Flora riu, de forma irônica:
- Não haviam princípios éticos e morais quando você estava com “ela”, não é mesmo?
- “Ela”? Do que você está falando? – Fingi-me de desentendido.
- Sobre o pai dela bater na esposa e na filha... E você nunca ter denunciado.
- Clara não queria denunciar. Eu não tinha este direito... De fazer por ela. Por que estamos retomando este assunto depois de tantos anos? Não estou entendendo...
Flora sentou-se na cadeira à minha frente, pondo-se no lugar dos clientes:
- E onde estavam seus princípios éticos e morais? Ela não queria que denunciasse, mas Joaquim fazia algo errado... E ainda assim você fingia não ver.
- Clara me disse que ele nunca bateu nela.
- Ele bateu sim... Diversas vezes. Não batia só na mãe... Também batia
No ano de 2008 vi na TV, emocionada, a eleição do primeiro presidente negro dos Estados Unidos, Barack Obama. Uma crise econômica se instaurou a nível mundial e teve reflexos no nosso nível de vida. O piloto inglês de Fórmula 1 Lewis Hamilton conquistou o seu primeiro título mundial, tornando-se o primeiro negro e mais jovem campeão na categoria. No Brasil Eloá Cristina, foi mantida em cárcere privado por 100 horas no apartamento em que morava pelo seu ex-namorado, que não aceitava o fim do relacionamento. Acompanhei todo o desenrolar do caso, que culminou com a morte da garota que levou dois tiros, não resistindo. Passei um dia com ânsia de vômito e sentindo como se eu fosse a própria vítima. Chorei por Eloá, por minha mãe, por mim e por todas as mulheres que viviam aquele cárcere, mesmo não se dando conta.E por um ano inteiro eu esperei uma confirmação de um pedido de amizade virtual que nunca veio, o que me convenceu de que “ele” tinha me esquecido. E agora, definitivamente, eu nã
Parei na porta da garagem gigantesca, com os braços cruzados.Um dos homens estreitou os olhos e disse ao outro, com a voz ecoando no grande espaço onde guardávamos os automóveis:- Este carro de novo? Aposto que mexeram... Não pode... Olha a lataria e os pneus... Sem a batida ele ainda está praticamente zero quilômetro.Franzi a testa e andei na direção deles, comentando:- Sim, praticamente zero quilômetro. Peguei duas vezes até hoje... E causei estes pequenos desastres... – Sorri nervosamente.Ele logo estendeu o braço na minha direção, oferecendo-me a mão em cumprimento:- Sou Logan, o mecânico. Meu chefe não pôde vir... Então ficarei responsável por tudo.- Muito prazer... Sou Clara, a desatenta. – Ri, fazendo careta.- Na primeira vez que recebi seu carro já comentei com seu marido que deveria mandar fazer uma vistoria na concessionária e exigir ressarcimento ou mesmo colocar na justiça. Para mim é óbvio que o automóvel teve falha mecânica.- Eu acho... Que a falha foi humana! –
Por mais que eu odiasse Sophie, corri para ajudá-la. Mas Patrick me pegou pelo braço, com força, vociferando furiosamente:- Não encoste nela... Depois de tudo que minha mãe lhe falou, não merece ajuda... Ela não merece sequer que tenha pena.Senti a dor do quanto ele me apertava. Sophie parecia tonta e não conseguia levantar-se, por mais que tentasse.- Eu... Também a ofendi... – Tentei retirar meu braço da posse dele, de forma inútil, ainda sendo contida.Sophie levantou-se, perdendo um dos sapatos. Tocou o maxilar, as lágrimas fazendo com que sua maquiagem borrasse:- Você... Está louco, Patrick?Patrick me pôs dentro do carro, no banco da frente, empurrando-me com força e fechando a porta. Depois pegou minha mala e jogou no banco de trás, com agressividade. Sentou-se no banco do motorista e bateu a porta com força, dando a partida no carro, que derrapou as rodas fazendo um som ensurdecedor e levantar o pó vindo da terra, deixando Sophie para trás, sem que eu conseguisse sequer avi
Sophie saiu furiosa, batendo a porta.Patrick virou na minha direção e girou a chave na fechadura, algo que até então nunca havia sido feito, já que a casa era no meio do nada e não havia risco algum de alguém entrar. Ele percebeu que o maior perigo que corria era eu sair.- Enfim, sós... – sorriu – Depois de oito anos, finalmente viveremos nossa vida sozinhos, como um casal, meu amor.Suspirei, incerta se ainda havia lágrimas para eu chorar. Patrick abriu a mala e pegou a minha caixa de fotos, como se soubesse exatamente o que havia ali dentro. Foi até a lareira e acendeu o fogo.Desci as escadas lentamente, me apoiando na parede:- Por favor... Não... Eu imploro. É... Tudo que tenho. Tudo que resta... Da minha vida.Patrick ajeitou foto por foto sobre as madeiras postas estrategicamente para que o quando fosse ateado o fogo, queimassem de forma rápida e perfeita.Acendeu o isqueiro e me encarou:- Então seja uma boa esposa, Clara. E pare de fazer-se de vítima.Senti a respiração ace
Assim que chegamos em casa, pus a bolsa dentro do armário do quarto para que Patrick não percebesse. Tomei um longo banho e deitei-me rapidamente. Quando vi que ele chegou no quarto, fingi que estava dormindo. E para minha sorte Patrick foi para o banho, deitou ao meu lado e não tentou acordar-me.Claro que na próxima semana fiz a mesma coisa. Mas não imaginei que aquilo duraria para sempre, sabendo o quanto Patrick gostava de transar, sendo que quando estávamos bem nossas relações sexuais eram diárias.Na semana seguinte passei a colocar dois comprimidos de Clonazepam esmagados no suco dele. E sua sonolência era perceptível.E assim eu consegui me livrar por duas semanas de transar com meu marido sem o uso do DIU e ainda poupando minhas pílulas do dia seguinte.Naquela manhã Patrick sentou-se à mesa e quando eu lhe trouxe o suco ele bebeu um gol
Em 2009 assisti ao filme “Quem quer ser um Milionário” ganhar o Oscar. A Gripe Suína assombrou o mundo. O Twitter atingiu 900 milhões de usuários. Chorei a morte de Michael Jackson e Patrick Swayze e assisti Dirty Dancing umas vinte vezes e chorei em todas elas ao me dar em conta de que nunca mais assistiria novos filmes dele, o que fez rever Ghost mais umas trinta. Comemorei o fato de Obama ter ganhado o Prêmio Nobel da Paz. E com tantos filmes bons que passaram ocupando boa parte do meu tempo ocioso, engordei 10 quilos.E já fazia um ano que havia aceitado a minha nova vida ao lado de Patrick Huxley.Embora eu soubesse que ele provavelmente ainda falava com a mãe, nunca mais vi Sophie Huxley.Duas empregadas vinham diariamente: uma fazia a comida e a outra limpava a casa.Todos os dias Patrick e eu íamos até a praia tomar sol e ele surfava enquanto eu ia sentar na prancha, ao fund
POV PatrickJá fazia um tempo que Clara estava no banho e não saía nunca. Eu ainda ouvia o som do chuveiro e nada dela aparecer.Bati na porta e chamei:- Clara? Está tudo bem aí?Não ouve resposta. Bati com mais força:- Clara, se você não disser que está tudo certo, vou entrar sem a sua permissão.Continuei sem resposta, o que era estranho. Teria Clara fugido de mim de alguma forma? Deixou a porta trancada e o chuveiro aberto para eu pensar que estava no banheiro?Dei um pontapé com toda minha força na porta, quebrando-a. E lá estava minha esposa dentro do box, no chão, desacordada.Corri e a peguei no colo, sem roupa, completamente molhada e a pus na cama. Estava pálida e com os lábios sem cor. Mas respirava, embora estivesse fria.Comecei a sacudi-la, desesperado:- Clara, por favor... Acorde,
- Logo o médico me chamará para vermos o bebê através do ultrassom.Ela sentou-se e balançou a cabeça, atordoada. Sentei-me ao seu lado:- No ano que vem fecha os dez anos. E o que fará, agora que tem um filho seu na jogada?- Não farei nada, mãe. Ficarei com Clara e nosso filho.Sophie gargalhou, até que as lágrimas escorressem dos seus olhos, tamanha forma como se divertia com a situação:- Acha mesmo que este casamento dará certo, meu filho? Clara não gosta de você.- Ela... Gosta. – Afirmei, incerto.- Assim que acabar os dez anos, ela irá embora.- Eu não deixarei que ela se vá.- Não pode mantê-la presa pelo resto da vida.- Ela terá um filho meu.- O que a fará ter mais forças para partir.- Não... – Fiquei confu