- Pare de me chamar de querida – sussurrei – Eu não sou esposa de novela mexicana.- Como assim?- Paola Bracho.- Quê?- A esposa de Carlos Daniel.Pedro parou e me pegou pelos ombros:- Por favor, me diga do que você está falando ou não respondo por mim, Clara. Sou capaz de mandar interná-la.- Eu que não respondo por mim se você chamar ela de Ana novamente.- Mas eu sempre a chamei de Ana, porra!- Mas você não era o meu namorado.- Clara, nós não somos namorados.- Mas você pegou na minha mão.- Isso não quer dizer que eu queira namorar com você. Só tentei ajudá-la...- Eu também não quero namorar com você, Pedro! – deixei claro – Mas você já deve ter percebido que nossos ex estão juntos. E eu não tolerarei isto.- Eu não me importo! – deu de ombros – Anastácia faz o que quer da vida dela. Ela realmente é minha “ex”, ou seja, já não temos mais um relacionamento.- Pois eu quero recuperar o meu ex.- O garoto que você disse que não era nada seu, que só ficavam quando “se viam”?- S
Eu ri sozinho ao me corrigir em pensamento ao chamar Anastácia de Ana, como se tivesse fazendo algo errado. Bem que imaginei que a loucura daquela menina era contagiosa. Eu via problemas à frente com ela na minha vida... Muitos problemas. Ainda assim disse “sim” a ideia absurda dela, que parecia até fazer sentido.- Eu não sei, Anastácia.- Como não sabe? Está ficando com ela desde quando?- Da noite que fiz minha festa de aniversário no Baccarath.- Ela é estranha.- Não acho! – Menti.De fato eu não a achava estranha e sim um pouco imatura ou talvez inconsequente. Me parecia que Clara não pensava antes de agir, fazendo tudo por impulso. Sem contar sua carência afetiva e posicionamentos baseados em Paulo Coelho.- Você levou muito tempo para começar a namorar comigo. Ficarei com ciúme se ela fizer com que se relacionem de forma séria tão rápido. Ou mesmo se ela conhecer dona Daiana em tão poucos dias.Ok, Anastácia estava com ciúme e não era mais uma hipótese, era fato!- Não é porqu
Voltei, fingindo não saber de nada, sem sequer ter lavado as minhas mãos. Sentei-me à mesa e servi-me de macarrão com queijo, mesmo sem fome. As duas continuaram conversando, tentando me provar que eram melhores amigas, se é que não eram mesmo.Anastácia ficou me cercando de todos os lados por um bom tempo antes de nos envolvermos. Era para ser só algo sem compromisso, mas quando me dei em conta já estávamos namorando. Depois de um tempo, do nada, ela terminou. E sim, eu estava gostando dela. E também do que tínhamos criado: cumplicidade, sentimentos... Anastácia alegou vários motivos para o término, mas nenhuma fazia sentido. O que ela queria era não ter um compromisso, viver a vida e ficar com quem quisesse. E assim o fez: ficou com vários garotos e eu, mesmo ainda sentindo algo por ela, fingi que estava tudo bem e que continuávamos sendo só amigos. E agora, pelo que entendi, ela queria voltar atrás, arrependida. E em vez de me dizer, simplesmente tentou fazer um joguinho. Pelo vist
Ficamos abraçadas enquanto eu sentia as lágrimas dela caindo sobre meus ombros, molhando o tecido de minha roupa.Minha mãe, Josephine Versiani, era uma mulher bonita. Engravidou jovem do meu irmão, aos 18 anos. Quando eu fiz 18, ela ainda tinha 37. Na época, ela e meu pai eram apenas namorados. Mas os pais dela o obrigaram a casar, para que assumisse a criança e por consequência a mulher. Meu irmão nasceu e quando completou três meses ela engravidou de mim.Sempre ouvi falar, por parte da minha família materna, que mamãe era uma garota feliz e divertida. Infelizmente não cheguei a conhecer esta pessoa. O que eu tinha em casa era uma Josephine triste e destruída, que passava a vida inteira em função de um homem: meu pai.Joaquim Versiani, meu pai, era oito anos mais velho do que minha mãe. Sempre achei que ele tivesse distúrbios comportamentais... Para não dizer mentais. Mas dentre tudo que ele fazia, a traição era a pior de todas as coisas. Porque aquilo acabava com a minha mãe.Eu f
- Está tudo bem? Mamãe disse que você estava com dor de cabeça.Sentei na cama:- Dor de cabeça... Cólica...- Sei bem como é! Você precisa ir ao médico, Clara!- Você não tem noção do que o papai disse...- Mamãe me contou.- Ela concordou com ele, Renan.- Sabemos que ela não tem muita opção, não é mesmo? – Ele alisou meu rosto – Mas não fique chateada. Eu trouxe um remédio para você.- Trouxe? – Franzi a testa, surpresa.Ele sorriu e retirou debaixo da camiseta uma barra de chocolate. Avancei na mão dele e abri a embalagem: - Ah, Renan... Se você não fosse meu irmão, eu ficaria muito triste.Renan riu:- O que você não faz por um chocolate? Vira até uma boa mentirosa.- Se você soubesse o quão boa mentirosa eu sou! – Sorri tristemente.- Talvez eu deva fazer um estoque de chocolates para o seu período pré-menstrual.- Eu não ficaria braba.Renan sentou-se na minha cama.- Sabe que eu não gosto das mesmas músicas que você, não é mesmo? Mas você canta muito “Trem do amor”.- É do Si
- Pode me dizer o motivo? – O olhei seriamente, com a voz firme.- Não, não posso. E não sou obrigado. Não, porque não.- Tem que haver um motivo! – O enfrentei – Pelo menos me diga.- Não! – gritou, batendo na mesa, fazendo com que eu e minha mãe nos assustássemos.- Eu... Tenho 18 anos... – minha voz saiu fraca – Sou... Maior de idade.- Pouco me importa quantos anos você tenha! – falou entredentes – Eu mando nesta casa. E em você. E não irá na porra do show e pronto!Levantei da mesa e corri para o meu quarto, trancando a porta. Peguei uma mala e pus algumas roupas dentro. As lágrimas não me deixavam em paz, ofuscando minha visão de tanto que se derramavam. Pulei a janela e fui até o final do corredor que havia entre a casa e o muro, olhando o portão de saída. Respirei fundo. Era minha única alternativa: pegar minhas coisas e viver a vida longe dali. Enquanto estivesse sob o comando dele, jamais seria feliz.Olhei para a janela aberta e lembrei das minhas coisas... Meu quarto, min
Fui saindo dali de forma automática. Beverly veio correndo na minha direção, querendo saber o que houve. Eu sequer tinha uma explicação para lhe dar. Já estava na calçada quando Flora também chegou. - O que houve, Clara? – Quis saber o motivo pelo qual eu andava sem parar, desnorteada, em silêncio. - Quero ir embora! – Tentei conter o choro. - Mas... Podemos ir em outro lugar. – Sugeriu. - Talvez ela não queira, em função da possibilidade de ver Jason com aquela perua. – Beverly achou saber o que me incomodava. - Isso! Não quero arriscar ir em outro lugar e encontrar Jason com a namorada. – Menti. Logo Flora ligou para o pai, que chamou um táxi para nós. Assim que chegamos na casa dela, tomamos um banho e fomos deitar. Sempre dormíamos juntas, na cama de casal que ela tinha no quarto. - Você nem sequer secou os cabelos. – Flora alisou os fios úmidos, enquanto eu estava virada para o lado da parede. - Flora, você não vai acreditar quando eu contar quem vi naquele bar... - Que
- É a minha vida! – Ela gritou, deixando as lágrimas escorrerem – Você não tem o direito de se meter assim nela.- Eu vi... E não há o que ele diga para me convencer do contrário. Eu... Estava lá.- Clara, eu não quero que você se meta na minha vida. Nunca mais! – A voz dela estava mais mansa.Assenti, incapaz de dizer mais nada. Ela me abraçou com força:- Me perdoe pelo tapa!Não doeu tanto no corpo. Doeu na alma. Jamais esperei por aquela atitude dela. E me arrependi por ter tido pena de minha mãe tantas vezes. Talvez ela não merecesse. Só tinha a vida que desejava.- Me perdoa? – Ela pegou meu rosto entre suas mãos, aos prantos – Por favor, diga que sim...- Eu perdoo, mãe. – Sorri e a abracei.Eu não chorei. Porque a raiva que me consumia era mais forte que tudo. Passei o restante do dia no meu quarto, recortando letras coloridas de revistas e procurando frases interessantes de livros, onde eu grifava. Minha raiva e dor faziam com que o os meus sentimentos por Patrick ficassem ma