O sol brilhava alto naquele céu sem nuvens, aquecendo o coração de todos os presentes no sítio da tia Marta. O lugar estava transformado em um cenário digno de contos de fadas, com flores espalhadas por todo canto, desde as cadeiras brancas alinhadas até o altar rústico feito de madeira e heras. Um perfume suave de lavanda e rosas se misturava com o ar fresco, como se a natureza quisesse abençoar nosso grande dia.Eu estava no quarto improvisado dentro da casa de tia Marta, me olhando no espelho enquanto sentia um friozinho na barriga. Meu vestido era simples, mas carregava um significado especial. Eu tinha escolhido ele com a ajuda da minha avó. A emoção transbordava em cada detalhe.— Está pronta, meu bem? — perguntou tia Marta ao entrar com aquele sorriso caloroso que só ela tem.— Acho que sim. — respondi com um riso nervoso. Meus dedos tremiam levemente enquanto ajeitava o véu. — Estou mais ansiosa do que imaginei que estaria.Ela se aproximou e segurou minhas mãos, apertando com
A fazenda estava diante de nós, imensa, com campos que pareciam não ter fim. Eu sentia o cheiro da terra úmida misturado ao perfume suave das flores silvestres que margeavam o caminho. As árvores balançavam ao vento, como se dançassem para nos dar as boas-vindas. Segurei a mão de Marcio com força, tentando conter a emoção que me inundava.— Consegue acreditar que isso tudo agora é nosso? — perguntei, quase sussurrando, como se a grandeza daquele lugar exigisse respeito até na voz.Marcio apertou minha mão e deu aquele sorriso que eu tanto amava, cheio de segurança e ternura.— Consegui acreditar desde o momento em que te prometi essa vida, Raila. A gente merece isso.Olhei para ele, o brilho nos olhos dele refletia exatamente o que eu sentia: esperança. A fazenda não era apenas terra e casa; era o ponto de partida para todos os nossos sonhos, o lugar onde construiríamos uma nova história.Investir um pouco do nosso dinheiro naquele paraíso valeu muito a pena.Chegamos à varanda da cas
Aquele dia estava calmo, o vento suave e a tarde parecia se arrastar como uma melodia tranquila. Eu estava ali, ao lado de Marcio, observando-o trabalhar com os animais. Ele sempre teve uma conexão especial com eles, como se entendesse suas necessidades antes mesmo de eles emitirem um som.— Você sabia que esse cachorro aqui tem um problema nos quadris? — ele comentou, acariciando a cabeça de um animal que estava deitado, praticamente sem forças para se mexer.— Eu percebi que ele estava se movendo com dificuldade, mas não sabia o que exatamente. — respondi, com um sorriso leve. Marcio sempre tinha algo novo para ensinar, e eu estava aprendendo a cada dia, não apenas sobre os animais, mas sobre a vida.Ele me olhou, os olhos cheios de confiança, como se dissesse sem palavras que tudo ali estava bem e sob controle. E, de alguma forma, ele estava certo. Tudo estava bem. Eu estava ao lado dele, e isso já bastava para me sentir completa.A verdade é que, depois de tudo o que vivi, encontr
Quatro anos depois, a vida parecia ter encontrado seu ritmo. O campo, que antes era apenas um sonho distante, agora era minha realidade, e a cada dia que passava, me sentia mais conectada a ele. O sol, como sempre, brilhava forte, mas a brisa suave que atravessava os campos trazia consigo uma sensação de paz. Marcio, como sempre, estava ao meu lado, e os gêmeos, que haviam crescido diante dos nossos olhos, corriam pelo vasto campo, encantados pela imensidão da natureza ao seu redor.— Mãe, olha! O céu está tão grande! — disse Lucas, apontando para o horizonte.Senti um sorriso se formar nos meus lábios. Ele sempre foi o mais curioso dos dois, sempre querendo entender o mundo ao redor. Acompanhei seu olhar, admirando a extensão do campo que parecia não ter fim. O céu, como ele dizia, parecia se perder na linha do horizonte, e eu me perguntava se, no fundo, ele já começava a entender o que significava ser livre.— É, meu filho, o céu é grande e a terra também. Tudo aqui é imenso, não é?
Raila SalimA vida me deu uma rasteira exatamente no momento em que passei a confiar cegamente no meu noivo. Num dia, estávamos comemorando meu aniversário juntos; no outro, eu estava sendo despejada da minha própria casa e, de brinde, tinha perdido também a empresa que meus avós lutaram tanto para construir.Como tudo isso aconteceu? Nem eu mesma sei. Provavelmente foi em uma daquelas noites de bebedeira, porque não me lembro de ter assinado nada. No entanto, lá estava o documento oficial, com minha assinatura, transferindo tudo para Miguel, o homem que deveria me amar e cuidar de mim. Agora ele era dono de tudo e ainda me colocou para fora de casa.— Desgraçado! Por que você fez isso comigo? — questionei, batendo em seu peito enquanto sentia o coração se despedaçar.— Você é burra, Raila. Sempre foi! Quero que saia da minha casa. Não temos mais nada um com o outro. Nunca pensei em me casar com você!As palavras saíram como punhaladas certeiras, frias e cortantes. Como eu explicaria
O ar do campo era diferente. Não tinha aquele cheiro misturado de asfalto quente e café fresco que eu conhecia tão bem na cidade. Aqui, era terra úmida, grama recém-cortada e um toque amargo de folhas secas. Cada respiração parecia pesar no meu peito, mas eu sabia que não era por causa do ar. Era a dor. Aquele tipo de dor que não dá trégua, que corrói devagar, como uma corrente de água fria que nunca para de passar.Minha tia, Marta, me observava da varanda do sítio. Ela tinha aquele olhar compreensivo, mas não dizia muito. Nunca foi de forçar conversas, e eu agradecia por isso. Estava cansada de palavras, de conselhos, de gente dizendo que tudo ia ficar bem. Não ia. Não naquele momento.— Você comeu alguma coisa hoje, Raila? — ela perguntou, sem me olhar diretamente.Balancei a cabeça, negando. Meu estômago parecia um nó há semanas. Não importava o que eu tentasse engolir, nada ficava.— Precisa se cuidar, menina. A vida não para só porque a gente quer. — a voz dela era firme, mas ti
O papel na minha mão parecia mais pesado que o mundo inteiro. Meus olhos percorriam cada linha daquele documento como se estivessem presos, como se não conseguissem desviar. Era um contrato... um maldito contrato que levou embora o que eu tinha de mais valioso. Perdi tudo. Algo chamou minha atenção dessa vez. Meus dedos tremiam enquanto eu olhava a assinatura. Era parecida demais com a minha, mas não era minha. O coração disparou como se tentasse fugir do peito. Não conseguia acreditar.Larguei o papel sobre a mesa e corri para a cozinha, onde minha tia lavava louça, alheia ao meu desespero. Entrei apressada, quase tropeçando em mim mesma.— Tia, olha isso! — estendi o documento para ela, que enxugou as mãos no avental e pegou o papel, franzindo a testa. — Olha essa assinatura. Parece a minha, não parece?Ela olhou com atenção, ajustando os óculos que sempre escorregavam pelo nariz.— Parece, Raila... mas você tem certeza de que não assinou isso? Às vezes, na correria, a gente faz coi
Os pneus da camionete da minha tia rangeram contra o cascalho da estradinha principal. Aquele motor roncava alto, como se quisesse anunciar minha chegada. Eu não estava exatamente planejando virar o centro das atenções, mas, ao atravessar a entrada da pequena cidade, percebi que estava prestes a acontecer exatamente isso.— Ah, lá vem confusão. — murmurei para mim mesma, segurando firme o volante.O lugar parecia saído de um filme antigo. Casas simples com fachadas coloridas, janelas decoradas com cortinas de crochê. Crianças correndo pela calçada, senhores sentados em cadeiras de balanço nas varandas. Todos pararam o que estavam fazendo assim que a camionete passou. A curiosidade deles me acertava como flechas.— Quem será essa? — ouvi uma senhora comentar, enquanto apontava na minha direção. Ao lado dela, um senhor ajeitava os óculos, como se quisesse me decifrar.Minha vontade era encolher no banco e desaparecer. Aquilo não era bem o que eu tinha em mente quando decidi dar uma volt