Capítulo 03

༺ Mia Carrozzini ༻  

Assim que coloquei Nicolae no berço, vi a babá entrar para assumir seu posto. Digo para que ela cuide do meu filho, pois preciso sair um pouco desse quarto para respirar um ar puro. Ao seguir na direção das escadas, vejo ainda da sacada a grande destruição que se espalhou pela mansão. Estou completamente perplexa. Parece uma cena de filme de guerra.

Cada parte da mansão estava completamente destruída por marcas de tiros e explosões, sem falar nas vidraças quebradas. Eu já previa isso, pois dava para ouvir o que estava acontecendo enquanto estava presa naquele quarto. Eu ouvia os impactos dos tiros e explosões.

 Quando estou no centro do salão, observando todo o cenário, sinto um arrepio na espinha, como se alguém estivesse atrás de mim. De repente, me virei e avisto o reflexo de Lupíta me observando seriamente. Engulo em seco, pois tenho certeza de que só pode ser uma alucinação que minha mente está me pregando.

— Você está vendo o que causou, Mia? Destruiu toda a minha família, sua, biscate. Fez meus meninos se matarem por você!

— Lupíta, eu nunca quis isso. Você sabe melhor do que ninguém que jamais sou a favor de qualquer tipo de violência. — devo estar beirando a loucura ao falar com um espírito, mas é o que penso estar acontecendo naquele momento.

 E ela responde com um sorriso sarcástico.

— Você sempre quis isso desde o momento em que aceitou ficar com Oliver. Deveria ter continuado na Itália e assim teria acabado com essa guerra. Vejo o que aconteceu. Causou várias mortes, inclusive a minha…

O peso de suas palavras ecoa pela mansão. Acredito que Lupíta não consegue descansar sabendo que seus filhos adotivos continuam se matando entre si. De repente, sinto a mão de alguém no meu ombro e acabei levando um susto, pulando para trás e me afastando. Então, vejo Oliver, me olhando preocupado.

 — Mia, você está bem? Pensei que você estava falando com alguém, mas percebi que não tem ninguém aqui na sala.

 — Oliver, eu… Acabei de ver Lupíta, ela estava aqui. Ela me disse coisas terríveis, me acusou de ter causado toda essa destruição. Sei que parece loucura, mas juro que a vi e falei com ela.

 Oliver olha para mim com preocupação e segura minhas mãos gentilmente.

 — Mia, eu entendo que você esteja passando por um momento extremamente estressante, porém Lupíta está morta…

 Respiro fundo, tentando acalmar meu coração que estar acelerado. Será que tudo aquilo havia sido apenas minha imaginação? Seria possível que Lupíta realmente estivesse se manifestando para mim?

 — Mas Oliver, eu a vi, ela estava ali perto daquele sofá, me acusando de tudo que está acontecendo.

 Oliver solta um suspiro e me encara com seriedade.

 — Mia, você precisa parar com isso. Logo os funcionários vão achar que você está enlouquecendo, Lupíta morreu e é melhor você parar de falar dela, eu não acredito nisso.

 — Eu sei, eu só me sinto culpada. Às vezes parece que carrego um peso por tudo o que está acontecendo, eu não queria essa guerra Oliver, você sabe que eu não gosto de violência. — começo a sentir meus olhos lacrimejarem e ele me puxa para um abraço, dizendo:

 — Isso logo vai acabar, cherry, eu prometo que não durará mais do que o necessário! Também não aguento mais essa guerra, faz muito tempo que não sabemos o que é ter paz. Sei o quanto você está preocupada com a segurança do nosso filho, mas prometo que não deixarei nada acontecer com ele.

 — Tudo bem, já passou. Sou uma mulher forte, não posso ficar o tempo todo chorando como um bebê. Mas e agora? Vamos ficar no meio desses destroços? — Oliver observa todo o cenário do salão e responde.

 — Não, nós vamos para um apartamento que tenho, bastante confortável e grande. Infelizmente, terei que fazer uma reforma nessa mansão. Peça para que a babá te ajude a arrumar as coisas, sairemos daqui em breve.

 Apenas concordo com as suas palavras e ele sai em direção ao seu escritório, provavelmente para pegar o que precisa, como documentos importantes. Respiro fundo e subo as escadas.

 Vou até o quarto de Nicolae e encontro a babá cuidando dele com todo o carinho. Agradeço a ela e começo a arrumar as coisas, colocando roupas e objetos pessoais em malas. Enquanto faço isso, não consigo parar de pensar na Lupíta e nas palavras que ela disse. Será que realmente sou a culpada dessa guerra de alguma forma?

 No momento em que termino de arrumar as malas, a babá aparece ao meu lado e pergunta se está tudo bem. Respiro fundo e tento controlar minha angústia.

— Está tudo bem, obrigada. Só estou um pouco abalada com tudo o que está acontecendo, mas precisamos sair daqui o mais rápido possível.

 Ela assente com a cabeça e me oferece ajuda para carregar as malas. Quando descemos as escadas, vejo Oliver saindo de seu escritório com uma expressão séria no rosto. Ele nos olha e diz:

 — Vamos, o novo apartamento já está pronto. Assim que a reforma terminar, voltamos para a mansão.

 — Eu não sei se quero continuar nesse lugar. Você poderia muito bem vender essa mansão, só me traz lembranças ruins… — respondo com sinceridade, pois não me sinto mais bem nesse lugar.

 — Cherry, eu não pretendo me desfazer da mansão que meu pai deixou para mim. Mandarei efetuar uma reforma e você verá que esse lugar ficará com outra cara.

 — Mesmo assim, não sei se verei mais esse lugar como a minha casa. Na verdade, não me sinto parte disso, sempre foi assim. — Oliver me fita por um momento e responde, enquanto acaricia sua barba.

 — É melhor mudarmos de assunto. Já tive estresse suficiente por hoje, Mia. Me dê uma trégua, vamos embora.

 Ele não diz mais nada, simplesmente anda na minha frente, deixando-me sozinha com a babá. Essa é a forma que ele encontra para agir como um verdadeiro cavalo quando eu não concordo com ele. Em certos momentos, eu me pergunto se consigo continuar ao seu lado. Sempre haverá esse conflito entre nós.

Ao entrarmos no carro, uma mistura de medo e ansiedade toma conta de mim. Observo o semblante sério de Oliver e sinto que há algo mais acontecendo. A vontade de perguntar é grande, mas decidi guardar minhas dúvidas para mim mesma. Afinal, não quero mais discussões entre nós.

 Durante o trajeto até o novo apartamento, um silêncio pesado paira no ar. Cada um de nós perdidos em seus próprios pensamentos e angústias. Eu me pego fitando o horizonte, com a mente cheia de incertezas sobre o futuro e remorsos sobre o passado.

 Ao chegarmos no novo endereço, fomos recebidos por um apartamento luxuoso e impecavelmente decorado. É o tipo de lugar que transmite uma sensação reconfortante, mas a paz que tanto anseio parece inalcançável.

Durante tempo em que observava com interesse cada detalhe do novo lar, Oliver se concentra em fazer ligações e coordenar os últimos detalhes da reforma da mansão. Sinto um aperto no peito, pois isso só me faz lembrar de tudo o que aconteceu e de como agora estamos envolvidos em um perigoso jogo de poder.

Enquanto a babá leva Nicolae para o quarto, decido explorar um pouco mais o apartamento. O lugar é enorme e cheio de cômodos. Cada ambiente representa um convite para um recomeço, mas também uma lembrança de que estamos sempre fugindo.

No escritório, olho para a estante de livros e vejo uma foto de família emoldurada. É uma imagem de tempos mais felizes, quando Lupita estava com a família de Oliver. Sinto um nó na garganta ao perceber o quanto as coisas mudaram. Mas eu não dizia mais, sentia falta dela e do seu carinho. 

Decido tomar um banho para tentar relaxar e esquecer um pouco de todas as tensões. Enquanto a água morna cai sobre o meu corpo, fecho os olhos e tento afastar os pensamentos sombrios que insistem em me assombrar. Mas não consigo esquecer de nada.

 Ao sair do banho, escuto vozes abafadas vindas da sala. Visto meu roupão e me aproximo devagar, vendo Oliver conversando com Derick. Meu coração acelera ao perceber que a situação é séria.

 — Então você acha que o traidor está na própria organização? — indaga Oliver, com uma expressão séria no rosto.

 Derick assente, franzindo a testa.

— Parece que temos um infiltrado, “sr” Oliver. Alguém que conhece bem os nossos movimentos e está passando informações para Esteves. Precisamos descobrir quem é.

Meu estômago se revira e sinto um arrepio percorrer a minha espinha. O perigo está cada vez mais perto e me pergunto se estamos realmente seguros nesse novo lugar.

 Decido me aproximar e interromper a conversa.

 — O que está acontecendo, Oliver? — pergunto com a voz trêmula.

 — Nada com que você precise se preocupar. Desde quando você ficou tão intrometida a ponto de ficar escutando atrás da porta?

 Sei que o que estou fazendo não é certo, mas preciso me preparar para o que vier. Respondo da mesma forma, com o semblante sério.

 — Desde quando isso passou a fazer parte da segurança do meu filho? Quero saber o que está acontecendo. Tenho esse direito… E se meu filho estiver em perigo, eu vou embora com ele daqui. Não arriscarei a segurança de Nicolae novamente. 

Em nenhum momento me importaria de dizer a verdade, pois não deixaria acontecer nada com o meu filho devido à vingança desses homens. E se eu precisasse tomar essa decisão para protegê-lo, não me importaria nunca. Oliver continua me observando com um olhar sério, pois não gostou nem um pouco do que acabei de dizer, enquanto Derick apenas desvia o olhar, percebendo a tensão que se formou entre nós dois.

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