O clima na mansão estava tenso, era como uma corda esticada ao máximo.Durante a tarde, enquanto Sarah conversava com Arthur no jardim, as risadas de Adrian e Aurora ecoavam pelo ar, um som que antes trazia alegria, mas que agora soava como uma provocação.O sol da tarde dourava a cena, iluminando os cabelos de Sarah enquanto ela se inclinava para Arthur, rindo de algo que ele dissera. Arthur, com sua presença calma e acolhedora, ousou colocar a mão no ombro dela, um toque aparentemente inocente que, aos olhos de Thomas, queimava como fogo. Para qualquer observador desavisado, a cena transbordava cumplicidade, uma conexão que excluía qualquer outro. Mas para Thomas, parado à sombra da varanda, era uma tortura.Um ciúme ácido corroía suas entranhas, a possessividade gritando em cada fibra de seu ser. “Ela era dele,” sua mente urrava, mesmo sabendo que tal pensamento era irracional. Cada sorriso trocado, cada olhar cúmplice, era uma facada em seu orgulho ferido. O maxilar travado, os pu
Na quietude da noite, quando até as crianças já haviam se entregado ao sono, Sarah desceu em busca de água, tentando aliviar sua insônia. Ao entrar na cozinha, encontrou Thomas. A luz fraca mostrava um homem imerso em pensamentos obscuros, a solidão presente em cada expressão do seu rostoAo erguer os olhos e avistá-la, o silêncio entre eles pareceu se intensificar e se tornar ainda mais aterrador, como se a cozinha se transformasse em um cenário para seus temores ocultos e paranoias inabaláveis.Sarah tentou ignorar sua presença, pegou o copo e encheu-o na pia. Mas, ao tentar sair, Thomas bloqueou seu caminho.— Thomas — sua voz cortou o silêncio, carregada de uma tensão que parecia vibrar no ar. — Está bem, precisamos conversar.Thomas ergueu o olhar, e por um instante, o peso da noite pairou entre eles.— Sobre o quê? — ele respondeu, a frieza em sua voz denunciando a batalha interna que travava.Sarah hesitou, buscando as palavras certas, mas a dor e a frustração transbordavam.—
A manhã estava silenciosa na mansão Lewantys. Sarah preparava o café das crianças, o som suave dos talheres sendo a única trilha sonora. O aroma de torradas e café fresco preenchia o ar quando Thomas entrou na cozinha. Seu semblante estava sério, e ao lado dele, havia duas malas. Aquela visão fez o coração de Sarah acelerar.— Thomas? — Sarah perguntou, parando o que estava fazendo. — O que significa isso? O que você está planejando?Ele respirou fundo, os olhos presos nos dela, como se procurasse força naqueles instantes.— Vou sair da mansão, Sarah. — A voz dele era calma, mas carregada de uma tristeza contida. — Essa casa é sua agora. Sua e dos nossos filhos. Você não precisa ir embora com eles. Se você não consegue me perdoar... não faz sentido eu continuar insistindo.As palavras dele ecoaram no ar como um golpe. Sarah sentiu o estômago revirar, a realidade do que estava acontecendo começando a se instalar. Ficou imóvel, surpresa com a decisão repentina.Parte dela queria detê-lo
Foi naquele momento que ela tomou sua decisão. Precisava recomeçar, longe da mansão e de tudo o que ela representava. O único lugar onde poderia criar um novo lar para Aurora e Adrian era nos Estados Unidos. Lá, ela poderia oferecer uma vida longe das feridas do passado.Mas Sarah sabia que não poderia alertar Thomas. Se ele soubesse de seus planos, poderia tentar impedir ou dificultar sua saída. Ela precisava planejar cada passo com cuidado, garantindo que, quando partisse, não houvesse volta.Nos dias seguintes, Sarah começou a planejar sua partida em segredo. A ansiedade a consumia enquanto ela entrava em contato com seu advogado, solicitando os documentos necessários para viajar com as crianças, sob o pretexto de visitar parentes distantes. A ideia de deixar Thomas para trás era inevitável, e ela sabia que precisava agir rapidamente.Durante o dia, Sarah mantinha uma rotina normal. Brincava com as crianças, lia histórias antes de dormir e cuidava das tarefas cotidianas. No entanto
Adrian estava inquieto desde que o pai partira. Sua saúde, já frágil, começava a piorar novamente. Sarah, preocupada, permaneceu ao lado dele o tempo todo, tentando acalmá-lo enquanto ele perguntava repetidamente por Thomas. — Mamãe, o papai vai voltar? — perguntou Adrian, sua voz baixa e enfraquecida. — Claro que vai, meu amor — respondeu Sarah, acariciando seus cabelos com ternura. Mas, no fundo, ela sabia que precisava enfrentar Thomas e resolver as coisas. Não era justo com as crianças mantê-las afastadas de um pai que sempre fora presente e dedicado. Nos últimos dias, Sarah sentia o peso de suas decisões. Embora achasse que afastar Thomas fosse o melhor, percebeu que talvez estivesse sendo egoísta. Thomas não era apenas um homem que a magoara; ele também era um pai amoroso que sempre estivera ao lado dos filhos. Adrian e Aurora sentiam sua falta, e ela precisava colocar os sentimentos deles em primeiro lugar. Decidida, Sarah deixou as crianças aos cuidados de uma babá de
Thomas mal conseguia acreditar no que via quando Kathalina entrou em sua sala naquela manhã. Sua presença era tão inesperada quanto desestabilizadora. Durante anos, ele a guardara na memória como a mulher que o ensinou a amar ― e que, em seguida, o abandonara, evaporando-se sem deixar rastro algum.— Kathalina — ele murmurou, levantando-se da cadeira. — Você... voltou?Ela sorriu, um sorriso que ele conhecia bem, mas que agora parecia carregado de intenções que ele não podia decifrar.— Voltei, Thomas. Achei que era hora de encarar o passado e corrigir algumas coisas.A mente de Thomas imediatamente recuou no tempo. Ele e Kathalina haviam sido inseparáveis no início. Ela era fascinante — uma mulher de beleza estonteante e inteligência afiada, com uma confiança que desarmava quem a conhecia. Thomas se apaixonara perdidamente, acreditando que ela seria a parceira de sua vida.Mas tudo desmoronou quando a pressão familiar o empurrou para o casamento com Anna. Kathalina não ficou para lut
Thomas chegou à mansão no final da tarde, ansioso para ver Adrian e Aurora. Fazia semanas desde a última vez que desfrutara da companhia dos filhos, e o fardo da distância tornava-se insuportável.Assim que entrou, foi envolvido por um turbilhão de alegria, com os dois correndo em sua direção, os gritos de felicidade ecoando como uma melodia há muito silenciada.— Papai chegou! Papai chegou! — exclamaram em uníssono, e Thomas se abaixou para envolvê-los em um abraço apertado. O calor e a inocência das crianças eram uma salvação em meio ao turbilhão emocional que enfrentava.Sarah observava a cena da sala de estar, com um sorriso comedido nos lábios. A alegria contagiante das crianças aquecia seu coração, mas a percepção de se sentir uma peça deslocada naquela dinâmica familiar lhe causava um aperto no peito. A felicidade deles era um lembrete doloroso de sua própria solidão.Depois de alguns momentos, Thomas ergueu-se e olhou para os filhos com seriedade.— Hoje, pensei que poderíamos
— Por favor, papai — choramingou Aurora, com a voz embargada. — Não vá ainda.Adrian apenas o abraçou com força, sem dizer nada.Thomas suspirou, sentindo o peso da situação.— Tudo bem — ele disse, acariciando os cabelos deles. — Eu fico mais um pouco.Ele os levou de volta ao quarto, leu uma história curta e os embalou até que finalmente adormeceram. O coração dele se apertava ao ver o quanto sua ausência os afetava; cada momento perdido era uma lembrança dolorosa do tempo que não poderia recuperar.Quando Thomas finalmente saiu do quarto das crianças, encontrou Sarah no corredor. Os olhos dela estavam fixos nele, mas era difícil decifrar o que ela estava pensando. Havia algo entre tristeza e cansaço; algo que o fez hesitar.... — Posso voltar amanhã para vê-los? — perguntou com a voz baixa.Sarah assentiu sem dizer uma palavra; seu olhar estava distante e perdido em pensamentos profundos sobre suas próprias inseguranças e medos.Ele esperou por um momento como se quisesse dizer algo