Fazia bem mais de uma semana que não via o Vitor, era uma sexta- feira e fazia um calor medonho. Enquanto caminhava para o ponto de ônibus Percy parou o carro ao meu lado e sua irmã desceu correndo na minha direção.
Não vou esconder o fato de que fiquei com medo, tomei um susto daqueles e quase gritei por socorro ou sai correndo pela rua escura.
Por sorte eu percebi quem era antes de fazer um enorme estardalhaço. A mulher com longos fios dourados e olhos azuis como o céus me abraçou como se fôssemos grandes amigas que não se viam a anos.
_O que está fazendo aqui nessa rua escura? Onde estava indo? - Ela pergunta com interesse.
_Estava indo para o ponto de ônibus atrás da avenida.
_Porque não vem de carro? - Acho engraçado a pergunta dela.
_Eu não tenho carro, e, se pegar um dos ônibus que passam em frente a faculdade terei que pagar duas por passagens.
_Estava indo para sua casa? - O que será que causa tamanha curiosidade nela?
_Sim... Por que?
_Eu vi você e pensei que talvez poderia me acompanhar, para uma comemoração! - Ela quase grita com empolgação.
_E você vai comemorar o que exatamente!? - Eu perguntei totalmente desconfiada.
_Minha permanência no Brasil e meu casamento!
_Ah, nossa, parabéns!!! - Fiquei realmente muito feliz! Eu realmente estava feliz, Yvi era uma garota muito bonita e parecia gostar de mim por qualquer motivo não aparente. - Eu só não posso demorar, tenho que fazer janta para o meu pai.
_Nós mandamos a janta! Mas hoje seu pai que me perdoe, você é minha!!! - Sorri com o jeito dela.
...
A menina era linda, muito linda mesmo! Seu sorriso tímido e seu jeitinho meigo, fiquei simplesmente apaixonada por ela.
Durante a comemoração, Yvi foi pedida em casamento novamente e me chamou para ser uma das damas. Achei uma decisão precipitada ainda assim gostei muito da ideia.
Edgar chegou algum tempo depois, ele estava acompanhado de uma garota baixinha e de olhos puxados. A garota tinha uma beleza simples. Ela não falou quase nada, sorria tímida e corava quase todo tempo. Mas todas as vezes em que ela falou mostrou-se muito inteligente.
_Que horas seu pai estará na casa? - Yvi perguntou de forma enrolada, talvez por ainda estar aprendendo o meu idioma ou talvez por já estar meio leve.
Eu sorri pela forma que ela perguntou.
_Hoje ele deve chegar meia noite, meia noite e meia no máximo. Ele não está de plantão.
_Plantão? - Ela pergunta claramente perdida.
_É quando ele tem que trabalhar a noite toda ou o dia todo. Ele é enfermeiro.
Percy falou algo com ela em inglês, depois olhou para o relógio, respondeu alguma coisa que ela havia perguntado. Ambos olharam para mim. Fiquei um pouco constrangida, principalmente pelo jeito que ele me olha.
_Peça alguma coisa para levar para o seu pai. Percy vai te levar em casa.
_Não precisa, acho que dá tempo de fazer alguma coisa... - Olho para o relógio na tela do celular, passava das onze e eu com certeza não conseguiria fazer nada.
_Não faça pouco, é meu noivado! Como é aquela palavra PJ? -;Ela pergunta ao irmão.
_Desfeita. - Ele responde sorrindo e olha pra mim.
_Isso!!! Você é um idiota, não deveria rir de mim. Sabe que ainda estou aprendendo! E você não faça desfeita comigo. É meu noivado, mas seu pai ainda estará com fome. Se não escolher eu mesmo escolho! - Yvi diz de forma petulante.
_ Do it, she's not going to choose! Edgar diz para Yvi e eu acho muito estranho. Porque ela simplesmente levantou e saiu.
_O que você disse?
_Que você não iria escolher. Eu conheço você!
_Você já foi melhor... - Digo e mostro língua para meu amigo.
O melhor de tudo é que mesmo depois de todo esse tempo Edgar e eu voltamos a ser amigos como se nada tivesse acontecido.
Os velhos hábitos voltaram naturalmente, e eu agradeço muito por ele ter agido da mesma forma.
_Não sei como consegue aguentar ele Akemi. - Digo para a garota lançando um olhar mortal para meu amigo.
_Eu não lhe disse meu nome... - Ela olha para ele buscando alguma resposta para a pergunta silenciosa.
_Ela é a Isabella. Bella a mais chata e feia. Edgar fala e todos na mesa acham graça da cara engraçada que ele faz.
_Ah, sim Isabella. Nós já nos falamos algumas vezes, me perdoe por não me lembrar de você.
Enquanto Edgar paquerava a garota de descendência chinesa que morava em Ohio eu sempre estava no meio tentando ajudar. Acabamos nos tornando meio que amigas, naquela época, mas nunca nos vimos de fato. Conversamos sempre por e-mail, porque eu tinha que usar o tradutor para tudo.
_Eu disse que você deveria fazer inglês... - Edgar sorriu.
_Eu preferi espanhol e sabe muito bem o porque! - Eu disse um pouco contrariada.
Eu era bolsista na escola Santo Antônio por isso tinha trabalhar duas horas todos os dias na biblioteca. Obviamente que não tinha tempo para conseguir estudar fazer trabalhos, ficar na biblioteca, cuidar da minha casa e deixar a comida pronta para o meu pai e para mim e ainda fazer as seis horas de aula semanais mais duas de conversação e claro, duas aulas de reforço que eram as aulas disponíveis para aquela matéria. Só nessa brincadeira eram mais dez horas adicionadas ao meu dia, quando com espanhol eu simplesmente fazia quatro aulas na semana, uma hora de conversação e nada de reforço!
Eu só tinha que me desdobrar as as terças e quintas, fazia a janta e limpava a casa correndo! O resto da semana dava até para ler um pouco.
Edgar sempre me dizia a importância do inglês. Agora ele não deixaria de falar, já que todos na mesa eram fluentes e eu ficava a ver navios na maioria do tempo até alguém me incluir na conversa mudando o idioma.
_É eu sei... Mas a minha opinião continua a mesma....
_Eu sei Ed. mas... - Falo na intenção de lembrá-lo que eu era bolsista na escola dele.
_Vamos mudar de assunto! Como está seu pai? E a casa?
_Meu pai está bem, ele pergunta por você as vezes, minha casa continua a mesma.
_Ainda louca por chocolates? - Ele sorri tirando do bolso uma pequena embalagem do meu chocolate preferido!
_Nesse quesito eu piorei. - Puxo rapidamente o chocolate das mãos dele. Ed da outra embalagem para a namorada.
_E vocês? - Aponto para os dois numa conversa paralela a todos na mesa.
_Estamos namorando. Ele diz cheio de orgulho. Na verdade mais que isso um pouco...
_Como assim?
_Akemi veio morar comigo, estamos planejando um casamento, no civil, sem muita coisa. Já inclusive demos entrada nos papéis, estaremos oficialmente casados daqui a duas semanas.
_Uau! Vocês são rápidos! Se eu ficar mais um ano distante é perigoso você aparecer com três crias e um cachorro! - Brinco.
_Duas dessas crianças já estão forno, não vai ser difícil arrumar mais uma e um cachorro.
_Ela está grávida? Você está grávida? - Falo um pouco mais alto do que seria educado.
_Sim... - Edgar sorri. - Mais fale mais baixo, o restaurante não precisa saber.
_Estou com doze semanas... - Akemi coloca as mãos na barriga e sorri, os olhos dela brilham como uma estrela.
_Meus parabéns!!!! - Me levanto e abraço os dois.
_O que eu perdi? - Yvi pergunta.
_Ed e Akemi estão grávidos! - Digo com empolgação.
_Isso é notícia velha. Meu casamento é notícia nova. Pare de roubar a atenção da minha dama! - Yvi diz brincando.
_Ela está com inveja porque o noivinho dela não quer bebês antes do casamento. - Ed debocha.
_Estamos praticando! - Yvi diz algo para noivo que responde e depois da gargalhadas, ambos falam em inglês, traduzindo não entendi nada, apenas sorri de modo educado.
_Vocês são amadores... - o noivo de Yvi diz com deboche ele fala em português e eu sorri, apesar de falarem no meu idioma eu estou perdida na conversa.
_Inveja é um sentimento terrível Trevor... - Edgar alfineta e o homem sorri balançando a cabeça.
Me sento no lugar e pergunto para o Percy se ele pode me levar agora pois está ficando tarde, mas ele fala com irmã na língua natal de ambos e eu fico sem entender.
_Parece que falar de mim sem que eu entenda virou uma mania... - Murmuro para que só ele entenda.
_A janta do seu pai. - Percy aponta para o garçom que trazia três recipientes de isopor.
_Isso é muito! Tem muita coisa mesmo!
Todos me ignoram, meu motorista apenas pega a sacola e anda a minha frente me deixando com cara de tacho. Se eu não tinha motivos para odiar Percy ele acaba de me dar um!
Chegamos no portão de casa e Percy não se deu o trabalho de conversar comigo. Ele simplesmente pegou as sacolas e parou ao lado do portão, como se dissesse "não vou te deixar carregar".Abri o portão e esperei que entrasse, minha casa era simples, não tinha muitos luxos, para falar a verdade nosso único luxo era a smart TV de 50" e o sofá retrátil em que meu pai estava sentado._Oi pai, desculpa demora, achei que chegaríamos mais cedo._ Tudo bem. - Meu pai responde ainda olhando a TV. _Vamos pedir pizza?_Eu trouxe comida senhor. - Percy responde atrás de mim.Percy tem uma voz grossa, é muito mais alto que eu, e olhando para ele agora enquanto se apresenta vejo que é mais alto até que meu pai._Rapaz você é muito alto. Tomava chá de bambu quando pequeno, ou sua mãe te dava fermento de bolos? - Meu pai brinca com uma estranha liberdade.Meu acompanhante não ente
Tive uma longa e sofrida conversa com meu pai. Eu contei o que aconteceu comigo na noite do aniversário do Vitor, disse o quanto estava magoada, que tinha medo de sofrer de novo. Meu pai me aconselhou a dar uma chance para o Percy."Nem todos os homens são iguais, eu realmente acho que esse rapaz gosta você. Se dê uma chance, supere."Essa foi a pior resposta que ele poderia me dar...Eu não posso negar que existe alguma coisa que me atrai em Percy, sempre me atraiu. Mas me sinto presa, estou amarrada pelas cordas invisíveis do medo.Talvez eu tenha medo de sofrer de novo! Ou talvez eu ainda sinta alguma coisa pelo Vitor.E no momento em que penso sobre isso ele senta-se ao lado. Meu coração para, uma dor aguda me corta o peito. Não quero chorar mas sinto que vou._Por favor Bella, me perdoa... - meu ex pede.Eu não olho para ele, começo a me le
_Porque está me evitando? O que aconteceu com você!? - Ele enxuga uma lágrima que escorre pelo meu rosto._Por favor não me toque. - Digo desviando meu rosto dos seus dedos._Você não pode sair da minha vida assim Bella. Precisamos conversar!!!_Eu não quero falar com você. Não tenho nada para dizer, não quero te ouvir. Eu vi o suficiente, não sou tão burra que você precise explicar e nem tão ingênua para não saber o que vocês estavam fazendo. - Os sentimentos dentro do meu peito mudaram completamente, sinto uma imensa raiva crescendo em mim._Isabella... - Ele diz devagar. - Você precisa me dar uma chance, eu sou homem, fui fraco, admito, mas... Nós não..._Cala boca Vítor! - Praticamente grito e as pessoas que passavam ao nosso redor nos olham, provavelmente querendo saber o que estava acontecendo. - Fica calado e longe de mim. O que você fez não tem volta ou explicação. - Digo entre os dente
Percy me trouxe em casa, eu o convidei para entrar enquanto fazia janta para o meu pai ele me contava sobre a irmã mais nova. O carinho que ele fala dela é palpável, sorrio achando lindo o carinho dele para com ela._Você quer jantar?_Não. - Ele responde se levantando da bancada da cozinha. - Vou conhecer meu sogro hoje?_Você já conhece meu pai._Não como seu namorado._Não estamos namorando. - Digo de forma displicente, sinto seus beijos em meu ombro e pescoço. - O que você está fazendo...? - Pergunto com a voz mais melosa do que gostaria._Tentando descobrir o que sou para você, já que não sou seu namorado. - Solto um gemido sem querer e sinto seu sorriso sobre a minha pele. - Um ficante, talvez?Me viro e o encaro._O que eu sou pra você? - Pergunto com a sobrancelha erguida, faço minha melhor pose inquisidora. Os olhos verdes agora muito mais escuros._Eu diria minha namorada, mas n
A semana passou muito rápido, em todos os dias Percy me trouxe em casa. Eu passei o sábado durante o dia arrumando a casa, a noite teve uma "festinha" na casa do meu namorado.Me surpreendi com a tal festa. Porque não é como as festas que Vitor costumava fazer, Percy se resumia com as irmãs dele e aos amigos. Tudo bem que eu me perdia as vezes na conversa porque dois deles só falavam em inglês.Tinha muita pizza, cerveja, refrigerante, salgadinhos e bolo. Enquanto tiro outra fatia de bolo uma cabecinha loira para ao lado._Você quer?_Você é... - Ela pensa um pouco. - Namorida do meu irmão?.Acho engraçado a forma que ela fala. Preciso me lembrar que ela está aprendendo o português._É namorada, e sim sou a namorada. - A garota sobe na bancada e vejo que tem uma cicatriz de queimadura no braço. - Você se queimou também?Ela levanta a manga da blusinha e posso ver o quanto está feia, a pele fina e enr
No domingo de manhã eu estava com o humor péssimo. Meu pai ainda estava dormindo quando acordei. Ele costuma chegar pela manhã quando seu plantão é a noite. Enquanto escovava os dentes o som do maldito interfone soava por toda a casa.Olho o relógio do celular e vejo que são dez horas da manhã. Quem em sã consciência bate na porta dos outros às dez da madrugada? Será que as pessoas não respeitam o sono dos outros!Abro o velho portão da minha casa. Moro num bairro humilde, apesar disso aqui é bem tranquilo. A maioria se conhece desde sempre, é um bairro bem antigo também. Na minha rua algumas das casas foram reformadas e estão até muito bonitas.A minha casa porém ainda tem o velho portão de madeira escura e sobre ele o pequeno telhado colonial. Olho pelo olho mágico e vejo um rapaz franzino, com certeza se enganou de casa. Abro o portão e tomo um susto.O rapaz segura um enorme buquê de rosas, pelo tamanho ex
Nós três fomos almoçar juntos. Meu pai, Percy e eu. Achava estranho o fato do meu pai ter tamanha liberdade com ele. Mas ouvindo os dois conversarem percebo que eles se conhecem a mais tempo do que imaginava, o que explica um pouco.Permaneço calada enquanto ouço os dois conversarem como velhos amigos. Eles estão falando do hospital Central onde meu pai trabalha e das pessoas que trabalham nele. Como se meu pai estivesse falando de um filho do qual tem orgulho sou incluída na conversa._Você acredita que outro dia o doutor Benedito estava falando dele para ele. Os dois riem com cumplicidade._Eu ainda não entendi... - Aponto o dedo de um para outro que estão sentados na minha frente, mudando de assunto completamente. - Qual é a de vocês? Há quanto tempo se conhecem? - Franzi a sombrancelha estranhando a cara que meu namorado fez._Você não sabia? - Percy é voluntário lá no hospital! Eu conheço ele tem...
Coloquei numa vasilha de porcelana branca o pêssego em calda e depois despejei o creme de leite que estava ao lado do queijo mascarpone. Me sentei ao lado do meu namorado que comia brownie com sorvete._Onde conseguiu isso? Ele apontou para um mostruário refrigerado que ocupava todo o lado esquerdo da entrada.Dei de ombros já colocando em minha mente que comeria daquilo também. Coloquei o primeiro pedaço na boca e gemi. Nunca tinha provado algo tão bom!Depois de acabar com o pêssego comi um pedaço da torta holandesa, outro de pudim e a goiabada com queijo. Ao lado daquele espaço da loja um arco dava passagem para uma outra área de vendas com potes de doce variados, queijos diversos, alguns pacotes de doces como cocadas, beijinhos, cajuzinhos, freezers com sorvetes e toda delícia pecaminosa.Percy comprou a