2. O inesperado

Quando acordei estava deitada numa cama macia, em um quarto neutro. Alguém conversava em uma parte da casa. Estava vestida com apenas camisa masculina que ia até o meio das minhas coxas. Eu não era baixinha, o fato de ter um metro e setenta de altura me fazia acreditar que poderia ser considerada alta.

Olhei ao redor e não encontrei minhas roupas. Caminhei de vagar pela casa, estranhamente não sentia medo. Na sala uma mulher alta e muito bonita estava sentada sorrindo para alguém que estava de costas para mim.

_Você acordou!? - Já estava preocupada.

A outra pessoa se levanta virando-se em minha direção. Sua expressão é séria e fria.

_Me desculpa se criei problemas para você e seu... - Não sei porque achei estranho que aquele rapaz tivesse uma namorada, afinal, não fosse a cicatriz em seu rosto eu poderia dizer que ele é lindo! - Namorado. - Respondo muito sem graça.

_Oh! - Ela abre um grande sorriso, realmente acolhedor. - Bom, o P&J realmente é um gato, mas acho que esse tipo de relação, hum... Não é muito bem aceito na América, acredito que em nenhuma civilização. - Ela ri novamente com a minha expressão confusa. - Ele é meu irmão.

_Ah! Eu... Me desculpa!

_Tudo bem, diz. Fico lisonjeado por achar que minha irmã poderia ser minha namorada. - Ele sorri e que sorriso lindo!

_Ela está vermelha. - A garota gargalhada. - Olha tudo bem... Eu vou te entregar suas roupas, preciso ir embora, meu noivo vai ter um ataque porque eu não liguei. Ela me leva até outro quarto. Um quarto com uma das paredes em cinza muito escuro e as outras num marrom claro.

O quarto com certeza era de Percy.

_Eu coloquei uma camisa do irmão em você porque com aquelas roupas pesadas você não dormiria bem. Não se assuste com meu irmão. Ele só... Não foi fácil para nenhum de nós, para P&J foi pior, ele estava lá e...

_Eu não sei do que está falando... - Digo. Eu realmente não sabia, acredito que tenha alguma a ver com a cicatriz no rosto dele, não arrisquei perguntar, esperava que ela me contasse.

_Você é muito bonita, parece legal. Estou precisando fazer amigos por aqui.

Só então me dou conta de aquela mulher tem um forte sotaque, ela não era brasileira, pelo menos não parecia.

_Meu nome é Yvi.

_Isabella. - Sorrio e aperto a mão que ela me estendeu. Pensei em perguntar o número dela mas o seu telefone tocou antes.

_Hi. - Ela diz e se afasta um pouco. Troco minha roupa enquanto ela conversa com alguém em outra língua. - Trevor é um chato, ele está ciúmes, acredita que ele largou o emprego para grudar em mim? Quero ver o que ele vai fazer se eu decidir ficar com os meus irmãos!

_Ele deve amar você.

_É... Eu sei que ama. Estaríamos casados a essa altura. - Ela suspira, parece triste. Eu gostaria de poder consolar a mulher mas no momento me sinto incapaz de respirar sem sentir dor.

_Vocês já acabaram? - Percy pergunta ele é tão sério...

_Sim.

Ele abre a porta e me olha.

_Vou levar vocês em casa. Trevor já ligou umas cinco vezes. Eu disse que você estava me ajudando com um probleminha... - Ele me olha estranho e sai do quarto.

O probleminha sou eu!?

_Vamos? - Yvi pergunta e caminha para fora do quarto enquanto eu a sigo.

....

Percy tinha deixado a irmã em frente a um prédio muito bonito. Os dois conversaram o tempo todo em alguma língua que presumo ser inglês e acredito que estivessem falando de mim sem que eu entendesse bulhufas. Estamos perto da minha casa, moro em um bairro simples e uma casa humilde.

_Me desculpa por tudo e muito obrigada. Não queria ter causado transtorno.

_Ok. - É tudo o que ele diz.

Ele para o carro, eu agradeço novamente e saio. Sentado na minha sala está a última pessoa que gostaria de ver.

_Onde você estava? Como voltou pra casa? Com quem estava? Com quem passou a noite?

_Não sei qual o motivo da sua preocupação... - Desdenho.

_O motivo é que eu passei a noite em claro atrás da minha namorada, perdi as contas de quantas vezes te liguei! - ele parece preocupado mas eu não dou a mínima.

_Você não é mais meu namorado! - Ele se faz de desentendido. - Vitor... Você é inteligente, achou mesmo que depois de se deitar com outra mulher eu ia te aceitar? - Solto um sorriso sem humor ao ver a expressão dele  - Você pensou não é!? Achou mesmo que eu ia te aceitar de volta!? - Escorrego minhas mãos até os joelhos, tento respirar fundo. Tento manter minhas pernas firmes. - O que te fez pensar isso!? - Começo sentir a raiva crescer no meu peito, alastrando para todo o corpo, aquecendo minhas veias. Se antes eu queria distância agora eu quero ele muito perto, perto suficiente para socar a cara dele. - Você é um idiota, é um completo imbessil! Como eu nunca tinha visto isso!?

_Meu amor... Eu estava mesmo errado. Me perdoe, por favor! Eu faço qualquer coisa, qualquer coisa! Te dou o que quiser...

_Me dá o que eu quero? - Um sorriso se abre em meus lábios e pela expressão do homem a minha a frente ele sabe que há algo que queira.

_Sim meu amor, qualquer coisa. Qualquer coisa, posso te dar qualquer coisa. Eu faço o que você quiser! Ele se aproxima e eu permito.

_Quero que fique longe de mim! - Empurro com força o peito dele. - Muito longe! Quando me ver finja que não me conhece. Porque isso é única coisa que eu quero. - Digo olhando nos olhos dele me segurando para não bater nele literalmente.

_Não... Isso não! - Os olhos dele se enchem de lágrimas e eu sinto ainda mais raiva.

_Vai embora!

_Bella, por favor! Não estrague o que temos, você está jogando fora um ano de relacionamento.

Ele não poderia dizer nada pior, porque agora todo o controle que tinha do meu corpo, a última gota de sanidade acaba de se esvair.

_Seu safado! Seu cachorro! VOCÊ jogou fora tudo que tínhamos, VOCÊ jogou tudo fora! VOCÊ não vale nada! - Bato nele, eu literalmente estou batendo nele. Estou cega de raiva. -  Seu porco imundo! Seu merda! Eu quero picar você em pedaços!

Mãos fortes seguram minha cintura, me arrancando para longe dele.

_Vai embora garoto! Vai embora!

_Não sem antes ela me ouvir, ela tem que entender que eu a amo, ela me ama, ela precisa de mim.

_Mas quanta prepotência!!!! Tento avançar e voltar a bater nele, mas meu pai me impede.

_Eu disse para ir. Ela não vai te escutar. Vá embora! O que quer que tenha a dizer é melhor esperar. Vai embora!

Ele ainda reluta um pouco, mas acaba indo embora, eu desabo no chão chorando novamente.

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