Quando acordei estava deitada numa cama macia, em um quarto neutro. Alguém conversava em uma parte da casa. Estava vestida com apenas camisa masculina que ia até o meio das minhas coxas. Eu não era baixinha, o fato de ter um metro e setenta de altura me fazia acreditar que poderia ser considerada alta.
Olhei ao redor e não encontrei minhas roupas. Caminhei de vagar pela casa, estranhamente não sentia medo. Na sala uma mulher alta e muito bonita estava sentada sorrindo para alguém que estava de costas para mim.
_Você acordou!? - Já estava preocupada.
A outra pessoa se levanta virando-se em minha direção. Sua expressão é séria e fria.
_Me desculpa se criei problemas para você e seu... - Não sei porque achei estranho que aquele rapaz tivesse uma namorada, afinal, não fosse a cicatriz em seu rosto eu poderia dizer que ele é lindo! - Namorado. - Respondo muito sem graça.
_Oh! - Ela abre um grande sorriso, realmente acolhedor. - Bom, o P&J realmente é um gato, mas acho que esse tipo de relação, hum... Não é muito bem aceito na América, acredito que em nenhuma civilização. - Ela ri novamente com a minha expressão confusa. - Ele é meu irmão.
_Ah! Eu... Me desculpa!
_Tudo bem, diz. Fico lisonjeado por achar que minha irmã poderia ser minha namorada. - Ele sorri e que sorriso lindo!
_Ela está vermelha. - A garota gargalhada. - Olha tudo bem... Eu vou te entregar suas roupas, preciso ir embora, meu noivo vai ter um ataque porque eu não liguei. Ela me leva até outro quarto. Um quarto com uma das paredes em cinza muito escuro e as outras num marrom claro.
O quarto com certeza era de Percy.
_Eu coloquei uma camisa do irmão em você porque com aquelas roupas pesadas você não dormiria bem. Não se assuste com meu irmão. Ele só... Não foi fácil para nenhum de nós, para P&J foi pior, ele estava lá e...
_Eu não sei do que está falando... - Digo. Eu realmente não sabia, acredito que tenha alguma a ver com a cicatriz no rosto dele, não arrisquei perguntar, esperava que ela me contasse.
_Você é muito bonita, parece legal. Estou precisando fazer amigos por aqui.
Só então me dou conta de aquela mulher tem um forte sotaque, ela não era brasileira, pelo menos não parecia.
_Meu nome é Yvi.
_Isabella. - Sorrio e aperto a mão que ela me estendeu. Pensei em perguntar o número dela mas o seu telefone tocou antes.
_Hi. - Ela diz e se afasta um pouco. Troco minha roupa enquanto ela conversa com alguém em outra língua. - Trevor é um chato, ele está ciúmes, acredita que ele largou o emprego para grudar em mim? Quero ver o que ele vai fazer se eu decidir ficar com os meus irmãos!
_Ele deve amar você.
_É... Eu sei que ama. Estaríamos casados a essa altura. - Ela suspira, parece triste. Eu gostaria de poder consolar a mulher mas no momento me sinto incapaz de respirar sem sentir dor.
_Vocês já acabaram? - Percy pergunta ele é tão sério...
_Sim.
Ele abre a porta e me olha.
_Vou levar vocês em casa. Trevor já ligou umas cinco vezes. Eu disse que você estava me ajudando com um probleminha... - Ele me olha estranho e sai do quarto.
O probleminha sou eu!?
_Vamos? - Yvi pergunta e caminha para fora do quarto enquanto eu a sigo.
....
Percy tinha deixado a irmã em frente a um prédio muito bonito. Os dois conversaram o tempo todo em alguma língua que presumo ser inglês e acredito que estivessem falando de mim sem que eu entendesse bulhufas. Estamos perto da minha casa, moro em um bairro simples e uma casa humilde.
_Ok. - É tudo o que ele diz.
Ele para o carro, eu agradeço novamente e saio. Sentado na minha sala está a última pessoa que gostaria de ver.
_Onde você estava? Como voltou pra casa? Com quem estava? Com quem passou a noite?
_Não sei qual o motivo da sua preocupação... - Desdenho.
_O motivo é que eu passei a noite em claro atrás da minha namorada, perdi as contas de quantas vezes te liguei! - ele parece preocupado mas eu não dou a mínima.
_Você não é mais meu namorado! - Ele se faz de desentendido. - Vitor... Você é inteligente, achou mesmo que depois de se deitar com outra mulher eu ia te aceitar? - Solto um sorriso sem humor ao ver a expressão dele - Você pensou não é!? Achou mesmo que eu ia te aceitar de volta!? - Escorrego minhas mãos até os joelhos, tento respirar fundo. Tento manter minhas pernas firmes. - O que te fez pensar isso!? - Começo sentir a raiva crescer no meu peito, alastrando para todo o corpo, aquecendo minhas veias. Se antes eu queria distância agora eu quero ele muito perto, perto suficiente para socar a cara dele. - Você é um idiota, é um completo imbessil! Como eu nunca tinha visto isso!?
_Meu amor... Eu estava mesmo errado. Me perdoe, por favor! Eu faço qualquer coisa, qualquer coisa! Te dou o que quiser...
_Me dá o que eu quero? - Um sorriso se abre em meus lábios e pela expressão do homem a minha a frente ele sabe que há algo que queira.
_Sim meu amor, qualquer coisa. Qualquer coisa, posso te dar qualquer coisa. Eu faço o que você quiser! Ele se aproxima e eu permito.
_Quero que fique longe de mim! - Empurro com força o peito dele. - Muito longe! Quando me ver finja que não me conhece. Porque isso é única coisa que eu quero. - Digo olhando nos olhos dele me segurando para não bater nele literalmente.
_Não... Isso não! - Os olhos dele se enchem de lágrimas e eu sinto ainda mais raiva.
_Vai embora!
_Bella, por favor! Não estrague o que temos, você está jogando fora um ano de relacionamento.
Ele não poderia dizer nada pior, porque agora todo o controle que tinha do meu corpo, a última gota de sanidade acaba de se esvair.
_Seu safado! Seu cachorro! VOCÊ jogou fora tudo que tínhamos, VOCÊ jogou tudo fora! VOCÊ não vale nada! - Bato nele, eu literalmente estou batendo nele. Estou cega de raiva. - Seu porco imundo! Seu merda! Eu quero picar você em pedaços!
Mãos fortes seguram minha cintura, me arrancando para longe dele.
_Vai embora garoto! Vai embora!
_Não sem antes ela me ouvir, ela tem que entender que eu a amo, ela me ama, ela precisa de mim.
_Mas quanta prepotência!!!! Tento avançar e voltar a bater nele, mas meu pai me impede.
_Eu disse para ir. Ela não vai te escutar. Vá embora! O que quer que tenha a dizer é melhor esperar. Vai embora!
Ele ainda reluta um pouco, mas acaba indo embora, eu desabo no chão chorando novamente.
Fazia bem mais de uma semana que não via o Vitor, era uma sexta- feira e fazia um calor medonho. Enquanto caminhava para o ponto de ônibus Percy parou o carro ao meu lado e sua irmã desceu correndo na minha direção.Não vou esconder o fato de que fiquei com medo, tomei um susto daqueles e quase gritei por socorro ou sai correndo pela rua escura.Por sorte eu percebi quem era antes de fazer um enorme estardalhaço. A mulher com longos fios dourados e olhos azuis como o céus me abraçou como se fôssemos grandes amigas que não se viam a anos._O que está fazendo aqui nessa rua escura? Onde estava indo? - Ela pergunta com interesse._Estava indo para o ponto de ônibus atrás da avenida._Porque não vem de carro? - Acho engraçado a pergunta dela._Eu não tenho carro, e, se pegar um dos ônibus que passam em frente a faculdade terei que pagar duas por passagens._Estava in
Chegamos no portão de casa e Percy não se deu o trabalho de conversar comigo. Ele simplesmente pegou as sacolas e parou ao lado do portão, como se dissesse "não vou te deixar carregar".Abri o portão e esperei que entrasse, minha casa era simples, não tinha muitos luxos, para falar a verdade nosso único luxo era a smart TV de 50" e o sofá retrátil em que meu pai estava sentado._Oi pai, desculpa demora, achei que chegaríamos mais cedo._ Tudo bem. - Meu pai responde ainda olhando a TV. _Vamos pedir pizza?_Eu trouxe comida senhor. - Percy responde atrás de mim.Percy tem uma voz grossa, é muito mais alto que eu, e olhando para ele agora enquanto se apresenta vejo que é mais alto até que meu pai._Rapaz você é muito alto. Tomava chá de bambu quando pequeno, ou sua mãe te dava fermento de bolos? - Meu pai brinca com uma estranha liberdade.Meu acompanhante não ente
Tive uma longa e sofrida conversa com meu pai. Eu contei o que aconteceu comigo na noite do aniversário do Vitor, disse o quanto estava magoada, que tinha medo de sofrer de novo. Meu pai me aconselhou a dar uma chance para o Percy."Nem todos os homens são iguais, eu realmente acho que esse rapaz gosta você. Se dê uma chance, supere."Essa foi a pior resposta que ele poderia me dar...Eu não posso negar que existe alguma coisa que me atrai em Percy, sempre me atraiu. Mas me sinto presa, estou amarrada pelas cordas invisíveis do medo.Talvez eu tenha medo de sofrer de novo! Ou talvez eu ainda sinta alguma coisa pelo Vitor.E no momento em que penso sobre isso ele senta-se ao lado. Meu coração para, uma dor aguda me corta o peito. Não quero chorar mas sinto que vou._Por favor Bella, me perdoa... - meu ex pede.Eu não olho para ele, começo a me le
_Porque está me evitando? O que aconteceu com você!? - Ele enxuga uma lágrima que escorre pelo meu rosto._Por favor não me toque. - Digo desviando meu rosto dos seus dedos._Você não pode sair da minha vida assim Bella. Precisamos conversar!!!_Eu não quero falar com você. Não tenho nada para dizer, não quero te ouvir. Eu vi o suficiente, não sou tão burra que você precise explicar e nem tão ingênua para não saber o que vocês estavam fazendo. - Os sentimentos dentro do meu peito mudaram completamente, sinto uma imensa raiva crescendo em mim._Isabella... - Ele diz devagar. - Você precisa me dar uma chance, eu sou homem, fui fraco, admito, mas... Nós não..._Cala boca Vítor! - Praticamente grito e as pessoas que passavam ao nosso redor nos olham, provavelmente querendo saber o que estava acontecendo. - Fica calado e longe de mim. O que você fez não tem volta ou explicação. - Digo entre os dente
Percy me trouxe em casa, eu o convidei para entrar enquanto fazia janta para o meu pai ele me contava sobre a irmã mais nova. O carinho que ele fala dela é palpável, sorrio achando lindo o carinho dele para com ela._Você quer jantar?_Não. - Ele responde se levantando da bancada da cozinha. - Vou conhecer meu sogro hoje?_Você já conhece meu pai._Não como seu namorado._Não estamos namorando. - Digo de forma displicente, sinto seus beijos em meu ombro e pescoço. - O que você está fazendo...? - Pergunto com a voz mais melosa do que gostaria._Tentando descobrir o que sou para você, já que não sou seu namorado. - Solto um gemido sem querer e sinto seu sorriso sobre a minha pele. - Um ficante, talvez?Me viro e o encaro._O que eu sou pra você? - Pergunto com a sobrancelha erguida, faço minha melhor pose inquisidora. Os olhos verdes agora muito mais escuros._Eu diria minha namorada, mas n
A semana passou muito rápido, em todos os dias Percy me trouxe em casa. Eu passei o sábado durante o dia arrumando a casa, a noite teve uma "festinha" na casa do meu namorado.Me surpreendi com a tal festa. Porque não é como as festas que Vitor costumava fazer, Percy se resumia com as irmãs dele e aos amigos. Tudo bem que eu me perdia as vezes na conversa porque dois deles só falavam em inglês.Tinha muita pizza, cerveja, refrigerante, salgadinhos e bolo. Enquanto tiro outra fatia de bolo uma cabecinha loira para ao lado._Você quer?_Você é... - Ela pensa um pouco. - Namorida do meu irmão?.Acho engraçado a forma que ela fala. Preciso me lembrar que ela está aprendendo o português._É namorada, e sim sou a namorada. - A garota sobe na bancada e vejo que tem uma cicatriz de queimadura no braço. - Você se queimou também?Ela levanta a manga da blusinha e posso ver o quanto está feia, a pele fina e enr
No domingo de manhã eu estava com o humor péssimo. Meu pai ainda estava dormindo quando acordei. Ele costuma chegar pela manhã quando seu plantão é a noite. Enquanto escovava os dentes o som do maldito interfone soava por toda a casa.Olho o relógio do celular e vejo que são dez horas da manhã. Quem em sã consciência bate na porta dos outros às dez da madrugada? Será que as pessoas não respeitam o sono dos outros!Abro o velho portão da minha casa. Moro num bairro humilde, apesar disso aqui é bem tranquilo. A maioria se conhece desde sempre, é um bairro bem antigo também. Na minha rua algumas das casas foram reformadas e estão até muito bonitas.A minha casa porém ainda tem o velho portão de madeira escura e sobre ele o pequeno telhado colonial. Olho pelo olho mágico e vejo um rapaz franzino, com certeza se enganou de casa. Abro o portão e tomo um susto.O rapaz segura um enorme buquê de rosas, pelo tamanho ex
Nós três fomos almoçar juntos. Meu pai, Percy e eu. Achava estranho o fato do meu pai ter tamanha liberdade com ele. Mas ouvindo os dois conversarem percebo que eles se conhecem a mais tempo do que imaginava, o que explica um pouco.Permaneço calada enquanto ouço os dois conversarem como velhos amigos. Eles estão falando do hospital Central onde meu pai trabalha e das pessoas que trabalham nele. Como se meu pai estivesse falando de um filho do qual tem orgulho sou incluída na conversa._Você acredita que outro dia o doutor Benedito estava falando dele para ele. Os dois riem com cumplicidade._Eu ainda não entendi... - Aponto o dedo de um para outro que estão sentados na minha frente, mudando de assunto completamente. - Qual é a de vocês? Há quanto tempo se conhecem? - Franzi a sombrancelha estranhando a cara que meu namorado fez._Você não sabia? - Percy é voluntário lá no hospital! Eu conheço ele tem...