Chegamos no portão de casa e Percy não se deu o trabalho de conversar comigo. Ele simplesmente pegou as sacolas e parou ao lado do portão, como se dissesse "não vou te deixar carregar".
Abri o portão e esperei que entrasse, minha casa era simples, não tinha muitos luxos, para falar a verdade nosso único luxo era a smart TV de 50" e o sofá retrátil em que meu pai estava sentado.
_Oi pai, desculpa demora, achei que chegaríamos mais cedo.
_ Tudo bem. - Meu pai responde ainda olhando a TV. _Vamos pedir pizza?
_Eu trouxe comida senhor. - Percy responde atrás de mim.
Percy tem uma voz grossa, é muito mais alto que eu, e olhando para ele agora enquanto se apresenta vejo que é mais alto até que meu pai.
_Rapaz você é muito alto. Tomava chá de bambu quando pequeno, ou sua mãe te dava fermento de bolos? - Meu pai brinca com uma estranha liberdade.
Meu acompanhante não entendeu muito bem, mas riu com educação. Ambos sentaram-se no sofá e eu fui para cozinha fazer um suco e servir a comida. Em uma das vasilhas de isopor havia batatas fritas, muitas delas, não estavam frias, mas também não chegavam a estar quentes.
Ouvi meu pai dando gargalhadas na sala e sorri, mesmo sem saber do que falavam. Fazia tempo que não via meu pai rindo tanto. Entreguei o prato com a refeição e uma limonada suíça para o velhote. Meu pai está com um semblante muito tranquilo e divertido enquanto mantinha sua conversa com o rapaz.
Percy está comendo das batatas que trouxe e bebendo do mesmo copo que eu enquanto conversava com pai sobre sua antiga vida, ele conta sobre seus pais, seus jogos, suas notas, professores...
Me levanto para pegar mais suco e lavar a louça da janta, que se resumia ao prato e ao copo do meu pai.
Eu ainda fui capaz de ouvir a voz de Percy dizendo que ficou em coma num hospital por mais de um ano e um período ainda se recuperando, sua voz triste conta com pesar o fato de não poder se despedir dos pais, ele se quer pode estar no velório...
A tristeza na voz dele era palpável, uma estranha sensação de pesar e tristeza que se instalou na sala. Eu não conseguia me mover principalmente agora que meu pai está contando sobre como foi difícil me criar sozinho, ele conta com um sorriso, mas eu sabia, pela sua voz que estava triste porque foi abandonado pela esposa quando eu tinha três meses, ele me criou sozinho. Meu coração se enche quando o ouvi dizer o quanto tem orgulho de mim por tudo que sou e faço.
Volto pra cozinha, acho que aquele era um momento para rapazes, se bem conheço meu pai, toda a história triste é apenas uma entrada para que ele aconselhe e dê palavras de ânimo para alguém.
Por algum motivo que eu desconheço meu pai gostou do Percy, nunca tinha visto ele bater papo com um rapaz por mais de cinco minutos. O único que conseguia um pouco mais de atenção era Edgar.
Não vou falar de Vitor, porque meu pai gostaria que eu tivesse terminado no minuto seguinte após ter aceitado namorar. Paulo, meu pai, era educado e só. Nunca rendia mais de três minutos de conversa com Vitor. Nunca se quer quis saber da vida ou aconselhar qualquer rapaz que tivesse interesse amoroso em mim.
Ouço meu nome e volto para sala. Meu pai diz que iria tomar banho e pede que arrume o sofá para a visita dormir. Acho que a surpresa estava estampada na minha cara porque meu pai sorri e diz que está tarde e é perigoso.
Certo, acho que o cara simplesmente conquistou meu pai. Ou ofereceu uma enorme quantidade de dinheiro o que dúvido muito. Principalmente porque Percy não parece com aqueles caras filhos de papai cheios da grana. Pego cobertores e um travesseiro e arrumo o sofá da forma mais confortável que consigo.
_Eu não sei o que disse ou fez para meu pai, mas, obrigada. Ele está mais leve e tinha muito tempo que não dava gargalhadas como eu o ouvi hoje. Ele realmente gostou de você e confia também...
_Eu quem deveria agradecer. Nunca conversei com alguém sobre as coisas do acidente com tanta, naturalidade... Seu pai me fez parecer humano.
_Por que você é um ET por acaso? - Eu brinco.
_Porque a maioria das pessoas me tratam diferente por causa... - Ele aponta para a cicatriz em seu rosto. - disso.
_Eu posso estar errada, mas pelo que sei, cicatrizes não tornam as pessoas mutantes, a menos que algum produto nuclear tenha invadido sua pele e corrente sanguínea em uma explosão e te dado super poderes. - Volto para arrumação do sofá e o rapaz fica em silêncio. - Você poderia ser como o Xavier, com toda essa pose de "superior", ou como a tempestade, ia ser legal... - Ele ri. - Pronto. - Boa noite Magneto.
_Seu namorado me chama de monstro. - Eu travei no meu lugar, fico um tempo sem saber o que dizer, queria me desculpar, estou envergonhada pela atitude estúpida do Vitor.
Abri e fecho a boca umas duas vezes sem consegui pronunciar palavra alguma
_Vitor não é mais meu namorado e ele é um idiota, não deveria ouvir o que ele diz... - Me virei para voltar para o quarto mas antes que desse um passo sua mão estava segurando meu pulso.
_O que você acha? - Franzi o cenho não entendi o motivo daquela pergunta. Percy virou o rosto e eu pude ver com riqueza de detalhes a cicatriz sobre a pele morena.
Não resisti a tentação de tocar a pele queimada, meus dedos tocaram desde a parte de cima perto dos olhos descendo pela bochecha até tocar o maxilar, então eu beijei seu rosto.
_Todos temos cicatrizes, a sua só é visível... - Tentei me virar e ir embora uma sensação estranha começou a revirar meu estômago e o medo se instalou dentro de mim. Batidas fortes no meu peito poderiam ser ouvidas em cada canto da sala enquanto eu olhava para os olhos verdes dele.
Os segundos de silêncio passavam preguiçosamente enquanto sentia minha ansiedade aumentando. Ele não diz nada fica me olhando como se medisse meu rosto.
_Me deixa ver as suas. - Percy diz e eu sinto ainda mais medo e vergonha.
_Você não vai querer ver, elas são feias e... Nojentas... E...
"Droga, porque ele está tão perto!? Porque ele está fazendo isso?"
Meus pés estão presos no chão, nenhuma parte do meu corpo responde a minha mente que grita de desespero.
_Eu tenho medo... - Sussurro sentindo a respiração dele bater contra meus lábios.
"Ele vai me beijar, ele vai me beijar!!!! E eu estou parada, não consigo me mover."
Sinto o toque quente dos lábios sobre os meus, eu correspondo ao beijo sem assimilar o que está acontecendo. Um turbilhão de emoções se acumulam no peito e meu coração parece falhar uma batida.
_Você não podia ter feito isso. Não podia... - Murmuro.
Meus olhos estão cheios de água, sinto um aperto tão grande na garganta, sinto que vou sufocar. Meu estômago está gelado e doendo muito. Eu estou tremendo, meu peito arde. Eu não sei o que está acontecendo comigo.
Enquanto ele me olha confuso eu só quero correr e não consigo segurar seu olhar. Me viro e caminho para meu quarto tentando enxugar as lágrimas grossas que saem pelos meus olhos sem que eu consiga conter.
Estou com vergonha da minha atitude descabida. Por que estou surtando? Foi um beijo! Eu não deveria estar assim. Há uma confusão tão grande dentro de mim! Passo pelo meu pai chorando baixo. Tentando me esconder e falho miseravelmente.
_O que aconteceu!? - Meu pai pergunta.
_Percy me beijou. - Digo sentindo meus olhos se encherem ainda mais de lágrimas.
_Isso deveria ser ruim? - Meu pai pergunta com sorriso. - Ele é um bom rapaz, você está solteira... Não vejo o porque de todo esse drama. - Ele sorri novamente. - Vamos culpar a TPM, amanhã eu e você conversamos sobre isso.
Balanço a cabeça e entro meu quarto.
Tive uma longa e sofrida conversa com meu pai. Eu contei o que aconteceu comigo na noite do aniversário do Vitor, disse o quanto estava magoada, que tinha medo de sofrer de novo. Meu pai me aconselhou a dar uma chance para o Percy."Nem todos os homens são iguais, eu realmente acho que esse rapaz gosta você. Se dê uma chance, supere."Essa foi a pior resposta que ele poderia me dar...Eu não posso negar que existe alguma coisa que me atrai em Percy, sempre me atraiu. Mas me sinto presa, estou amarrada pelas cordas invisíveis do medo.Talvez eu tenha medo de sofrer de novo! Ou talvez eu ainda sinta alguma coisa pelo Vitor.E no momento em que penso sobre isso ele senta-se ao lado. Meu coração para, uma dor aguda me corta o peito. Não quero chorar mas sinto que vou._Por favor Bella, me perdoa... - meu ex pede.Eu não olho para ele, começo a me le
_Porque está me evitando? O que aconteceu com você!? - Ele enxuga uma lágrima que escorre pelo meu rosto._Por favor não me toque. - Digo desviando meu rosto dos seus dedos._Você não pode sair da minha vida assim Bella. Precisamos conversar!!!_Eu não quero falar com você. Não tenho nada para dizer, não quero te ouvir. Eu vi o suficiente, não sou tão burra que você precise explicar e nem tão ingênua para não saber o que vocês estavam fazendo. - Os sentimentos dentro do meu peito mudaram completamente, sinto uma imensa raiva crescendo em mim._Isabella... - Ele diz devagar. - Você precisa me dar uma chance, eu sou homem, fui fraco, admito, mas... Nós não..._Cala boca Vítor! - Praticamente grito e as pessoas que passavam ao nosso redor nos olham, provavelmente querendo saber o que estava acontecendo. - Fica calado e longe de mim. O que você fez não tem volta ou explicação. - Digo entre os dente
Percy me trouxe em casa, eu o convidei para entrar enquanto fazia janta para o meu pai ele me contava sobre a irmã mais nova. O carinho que ele fala dela é palpável, sorrio achando lindo o carinho dele para com ela._Você quer jantar?_Não. - Ele responde se levantando da bancada da cozinha. - Vou conhecer meu sogro hoje?_Você já conhece meu pai._Não como seu namorado._Não estamos namorando. - Digo de forma displicente, sinto seus beijos em meu ombro e pescoço. - O que você está fazendo...? - Pergunto com a voz mais melosa do que gostaria._Tentando descobrir o que sou para você, já que não sou seu namorado. - Solto um gemido sem querer e sinto seu sorriso sobre a minha pele. - Um ficante, talvez?Me viro e o encaro._O que eu sou pra você? - Pergunto com a sobrancelha erguida, faço minha melhor pose inquisidora. Os olhos verdes agora muito mais escuros._Eu diria minha namorada, mas n
A semana passou muito rápido, em todos os dias Percy me trouxe em casa. Eu passei o sábado durante o dia arrumando a casa, a noite teve uma "festinha" na casa do meu namorado.Me surpreendi com a tal festa. Porque não é como as festas que Vitor costumava fazer, Percy se resumia com as irmãs dele e aos amigos. Tudo bem que eu me perdia as vezes na conversa porque dois deles só falavam em inglês.Tinha muita pizza, cerveja, refrigerante, salgadinhos e bolo. Enquanto tiro outra fatia de bolo uma cabecinha loira para ao lado._Você quer?_Você é... - Ela pensa um pouco. - Namorida do meu irmão?.Acho engraçado a forma que ela fala. Preciso me lembrar que ela está aprendendo o português._É namorada, e sim sou a namorada. - A garota sobe na bancada e vejo que tem uma cicatriz de queimadura no braço. - Você se queimou também?Ela levanta a manga da blusinha e posso ver o quanto está feia, a pele fina e enr
No domingo de manhã eu estava com o humor péssimo. Meu pai ainda estava dormindo quando acordei. Ele costuma chegar pela manhã quando seu plantão é a noite. Enquanto escovava os dentes o som do maldito interfone soava por toda a casa.Olho o relógio do celular e vejo que são dez horas da manhã. Quem em sã consciência bate na porta dos outros às dez da madrugada? Será que as pessoas não respeitam o sono dos outros!Abro o velho portão da minha casa. Moro num bairro humilde, apesar disso aqui é bem tranquilo. A maioria se conhece desde sempre, é um bairro bem antigo também. Na minha rua algumas das casas foram reformadas e estão até muito bonitas.A minha casa porém ainda tem o velho portão de madeira escura e sobre ele o pequeno telhado colonial. Olho pelo olho mágico e vejo um rapaz franzino, com certeza se enganou de casa. Abro o portão e tomo um susto.O rapaz segura um enorme buquê de rosas, pelo tamanho ex
Nós três fomos almoçar juntos. Meu pai, Percy e eu. Achava estranho o fato do meu pai ter tamanha liberdade com ele. Mas ouvindo os dois conversarem percebo que eles se conhecem a mais tempo do que imaginava, o que explica um pouco.Permaneço calada enquanto ouço os dois conversarem como velhos amigos. Eles estão falando do hospital Central onde meu pai trabalha e das pessoas que trabalham nele. Como se meu pai estivesse falando de um filho do qual tem orgulho sou incluída na conversa._Você acredita que outro dia o doutor Benedito estava falando dele para ele. Os dois riem com cumplicidade._Eu ainda não entendi... - Aponto o dedo de um para outro que estão sentados na minha frente, mudando de assunto completamente. - Qual é a de vocês? Há quanto tempo se conhecem? - Franzi a sombrancelha estranhando a cara que meu namorado fez._Você não sabia? - Percy é voluntário lá no hospital! Eu conheço ele tem...
Coloquei numa vasilha de porcelana branca o pêssego em calda e depois despejei o creme de leite que estava ao lado do queijo mascarpone. Me sentei ao lado do meu namorado que comia brownie com sorvete._Onde conseguiu isso? Ele apontou para um mostruário refrigerado que ocupava todo o lado esquerdo da entrada.Dei de ombros já colocando em minha mente que comeria daquilo também. Coloquei o primeiro pedaço na boca e gemi. Nunca tinha provado algo tão bom!Depois de acabar com o pêssego comi um pedaço da torta holandesa, outro de pudim e a goiabada com queijo. Ao lado daquele espaço da loja um arco dava passagem para uma outra área de vendas com potes de doce variados, queijos diversos, alguns pacotes de doces como cocadas, beijinhos, cajuzinhos, freezers com sorvetes e toda delícia pecaminosa.Percy comprou a
Depois de pouco mais de um mês depois da surra que Vitor levou. Ele continua me ligando, vira e mexe manda flores e da última vez até bombons. Umas duas vezes ele esteve aqui em casa, mas meu pai o colocou pra correr mesmo eu estando aqui.As vezes acho que meu namorado se sente incomodado. Eu não posso culpa-lo, também estaria no lugar dele. As atitudes do Vitor não são algo que eu possa controlar. O que Percy não sabe é que estou cada dia mais apaixonada por ele e Vitor não tem a menor chance.Enquanto estamos nos beijando na sala com a TV ligada para nos assistir. Eu estou sentada no colo dele. Nas pernas para ser exata, mais próxima dos joelhos. As mãos grandes e quentes seguram minha cintura carinhosamente, ele não está me apertando ou forçando meu corpo para mais próximo como Vitor costumava fazer. Estamos sozinhos em casa._Vocês podem fazer isso no quarto! - Meu pai fala assim que entra nos vê na sala.