4. Esse é...

Chegamos no portão de casa e Percy não se deu o trabalho de conversar comigo. Ele simplesmente pegou as sacolas e parou ao lado do portão, como se dissesse "não vou te deixar carregar".

Abri o portão e esperei que entrasse, minha casa era simples, não tinha muitos luxos, para falar a verdade nosso único luxo era a smart TV de 50" e o sofá retrátil em que meu pai estava sentado.

_Oi pai, desculpa demora, achei que chegaríamos mais cedo.

_ Tudo bem. - Meu pai responde ainda olhando a TV. _Vamos pedir pizza?

_Eu trouxe comida senhor. - Percy responde atrás de mim.

Percy tem uma voz grossa, é muito mais alto que eu, e olhando para ele agora enquanto se apresenta vejo que é mais alto até que meu pai.

_Rapaz você é muito alto. Tomava chá de bambu quando pequeno, ou sua mãe te dava fermento de bolos? - Meu pai brinca com uma estranha liberdade.

Meu acompanhante não entendeu muito bem, mas riu com educação. Ambos sentaram-se no sofá e eu fui para cozinha fazer um suco e servir a comida. Em uma das vasilhas de isopor havia batatas fritas, muitas delas, não estavam frias, mas também não chegavam a estar quentes.

Ouvi meu pai dando gargalhadas na sala e sorri, mesmo sem saber do que falavam. Fazia tempo que não via meu pai rindo tanto. Entreguei o prato com a refeição e uma limonada suíça para o velhote. Meu pai está com um semblante muito tranquilo e divertido enquanto mantinha sua conversa com o rapaz.

Percy está comendo das batatas que trouxe e bebendo do mesmo copo que eu enquanto conversava com pai sobre sua antiga vida, ele conta sobre seus pais, seus jogos, suas notas, professores...

Me levanto para pegar mais suco e lavar a louça da janta, que se resumia ao prato e ao copo do meu pai.

Eu ainda fui capaz de ouvir a voz de Percy dizendo que ficou em coma num hospital por mais de um ano e um período ainda se recuperando, sua voz triste conta com pesar o fato de não poder se despedir dos pais, ele se quer pode estar no velório...

A tristeza na voz dele era palpável, uma estranha sensação de pesar e tristeza que se instalou na sala. Eu não conseguia me mover principalmente agora que meu pai está contando sobre como foi difícil me criar sozinho, ele conta com um sorriso, mas eu sabia, pela sua voz que estava triste porque foi abandonado pela esposa quando eu tinha três meses, ele me criou sozinho. Meu coração se enche quando o ouvi dizer o quanto tem orgulho de mim por tudo que sou e faço.

Volto pra cozinha, acho que aquele era um momento para rapazes, se bem conheço meu pai, toda a história triste é apenas uma entrada para que ele aconselhe e dê palavras de ânimo para alguém.

Por algum motivo que eu desconheço meu pai gostou do Percy, nunca tinha visto ele bater papo com um rapaz por mais de cinco minutos. O único que conseguia um pouco mais de atenção era Edgar.

Não vou falar de Vitor, porque meu pai gostaria que eu tivesse terminado no minuto seguinte após ter aceitado namorar. Paulo, meu pai, era educado e só. Nunca rendia mais de três minutos de conversa com Vitor. Nunca se quer quis saber da vida ou aconselhar qualquer rapaz que tivesse interesse amoroso em mim.

Ouço meu nome e volto para sala. Meu pai diz que iria tomar banho e pede que arrume o sofá para a visita dormir. Acho que a surpresa estava estampada na minha cara porque meu pai sorri e diz que está tarde e é perigoso.

Certo, acho que o cara simplesmente conquistou meu pai. Ou ofereceu uma enorme quantidade de dinheiro o que dúvido muito. Principalmente porque Percy não parece com aqueles caras filhos de papai cheios da grana. Pego cobertores e um travesseiro e arrumo o sofá da forma mais confortável que consigo.

_Eu não sei o que disse ou fez para meu pai, mas, obrigada. Ele está mais leve e tinha muito tempo que não dava gargalhadas como eu o ouvi hoje. Ele realmente gostou de você e confia também...

_Eu quem deveria agradecer. Nunca conversei com alguém sobre as coisas do acidente com tanta, naturalidade... Seu pai me fez parecer humano.

_Por que você é um ET por acaso? - Eu brinco.

_Porque a maioria das pessoas me tratam diferente por causa... - Ele aponta para a cicatriz em seu rosto. - disso.

_Eu posso estar errada, mas pelo que sei, cicatrizes não tornam as pessoas mutantes, a menos que algum produto nuclear tenha invadido sua pele e corrente sanguínea em uma explosão e te dado super poderes. - Volto para arrumação do sofá e o rapaz fica em silêncio. - Você poderia ser como o Xavier, com toda essa pose de "superior", ou como a tempestade, ia ser legal... - Ele ri. - Pronto. - Boa noite Magneto.

_Seu namorado me chama de monstro. - Eu travei no meu lugar, fico um tempo sem saber o que dizer, queria me desculpar, estou envergonhada pela atitude estúpida do Vitor.

Abri e fecho a boca umas duas vezes sem consegui pronunciar palavra alguma

_Vitor não é mais meu namorado e ele é um idiota, não deveria ouvir o que ele diz... - Me virei para voltar para o quarto mas antes que desse um passo sua mão estava segurando meu pulso.

_O que você acha? - Franzi o cenho não entendi o motivo daquela pergunta. Percy virou o rosto e eu pude ver com riqueza de detalhes a cicatriz sobre a pele morena.

Não resisti a tentação de tocar a pele queimada, meus dedos tocaram desde a parte de cima perto dos olhos descendo pela bochecha até tocar o maxilar, então eu beijei seu rosto.

_Todos temos cicatrizes, a sua só é visível... - Tentei me virar e ir embora uma sensação estranha começou a revirar meu estômago e o medo se instalou dentro de mim. Batidas fortes no meu peito poderiam ser ouvidas em cada canto da sala enquanto eu olhava para os olhos verdes dele.

Os segundos de silêncio passavam preguiçosamente enquanto sentia minha ansiedade aumentando. Ele não diz nada fica me olhando como se medisse meu rosto.

_Me deixa ver as suas. - Percy diz e eu sinto ainda mais medo e vergonha.

_Você não vai querer ver, elas são feias e... Nojentas... E...

"Droga, porque ele está tão perto!? Porque ele está fazendo isso?"

Meus pés estão presos no chão, nenhuma parte do meu corpo responde a minha mente que grita de desespero.

_Eu tenho medo... - Sussurro sentindo a respiração dele bater contra meus lábios.

"Ele vai me beijar, ele vai me beijar!!!! E eu estou parada, não consigo me mover."

Sinto o toque quente dos lábios sobre os meus, eu correspondo ao beijo sem assimilar o que está acontecendo. Um turbilhão de emoções se acumulam no peito e meu coração parece falhar uma batida.

_Você não podia ter feito isso. Não podia... - Murmuro.

Meus olhos estão cheios de água, sinto um aperto tão grande na garganta, sinto que vou sufocar. Meu estômago está gelado e doendo muito. Eu estou tremendo, meu peito arde. Eu não sei o que está acontecendo comigo.

Enquanto ele me olha confuso eu só quero correr e não consigo segurar seu olhar. Me viro e caminho para meu quarto tentando enxugar as lágrimas grossas que saem pelos meus olhos sem que eu consiga conter.

Estou com vergonha da minha atitude descabida. Por que estou surtando? Foi um beijo! Eu não deveria estar assim. Há uma confusão tão grande dentro de mim! Passo pelo meu pai chorando baixo. Tentando me esconder e falho miseravelmente.

_O que aconteceu!? - Meu pai pergunta.

_Percy me beijou. - Digo sentindo meus olhos se encherem ainda mais de lágrimas.

_Isso deveria ser ruim? - Meu pai pergunta com sorriso. - Ele é um bom rapaz, você está solteira... Não vejo o porque de todo esse drama. - Ele sorri novamente. - Vamos culpar a TPM, amanhã eu e você conversamos sobre isso.

Balanço a cabeça e entro meu quarto.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo