Através da janela do leito de Téo, observei mais um dia nascer, em breve a médica passaria, dizendo que ele estava fisicamente bem, mas ainda inerte. Suspiro, todos os dias tento acreditar, mas é tão difícil, tão difícil acreditar que tudo ficará bem quando sei que as chances só diminui, a cada dia que se passa. O meu corpo começa a reclamar das noites mal dormidas, meu estômago parece pior, o que me impossibilita de comer de fato, e não apenas "beliscar" as minhas refeições, me sinto fraca, sinto como se todas as minhas forças físicas e mentais tivessem sido sugadas de mim, mas permaneço em pé, quando tudo que mais quero e dar-me por vencida.
— Bom dia, Cecília... — A médica entra com o mesmo tom moroso, dócil, eu sorrio — Está tudo bem? Está pálida... — O olhar dela me examina com curiosidade.
— Estou bem, meu estômago apenas não tem sido gentil comigo ultimamente, acredito que nunca comi tanta comida de hospital, embora trabalhe em um
Meu olhar incrédulo viajou entre meus sogros, o médico, então voltou para Téo, que ainda me olhava em confusão da cama. Pisquei uma, duas, três ou mais vez, tentei focar minha visão que vez e outra acreditava não estar em seu melhor momento, eu não sei, mas ainda que eu piscasse, eu não conseguia entender a situação a minha frente. Téo estava brincado, não é mesmo? Ele sempre teve essas brincadeiras bobas...Então ri, sabendo ter olhares confusos em mim. — Essa foi uma das sua piores brincadeiras, Téo, não tem um pingo de graça. — Resmunguei, e ainda assim, inclinei-me sobre ele, escondendo minha face em seu peito, querendo uma aproximação, talvez eu brigasse com ele futuramente por causa daquela brincadeira idiota, mas tudo que queria nesse momento era ser acolhida por seus braços, ouvi-o rir comigo, mas nada disso aconteceu, seus braços não me envolveram, e seu riso não ecoou — Por que não está me abraçando? — Inquiri queixosa, lacrimosa. Afastei-me brevement
Sentada sobre a poltrona logo ao lado de Téo, com meu rosto rolado em sua lateral, senti algo suave roçar minha face, como estava imersa em um cochilo, endireitei-me em um sobressalto, não reconhecendo ou entendendo aquele toque, minha atenção voltou-se para os lados, assustada, até pairar sobre meu marido, ele me olha com atenção, vejo receio, confusão em sua expressão, mas parecia que algo a mais havia pairado sobre ele, mas eu não consegui ler o que poderia ser, meu semblante franziu. — Eu sinto muito... — Ele se desculpou, meu peito se inflou de esperança, esperança de que tudo o que aconteceu horas antes não passasse de um engano, ele falaria que o houve não passava de uma de suas brincadeiras de mau gosto? Ele falaria que sentiu a minha falta, que me ama? Meu olhar o olhou em ansiedade — Sinto muito por tocá-la assim, é que você estava aqui, então... — Engoli seco, atolada por suas palavras, eu tive vontade de rir, não que fosse engraçado, mas pare
A casa estava do mesmo jeito que havíamos deixado a quase dois meses, a única diferença era que me sentia estranha ali, com alguém que nem ao menos me conhecia, mas que amava demais, olhei para cada canto a fim de tentar procurar as palavras certas para dizer a ele, mas nada veio em minha mente, então fechei os olhos e permaneci em silêncio. Após ele decidir vir comigo para nossa casa, não havíamos ficado próximos, longe disso, ele meio que mantinha uma barreira um tanto indestrutível, e eu respeitei, sendo médica sabia que aquilo poderia melhorar com o tempo, ele poderia recobrar a memória, mas isso era algo que somente o tempo poderia dizer, havia conhecido casos de pessoas que tiveram que se reconstruir por completas, mesmo dez anos depois, não havia recobrado um terço de sua memória e era feliz, poderia ser assim conosco, não poderia? Téo veio logo atrás de mim com seu pai o apoiava, por mais que o acidente não houvesse causado
Téo estava visivelmente tentando...Tentando se lembrar de mim, tentando ser um bom marido que já foi para mim, mesmo que para ele, nunca tenha existido.Nos primeiros dias após sua alta, ver ele tentando, me enchia de esperança, me fazia acreditar que eventualmente nos encontraríamos, mas a cada dia que passa, e ele continua da mesma forma, mais frustrada, impaciente eu ficou, sei que não deveria, sei que deveria ser grata, afinal ela estava ali, vivo, tentando estar comigo, mas é inevitável que esse sentimento não me envolva, me fazendo sentir sem esperanças, frustrada com ele, com a situação. Procuro tentar fazer com que ele se lembre ao menos de um detalhe meu, de nós, mas isso nunca acontece, o que me leva a manter uma distância dele, me faz repassar todos os nossos momentos por minha mente, temendo que ela nunca mais faça parte das lembranças dele,
Meu olhar traça o rosto sereno de Téo, envolvido em um sono profundo, após chegarmos em nosso limite juntos, não conseguimos pronunciar uma se quer palavra, nem mesmo nos aninhamos um ao outro como acostumávamos fazer após sexo, meu coração se apertou, mas tentei me manter onde estava, sem procurar aconchego, eu não queria parecer fraca, emocinal, ou talvez sem coração, afinal, era ele que não sabia no que havia se trasnformado uma boa parte de sua vida, era ele quem não conhecia a mulher que dormia ao seu lado, então virando-me para o lado oposto da cama, de costas para ele, murmurei um boa noite, o sono demorou para chegar, mas chegou, segundos depois de ele adormecer também, então ali estava eu, acordei antes mesmo que o sol nascesse, e velava seu sono, deixando que lembranças me penetrassem, me fazessem sentir meu coração virar fragalhos.*<
TÉO Minha cabeça está uma verdadeira zorra, uma bagunça por completo, desde a hora que acordei no hospital sentindo cada parte do meu corpo sentir como se tivesse virado um saco de pancada. As imagens eram um borrão, e apenas me lembrava precisamente de ter recusado sair com alguns amigos em plena sexta, e ido dormir exausto, em meu limite devido à semana de entrega de trabalhos da faculdade e de prática intensiva em meu estágio, nisso, até então eu tinha apenas vinte e três anos, em meu último ano de estágio e faculdade, solteiro, e sem planos para filhos no momento, e talvez pelos próximos dez anos pelo menos. Mas agora, tudo mudou, e indica que eu não só, conclui minha faculdade como entrei em um negócio com meu pai, o qual eu até então, me lembrava apenas de estar cogitado sobre. Toda via, não é apenas isso! Eu não só estou em um relacionamento sério, como estou... casado e um filho estava a caminho, um filho! Puta
TÉO Não sei como reagir diante minha mãe, e isso é estranho, mais estranho do que minha situação com Cecília. Até porque, com ela parece tudo novo, algo a ser definido, já com a minha mãe, as coisas parecem da mesma forma, e de algum modo confuso, por que não sei exatamente em qual pé paramos, estamos. Lembro de termos uma boa relação, a qual eu prezava muito, e muitas vezes não me sentia confortável em lhe dizer não, mas agora, parecia que algo havia acontecido, como se tivesse se rompido, desde o momento em que, pelo que eu me lembre, dei meu primeiro não a ela, e isso não me deixa nada confortável. Engulo seco, sustentando o olhar de minha genitora, ela parece impaciente. — Perdeu a memória, mas continua da mesma forma, sem um pingo de educação — Revirou os olhos, terminou de empurrar a porta ligeiramente fechada e passou por mim — Ainda não sei onde errei... — Resmungou dramaticamente, seguindo para a cozinha
CECÍLIADentro do meu carro, em frente a minha clínica, esfrego minha fronte, minha cabeça pesa, lateja, e meus ouvidos apitam, enquanto minha mente ri de mim.É inegável que o corpo de Téo reconheceu o meu na noite anterior, a forma como suas mãos me tocaram, o modo como seu corpo tomou o meu, deixaram isso claro. Foi evidente que em algum lugar dele, ainda existe vestígio de mim, de nós, toda via, do mesmo modo como tudo isso é incontestável, é claro que, a sua mente é a que comanda tudo, e ela está definitivamente apagada, uma bagunça. Eu vi isso nessa manhã, quando por um momento, ao sentir seus dedos me tocando intimamente, eu tive a esperança boba de que tudo não havia passado de um pesadelo, um dos meus piores… eu poderia sorrir, eu poderia soltar fogos de artifícios, então a confusão de meu