Sentada sobre a poltrona logo ao lado de Téo, com meu rosto rolado em sua lateral, senti algo suave roçar minha face, como estava imersa em um cochilo, endireitei-me em um sobressalto, não reconhecendo ou entendendo aquele toque, minha atenção voltou-se para os lados, assustada, até pairar sobre meu marido, ele me olha com atenção, vejo receio, confusão em sua expressão, mas parecia que algo a mais havia pairado sobre ele, mas eu não consegui ler o que poderia ser, meu semblante franziu.
— Eu sinto muito... — Ele se desculpou, meu peito se inflou de esperança, esperança de que tudo o que aconteceu horas antes não passasse de um engano, ele falaria que o houve não passava de uma de suas brincadeiras de mau gosto? Ele falaria que sentiu a minha falta, que me ama? Meu olhar o olhou em ansiedade — Sinto muito por tocá-la assim, é que você estava aqui, então... — Engoli seco, atolada por suas palavras, eu tive vontade de rir, não que fosse engraçado, mas pare
A casa estava do mesmo jeito que havíamos deixado a quase dois meses, a única diferença era que me sentia estranha ali, com alguém que nem ao menos me conhecia, mas que amava demais, olhei para cada canto a fim de tentar procurar as palavras certas para dizer a ele, mas nada veio em minha mente, então fechei os olhos e permaneci em silêncio. Após ele decidir vir comigo para nossa casa, não havíamos ficado próximos, longe disso, ele meio que mantinha uma barreira um tanto indestrutível, e eu respeitei, sendo médica sabia que aquilo poderia melhorar com o tempo, ele poderia recobrar a memória, mas isso era algo que somente o tempo poderia dizer, havia conhecido casos de pessoas que tiveram que se reconstruir por completas, mesmo dez anos depois, não havia recobrado um terço de sua memória e era feliz, poderia ser assim conosco, não poderia? Téo veio logo atrás de mim com seu pai o apoiava, por mais que o acidente não houvesse causado
Téo estava visivelmente tentando...Tentando se lembrar de mim, tentando ser um bom marido que já foi para mim, mesmo que para ele, nunca tenha existido.Nos primeiros dias após sua alta, ver ele tentando, me enchia de esperança, me fazia acreditar que eventualmente nos encontraríamos, mas a cada dia que passa, e ele continua da mesma forma, mais frustrada, impaciente eu ficou, sei que não deveria, sei que deveria ser grata, afinal ela estava ali, vivo, tentando estar comigo, mas é inevitável que esse sentimento não me envolva, me fazendo sentir sem esperanças, frustrada com ele, com a situação. Procuro tentar fazer com que ele se lembre ao menos de um detalhe meu, de nós, mas isso nunca acontece, o que me leva a manter uma distância dele, me faz repassar todos os nossos momentos por minha mente, temendo que ela nunca mais faça parte das lembranças dele,
Meu olhar traça o rosto sereno de Téo, envolvido em um sono profundo, após chegarmos em nosso limite juntos, não conseguimos pronunciar uma se quer palavra, nem mesmo nos aninhamos um ao outro como acostumávamos fazer após sexo, meu coração se apertou, mas tentei me manter onde estava, sem procurar aconchego, eu não queria parecer fraca, emocinal, ou talvez sem coração, afinal, era ele que não sabia no que havia se trasnformado uma boa parte de sua vida, era ele quem não conhecia a mulher que dormia ao seu lado, então virando-me para o lado oposto da cama, de costas para ele, murmurei um boa noite, o sono demorou para chegar, mas chegou, segundos depois de ele adormecer também, então ali estava eu, acordei antes mesmo que o sol nascesse, e velava seu sono, deixando que lembranças me penetrassem, me fazessem sentir meu coração virar fragalhos.*<
TÉO Minha cabeça está uma verdadeira zorra, uma bagunça por completo, desde a hora que acordei no hospital sentindo cada parte do meu corpo sentir como se tivesse virado um saco de pancada. As imagens eram um borrão, e apenas me lembrava precisamente de ter recusado sair com alguns amigos em plena sexta, e ido dormir exausto, em meu limite devido à semana de entrega de trabalhos da faculdade e de prática intensiva em meu estágio, nisso, até então eu tinha apenas vinte e três anos, em meu último ano de estágio e faculdade, solteiro, e sem planos para filhos no momento, e talvez pelos próximos dez anos pelo menos. Mas agora, tudo mudou, e indica que eu não só, conclui minha faculdade como entrei em um negócio com meu pai, o qual eu até então, me lembrava apenas de estar cogitado sobre. Toda via, não é apenas isso! Eu não só estou em um relacionamento sério, como estou... casado e um filho estava a caminho, um filho! Puta
TÉO Não sei como reagir diante minha mãe, e isso é estranho, mais estranho do que minha situação com Cecília. Até porque, com ela parece tudo novo, algo a ser definido, já com a minha mãe, as coisas parecem da mesma forma, e de algum modo confuso, por que não sei exatamente em qual pé paramos, estamos. Lembro de termos uma boa relação, a qual eu prezava muito, e muitas vezes não me sentia confortável em lhe dizer não, mas agora, parecia que algo havia acontecido, como se tivesse se rompido, desde o momento em que, pelo que eu me lembre, dei meu primeiro não a ela, e isso não me deixa nada confortável. Engulo seco, sustentando o olhar de minha genitora, ela parece impaciente. — Perdeu a memória, mas continua da mesma forma, sem um pingo de educação — Revirou os olhos, terminou de empurrar a porta ligeiramente fechada e passou por mim — Ainda não sei onde errei... — Resmungou dramaticamente, seguindo para a cozinha
CECÍLIADentro do meu carro, em frente a minha clínica, esfrego minha fronte, minha cabeça pesa, lateja, e meus ouvidos apitam, enquanto minha mente ri de mim.É inegável que o corpo de Téo reconheceu o meu na noite anterior, a forma como suas mãos me tocaram, o modo como seu corpo tomou o meu, deixaram isso claro. Foi evidente que em algum lugar dele, ainda existe vestígio de mim, de nós, toda via, do mesmo modo como tudo isso é incontestável, é claro que, a sua mente é a que comanda tudo, e ela está definitivamente apagada, uma bagunça. Eu vi isso nessa manhã, quando por um momento, ao sentir seus dedos me tocando intimamente, eu tive a esperança boba de que tudo não havia passado de um pesadelo, um dos meus piores… eu poderia sorrir, eu poderia soltar fogos de artifícios, então a confusão de meu
CECÍLIA Com as mãos na maçaneta da porta, suspirei profundamente, me preparando para encarar Téo, após literalmente fugir dele. A conversa com Zoe havia me dado uma nova visão a respeito do meu casamento, não que eu precisava que uma pessoa de fora me mostrasse o que devesse fazer, mas o modo como minha miga disse com propriedade das palavras me fez por um segundo parar de enxergar apenas essa sensação angustiante de não ter certeza do que me aguardava, do que seria meu casamento, foquei em outros pontos, como, eu não queria acabar com meu casamento, eu ainda amava meu marido da mesma forma, ou melhor, meu sentimento por ele, naquelas semanas intermináveis e incertas no hospital, me fez sentir mais a flor da pele, me fez amá-lo mais, e havia o fato de que, um pequeno ser humano estava crescendo em mim, um fruto que Téo havia ansiado, um fruto do nosso amor, que mesmo desconhecido por ele, existia... embora tudo tivesse uma bagunça, havia inúmeros motivos
CECÍLIA Meu olhar fica atento entre o médico e ele, logo na maca a alguns metros longe de mim, sentada em frente a ampla mesa do médico. Já fazia um pouco mais de um mês desde que ele ganhou alta, e estamos vivendo juntos, a atmosfera entre nós ainda era mio pesada, desconhecida até mesmo para mim, até por que, mesmo que antes estivéssemos em tipo de guerra conjulgal, havia lembranças, que eu acreditava assolar, tanto quanto eu. Mas eu tinha que lhe dar alguns crédito, ele havia tentado, todo dia me fazia mostrar alguma coisa que poderia ajudar com sua memória, foram tentativas vãs, é claro, minhas esperanças sobre ele se lembrar de mim, diminuiam cada vez mais, e minha insegurança aumentavam... mas eu também tentava, tentava ser compreensiva com a situação, paciente com ele, e tentava ajudá-lo com tudo ao meu alcance, e ali estávamos nós, em sua primeira consulta após o acidente. Téo havia parado de mancar, mas dores de cabeça que com