CECÍLIA
Dentro do meu carro, em frente a minha clínica, esfrego minha fronte, minha cabeça pesa, lateja, e meus ouvidos apitam, enquanto minha mente ri de mim.
É inegável que o corpo de Téo reconheceu o meu na noite anterior, a forma como suas mãos me tocaram, o modo como seu corpo tomou o meu, deixaram isso claro. Foi evidente que em algum lugar dele, ainda existe vestígio de mim, de nós, toda via, do mesmo modo como tudo isso é incontestável, é claro que, a sua mente é a que comanda tudo, e ela está definitivamente apagada, uma bagunça. Eu vi isso nessa manhã, quando por um momento, ao sentir seus dedos me tocando intimamente, eu tive a esperança boba de que tudo não havia passado de um pesadelo, um dos meus piores… eu poderia sorrir, eu poderia soltar fogos de artifícios, então a confusão de meu
CECÍLIA Com as mãos na maçaneta da porta, suspirei profundamente, me preparando para encarar Téo, após literalmente fugir dele. A conversa com Zoe havia me dado uma nova visão a respeito do meu casamento, não que eu precisava que uma pessoa de fora me mostrasse o que devesse fazer, mas o modo como minha miga disse com propriedade das palavras me fez por um segundo parar de enxergar apenas essa sensação angustiante de não ter certeza do que me aguardava, do que seria meu casamento, foquei em outros pontos, como, eu não queria acabar com meu casamento, eu ainda amava meu marido da mesma forma, ou melhor, meu sentimento por ele, naquelas semanas intermináveis e incertas no hospital, me fez sentir mais a flor da pele, me fez amá-lo mais, e havia o fato de que, um pequeno ser humano estava crescendo em mim, um fruto que Téo havia ansiado, um fruto do nosso amor, que mesmo desconhecido por ele, existia... embora tudo tivesse uma bagunça, havia inúmeros motivos
CECÍLIA Meu olhar fica atento entre o médico e ele, logo na maca a alguns metros longe de mim, sentada em frente a ampla mesa do médico. Já fazia um pouco mais de um mês desde que ele ganhou alta, e estamos vivendo juntos, a atmosfera entre nós ainda era mio pesada, desconhecida até mesmo para mim, até por que, mesmo que antes estivéssemos em tipo de guerra conjulgal, havia lembranças, que eu acreditava assolar, tanto quanto eu. Mas eu tinha que lhe dar alguns crédito, ele havia tentado, todo dia me fazia mostrar alguma coisa que poderia ajudar com sua memória, foram tentativas vãs, é claro, minhas esperanças sobre ele se lembrar de mim, diminuiam cada vez mais, e minha insegurança aumentavam... mas eu também tentava, tentava ser compreensiva com a situação, paciente com ele, e tentava ajudá-lo com tudo ao meu alcance, e ali estávamos nós, em sua primeira consulta após o acidente. Téo havia parado de mancar, mas dores de cabeça que com
CECÍLIAHidratei minha face, meus lábios, então fiz um coque alto, frouxo, para que eu me sentisse a vontade quando me deitasse. Ouvi barulhos minimos sobre a cama, da cadeira giratória, em frente a minha penteadeira, me virei para a cama que dividia com Téo, ele estava inquieto desde que cedeu para os seus pais mais cedo, a respeito de ir no evento da empresa fernandes, não havíamos tido tempo para discutirmos qualquer coisa ainda, mas agora parecia uma hora perfeita, levantei-me de minha cadeira e me acomodei sentada no meu lado da cama, o olhar dele desviou-se do livro em que fingia ler para mim, um sorriso pacíficp curvou meus lábios.— Tudo bem? — Inquiri, ele assentiu colocando o livro no mesinha embutida na cabeceira da cama — Você parece tenso desde que aceitou participar do evento... — Resmunguei, deixando minha mão e
TÉOEu havia pegado o carro para dirigir pela primeira vez desde todo o ocorrido... Foi um momento tenso, para mim e para minha esposa, que se recusou a falar comigo até que chegássemos ao estacionamento do evento. Sentada no banco de motorista, ela sorriu para mim, parecendo orgulhosa, e até mesmo aliviada. Cecília estava radiante. Em um vestido de modelo corpete de seda e com uma fenda ousada, eu só conseguia pensar no quão bela ela estava, e como eu me sentia sabendo que ela era minha... não como uma posse, propriedade, mas de uma forma mais singular...Na primeira vez que a vi, assim que sai do banheiro, senti vontade de despi-la, de me enterrar em seu corpo, por que parecia quanto mais a tinha, mais a queria, e eu sinceramente não sabia de onde havia saído sentimentos tão primitivos, mas a olhando... em pé, em frente ao espelho, tentando subir o z&iac
CECÍLIA Eu não sabia ao certo definir em uma única palavra apenas, como me sentia... Enganada, frustrada, triste... profundamente triste. Téo teria mentido para mim quando me diz que não gostava dela? Ele teria escondido de mim por pena, ou para acobertar uma traição... não, não... esse não era o Téo que eu conhecia... ele nunca me faria pagar papel de idiota... ele terminaria... Inspiro e Expiro, andando de um lado para o outro na frente de nosso carro... ele estava com a chave, não tinha como nem mesmo abrir a porta... Uma mão quente e grande toca em meu ombro eu me desvencilho... sabendo que se trata dele, meu marido. — Não me toca... — Demando em uma falsa calma, não consigo nem olhar para ele. — Cecí... — Não, não, não — Grito com o olhar baixo, ardendo por segurar lágrimas idiotas — Me leva para casa, por favor... — Peço, ouço seu suspiro
TÉOMinhas mãos alisam a lateral de Cecília, sobe e desce em uma carícia sorrateira. Ela está alinhada a mim, com sua cabeça pousada sobre meu peito, sua respiração está regulada, batendo sutilmente contra minha pele, ela está imóvel, como se estivesse dormindo, mas não está, talvez quisesse fazer parecer isso, e de alguma forma, tenho certeza que isso geralmente acontecia quando ela estava pensando.Constatações assim, quase me faz ter a certeza de que a conheço mais tempo de que minha mente alega. É como se mesmo a desconhecendo, eu a conhecesse... eu sei, era confuso...As coisas aconteceram tão... rapidamente, que eu ainda as estava processando... em um momento ela estava praticamente me pondo para fora de nosso quarto, e de alguma forma, aquilo me abalou, então minha cabeça girou e uma pon
TÉO No estacionamento da empresa, suspirei profundamente, ganhando coragem para sair do carro e assim adentrar o prédio. Alguns dias haviam se passado desde o evento, meu pai e minha mãe haviam simplesmente ido ao dia seguinte em minha casa cobrar explicações do nosso sumiço na noite antecedente de sua visita, bom meu pai não cobrou tanto quanto a minha mãe, ela fez tanto drama que eu eventualmente ri, Cecília me acompanhou, e minha mãe ela não gostou muito, mas ainda a conhecendo bem, consegui driblar a situação, alegando uma dor de cabeça, a preocupação de minha mulher médica renomada, no final, minha mãe agradeceu Cecília e se desculpou comigo, não foi uma coisa tão justa, mas nos livrou de um bom sermão. Passamos a semana seguinte bem, ainda podia sentir o pesar de Cecília, mas consegui sentir que ela estava cada vez mais a vontade com a situação, comigo, consequentemente parecíamos mais próximos, e em uma de nossas conversas ela me conven
CECÍLIA Com papéis, jalecos, e outros objetos contra meu peito, tentei abrir a porta da frente de casa com apenas uma mão. Como decidi pedir férias acumuladas no trabalho do hospital, estava me dedicando exclusivamente em minha clínica na parte da manhã, então antes mesmo das duas, vinha embora, e terminava o dia entre teleconsultas, e-mail, e quando Téo conseguia, vinha almoçar comigo. Já fazia algumas semanas desde que ele retornou o trabalho, eu sinceramente me senti apreensiva, sabendo da presença da tal Sabrina, mas em um dia qualquer, minha sogra comentou a saída da mulher da firma, pelo que parecia meu sogro havia remanejado ela para uma das filiais da empresa... eu logo soube o feito do meu marido, saber daquilo de alguma forma me fez aceitar um pouco mais a nossa situação, ainda doía não ouvir um eu te amo da parte dele, mas eu conseguia contornar minhas emoções, me apegar ao modo dedicado que Téo vinha trabalhando a cer