Olivia Gomes:Ao ouvir a notificação de uma nova mensagem e ver quem a mandou, uma onda de ansiedade e alegria me envolve instantaneamente. Meu coração acelera em meu peito enquanto leio cada palavra, com os olhos fixos na tela do celular: Delegada Monteiro: “Ele será liberado em trinta minutos.” Oh gloria, aleluia!Jogo o celular em cima do sofá de Laura e corro para seu quintal, onde as minhas roupas masculinas estão estendidas. Passei a manhã toda –enquanto Laura foi buscar Maya na casa de uma amiga– pensando, eu quero contar a verdade para Mike, mas não quero que ele se assuste assim que me ver. Então, vou como Oliver e aí quando ele estiver mais descansado conto a verdade para ele.Após me vestir e dá uma ajeitada no meu cabelo, me dou ao luxo de chamar um Uber. Dentro do carro, sinto o meu estômago revirar. Meus ferimentos ainda doem, e estão inchados, mas eu tenho que estar lá quando ele sair, mostrar a ele que ele não está sozinho.O carro para em frente à deleg
Fernando Duarte:Entro na sorveteria, segurando a porta para que Laura e Maya entrem. O sino acima da porta tilinta suavemente, anunciando nossa chegada. A pequena corre animada até o balcão, seus olhos verdes brilham, animados com a variedade de sabores à sua disposição. Ela coloca ambas as mãos nos vidros e se estica na ponta dos pés, tentando ver todos os sabores. Ela vira a cabeça com um sorriso radiante que ilumina seu rosto, não consigo evitar, acabo sorrindo também.Laura e eu seguimos mais lentamente, apreciando a alegria de Maya. Nossos olhares se cruzam brevemente, ela sorri para mim, sinto meu coração se aquecer.A sorveteria está tranquila, com apenas algumas mesas ocupadas por famílias e casais. A luz suave e o aroma doce do lugar criam uma atmosfera acolhedora. Laura e eu nos dirigimos ao balcão.— Então? — Falo, olhando para Laura, que desvia sua atenção para a filha.— Querida, que sabor você quer? — Laura pergunta, sorrindo para Maya.— O branco com bolotinhas, mamãe!
Fernando Duarte:A pergunta de Maya ressoa em meus ouvidos, seco rapidamente as lágrimas com a manga da camisa e forço um sorriso.— Um cisco caiu no meu olho — minto, tentando parecer casual.Ela estreita os olhos para mim, claramente desconfiada.— E por que tá chorando? — Indaga, obviamente não acreditando no que eu disse.— Não estava chorando — me apresso em dizer, tentando controlar a vergonha. Como fui tão descuidado, já não basta Laura me ver nesses momentos? — Apenas forcei meu olho a encher de água para poder fazer o cisco sair — improviso, tentando parecer convincente.Ela continua me encarando, como se estivesse tentando ler a verdade em meu rosto.— Funcionou? — Pergunta, ainda cética.— Não... — admito, sentindo-me um pouco culpado por mentir para ela.Maya franze a testa, pensativa, e então se debruça sobre a mesa, com uma expressão decidida.— Vem cá — ela ordena, gesticulando para que eu me aproxime.Olho para Laura, e ela apenas assente com um sorris.Faço como Maya
Artur Mendonça— Muito bem, já recolhemos o seu depoimento. Ficará detido até a audiência com o juiz — o delegado determina, sua voz firme e inabalável.— Como é? — Questiono entre os dentes, tentando conter minha raiva. — Sabe quem eu sou?— Um infrator — responde friamente, me fazendo ranger os dentes.— Não pode me manter aqui! — Exclamo, com a voz mais alta.— Aqui você é só mais um, oh queridinho — a delegada Mendonça me interrompe, sua voz gotejando sarcasmo. — E se levantar sua voz de novo, será preso por desacato a autoridade — ameaça, seus olhos brilhando em desafio.Fecho minhas mãos em punhos, sentindo a raiva crescer cada vez mais dentro de mim. Minha respiração fica pesada, e luto para manter a compostura enquanto me encaram impassíveis.— Escute, vocês estão cometendo um erro — digo, tentando controlar minha voz, embora ela saia trêmula de frustração.— E agrediu um oficial de justiça no processo — o delegado interrompe, sua voz fria e cortante.— Apenas pus minha mão em
Laura Martins:— Mike! — Exclamo alto, a surpresa e alegria em minha voz são incontroláveis assim que abro a porta de casa. Corro para abraçá-lo apertado, sentindo um enorme alívio.Nos soltamos, e meu olhar percorre-o de cima a baixo. Fora as mãos emfaixadas, não tem nenhum outro ferimento. Noto também o cheiro de seu perfume, ele deve ter passado em casa primeiro. Obervo seu rosto, sua expressão é cansada, mas um sorriso se abre amplamente por seus lábios.— Como você está? — Pergunto, minha voz apressada. — Estava tão preocupada com você lá na cadeia, fiquei sabendo pela tv que você foi liberado, sinto muito não poder ter ido te esperar lá.Antes que ele possa responder, ouço uma vozinha animada atrás de mim.— Tio Oliver! — Maya grita, sua voz cheia de inocência entusiasmo. Ela corre com suas perninhas curtas até a entrada da cozinha, onde Olivia está de pé, segurando um pano de prato. Meu coração aperta um pouco, lembrando que ainda não contei a verdade sobre Oliver para ela. Ol
Laura Martins: — Deixa ver se eu entendi direito — Mike começa, sua voz quebrando o silêncio que se instalou quando terminei de contar a história. Ele se levanta abruptamente, a cadeira rangendo sob seu peso. Começa a caminhar de um lado para o outro, as mãos gesticulando no ar conforme recapitula os pontos. — Um... — levanta um dedo, marcando cada fato. — Você conheceu Fernando no dia que foi contratada, mas não sabia que ele era o chefe e apelidou de ogro. Apenas o observo, sentindo o nervosismo crescente dentro de mim. — Dois: naquela época você era uma moradora de rua e mesmo sem saber o seu nome, ele te deu comida e pagou moradia pra você por três meses... — Mike continua, sua expressão misturando surpresa e ceticismo. — Ele não tem cara de quem faria isso por alguém — Olivia interrompe, seu tom carregado de desconfiança. Ela está sentada, ao meu lado, no sofá, com as pernas cruzadas. — Sim — Mike concorda, adicionando um terceiro ponto ao ar com seu dedo médio estendido
Laura Martins:— Mamãe... Mamãe... — a voz de Maya é um sussurro insistente. — Mamãe, acorda — ela continua cutucando meu rosto com seu dedinho.Abro os olhos devagar, piscando contra a luz.— Oi — murmuro, minha voz rouca, ainda grogue de sono.Vejo o rostinho de Maya, seus grandes olhos verdes me observando.Espreguiço-me, ainda meio zonza. A claridade do dia já está forte, e eu não faço ideia de que horas são. Antes que eu possa perguntar a Maya o que houve, ouço batidas firmes na porta.Resmungo, me sentindo mais cansada do que deveria. Quem poderia ser a essa hora? Imagino que ainda deva ser umas sete da manhã.Me levanto lentamente, cada passo parece pesado, minha mente ainda tentando despertar totalmente. Esfregando os olhos, giro a chave destrancando a fechadura. Ao abrir a porta, dou de cara com Fernando, trajado com o terno impecável preto sob medida.Arregalo os olhos, completamente surpresa.— Oi, namorada — ele diz com um sorriso, seus olhos azuis brilhando.— O-oi... — ga
Laura Martins:À medida que ele vai se aproximando, me sinto cada vez mais tímida, desvio o olhar de seus olhos intensos que fazem meu coração disparar e o ar mais difícil de inalar ao passo que os passos de Fernando ecoam no piso branco do chão, cada vez mais próximos, aumentando minha ansiedade.Mesmo eu usando uma das minhas melhores roupas, a diferença de qualidade entre meu vestido azul e o terno preto impecável, claramente sob medida, cai sobre seus ombros com uma elegância que só a alta costura proporciona, as linhas do tecido desenhando perfeitamente sua forma. Deixando estampado o quanto nossos padrões de vida são diferentes.Quando sinto o calor de sua mão tocar meu rosto, com o polegar acariciando suavemente minha bochecha, nossos olhares se conectam novamente. A intensidade desse contato visual faz um calor subir e se acumular nas maçãs do meu rosto, quase me fazendo arfar ao deslizar o meu olhar para seus lábios, tão rosados e convidativos...— Você está linda — ele diz,