Laura Martins:— Mike! — Exclamo alto, a surpresa e alegria em minha voz são incontroláveis assim que abro a porta de casa. Corro para abraçá-lo apertado, sentindo um enorme alívio.Nos soltamos, e meu olhar percorre-o de cima a baixo. Fora as mãos emfaixadas, não tem nenhum outro ferimento. Noto também o cheiro de seu perfume, ele deve ter passado em casa primeiro. Obervo seu rosto, sua expressão é cansada, mas um sorriso se abre amplamente por seus lábios.— Como você está? — Pergunto, minha voz apressada. — Estava tão preocupada com você lá na cadeia, fiquei sabendo pela tv que você foi liberado, sinto muito não poder ter ido te esperar lá.Antes que ele possa responder, ouço uma vozinha animada atrás de mim.— Tio Oliver! — Maya grita, sua voz cheia de inocência entusiasmo. Ela corre com suas perninhas curtas até a entrada da cozinha, onde Olivia está de pé, segurando um pano de prato. Meu coração aperta um pouco, lembrando que ainda não contei a verdade sobre Oliver para ela. Ol
Laura Martins: — Deixa ver se eu entendi direito — Mike começa, sua voz quebrando o silêncio que se instalou quando terminei de contar a história. Ele se levanta abruptamente, a cadeira rangendo sob seu peso. Começa a caminhar de um lado para o outro, as mãos gesticulando no ar conforme recapitula os pontos. — Um... — levanta um dedo, marcando cada fato. — Você conheceu Fernando no dia que foi contratada, mas não sabia que ele era o chefe e apelidou de ogro. Apenas o observo, sentindo o nervosismo crescente dentro de mim. — Dois: naquela época você era uma moradora de rua e mesmo sem saber o seu nome, ele te deu comida e pagou moradia pra você por três meses... — Mike continua, sua expressão misturando surpresa e ceticismo. — Ele não tem cara de quem faria isso por alguém — Olivia interrompe, seu tom carregado de desconfiança. Ela está sentada, ao meu lado, no sofá, com as pernas cruzadas. — Sim — Mike concorda, adicionando um terceiro ponto ao ar com seu dedo médio estendido
Laura Martins:— Mamãe... Mamãe... — a voz de Maya é um sussurro insistente. — Mamãe, acorda — ela continua cutucando meu rosto com seu dedinho.Abro os olhos devagar, piscando contra a luz.— Oi — murmuro, minha voz rouca, ainda grogue de sono.Vejo o rostinho de Maya, seus grandes olhos verdes me observando.Espreguiço-me, ainda meio zonza. A claridade do dia já está forte, e eu não faço ideia de que horas são. Antes que eu possa perguntar a Maya o que houve, ouço batidas firmes na porta.Resmungo, me sentindo mais cansada do que deveria. Quem poderia ser a essa hora? Imagino que ainda deva ser umas sete da manhã.Me levanto lentamente, cada passo parece pesado, minha mente ainda tentando despertar totalmente. Esfregando os olhos, giro a chave destrancando a fechadura. Ao abrir a porta, dou de cara com Fernando, trajado com o terno impecável preto sob medida.Arregalo os olhos, completamente surpresa.— Oi, namorada — ele diz com um sorriso, seus olhos azuis brilhando.— O-oi... — ga
Laura Martins:À medida que ele vai se aproximando, me sinto cada vez mais tímida, desvio o olhar de seus olhos intensos que fazem meu coração disparar e o ar mais difícil de inalar ao passo que os passos de Fernando ecoam no piso branco do chão, cada vez mais próximos, aumentando minha ansiedade.Mesmo eu usando uma das minhas melhores roupas, a diferença de qualidade entre meu vestido azul e o terno preto impecável, claramente sob medida, cai sobre seus ombros com uma elegância que só a alta costura proporciona, as linhas do tecido desenhando perfeitamente sua forma. Deixando estampado o quanto nossos padrões de vida são diferentes.Quando sinto o calor de sua mão tocar meu rosto, com o polegar acariciando suavemente minha bochecha, nossos olhares se conectam novamente. A intensidade desse contato visual faz um calor subir e se acumular nas maçãs do meu rosto, quase me fazendo arfar ao deslizar o meu olhar para seus lábios, tão rosados e convidativos...— Você está linda — ele diz,
Laura Martins:— Então? — Questiono, arqueando uma sobrancelha, Fernando está a alguns minutos apenas calado, me olhando como se estivesse tendo algum tipo de luta interna. Sua hesitação aumenta ainda mais a minha ansiedade diante do silêncio, a tensão quase palpável.— Agora somos namorados — ele afirma, se recostando na cadeira, seus olhos fixos nos meus. Apenas assinto com um movimento rápido de cabeça, o nervosismo borbulhando dentro de mim, mas me controlo para não demonstrar.— A confiança é a base para qualquer relacionamento, sem mentiras, sem mal entendimentos — Fernando continua, sua voz firme. — Precisamos ser honestos.— Sim — concordo, sentindo o nervosismo aumentar, mas mantendo minha expressão serena.— Lembra quando eu a chamei pela primeira vez a minha sala, lá na empresa? — Ele questiona, e eu aceno afirmativamente.— Lembro — respondo, a memoria ainda fresca em minha mente.— Eu perguntei como você conseguiu um encontro comigo, até insinuei que você tinha algo contra
Laura Martins:Laura: “Atualização 1: Agora sou oficialmente namorada de Fernando; atualização 2: Fernando me questionou sobre o encontro no restaurante, contei a história que você mandou, ele acreditou.”Clico em enviar. Não demora muito para a resposta piscar no meu visor.Cristiane: “Ótimo, continue assim, cative-o mais e depois o convença a começar a terapia.”Releio a mensagem mais algumas vezes, sentindo um peso crescente em meu peito. Jogo o celular em cima do criado-mudo e me jogo de costas na cama, fechando os olhos. Estou cansada. Muito cansada. O aperto em meu peito aumenta, a angústia e o desespero tentando tomar conta dos meus pensamentos.Respiro fundo, tentando afastar as dúvidas que me cercam. Meus pensamentos se voltam para Fernando e o beijo que compartilhamos mais cedo. A culpa e a incerteza pesam sobre mim, mas tento me convencer de que estou fazendo isso por um bem maior. A promessa de cura e a necessidade de segurança para Maya são o que me mantêm firme nesse cam
Mike Silva:Não consigo dormir. Olho para o relógio em cima do meu criado-mudo e ele marca três e meia da manhã. Sento-me, sentindo a insônia pesar em meus ombros. Oliver está deitado no colchonete ao lado da minha cama.O quarto não está totalmente escuro por conta de alguns filetes de luz dos portes que atravessam a janela, criando sombras dançantes nas paredes.Desço da cama, os pés descalços encontrando o chão frio, e me sento ao lado de Oliver. A angustia e a culpa pesam sobre mim como uma pedra.— Oliver — chamo, minha voz baixa e hesitante. — Ainda está acordado?— Humm — ele murmura, meio adormecido. — Que foi?— Você acha que Laura vai me desculpar? — Pergunto, minha voz tão baixa que mal parece um sussurro. A culpa e a incerteza pesam em minhas palavras.Depois da conversa que tivéssemos algumas horas atrás, Oliver conseguiu me deixar com a consciência pesada. Realmente, cada pessoa tem uma maneira diferente de responder aos problemas, e não é certo eu deixa-la sozinha nesse
Artur Mendonça:— Papai, você está bem? Te machucaram? — Fernanda bombeia as perguntas enquanto seus olhos me analisam preocupados, dou um beijo em sua testa. Seu rosto pequeno e redondo franzido em preocupação, e seus olhos, verdes como os meus, brilham com ansiedade. Dou um beijo suave em sua testa.— Estou bem, meu anjo — respondo, coloco um sorriso no meu rosto, para enfatizar que estou bem. Funciona, ela relaxa um pouco, mas ainda me observa atentamente, em busca de qualquer sinal de dor.— Amor, venha comer, mandei fazer seu prato preferido — minha esposa, Cristiane, diz com um sorriso caloroso. Ela pega minha mão e me guia para a copa. O cheiro familiar e reconfortante da comida enche o ar, e meu estômago –após ficar praticamente o dia inteiro detido naquela delegacia–, ronca em resposta.Ao entrarmos na copa, noto a mesa cuidadosamente arrumada, com um prato fumegante esperando por mim. Cristiane sempre sabe como fazer as coisas parecerem melhores, mesmo nos dias mais difíceis