Fernando Duarte:— Você está linda — comento em pensamentos, enquanto meus olhos teimam em não desviar dela. Instantaneamente, Laura ergue ambas as sobrancelhas, seus olhos se arregalam em surpresa, e suas maçãs do rosto são tingidas por um vermelho suave, dando um charme ainda maior à sua pele morena. Será que...?— O-obrigada — ela murmura, desviando o olhar do meu. É, eu falei em voz alta, idiota!— De nada — respondo, mesmo sem ter a intenção de elogiá-la em voz alta. Ela não precisa saber disso.— Então, você tem uma secadora, né? Preciso secar as minhas roupas e voltar ao trabalho.— Tenho sim — respondo, levando do sofá e estendo minha mão para ela.— O que foi? — Ela pergunta, as sobrancelhas franzidas enquanto encara a minha mão estendida.— As roupas — chacoalho a mão, impaciente, por que ela sempre desconfia de qualquer coisa vindo de mim? Ela implicou até porque eu puxei a cadeira para ela lá no evento. — Irei colocar para secar — explico, e reviro os olhos. Haja paciência
Laura Martins: À medida que vamos nos aproximando do carro, passo um dos meus braços sobres os meus seios, dentando escondê-los. Com a outra mão puxo nervosamente a camisa social de Fernando, que apesar de cobrir até o meio das minhas coxas, me sinto exposta demais. Tento me esconder por trás de suas costas enquanto caminhamos, para que o senhor Pedro não possa me ver nessa situação degradante. Fernando abre a porta do carro para mim, sento-me e ele entra pelo o outro lado do veículo. Encolho-me no banco, não tenho coragem nem de olhar para o motorista. Sem delonga, Pedro dar partida, o som do moto preenche o silêncio ensurdecedor dentro do carro. Encosto a minha cabeça na janela, uma sensação de tristeza tomando conta de mim. Respiro fundo e fecho os olhos, na minha mente só consigo pensar no que aconteceu com Mike e Oliver. Por que Fernando ficou tão irritado com eles? E por que os repórteres e os policiais estão envolvidos? São tantas perguntas sem resposta. É até difícil acred
Fernando Duarte:O sol escaldante brilha implacável sobre o asfalto enquanto eu me aproximo da entrada da empresa, criando uma atmosfera sufocante que reflete minha própria tensão interna. Cada passo que dou parece mais pesado do que o anterior, como se estivesse carregando o peso de todo o mundo nos ombros. Os repórteres se amontoam, me cercando como abelhas furiosas, suas vozes soando como zumbidos irritantes em meus ouvidos, empurrando microfones em minha direção enquanto suas perguntas cortam como facas afiadas. Os flashes das câmeras piscam incessantemente, capturando cada movimento meu. — Senhor Duarte, como você se sente sobre as acusações contra os seus funcionários?— O que o senhor tem a dizer sobre o roubo dos modelos da empresa de seu padrasto?— O senhor tem algum envolvimento com o roubo?Eu os ignoro, com os lábios serrados e deixando meus olhos fixos à frente, mantendo minha expressão impassível enquanto avanço para a entrada do prédio, meu silêncio servindo como uma b
Fernando Duarte:O som das portas se fechando ainda ecoa pelo hall enquanto continuo encarando o ponto onde Laura desapareceu. O silêncio que se segue é ensurdecedor, mas eu sei que todos na sala estão me observando e cochichando baixo sobre a minha atitude com uma funcionária, esperando minha próxima ação para fuxicarem ainda mais. Sinto o peso dos olhares em minhas costas, mas não me importo.Encaro as portas fechadas, intimamente tenho a esperança de que ela vai voltar por elas a qualquer momento, porém cada segundo parece uma eternidade enquanto a imagem de Laura, com os olhos cheios de raiva e lágrimas, está gravada em minha mente. Meu coração ainda está acelerado, mas eu não posso permitir que isso me controle.Artur se aproxima, seus passos ecoando no chão de mármore, ele para o meu lado. Com uma rápida olhada, vejo o seu rosto contorcido em uma expressão de desagrado misturado com curiosidade.— Aquela é Laura? A mulher que estava com você no evento do hospital?Faço um gesto
Mike Silva:O ambiente é familiar. As paredes brancas e frias da delegacia de Salvador não mudaram muito desde a última vez que estive aqui –quando tinha dezesseis anos, denunciado por minha própria mãe–. O som abafado de vozes e passos ecoa pelos corredores para dentro dessa sala, e a luz fluorescente sobre mim projeta sombras alongadas, criando um cenário austero e opressivo, trazendo à tona memórias das quais eu preferia esquecer. Estou com as mãos algemadas pousadas sob meu colo, sentindo o metal frio e apertado nos meus pulsos, sentado em uma cadeira dura de madeira, de frente para o delegado Correia.O delegado Correia, agora com sessenta e pouco anos, parece não ter mudado muito desde aquela época. Seus cabelos estão mais grisalhos, mas o olhar firme e o ar de autoridade permanecem. Ele foi o responsável por investigar meu caso anos atrás e, me deu seu contato, oferecendo sua ajuda sempre que eu viesse a precisar. O que nunca aconteceu, até o dia de hoje.— Mike Silva — Começa,
Cristiane Mendonça:O som de coisas se quebrando atinge meus ouvidos antes mesmo de eu chegar à porta de Fernando. Meu coração palpita, o medo querendo me dominar. Eu paro por um momento, respirando fundo, tentando acalmar meu coração. Meu filho está berrando tão alto que as palavras são indistinguíveis, mas a raiva é clara. Tento bater na porta, mas minha mão treme. Não há resposta. O desespero me consome. Pego a cópia da chave que fiz escondido de sua casa.A porta se abre com um ranger suave e entro cautelosamente, o som das minhas sapatilhas abafadas pelo caos que encontro. A sala está em desordem completa, com móveis virados e cacos de vidro espalhados pelo chão. Fernando está no meio de tudo, com os cabelos bagunçados e os olhos nublados, como se estivesse lutando contra algo invisível.— Fernando! — chamo, minha voz trêmula.Ele não me nota. Cada vez que me aproximo, parece que ele se afunda mais e mais na escuridão, gritando com vozes que só ele ouve. Sinto um medo antigo e fam
Laura Martins:O olhar intenso e raivoso de Cristiane pausa sobre mim, durante todo o caminho até a minha casa, ela não me dirigiu a palavra e nem me olhou, mas assim que atravessamos o umbral da porta e a fechei, seus olhos miram-me com tanta fúria que quase consigo sentir perfurarem a minha pele.Ana, de pé ao lado do sofá, está de braços cruzados, seus olhos apesar de neutros não me ajudam a sentir menos a tensão palpável dentro da minha sala, e mesmo eu estando em um ambiente familiar, não me sinto mais confortável, pelo contrário, as paredes parecem fechar-se ao meu redor, fazendo esse espaço parecer ainda menor e mais sufocante.— Não querem se sentar, não? — Ofereço, tentando manter a minha voz calma.Vejo Cristiane respira fundo, mas não se move. Seus olhos permanecem fixos em mim, acusadores e cheios de raiva e dor. Me sinto deslocada dentro da minha própria casa. Isso é ridículo! Não fiz nada de errado para receber esse tipo de olhar vindo dela.— O que a senhora quer comigo?
Laura Martins:“Você não tem ideia do que é ver seu filho se despedaçando, dia após dia, e não poder fazer nada”. — As palavras de Cristiane ecoam em minha mente, meus olhos capturam a visão devastadora à minha frente que chega a me deixar sem ar enquanto a culpa pesa em minha mente.Caminho devagar, cada passo cuidadoso para não me machucar no mar de cacos de vidros espalhados pelo chão. Minha respiração está pesada e o meu coração palpita ritmicamente em meu peito. A figura de Fernando vai ficando mais clara à medida que me aproximo, consigo ver seus ombros balançando com os soluços baixos.Com os pés, afasto os vidros e me ajoelho ao seu lado, agora posso ver claramente o rastro das lágrimas em sua face. Sinto um nó se forma na minha garganta.A minha mente é arrastada para a primeira coisa que Ana me deixo claro quando me visitou pela primeira vez: a depressão que assolava Fernando; ela me contou do acidente onde ele perdeu a esposa e a filha que estava prestes a nascer. Contou de