Capítulo 5 - Larissa

(Larissa)

Depois de fazer as compras com Catherine, nós duas paramos na praça de alimentação do shopping para conversarmos. Havia marcado com ela para nos encontrarmos quando ela me ligou ontem, dizendo que precisava conversar comigo sobre Pedro. 

一 Então, o que aconteceu? - Perguntei, dedicando totalmente a minha atenção a ela.

Catherine olhou para os lados e suspirou, fechando os olhos como se aquilo fosse doer. 

一  Eu descobri que ele está doente, Pedro tem uma doença rara e os médicos disseram que não podem fazer muito por ele, pelo menos não aqui. 

一  Sinto muito, amiga. Eu… nunca imaginaria algo assim..

一  Também não, mas… a questão é que ele terminou comigo alegando que por saber que vai morrer cedo, quer viver mais de sua vida. 

Meus olhos se arregalaram enquanto sua expressão ficava cada vez mais triste. 

一 Eu… espera um pouco, deixa eu pensar… 

Nosso pedido chegou e enquanto isso, processava tudo o que minha amiga disse. Por um lado, estava uma pessoa jovem que descobriu que lhe resta pouco tempo de vida e do outro, uma pessoa que está vendo o amor da sua vida a deixando para viver seus últimos dias longe. 

一 A decisão dele de te deixar para viver é bem… complicada. Ele poderia ter tido essa experiência ao seu lado, sabendo que teria alguém que o amava com ele. 

一  Eu também penso assim, por isso que doeu tanto quando aconteceu. 

一 Bem, ele está com a cabeça cheia. Não é fácil receber uma notícia dessas, mas você também deve seguir em frente. Pedro é seu grande amor, mas também já te fez sofrer muito. Você é uma pessoa maravilhosa e ele quem está perdendo em não passar seus últimos dias ao seu lado. 

一 Obrigada, minha mãe disse a mesma coisa. Espero conseguir esquecê-lo e que do fundo do meu coração, ele encontre a cura. 

一  Mas se isso acontecer, que se Deus quiser, vai, você não vai voltar para ele. Cansei de te ver sofrendo. 

Fiz um bico e uma expressão de raiva e ela riu. Terminamos nosso lanche e fomos para o salão de beleza, onde tínhamos marcado uma hora.

Acomodei-me confortavelmente na cadeira do salão de beleza, deixando-me envolver pela atmosfera relaxando enquanto aguardava a minha vez. Catherine estava sentada ao meu lado, folheando uma revista de fofocas. Enquanto conversamos, a porta do salão se abriu e Chiara entrou, seus cabelos loiros destacando sua beleza natural. 

Percebendo a nossa presença, ela acenou com um leve sorriso e eu fiz o mesmo, sabendo que meu coração estava bastante apertado em meu peito. Chiara começou a caminhar na nossa direção e Catherine guardou a revista, endireitando sua postura. 

一Olá, meninas. - Disse, com um sorriso falso. 一  Que surpresa encontrá-las por aqui.

一  Pois é, sempre gostamos de vir nesse salão. - Catherine disse. 

Chiara se aproximou mais, olhando os produtos que haviam na prateleira ao meu lado. Em um momento, seu salto alto pisou no meu pé arrancando um grito abafado dos meus lábios. 

一  Larissa, me desculpe! Foi um acidente. - Ela murmurou, seu olhar estranhamente cheio de malícia. 

Agachada, enquanto examinava meu pé, ergui os olhos vendo uma expressão satisfeita em seu rosto ao notar o sangue no meu dedo mindinho.

一 Você está bem? - Catherine perguntou, vendo minha expressão de dor. 

Apenas acenei para Catherine, enquanto aceitava o algodão que a manicure me deu. Limpei o sangue que já havia parado e respirei fundo, vendo Chiara entrar para a sala de depilação. 

一  É a sua vez, consegue levantar? - Elizandra, a manicure, me perguntou e eu forcei um sorriso confirmando. 

Fechei os olhos enquanto lavava o meu cabelo e minha mente trouxe de volta a expressão no rosto de Chiara. Ela fez aquilo de propósito?

Ao sair do salão, decidi caminhar um pouco. Minha mente estava conturbada com toda essa questão de Alessandro e Chiara. Cheguei em casa indo direto para o quarto tomar banho, quando terminei, olhei para o relógio no celular vendo que já ia dar oito horas. 

Onde Alessandro estava?

Segui para a cozinha, encontrando Margarida lavando a louça. 

一  Não sabia se a senhora iria vir jantar, mas está pronto, posso esquentar. 

一  Está tudo bem, eu faço isso. - Disse indo até as panelas e servindo um prato antes de colocar no microondas para esquentar. 

一  O patrão vem hoje? - Perguntou, de costas para mim.

一  Não sei, Mah, ele não me avisou. Mas pode ir quando terminar aí, se ele for jantar quando chegar, eu resolvo aqui. 

Ela acenou confirmando e terminou de lavar a louça antes de ir embora. Finalizei minha comida e lavei a louça, organizando tudo deixando como Mah havia deixado. 

Subi para o quarto, decidi fazer uma ligação para minha irmã antes do seu horário da noite acabar. Sempre que dava, ligava para ela para matar um pouco da saudade. 

Quando encerramos, vi que já eram dez horas e que Alessandro ainda não havia chegado. Ele nunca dormia fora, apenas quando estava viajando. 

Peguei meu celular para ligar para ele, mas o guardei quando ouvi o som do carro estacionando na garagem. Fui até a janela do nosso quarto e o vi descer e entrar na casa. 

Corri para o banheiro e me preparei para dormir, o encontrando tirando o seu paletó ao sair do banheiro. 

Meu esposo passou por mim depois de colocar as roupas no cesto e entrou no banheiro. O cheiro adocicado me fez estremecer e esperei ouvir o som do chuveiro sendo ligado para poder ir até o cesto de roupas. 

Tirei seu paletó e camisa, a cheirando para confirmar que havia sim, um cheiro doce, um perfume feminino em quase todo o lado direito das peças. 

Meu estômago embrulhou de ansiedade. Larguei as roupas do cesto e corri para a cama quando ouvi o chuveiro sendo desligado. Me cobri com os lençois e virei de costas para o seu lado. 

Ele estava com Chiara? Eu não reconhecia o seu cheiro, mas desses anos todos em que estamos juntos, é a primeira vez que ela volta para casa com um cheiro tão presente em suas roupas. 

A porta do banheiro se abriu e ouvi seus passos indo até o closet momento antes do seu lado na cama se afundar. O cheiro do seu sabonete preencheu o ar e eu prendi a respiração. 

A sensação de humilhação e tristeza estava presente e forte o suficiente para superar a apreciação que eu tinha pelo seu cheiro. 

Assustei com o som de algo vibrando e antes que eu pudesse ver o que queria, senti Alessandro se mexer na cama. 

一  Oi. - Ele disse em um tom calmo e baixo. 一 Você tem certeza?... Tudo bem, estou indo. 

Ainda de costas para ele, senti a cama se mexendo e ele se levantar. Alessandro entrou no closet e saiu momentos depois. O cheiro do seu perfume preenchendo o ar. Logo em seguida, o som da porta se fechando me fez erguer e encará-la. 

Peguei meu celular, vendo que eram três e meia da manhã. Ele estava indo se encontrar com Chiara?

As lágrimas teimam em brotar nos meus olhos e sem força o suficiente para segurá-las, as deixei escapar no momento em que ouvi o som do seu carro sendo ligado e ele se afastar. 

***

一  O que foi, não dormiu direito? - Rafael perguntou sentado na minha frente. 

一  Não, tive insônia no meio da noite e não consegui dormir mais. - Pisquei os olhos tentando afastar o sono, mas o bocejo que veio logo em seguida me entregou. 

一  Vou pedir um energético para você. Hoje precisa ficar acordada para a palestra do Sr. Oliveira. Já imaginou se você dormir enquanto ele recita o mesmo testamento?

Suas palavras me fizeram rir e fiz o sinal da cruz com os dedos. Rafael acena para a garçonete e faz o pedido do energético antes de parar e me encarar. 

一  Sabe que me deixa sem jeito ficar encarando assim. 

一  O que eu sei é que você está linda hoje. - Revirei os olhos enquanto ele ria. 

一 Não sei se confio em você. - A moça traz o energético e eu bebo um pouco fazendo careta. 一  Nossa, realmente não tem como eu gostar disso.

一  Você é fresca. 

一  Eu não era linda segundos atrás? - Perguntei colocando a bebida na mesa. 

一  Ainda é, mas isso não tem nada a ver com a sua frescura. 

Acerto um tapa de brincadeira em seu braço o fazendo rir. Nosso pedido chega e comemos com calma antes de voltarmos para a empresa. 

Como Rafael havia dito, Sr. Oliveira deu sua palestra de quase duas horas e quando ela estava prestes a finalizar, um bocejo exagerado deixou meus lábios, fazendo Rafael deixar uma risada escapar. 

Arregalei os olhos enquanto ele tapava a boca, percebendo que chamamos a atenção de algumas pessoas. 

一  Desculpa. - Ele pediu, mas quem não devia já tinha percebido. 

一  Algo de engraçado com os dois, Larissa e Rafael? - Sr. Oliveira perguntou insatisfeito. 

一  De jeito nenhum, senhor. Nos desculpe. - Pedi tentando manter uma expressão séria. 

Meu  chefe voltou a falar e eu olhei com cara feia para Rafael enquanto tentava segurar o riso. Só que ele sumiu rapidinho da minha boca ao ver Alessandro, parado próximo ao elevador, nos encarando. 

Eu conhecia aquela expressão, ele estava com muita raiva. Sua atenção foi tomada por um momento quando Chiara se aproximou, passando o braço pelo seu e falando alguma coisa, que o fez rir, mas olhar na nossa direção novamente. 

Droga, a mesma sensação de antes voltou. A empolgação que Rafael me trazia, sempre morria quando de alguma forma eu interagia com Alessandro. 

一  Finalmente! - Rafael falou baixo ao meu lado e eu o olhei, percebendo que meu chefe havia acabado. 一 Que tal nos encontrarmos no clube amanhã? Chamei a Catherine e ela disse que só vai se você for, e eu acho que deveria ir já que ela precisa espairecer um pouco. 

一 Tudo bem, mas vamos entre amigos, ouviu?

一  Você quem manda. Se mudar de idéia lá, me avise. - Piscou o olho e saiu rindo. 一  Encontro vocês lá às dez horas. 

Acenei confirmando, voltando a olhar para onde Alessandro estava, mas graças a Deus ele havia sumido. 

Voltei para a minha sala, tentando focar no meu trabalho. Mandei uma mensagem para Catherine confirmando que iriamos sair e quando deu a minha hora, arrumei minhas coisas e segui para o estacionamento. 

Assim que as portas se abriram, meus pés travaram no chão ao presenciar a cena. 

一  Me desculpe. - Alguém disse atrás de mim, entrando no elevador novamente e sumindo dali. 

Mas eu continuei, os vendo se afastar e Alessandro me encarar com um pouco de confusão e raiva. Chiara sorriu, voltando a segurar o seu braço como da outra vez. 

Meus olhos estavam fixos nos de Alessandro, mas quando senti o nó na garganta e as lágrimas teimando em vir, forcei minhas pernas a se movimentarem.

一 Boa noite, Sr. Moratti. - Disse com a voz baixa, passando por eles e entrando no meu carro. 

Minhas mãos estavam tremendo ao ponto de me fazer derrubar a chave no chão. Respirei fundo, vendo minha visão embaçada por causa das lágrimas. Finalmente consegui e dei partida no carro, saindo sem olhar para trás. 

Uma sensação ruim avassalou meu peito e eu já não conseguia enxergar direito em meio ao choro. Procurei um lugar para estacionar e deixei, em uma tentativa falha, a tristeza transbordar junto com a dor que eu estava sentindo. 

Eu não devia estar assim, nunca me foi prometido o seu amor, sua fidelidade, ele nunca me deu uma pista de que isso aconteceria. 

Tudo o que justificou esse sentimento que tenho e a forma como ele foi crescendo, foi apenas porque minha mente criou essas fantasias no momento em que ele me procurava apenas para satisfazer o seu prazer. 

O único momento em que eu estava mais vulnerável e via um pouco de algo ali, mesmo não sabendo o que seria. 

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