(Larissa)
Chicago
O frio batia leve no rosto, daquele jeito gostoso de outono, com o vento bagunçando um pouco meu cabelo e o cheiro de café e folhas secas invadindo o ar. Rafael e eu caminhávamos tranquilamente pelo Millennium Park. As árvores estavam todas em tons de laranja e dourado, como se a cidade tivesse passado um filtro vintage.Quando paramos em frente ao “Bean”, tirei as mãos dos bolsos e olhei meu reflexo distorcido naquela escultura metálica. Por um instante, não me reconheci. E, sinceramente? Foi bom.
— Você sabe que foi a estrela da noite ontem, né? — Rafael falou, com aquele
(Larissa)O quarto estava meio escuro, só com a luz do abajur no canto. Eu tentava tirar os brincos, com o corpo todo pedindo arrego. A cabeça latejava, não só pelo cansaço, mas por tudo que aconteceu nas últimas horas.Joguei a echarpe por cima da poltrona e comecei a abrir os botões da blusa quando ouvi três batidinhas na porta.— Pode entrar — falei, sem nem tentar disfarçar o cansaço na voz.Margarida apareceu. Sempre tão serena, mas hoje... tinha algo diferente no olhar dela. Trazia uma bandeja simples nas mãos, com uma xícara de chá soltando aquele vaporzinho quente e acolhedor.— O senh
Eu fiquei muda por um instante. Ele tinha razão. E isso doía mais do que eu queria admitir.— Não é culpa sua — falei, rápido demais. — Rafael, você não fez nada de errado. Eu que… — engoli seco. — Eu que devia ter sido mais sincera com você.Ele me olhou, confuso.— Sincera sobre o quê?— Sobre mim… sobre o que tá acontecendo entre mim e o Alessandro. Ou o que aconteceu. — Desviei o olhar, sentindo meu rosto esquentar. — É tudo uma bagunça. E eu… eu não quis te colocar no meio disso.Rafael soltou uma risada irônica, mas não havia alegria nenhuma nela.
O jantar foi tranquilo, quase terapêutico. Teresa falava sobre as flores do jardim, Lúcio reclamava que ninguém deixava ele colocar mais azeite na comida por causa do colesterol, e por alguns minutos, a vida parecia simples de novo.Depois que terminamos, Lúcio se levantou com um brilho no olhar.— E aí, garota. Que tal um xadrez? Faz tempo que não tenho uma adversária decente.— Não garanto muita coisa — ri, me levantando — mas topo.Fomos até a sala de estar. A mesinha já tinha um tabuleiro clássico de madeira pronto. Ele tirou as peças da caixa com o mesmo cuidado de quem lida com uma relíquia.— Essa aqu
Já passava das seis e cinquenta quando comecei a desligar o computador. A luz da minha sala era a única acesa em todo o setor — todo mundo já tinha ido embora. A segunda-feira tinha sido cansativa, mas estranhamente leve.Era como se, só de saber que minha decisão estava tomada, parte do peso nos meus ombros tivesse sumido.Respirei fundo, peguei minha bolsa e ia me levantar quando a porta se abriu.Meu coração pulou no peito.Alessandro entrou como se tivesse o direito de invadir o que quisesse, e por um instante, nós apenas nos encaramos. O mesmo rosto, o mesmo olhar, a mesma presença que ainda mexia tanto comigo… mas que agora me causava mais dor do que qualquer outra coisa.<
Eu estava focada no relatório quando ouvi a porta se abrir devagar. Meus dedos continuaram no teclado, mas meu coração deu aquele pulo automático. Seu perfume me atingiu antes mesmo de eu erguer o olhar.Alessandro.Fechei os olhos por um segundo, tentando manter a concentração, mas a presença dele era como uma nuvem pesada se espalhando pela sala.— Se for confusão, pode dar meia-volta — falei, sem tirar os olhos da tela. — Eu tenho muito trabalho pra fazer.Ele não respondeu. Só ouvi o barulho da cadeira sendo puxada e, segundos depois, o suspiro dele. Um suspiro cansado. Lento. Quase doído.Virei um pouco e o olhei só
Ela me olhou com um pouco de pena, aquele tipo de olhar que eu odiava receber.— Senhorita, seu pai teve uma parada cardíaca. Ele precisou ser reanimado e está passando por um procedimento agora. O médico vai falar com vocês assim que possível, tá bom?Uma parada cardíaca.A frase ecoou na minha cabeça como um soco. Eu mal ouvi mais nada depois disso. Me virei devagar e fui cambaleando até uma das cadeiras no canto da recepção e sentei como se meus ossos tivessem virado pó. Apoiei os cotovelos nos joelhos e enterrei o rosto nas mãos. Eu tremia inteira. Meu pai…Como isso podia estar acontecendo?Senti alguém se sentan
Ela me olhou com um pouco de pena, aquele tipo de olhar que eu odiava receber.— Senhorita, seu pai teve uma parada cardíaca. Ele precisou ser reanimado e está passando por um procedimento agora. O médico vai falar com vocês assim que possível, tá bom?Uma parada cardíaca.A frase ecoou na minha cabeça como um soco. Eu mal ouvi mais nada depois disso. Me virei devagar e fui cambaleando até uma das cadeiras no canto da recepção e sentei como se meus ossos tivessem virado pó. Apoiei os cotovelos nos joelhos e enterrei o rosto nas mãos. Eu tremia inteira. Meu pai…Como isso podia estar acontecendo?Senti alguém se sentando ao meu lado e nem pensei em olhar. Eu sabia que era ele.Tentei ignorá-lo por alguns minutos, mas a presença dele era sufocante demais.— O que você tá fazendo aqui ainda? — Tô preocupado com seu pai. E com você.Eu virei o rosto devagar para encará-lo.— Eu não estou sozinha, Alessandro.Ele assentiu, mas o olhar dele era firme.— Mesmo assim, eu não vou embora.Solt
Vi Guilherme conversando com uma enfermeira do outro lado da recepção. Ele me notou e veio em minha direção com um sorriso cansado.— A enfermeira disse que o seu pai vai continuar na UTI até a tarde, mas ele está estável. Você devia ir pra casa descansar, Larissa.— Eu não quero — suspirei. — Eu sei que não vou conseguir dormir.— Então pelo menos deita um pouco, toma um banho... — ele sugeriu gentil. — O Sr. Álvaro tá bem melhor. E quando ele acordar, eu te ligo, prometo.Assenti devagar, com o coração apertado e a mente em mil lugares.— Obrigada, Guilherme... por cuidar de