Capitulo 1

Damian Vólkov

O tempo não perdoa. Ele devora tudo, reduz homens a memórias esquecidas e impérios a ruínas. Mas não a mim. Eu permaneci. Não por escolha, mas por uma maldição. Uma condenação sussurrada sob a luz pálida da lua, quando uma bruxa de olhos negros e voz de veneno selou meu destino. Desde então, a eternidade tem sido minha carcereira.

A imortalidade é um peso, uma prisão sem grades. Quando fui amaldiçoado naquela noite, eu não compreendia o que significava existir além do tempo. Agora, séculos depois, entendo o que a bruxa quis dizer quando sorriu antes de desaparecer na escuridão. Eu nunca morreria. Mas também nunca viveria de verdade. Cada batida do coração se tornou um eco distante de um homem que já fui. A paixão, o medo, a alegria, a dor... tudo se tornou um murmúrio apagado na tempestade incessante dos anos.

Comandei exércitos, assisti a nações nascerem e caírem, vi a humanidade mudar e se reinventar. Eu me adaptei, tornei-me um homem de negócios, construí um império que se estende por continentes. Hoje, sou Damian Vólkov, CEO de um conglomerado bilionário, um nome temido e respeitado no mundo corporativo. Um predador entre homens. Não por ambição, mas por necessidade. Os fracos desaparecem. Eu permaneço.

A lua cheia brilha através da ampla parede de vidro do meu escritório. A cidade abaixo é um organismo pulsante, suas luzes piscam como um emaranhado de estrelas artificiais. Os sons vibram, carros e vidas se movem em um ciclo incessante. Eles vivem, sonham, amam e morrem. O ciclo se repete, mas eu sou a constante. O whisky em meu copo desliza enquanto balanço o líquido dourado, mas não bebo. O sabor não importa. Nada importa.

A eternidade é solitária. Já me afeiçoei a pessoas antes. Homens, mulheres, amigos, aliados. Eles sempre partem. De um jeito ou de outro, sempre se vão. Eu fico. Eu observo os sorrisos se apagarem, as promessas se quebrarem, os olhos que um dia me reconheceram tornarem-se vazios. O tempo os leva. A mim, o tempo ignora.

Nick diz que eu preciso encontrar algo que me prenda a este mundo, algo que me faça lembrar que ainda estou vivo. Ele é um dos poucos que conhecem minha verdade, um dos raros que restaram. Meu confidente. Meu amigo, se eu ainda puder chamar alguém assim. Ele não me teme, e isso é raro.

Respiro fundo, mas o ar é apenas um reflexo de um hábito antigo. O vento traz um cheiro diferente, algo desconhecido, uma promessa que ainda não sei interpretar. Uma nota floral, adocicada, diferente do cheiro habitual da cidade. Ignoro. Meus sentidos estão aguçados demais esta noite.

O telefone toca. Atendo sem pressa.

— Senhor Vólkov, a seleção para sua nova assistente pessoal foi finalizada. Temos uma candidata promissora.

Minha assistente anterior pediu demissão. Motivos pessoais. Sempre é assim. Humanos são frágeis, têm seus limites, suas vidas curtas, seus laços que eu não consigo entender completamente. Para eles, tudo é passageiro. Para mim, tudo é efêmera distração.

— Envie-me o dossiê dela.

A chamada termina. Me recosto na poltrona, sentindo o couro gelado contra minha pele. Eu deveria me importar? Deveria dar atenção a isso? Provavelmente não. Mas algo, uma faísca inexplicável, me faz querer ver quem é essa mulher que, sem saber, está prestes a entrar no meu mundo.

E eu ainda não sei se isso é um erro. Mas se for... talvez seja um erro que eu esteja disposto a cometer

                                                                      ************

O próximo dia amanhece com a previsibilidade de sempre. O sol nasce, os relógios giram, o mundo continua se movendo. Mas para mim, nada muda. Chego à empresa antes de todos. O edifício Vólkov Tower é imponente, uma estrutura de vidro e aço que reflete o céu da cidade. Passo pelas portas automáticas, ignorando os olhares discretos dos funcionários que se encolhem em minha presença. Eles me respeitam. Ou me temem. Ambas as coisas são aceitáveis.

O elevador sobe suavemente até o andar mais alto. Meu escritório é uma fortaleza de silêncio e poder. Papéis já me aguardam na mesa, contratos que valem bilhões, decisões que moldam economias. Mas antes que eu possa me perder na rotina mecanizada, Nick entra sem bater.

— Você precisa relaxar, Damian.

Lanço-lhe um olhar impassível.

— Relaxar é perda de tempo.

Ele sorri, jogando-se na poltrona à minha frente.

— Alguma novidade sobre sua nova assistente?

Cruzo os braços.

— Ainda não a conheci. Mas algo nela chamou minha atenção. Algo que não consigo explicar.

Nick arqueia uma sobrancelha, divertindo-se com minha expressão.

— Isso é interessante. Alguém finalmente capturou seu interesse?

Não respondo. Apenas observo o horizonte pela janela, sentindo que algo está prestes a mudar. E eu nunca gostei de surpresas.

Nick me estuda por um instante antes de se levantar, servindo-se de um copo de whisky sem pedir permissão. Ele conhece minhas regras, mas também sabe que é um dos poucos que podem quebrá-las sem consequências reais. Ele se senta novamente, girando o copo nos dedos.

— Você não pode passar a eternidade só acumulando riqueza e assinando contratos, Damian. Precisa de algo mais.

— E o que você sugere? — pergunto, sem desviar os olhos da cidade abaixo.

— Talvez... deixar alguém entrar. Nem que seja por um tempo.

Meu olhar se estreita. Eu já tentei isso antes. O tempo sempre leva tudo embora. Mas, por algum motivo, a imagem daquela candidata desconhecida paira em minha mente. Algo nela despertou uma inquietação que há muito tempo eu não sentia. E isso, por si só, já era perigoso

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