Celeste Moreau
O relógio marcava exatamente nove e cinquenta quando cheguei ao imponente prédio da Vólkov Industries. A estrutura era gigantesca, de vidro e aço, refletindo o céu cinzento e ameaçador daquela manhã. A imponência do edifício me fez hesitar por um instante antes de seguir para a recepção, ajustando a alça da bolsa no ombro e respirando fundo. Meus dedos estavam frios, mas minha mente tentava se manter firme.
Meu coração batia acelerado. Não porque estivesse nervosa com a entrevista, mas porque tudo aquilo parecia... estranho. Desde o momento em que recebi o e-mail confirmando minha seleção para a entrevista, algo dentro de mim dizia que aquela oportunidade não era exatamente o que parecia. Era boa demais para ser verdade. Mas eu não tinha o luxo de recusar um emprego como aquele. Contas se acumulavam, minha antiga ocupação não era suficiente, e essa era a chance de mudar minha vida. Mesmo que eu sentisse uma inquietação difícil de ignorar.
— Bom dia, tenho uma entrevista às dez com o Sr. Vólkov — disse à recepcionista, tentando parecer mais confiante do que realmente estava.
A mulher, impecavelmente vestida e de expressão impassível, conferiu algo no computador antes de assentir. Seus olhos frios varreram minha aparência por um breve momento, como se tentasse avaliar se eu realmente pertencia ali.
— Senhorita Moreau, claro. O Sr. Vólkov a aguarda no último andar. O elevador está programado para levá-la diretamente ao escritório dele.
Arqueei uma sobrancelha, mas agradeci e me dirigi ao elevador. Quando as portas se fecharam, senti uma onda de inquietação. Era a primeira vez que participava de um processo seletivo onde meu trajeto já estava previamente determinado. Nenhuma recepção calorosa, nenhuma fila de candidatos aguardando. Apenas eu, sendo levada diretamente ao topo.
O elevador subiu suavemente, sem nenhum ruído além do leve zumbido mecânico. Meus pensamentos vagavam, indo direto para a noite anterior. Ainda sentia o peso da conversa com Sienna, suas suspeitas sobre minha ancestralidade, sobre bruxas, sobre magia. Bobagens. Eu sempre tive sonhos estranhos, premonições sutis, mas não passavam de coincidências, certo? Tudo que queria era um emprego estável, dinheiro para pagar minhas contas e seguir em frente.
As portas do elevador se abriram silenciosamente, revelando um escritório imenso, frio e impecavelmente organizado. Janelas panorâmicas ofereciam uma visão privilegiada da cidade, enquanto móveis escuros e modernos compunham o ambiente. O ar ali dentro era diferente, carregado de algo que não sabia nomear. Um perfume amadeirado pairava no ar, sutil e ao mesmo tempo inebriante.
No centro do espaço, sentado atrás de uma mesa de madeira escura, estava ele.
Damian Vólkov.
Já conhecia seu nome, mas nada me preparou para vê-lo pessoalmente. Ele não era apenas bonito. Era a definição de uma presença intimidadora. Alto, de ombros largos, olhar frio e inquisitivo. Sua postura era impecável, cada movimento calculado, como se dominasse não apenas aquele espaço, mas qualquer ambiente que ocupasse. Os cabelos escuros contrastavam com a pele pálida, e havia algo nos olhos dele que me fez prender a respiração por um segundo. Eles pareciam ver através de mim, analisar cada mínimo detalhe da minha existência sem que eu dissesse uma única palavra.
Ele me estudou por um instante antes de se levantar e estender a mão.
— Senhorita Moreau. Seja bem-vinda.
Sua voz era grave, envolvente, carregada de algo que me fez estremecer. Apertei sua mão, sentindo o toque firme e surpreendentemente quente. Não esperava isso. Homens como ele, frios e distantes, geralmente tinham mãos gélidas. Mas não Damian Vólkov.
Forcei um sorriso.
— Obrigada, Sr. Vólkov. É um prazer conhecê-lo.
Ele indicou a cadeira à sua frente com um movimento elegante da mão.
— Sente-se. Vamos começar.
Meus joelhos estavam estranhamente fracos, mas me mantive firme enquanto me acomodava. Ele voltou a sentar-se, entrelaçando os dedos sobre a mesa, me observando com um interesse que não era apenas profissional. Havia algo mais ali. Algo que fazia cada célula do meu corpo gritar em alerta.
— Você tem um currículo impressionante, senhorita Moreau — ele disse, folheando algumas páginas em sua frente. — Mas me diga, por que escolheu se candidatar a esta vaga?
Engoli em seco. A pergunta era simples, mas vinda dele parecia um teste de fogo.
— Eu queria uma oportunidade para crescer profissionalmente — respondi com a voz mais firme que consegui. — Trabalhar em uma empresa como a Vólkov Industries seria um grande passo na minha carreira.
Ele assentiu levemente, como se minha resposta fosse esperada. Seus dedos tamborilaram sobre a mesa, e por um instante, pensei ter visto um leve sorriso, quase imperceptível, nos lábios dele.
— E o que acha que pode oferecer à minha empresa? — ele continuou.
A sala parecia mais fria. Ou talvez fosse apenas a intensidade de seu olhar. Meu corpo inteiro estava tenso, mas me recusei a demonstrar qualquer hesitação.
— Dedicação. Profissionalismo. E a capacidade de aprender rápido. Acredito que posso contribuir de maneira significativa para a equipe.
Damian inclinou ligeiramente a cabeça, avaliando minha resposta. O silêncio que se seguiu foi longo, quase opressivo.
— Muito bem — ele disse, fechando a pasta com meu currículo. — Vou ser direto. Essa vaga não é comum. Trabalhar diretamente comigo exigirá mais do que simples profissionalismo. Exige... resistência. Discrição. E a habilidade de lidar com situações inesperadas. Você acha que está preparada para isso?
Uma nova onda de inquietação me tomou. A maneira como ele falava, a escolha das palavras... O que exatamente ele queria dizer com "situações inesperadas"?
— Sim, estou preparada — respondi sem hesitar.
Seus olhos escuros fixaram-se nos meus por longos segundos, antes que ele soltasse um leve suspiro e se recostasse na cadeira.
— Ótimo. A vaga é sua.
Piscando algumas vezes, tentei processar o que havia acabado de ouvir.
— Você... está me contratando agora?
— Sim. — Damian sorriu, mas havia algo naquele sorriso que me deixou inquieta. — Bem-vinda à Vólkov Industries, senhorita Moreau.
Saí do escritório minutos depois com um contrato em mãos e uma sensação de que acabara de dar um passo para dentro de um jogo cujas regras eu ainda não conhecia.
Damian VólkovO silêncio do escritório era cortado apenas pelo leve zumbido do relógio na parede. Me recostei na poltrona de couro negro, girando o copo de uísque entre os dedos. O líquido dourado refletia as luzes suaves do ambiente, dançando sob meu olhar atento.Celeste Moreau.O nome ecoava em minha mente, juntamente com a imagem da mulher que havia acabado de deixar meu escritório. Havia algo nela que me inquietava. Não era apenas beleza, nem o fato de sua presença ser incomum. Havia um magnetismo inexplicável, algo que fazia meu lobo interior permanecer atento.Ela não era qualquer mulher.A contratação fora uma decisão impulsiva? Talvez. Mas eu, Damian confiava em meu instinto. Eu sempre sabia quando alguém tinha um papel maior a desempenhar em sua vida, e Celeste Moreau definitivamente era uma dessas pessoas.A porta do escritório se abriu sem cerimônia, revelando Nicholas Vaughn. Entrou como se fosse dono do espaço, deixando-se cair no sofá de couro com um suspiro entediado
Nicholas VaughnA dor veio como um trovão, reverberando por cada célula do meu corpo. Primeiro foi um calor insuportável, um fogo que queimava por dentro, incendiando cada pedaço de mim. Senti minha pele latejar, como se algo sob a superfície tentasse se libertar, rompendo a carne e os ossos. Meu coração martelava contra o peito, acelerado e descompassado, como se quisesse escapar daquela jaula de carne que já não parecia minha.Tentei respirar, mas o ar parecia pesado, denso, quase sólido. Cada inspiração era um esforço, como se estivesse tentando puxar uma substância espessa para dentro dos pulmões. Meus músculos se contraíram, endurecendo como pedra, e então veio a dor aguda, cortante, espalhando-se pela espinha, estalando cada vértebra, deslocando e remodelando o que antes era humano. Meus dedos formigavam, uma pressão intensa se acumulando até que algo dentro deles cedeu, e foi então que vi: minhas unhas estavam maiores, afiadas como lâminas curvas e negras.Um frio percorreu min
Damian VólkovA noite estava silenciosa, e eu observava Nick, vendo nele o reflexo de algo que já fui um dia. A transformação havia sido concluída, e agora ele pertencia ao meu mundo. Mas havia muito que ele ainda não sabia.Cruzei os braços e expirei lentamente antes de falar:— Você quer saber o que é agora, Nick? Então escute com atenção. O que vou lhe contar não está em nenhum livro, nenhuma lenda que os humanos ousaram registrar. É a verdade sobre nós, sobre mim, sobre os lobisomens e sobre o propósito pelo qual existimos.Nick permaneceu em silêncio, os olhos atentos em mim. Ele sabia que eu não era apenas um alfa qualquer. Eu era o Major Alfa, o mais poderoso da nossa espécie, aquele cuja força atravessava gerações, acumulando habilidades e conhecimentos que nenhum outro poderia alcançar.— Antes do feitiço que me tornou imortal, eu era como você. Um lobisomem forte, mas ainda preso às regras da nossa natureza. Minha força era considerável, mas eu ainda estava sujeito ao ciclo
Celeste MoreauO sol mal havia nascido quando me levantei, sentindo uma mistura de nervosismo e empolgação. Meu primeiro dia na Vólkov Industries. Uma oportunidade como essa não aparecia sempre, e eu sabia que precisava impressionar. Desde que recebi a confirmação da minha contratação, minha mente não parava. Como seria trabalhar para Damian Vólkov? O homem cuja presença sozinha exalava poder e mistério?Escolhi meu traje com atenção. Um blazer ajustado em um tom vinho profundo, uma saia lápis preta e sapatos de salto moderado. Mas minha verdadeira marca estava nos detalhes: meus lábios tingidos de um batom vermelho intenso, um tom profundo e marcante que sempre fez parte de mim. Desde os meus dezesseis anos, nunca saí de casa sem ele. Ele me dava confiança, um escudo contra o mundo.O percurso até a empresa foi um turbilhão de pensamentos. Imaginei todas as possíveis interações que teria, os olhares que receberia, as palavras que precisaria escolher com cautela. Não queria parecer in
Damian VólkovO silêncio habitual do meu escritório nunca me incomodou. Era um refúgio, um lugar onde eu podia me perder em números, contratos e estratégias, evitando a desordem do mundo exterior. Mas hoje, pela primeira vez em anos, a monotonia pareceu... diferente.Celeste Moreau.O nome dela já era uma presença constante na minha mente. Desde o momento em que entrou em meu escritório com aquele batom vermelho vibrante e aquele olhar atrevido, algo dentro de mim percebeu que as coisas estavam prestes a mudar.Eu sempre tive controle absoluto sobre minha vida. A rotina era previsível, segura. Mas Celeste? Ela era um caos envolto em seda e perfume floral, uma força da natureza que não parecia intimidada pela minha presença. E pior ainda, ela se divertia me provocando.Por mais irritante que fosse admitir, eu gostava disso.Ela fazia perguntas demais. Comentava coisas que ninguém ousaria dizer para mim. Reclamava dos contratos, revirava os olhos, zombava da minha seriedade. E eu, ao in
Celeste MoreauO despertador tocou, mas eu já estava acordada, encarando o teto e me perguntando como sobrevivi ao meu primeiro mes na Vólkov Industries. Trabalhar para Damian Vólkov era como participar de um jogo perigoso, um onde cada palavra parecia ser um movimento calculado. Mas se ele achava que eu ficaria intimidada, estava muito enganado.Levantei-me, tomei um banho quente e, como de costume, escolhi meu batom vermelho vibrante. Era meu escudo, minha marca. Peguei minha bolsa e saí, pronta para enfrentar mais um dia ao lado do homem que parecia tão inabalável quanto uma montanha.Assim que cheguei ao prédio, os olhares se voltaram para mim. Damian já estava em sua sala, sentado em sua cadeira de couro preto, lendo um contrato como se fosse a coisa mais fascinante do mundo.— Bom dia, chefe — cumprimentei, jogando minha bolsa sobre a mesa.Ele ergueu os olhos para mim e, por um segundo, juraria que seu olhar pousou nos meus lábios pintados antes de voltar aos papéis.— Celeste.
Damian VólkovA sala estava carregada. O ar, denso, pulsava com uma energia que eu conhecia bem, mas que não sentia há muito tempo. A magia. Ela estava ali, rodopiando ao nosso redor como uma presença invisível, fria e opressora. Mas o que mais me incomodava era a origem.Celeste.Meus olhos estavam fixos nela, que agora piscava confusa, completamente alheia ao que acabara de acontecer. A voz que saíra de seus lábios não era dela. O jeito como seu corpo se enrijeceu, como se algo a possuísse por um breve momento, foi o suficiente para me colocar em alerta. Eu sabia que aquilo não era um truque. Eu já havia sentido aquilo antes.— Celeste... — chamei seu nome, mantendo minha voz firme, mas ela apenas franziu a testa, sua expressão levemente inquieta.— O quê? O que aconteceu? — sua voz voltou ao normal, cheia de dúvida e cansaço. Ela esfregou as têmporas como se sentisse uma dor de cabeça súbita.Por um instante, hesitei. Devia contar a ela? Não, não agora. Se ela realmente era a chave
Celeste MoreauAinda era cedo quando cheguei à Vólkov Industries. O café na minha mão já não estava mais quente, e eu tentava ignorar o peso na minha cabeça depois de uma noite mal dormida. Meu primeiro mês como assistente de Damian Vólkov tinha sido um teste constante de paciência e limites. Mas, por algum motivo, eu sempre voltava no dia seguinte, como se algo dentro de mim se recusasse a ceder.Assim que entrei no escritório, encontrei Damian no mesmo lugar de sempre: atrás da mesa de madeira escura, os olhos fixos na tela do computador. Ele sequer ergueu o olhar quando me aproximei, mas eu sabia que ele tinha percebido minha presença.— Está atrasada.Revirei os olhos, largando minha bolsa na cadeira.— Estou exatamente no horário.Ele finalmente levantou o rosto, um sorrisinho quase imperceptível brincando em seus lábios.— Mas não cinco minutos adiantada como de costume. Alguma coisa aconteceu?Cruzei os braços, ignorando a forma como o olhar dele parecia me analisar de um jeito