(Siegfried)
— ...Mas eu a reconheci na porta do bordel. Fui chamado porque ela matou um cara e eu fiz a ligação, o golpe certeiro na jugular. — Passo a mão na barba de novo, ponderando. — Só conheço uma pessoa tão mortal em seus golpes, você Dallas.
— Ensinei Jordan a se defender. — Ela explica calma, mas como se tivesse um motivo maior por trás de tudo isso. — Mas e aí? Você simplesmente achou por boa ideia levá-la do bordel, colocá-la no porão de uma casa imunda e ter um relacionamento com ela? — Acusa-me apontando o dedo no meu nariz. — Quantas noites deitou-se com Jordan?— Não tínhamos um relacionamento! — Ergo as mãos para frente. — Eu não deitei!— Ah, tá bom! — Dallas não acredita. — E o que você fazia quando ia lá?— Conversar. Ver o que ela precisava! Uma vez vimos um filme no Netflix.— Você quer que eu acredite nisso?— Acredite ou vou ficar violento. — Ameaço.— Não! — Jordan fica em pé, passando por entre nós cortando o fio de tensão em nosso olhar. Seus passos elegantes puxam os olhos de Dallas e eu odeio perder território nesse momento. — Ninguém quer ver você violento.— Concordo. — Dallas recua, cruzando os braços, eu não sabia que minha esposa tinha medo de mim.— Não sabia que ele era o seu marido, Dallas, eu não sabia! Mas eu estava encrencada, todo mundo sabe que o Berserk manda naquela merda de bairro. Aron queria minha cabeça, o cara que matei era um amigo do prefeito... Um empresário importante de fora da ilha. — Ela fica de frente para Dallas, batendo a mão no peito dele e dá um sorriso complacente. — E tudo bem! Vocês ficam quites por aqueles beijinhos que demos no Ano Novo.— Espere aí! Que beijinhos? — Arranho a voz.— Foram mais que beijinhos, mas, oh, droga. — Ela dá um passo para o lado, tomando proteção atrás dos ombros de Dallas, cobrindo a boca. — Esqueça, Sr. Turgard! Eu nunca disse isso!— Nunca disse mesmo! — Dallas concorda, olhando de canto para ela, um pouco aterrorizado agora. — Ele matou um garçom porque sorriu para mim. — Cochicha.— E você sorriu para ele, aposto. — Jordan retruca em mesmo tom sussurrante.— O garçom era simpático, bonito… E eu queria provocar. — Dallas confessa.— Vocês duas. — Estreito os olhos. Dallas e a ruivinha dão um salto de susto com a minha voz. Dou um passo para frente segurando no braço de cada uma delas e as jogo sentado na cama do chalé. — Expliquem agora o que há entre vocês.— Ai! — Jordan desliza a mão no braço, onde peguei, sentindo dor. — Eu estava bêbada.— Você não estava bêbada. Eu estava bêbada! — Dallas olha para ela, usando a mesma desculpa.Querem saber o que eu acho? Nenhuma estava realmente tão bêbada para não saber o que estavam fazendo.— Interessante. — Comento analisando aquela dinâmica.— Não gosto desse olhar dele. — Jordan comenta baixinho para Dallas, aterrorizada.— Não vou deixar ele fazer mal a você. — Dallas a protege, mais uma vez, para meu martírio, segurando nas mãos da ruivinha. — E é isso mesmo. Eu e Jordan já tivemos um lance… Mais de uma vez! Ela era tipo… Meu namorado, no Canadá.— Dallas você não está me ajudando, ele vai ficar furioso! Ele é o Berserk, por Cristo! — Jordan se encolhe mais soltando-se dela e coloca a mão na frente da boca, como se eu não pudesse escutá-la.— Vocês têm dois minutos. — Exijo, com o sangue já começando a esquentar nas veias. — Ou alguém vai morrer.— Pare com isso. — Dallas protesta, mas ela está com acúmulo de suor, de nervosismo, na testa, por dentro dos fios castanhos de seus cabelos. — Quando as coisas apertavam em sua casa, Jordan pulava o muro para o nosso quintal. Eu a vi mais de uma vez fazendo isso e um dia, a interceptei antes que ela fugisse para a rua. Foi quando nos conhecemos e fiquei sabendo de sua condição especial. Um problema de hormônios que faz ela se parecer uma menina, você entendeu. Ficamos bons amigos.— É, vi vocês juntos em várias fotos… — Acrescento com desgosto. — Achei que ela fosse amiga de sua irmã, na maioria das fotos Pandora estava junto.— Você é muito burro. — Dallas revira os olhos e não gosto de como ele está me ofendendo agora. — Karvel armou isso como uma maldita provocação pessoal contra mim. Ele provavelmente foi atrás desse detetive e descobriu que Jordan era uma pessoa importante.— Como assim importante? — Resmungo irado.— Ele disse que te conhecia. — Jordan avisa, segurando no braço de minha esposa como se fosse dela. — Você saiu sem dizer adeus, eu pensei que poderia ir atrás de você… Não esperava descobrir que você estava… Ahn, casada.— Jordan, eu sinto muito. — Dallas segura novamente nas mãos dela e Jordan já está com lágrimas nos olhos, quando eles se abraçam. É um momento delas, entende? Só delas.Não sou nenhum burro como Dallas pensa, eu só não percebi um detalhe: Para mim, sempre foi Dallas. Mesmo que eu tivesse envolvimento sexual com outras pessoas, eu nunca fui de me prender, sabendo que em determinado momento eu ia me casar com ela. Fiquei esperando como um trouxa, entende? Mas Dallas, pelo visto não! Ela não teve muitas pessoas na sua vida, mas quando teve, foi até o maldito fundo com elas.Eu pensei que era uma amiga, não percebi que Jordan pudesse ser uma maldita namorada, ou namorado, no masculino, como Dallas chamou. Alguém realmente especial. Meu coração estava em pedaços e essa era a primeira vez que eu sentia algo tão ruim, tão amargo na boca e no estômago. Normalmente eu tenho raiva das coisas, explodo e as resolvo, mas ao ver as duas se abraçando com carinho, com uma intimidade sem igual, eu senti tristeza.— Foda-se. — Revirei os olhos e bati a mão uma na outra, como se desse um soco que esmagasse a cara do meu inimigo, um que eu já não sabia mais quem era. — Se Karvel amou toda essa merda então temos que enforcá-lo com sua própria corda.— Estou dentro, esse puto! — Jordan continua chorando, com a cabeça no ombro de Dallas, que envolve a mão em sua testa, amparando a garota.— Primeiro temos que deixar você em segurança. — Dallas abraça a menina mais forte, envolvendo a ruivinha em seus braços com um acalento carinhoso. — Aquele apartamento no porão não serve mais.— Certo, tudo bem, claro. — Jordan concorda.— Voltar para o Canadá? — Sugiro. Claro, estou louco para essa vagabunda ir embora.— Não, nunca! Nem pensar. — Jordan se afasta limpando os olhos e fungando, enquanto joga os cabelos para trás. Pelo menos consegui atrapalhar aquele abraço! — Volto pro bordel, mas não volto para casa do meu pai. Nunca.— Nossa casa então. — Dallas oferece.— O quê? — Dou um berro que ecoa dentro do chalé feito um trovão. As paredes até treme e a ruivinha se encolhe, engolindo os soluços e deixando a boca se torcer de pânico e choro compulsivo. — Fora de questão, não vou colocar a sua namorada dentro da minha casa!— Cala a boca, Sieg! Você perdeu qualquer moral na sua argumentação. — Dallas retruca, ficando em pé. — Vamos passar essa noite aqui, para não levantar suspeitas. Você dorme na cama comigo, o Sieg dorme na outra ali no canto.— Ah, nem fodendo. — Cruzo os braços.— Se preferir, pode dormir lá fora. — Dallas arranha a voz.(Dallas) Eu não estava conseguindo dormir. Era capaz de ouvir o ronco de Siegfried cortando o vazio da noite, por cima do crepitar do fogo da lareira e o cheiro de lenha queimada. Jordan estava com as pernas trançadas com as minhas, com a bunda empinada para cima, nossos corpos por dentro de uma manta de peles que não dava para duas pessoas.Eu a abracei com força, mas ela estava largada, dormindo tranquila depois de vários sedativos que tinha no porta-luvas do carro e do esgotamento de tanto chorar. A culpa era minha. Um maldito buraco negro para o qual eu a tinha atraído sem querer. Vai saber o que fizeram com ela antes de chegar no bordel, ou quando estava lá dentro? E droga, Jordan não merecia nada disso. Ela tinha cicatrizes de um ferimento nos punhos, desses de quem foi amarrada e torturada, acho que levou socos, talvez tenha sido estuprada.Meu coração rasgava dentro do peito com a certeza de que eu tinha falhado. Fui incapaz de protegê-la e a
(Dallas) Não ficamos para ver o avião decolar, nem poderíamos. Siegfried ligou o rádio e seguiu para a estrada. Ficamos em silêncio por uns dez minutos, mas pareceu uma eternidade.Nesse tempo, muitas coisas se passaram por minha cabeça, mas eu deixei ir embora, toda a raiva e os pensamentos ruins. Acontece que a maldita tinha razão. Eu estava com ciúmes e não sabia lidar com aquilo, o sentimento era novo para mim. Sempre soube que me casaria com Siegfried e nunca tinha, nunca mesmo, cultivado sentimento de posse dentro de mim.Com um suspiro pesado eu deslizei a mão pela perna dele, causando um imediato susto em meu marido, que simplesmente virou-se para mim com os cabelos presos como sempre e um olhar franzido de desentendimento. Porém, foi reconfortante como ele segurou na minha mão e coçou a garganta, como se testasse o som.— Desculpe. — Pedi.— Ahn? — Siegfried estranhou.— Desde que nos conhecemos, quer dizer, nos reencontramos para o casamento, ten
(Siegfried) — Amarre esse cretino. — A voz baixa e calma de Dallas cortou o silêncio maculado pelo crepitar do fogo da lareira. Eu ainda não conseguia acreditar no que estava acontecendo. O quarto estava entregue a uma escuridão insana, as chamas laranjas e amarelas pintavam nossas pele exposta e deixavam seu rosto avermelhado como um espírito de fogo. Dallas estava sentada na poltrona como uma maldita espectatora e seus olhos castanhos escuros sobre mim eram como a brasa quente de uma fogueira, aquecendo meu corpo por inteiro e fazendo aquele maldito negócio com vontade própria se endurecer e latejar dentro da minha cueca. (Siegfried) Deslizei a mão trêmula pelo rosto. A manhã estava fresca demais, com um nevoeiro branco cobrindo as ruas da ilha. Inspirei fundo nervosamente, colocando as mãos para dentro do bolso da jaqueta de couro, onde achei um maço velho de cigarros e ofereci para o rapaz na minha frente. Ele apertou os lábios em uma espécie de sorriso do silêncio e puxou um cigarro, colocando na boca. Peguei o isqueiro, acendi a chama e deixei ele aproximar o cigarro, chupando e sugando o ar. Lembrei de todas as merdas que fizemos, como aquela boca naturalmente rosada se encheu com meu sêmen. 06
(Dallas) Eu estava batendo os dedos em cima da mesa de madeira, encarando o prato principal que eu tinha feito com muito carinho esfriar. Rangi os dentes, cutuquei o suéter e mofei um tempo sentado até a garrafa de vinho acabar e as velas derreterem. Levou tudo isso de tempo até que a porta se abriu, trazendo um vento frio. Arrepiei, sentindo as bochechas quentes do álcool e fiquei observando enquanto Siegfried batia a neve das roupas e entrava. — Nossa, demorou, achei que não ia vir mais. — Rosnei. Ele estreitou os olhos azuis irado e entrou na s
(Dallas)— Não, Sieg, eu não quero. Mas… Agora que testei aquilo, talvez eu queria ir além.— Hm. — Resmungou bebendo o chá. — Psicopata maldita.— Confesso que gostei de vê-lo sofrer.— Sádica.— (Siegfried)— Siegfried Turgard! — A porta da saleta superior da boate abriu com um chute.O som da música eletrônica de uma apresentação que as garotas estavam ensaiando vazou. Ergui os olhos da mesa cheia de papel. Os soldados apontaram suas armas para porta.— Por Thor, Karvel! — Alyssa abaixou a arma cromada, seus cabelos bagunçados estavam com a pontinha por cima das sobrancelhas e o brinco de ouro pequeno com uma pérola reluziu ao lado dos piercings.09
(Siegfried) — Dallas. — E que não se importa com o que Karvel fez. — Qual é… — É nossa responsabilidade cuidar dele. — Pare com isso. — Balancei a cabeça negando, tentando manter aquelas palavras que ele estava cuspindo longe de