02

(Siegfried)

— ...Mas eu a reconheci na porta do bordel. Fui chamado porque ela matou um cara e eu fiz a ligação, o golpe certeiro na jugular. — Passo a mão na barba de novo, ponderando. — Só conheço uma pessoa tão mortal em seus golpes, você Dallas.

— Ensinei Jordan a se defender. — Ela explica calma, mas como se tivesse um motivo maior por trás de tudo isso. — Mas e aí? Você simplesmente achou por boa ideia levá-la do bordel, colocá-la no porão de uma casa imunda e ter um relacionamento com ela? — Acusa-me apontando o dedo no meu nariz. — Quantas noites deitou-se com Jordan?

— Não tínhamos um relacionamento! — Ergo as mãos para frente. — Eu não deitei!

— Ah, tá bom! — Dallas não acredita. — E o que você fazia quando ia lá?

— Conversar. Ver o que ela precisava! Uma vez vimos um filme no Netflix.

— Você quer que eu acredite nisso?

— Acredite ou vou ficar violento. — Ameaço.

— Não! — Jordan fica em pé, passando por entre nós cortando o fio de tensão em nosso olhar. Seus passos elegantes puxam os olhos de Dallas e eu odeio perder território nesse momento. — Ninguém quer ver você violento.

— Concordo. — Dallas recua, cruzando os braços, eu não sabia que minha esposa tinha medo de mim.

— Não sabia que ele era o seu marido, Dallas, eu não sabia! Mas eu estava encrencada, todo mundo sabe que o Berserk manda naquela merda de bairro. Aron queria minha cabeça, o cara que matei era um amigo do prefeito... Um empresário importante de fora da ilha. — Ela fica de frente para Dallas, batendo a mão no peito dele e dá um sorriso complacente. — E tudo bem! Vocês ficam quites por aqueles beijinhos que demos no Ano Novo.

— Espere aí! Que beijinhos? — Arranho a voz.

— Foram mais que beijinhos, mas, oh, droga. — Ela dá um passo para o lado, tomando proteção atrás dos ombros de Dallas, cobrindo a boca. — Esqueça, Sr. Turgard! Eu nunca disse isso!

— Nunca disse mesmo! — Dallas concorda, olhando de canto para ela, um pouco aterrorizado agora. — Ele matou um garçom porque sorriu para mim. — Cochicha.

— E você sorriu para ele, aposto. — Jordan retruca em mesmo tom sussurrante.

— O garçom era simpático, bonito… E eu queria provocar. — Dallas confessa.

— Vocês duas. — Estreito os olhos. Dallas e a ruivinha dão um salto de susto com a minha voz. Dou um passo para frente segurando no braço de cada uma delas e as jogo sentado na cama do chalé. — Expliquem agora o que há entre vocês.

— Ai! — Jordan desliza a mão no braço, onde peguei, sentindo dor. — Eu estava bêbada.

— Você não estava bêbada. Eu estava bêbada! — Dallas olha para ela, usando a mesma desculpa.

Querem saber o que eu acho? Nenhuma estava realmente tão bêbada para não saber o que estavam fazendo.

— Interessante. — Comento analisando aquela dinâmica.

— Não gosto desse olhar dele. — Jordan comenta baixinho para Dallas, aterrorizada.

— Não vou deixar ele fazer mal a você. — Dallas a protege, mais uma vez, para meu martírio, segurando nas mãos da ruivinha. — E é isso mesmo. Eu e Jordan já tivemos um lance… Mais de uma vez! Ela era tipo… Meu namorado, no Canadá.

— Dallas você não está me ajudando, ele vai ficar furioso! Ele é o Berserk, por Cristo! — Jordan se encolhe mais soltando-se dela e coloca a mão na frente da boca, como se eu não pudesse escutá-la.

— Vocês têm dois minutos. — Exijo, com o sangue já começando a esquentar nas veias. — Ou alguém vai morrer.

— Pare com isso. — Dallas protesta, mas ela está com acúmulo de suor, de nervosismo, na testa, por dentro dos fios castanhos de seus cabelos. — Quando as coisas apertavam em sua casa, Jordan pulava o muro para o nosso quintal. Eu a vi mais de uma vez fazendo isso e um dia, a interceptei antes que ela fugisse para a rua. Foi quando nos conhecemos e fiquei sabendo de sua condição especial. Um problema de hormônios que faz ela se parecer uma menina, você entendeu. Ficamos bons amigos.

— É, vi vocês juntos em várias fotos… — Acrescento com desgosto. — Achei que ela fosse amiga de sua irmã, na maioria das fotos Pandora estava junto.

— Você é muito burro. — Dallas revira os olhos e não gosto de como ele está me ofendendo agora. — Karvel armou isso como uma maldita provocação pessoal contra mim. Ele provavelmente foi atrás desse detetive e descobriu que Jordan era uma pessoa importante.

— Como assim importante? — Resmungo irado.

— Ele disse que te conhecia. — Jordan avisa, segurando no braço de minha esposa como se fosse dela. — Você saiu sem dizer adeus, eu pensei que poderia ir atrás de você… Não esperava descobrir que você estava… Ahn, casada.

— Jordan, eu sinto muito. — Dallas segura novamente nas mãos dela e Jordan já está com lágrimas nos olhos, quando eles se abraçam. É um momento delas, entende? Só delas.

Não sou nenhum burro como Dallas pensa, eu só não percebi um detalhe: Para mim, sempre foi Dallas. Mesmo que eu tivesse envolvimento sexual com outras pessoas, eu nunca fui de me prender, sabendo que em determinado momento eu ia me casar com ela. Fiquei esperando como um trouxa, entende? Mas Dallas, pelo visto não! Ela não teve muitas pessoas na sua vida, mas quando teve, foi até o maldito fundo com elas.

Eu pensei que era uma amiga, não percebi que Jordan pudesse ser uma maldita namorada, ou namorado, no masculino, como Dallas chamou. Alguém realmente especial. Meu coração estava em pedaços e essa era a primeira vez que eu sentia algo tão ruim, tão amargo na boca e no estômago. Normalmente eu tenho raiva das coisas, explodo e as resolvo, mas ao ver as duas se abraçando com carinho, com uma intimidade sem igual, eu senti tristeza.

— Foda-se. — Revirei os olhos e bati a mão uma na outra, como se desse um soco que esmagasse a cara do meu inimigo, um que eu já não sabia mais quem era. — Se Karvel amou toda essa merda então temos que enforcá-lo com sua própria corda.

— Estou dentro, esse puto! — Jordan continua chorando, com a cabeça no ombro de Dallas, que envolve a mão em sua testa, amparando a garota.

— Primeiro temos que deixar você em segurança. — Dallas abraça a menina mais forte, envolvendo a ruivinha em seus braços com um acalento carinhoso. — Aquele apartamento no porão não serve mais.

— Certo, tudo bem, claro. — Jordan concorda.

— Voltar para o Canadá? — Sugiro. Claro, estou louco para essa vagabunda ir embora.

— Não, nunca! Nem pensar. — Jordan se afasta limpando os olhos e fungando, enquanto joga os cabelos para trás. Pelo menos consegui atrapalhar aquele abraço! — Volto pro bordel, mas não volto para casa do meu pai. Nunca.

— Nossa casa então. — Dallas oferece.

— O quê? — Dou um berro que ecoa dentro do chalé feito um trovão. As paredes até treme e a ruivinha se encolhe, engolindo os soluços e deixando a boca se torcer de pânico e choro compulsivo. — Fora de questão, não vou colocar a sua namorada dentro da minha casa!

— Cala a boca, Sieg! Você perdeu qualquer moral na sua argumentação. — Dallas retruca, ficando em pé. — Vamos passar essa noite aqui, para não levantar suspeitas. Você dorme na cama comigo, o Sieg dorme na outra ali no canto.

— Ah, nem fodendo. — Cruzo os braços.

— Se preferir, pode dormir lá fora. — Dallas arranha a voz.

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