(Siegfried)
Eu sabia que estava fodido antes mesmo de tirar o gelo da barba batendo a mão com as luvas no rosto. Maldita seja, Dallas! Cruzei a estrada como um louco tentando alcançá-la, porém, quando visualizei o 4x4, o veículo já estava estacionado do outro lado da rua de asfalto molhado diante da casa de paredes vermelhas, onde no porão eu havia escondido aquela putinha.Sentado na moto puxo o capacete e encaro Dallas subindo as escadas laterais da casa. Ela está segurando no corpo magro e pequeno de Jordan como se ela fosse seu maldito troféu e com a mochila velha dela em uma das mãos. A garota se cobre com a jaqueta felpuda com animal print de leopardo e os cabelos ruivos balançam atingidos pelo vento.— Dallas… — Desço da moto soltando o capacete.— Cale a boca, não quero ouvir o som da sua voz. — Cospe sua raiva toda para cima de mim, passando reto. — Vamos de carro, deixe a moto para pensarem que tem gente com ela. — Exige.Resfolego, incapaz de dizer qualquer coisa naquele momento, meu coração bate acelerado, com dor, uma dor que eu nunca senti. Eu acho que esse é o pior tipo de coisa que alguém pode sentir: perceber o quanto decepcionou alguém com quem se importa.Contorno o carro e abro a porta me sentando no volante. Dallas abre a porta para Jordan, atirando primeiro a mochila e depois fazendo a garota entrar. Ela fecha a porta e abre a da frente, se sentando. Pelo espelho eu encaro os olhos verdes de Jordan, ela mordisca as unhas postiças, nervosa.— Para onde? — Dou ignição no motor.— Para o chalé.— Não vou levar essa menina para meu lugar secreto, nunca!— Faça o que estou mandando. — Dallas me encara seca e range os dentes.— Caralho. — É meu único protesto, saio da vaga com destino traçado.Por um momento seguimos em silêncio, apenas o som dos pneus do carro no asfalto enquanto uma fina neve começa a cair e o sol fica encoberto pela névoa. Minha garganta parece seca, mas não consigo dizer nada.O silêncio é opressor, mas piora quando percebo Jordan chorando no banco detrás, se encolhendo e escondendo o rosto com o capuz da jaqueta, disfarçando. Dallas também não diz nada, evitando inclusive olhar para mim.Tento segurar sua mão, mas ela puxa e cruza os braços, virando o rosto para a janela, por onde fica olhando até chegarmos no ponto da estrada onde fica o chalé viking que estou construindo. ⤗ Abro a porta de madeira rústica com um empurrão. Dallas atira a mochila de Jordan para dentro antes de entrar. Jordan hesita, como se o fato de entrar ali fosse para ser assassinada.— O que é? — Dallas pergunta, percebendo que ela travou na porta, com as duas mãos pequenas e brancas no batente.— É que parece um galpão… Como o que nos levavam.— Apenas entra, Jordan. — Ela a empurra sem paciência. — Vai anoitecer e a floresta é muito fria.— Vou pegar um pouco de lenha para a lareira. — Aviso.Contorno a casa semi-enterrada pulando raízes até um cubículo lateral onde deixo um pouco de lenha já cortada. Quando venho para o chalé descansar gosto de passar o fim de semana e costumo vir a noite, horário que não dá para fazer nada por causa da escuridão, então mantenho sempre lenha cortada.Junto a madeira com as mãos em meu braço, pensando como o fogo poderia ser uma melhor opção do que encarar a ira de Dallas. Volto para o chalé e fecho rapidamente a porta atrás de mim. Jordan já está sentada em uma das camas e Dallas se senta ao lado dela, suspirando forte.— Vamos, me conte. — Minha esposa desliza a mão na perna dela com carinho preocupado. Simplesmente odeio esse momento com todas as minhas forças. Viro as costas, enfiando as madeiras na pequena lareira no meio da sala, para esquentar a casa. — Como foi que você saiu do Canadá e parou aqui nesse inferno? Soube que estava em um bordel… Isso não é você, Jordan.O tom de voz de Dallas é permissivo, de um jeito que está se segurando para não surtar. Claro, eu acho que no lugar dela eu também surtaria, quer dizer. Não é que torna as coisas menos estressantes no momento. Fecho a portinhola de metal, limpo as mãos e vou para perto delas.— Disseram que iam me agenciar em Paris, que era um esquema que eles tinham com o departamento de imigração se fosse de barco. — A ruivinha explica com a voz um pouco trêmula, segurando as mãos juntas por entre as pernas, nitidamente nervosa. — Eu lembro de entrar no carro que foi me pegar na esquina de casa, eu estava chorando, tinha brigado com meu pai para variar e… Sei lá, me deram algo para beber. Quando acordei, já estava naquele muquifo do bordel, sem passaporte e com as outras garotas.— É o esquema de tráfico. — Explico. Dallas ergue os olhos para mim de um jeito que seu olhar parece soltar lasers mortais em cima de mim. — Sem passaporte ficam vulneráveis, não há embaixadas por aqui, a maioria fica em outros países aliados.— Se Karvel mandou buscar você, vou cortá-lo em mil pedacinhos. — Dallas range os dentes.— Wow, calma aí, não pode acusá-lo. — Digo. Ela estreita os olhos castanhos com fúria na minha direção comos e fosse ofensa ou eu estivesse defendendo-o. — Acredite em mim, queria enforcá-lo, mas sem provas...— Karvel? O Sr. Olafsson? — Jordan transita os olhos de mim para Dallas, que vira o rosto para encará-la. — Foi o agente que me contratou!— Que piada mais fodida. — Resfolego.— Isso não é uma piada, Sieg! — Dallas esbraveja irada. Seus cabelos se soltam do rabo de cavalo, caindo algumas mechas para frente. Eu nunca a vi tão alterada dessa forma! Dallas é quem normalmente segura bem os sentimentos. Ela passa as mãos pelos cabelos castanhos contendo-os, acertando-os para trás. — Oh, pelos Deuses. — Desliza a mão no rosto, cobrindo a boca.— Dallas… — Coloco a mão no seu ombro, apertando.— Não me toque! — Ela se debate, até que eu a solte. Coloco minhas mãos para dentro dos bolsos da jaqueta. Por que ele não me deixa segurá-la? Essa recusa machuca, como se ele tivesse repulsa do meu toque agora. Dallas segura nas mãos de Jordan, envolvendo-as com as suas. — Jordan, oh, droga, como isso foi acontecer?— Que drama. — Reviro os olhos, mas na verdade, eu estou com ciúmes. Pronto, admito!— Cale a boca, Siegfried, você não consegue ver o tamanho do problema? — Dallas ralha irada, a voz inflamada. — Karvel armou para trazer Jordan como clandestina e para que ela se metesse em confusão. Você seria seu algoz se não tivesse… Espere. — Ela solta as mãos de Jordan de repente e fica em pé, nos dando as costas, ponderando tudo e compreendendo o que infernos estava acontecendo. — Você estava tendo um caso com Jordan?— Eu não sabia que ele era casado! — Jordan se defende, fodendo tudo. Dallas gira encarando-a. — Eu juro. Não me disseram, ele nunca falou, também.— Não falei mesmo. Ia falar pra quê? Para essa putinha exigir ver você? — Grito revoltado. — E eu não estava tendo um caso. Transamos uma vez porque você fica regulando, mas a vadia é totalmente descartável.— Não fale assim dela! — Dallas vira me encarando, irada, eu acho até que vou levar um soco, mas ela se contém, resfolega, coloca as mãos na cintura por dentro da jaqueta. — Então você sabia que eu conhecia Jordan?— O destino é um cárcere às vezes não é? — Deslizo a mão pela barba, coçando o queixo. Os dois ficam calados na minha frente. — Eu disse a você que tinha um detetive na sua cola. É claro que Jordan está diferente com essa peruca ruiva…— Meu cabelo foi pintado, não é peruca. — Protesta como se eu tivesse ofendido seu cabelereiro.(Siegfried) — ...Mas eu a reconheci na porta do bordel. Fui chamado porque ela matou um cara e eu fiz a ligação, o golpe certeiro na jugular. — Passo a mão na barba de novo, ponderando. — Só conheço uma pessoa tão mortal em seus golpes, você Dallas.— Ensinei Jordan a se defender. — Ela explica calma, mas como se tivesse um motivo maior por trás de tudo isso. — Mas e aí? Você simplesmente achou por boa ideia levá-la do bordel, colocá-la no porão de uma casa imunda e ter um relacionamento com ela? — Acusa-me apontando o dedo no meu nariz. — Quantas noites deitou-se com Jordan?— Não tínhamos um relacionamento! — Ergo as mãos para frente. — Eu não deitei!— Ah, tá bom! — Dallas não acredita. — E o que você fazia quando ia lá?— Conversar. Ver o que ela precisava! Uma vez vimos um filme no Netflix.— Você quer que eu acredite nisso?— Acredite ou vou ficar violento. — Ameaço.— Não! — Jordan fica em pé, passando por entre nós cortando o fio d
(Dallas) Eu não estava conseguindo dormir. Era capaz de ouvir o ronco de Siegfried cortando o vazio da noite, por cima do crepitar do fogo da lareira e o cheiro de lenha queimada. Jordan estava com as pernas trançadas com as minhas, com a bunda empinada para cima, nossos corpos por dentro de uma manta de peles que não dava para duas pessoas.Eu a abracei com força, mas ela estava largada, dormindo tranquila depois de vários sedativos que tinha no porta-luvas do carro e do esgotamento de tanto chorar. A culpa era minha. Um maldito buraco negro para o qual eu a tinha atraído sem querer. Vai saber o que fizeram com ela antes de chegar no bordel, ou quando estava lá dentro? E droga, Jordan não merecia nada disso. Ela tinha cicatrizes de um ferimento nos punhos, desses de quem foi amarrada e torturada, acho que levou socos, talvez tenha sido estuprada.Meu coração rasgava dentro do peito com a certeza de que eu tinha falhado. Fui incapaz de protegê-la e a
(Dallas) Não ficamos para ver o avião decolar, nem poderíamos. Siegfried ligou o rádio e seguiu para a estrada. Ficamos em silêncio por uns dez minutos, mas pareceu uma eternidade.Nesse tempo, muitas coisas se passaram por minha cabeça, mas eu deixei ir embora, toda a raiva e os pensamentos ruins. Acontece que a maldita tinha razão. Eu estava com ciúmes e não sabia lidar com aquilo, o sentimento era novo para mim. Sempre soube que me casaria com Siegfried e nunca tinha, nunca mesmo, cultivado sentimento de posse dentro de mim.Com um suspiro pesado eu deslizei a mão pela perna dele, causando um imediato susto em meu marido, que simplesmente virou-se para mim com os cabelos presos como sempre e um olhar franzido de desentendimento. Porém, foi reconfortante como ele segurou na minha mão e coçou a garganta, como se testasse o som.— Desculpe. — Pedi.— Ahn? — Siegfried estranhou.— Desde que nos conhecemos, quer dizer, nos reencontramos para o casamento, ten
(Siegfried) — Amarre esse cretino. — A voz baixa e calma de Dallas cortou o silêncio maculado pelo crepitar do fogo da lareira. Eu ainda não conseguia acreditar no que estava acontecendo. O quarto estava entregue a uma escuridão insana, as chamas laranjas e amarelas pintavam nossas pele exposta e deixavam seu rosto avermelhado como um espírito de fogo. Dallas estava sentada na poltrona como uma maldita espectatora e seus olhos castanhos escuros sobre mim eram como a brasa quente de uma fogueira, aquecendo meu corpo por inteiro e fazendo aquele maldito negócio com vontade própria se endurecer e latejar dentro da minha cueca. (Siegfried) Deslizei a mão trêmula pelo rosto. A manhã estava fresca demais, com um nevoeiro branco cobrindo as ruas da ilha. Inspirei fundo nervosamente, colocando as mãos para dentro do bolso da jaqueta de couro, onde achei um maço velho de cigarros e ofereci para o rapaz na minha frente. Ele apertou os lábios em uma espécie de sorriso do silêncio e puxou um cigarro, colocando na boca. Peguei o isqueiro, acendi a chama e deixei ele aproximar o cigarro, chupando e sugando o ar. Lembrei de todas as merdas que fizemos, como aquela boca naturalmente rosada se encheu com meu sêmen. 06
(Dallas) Eu estava batendo os dedos em cima da mesa de madeira, encarando o prato principal que eu tinha feito com muito carinho esfriar. Rangi os dentes, cutuquei o suéter e mofei um tempo sentado até a garrafa de vinho acabar e as velas derreterem. Levou tudo isso de tempo até que a porta se abriu, trazendo um vento frio. Arrepiei, sentindo as bochechas quentes do álcool e fiquei observando enquanto Siegfried batia a neve das roupas e entrava. — Nossa, demorou, achei que não ia vir mais. — Rosnei. Ele estreitou os olhos azuis irado e entrou na s
(Dallas)— Não, Sieg, eu não quero. Mas… Agora que testei aquilo, talvez eu queria ir além.— Hm. — Resmungou bebendo o chá. — Psicopata maldita.— Confesso que gostei de vê-lo sofrer.— Sádica.— (Siegfried)— Siegfried Turgard! — A porta da saleta superior da boate abriu com um chute.O som da música eletrônica de uma apresentação que as garotas estavam ensaiando vazou. Ergui os olhos da mesa cheia de papel. Os soldados apontaram suas armas para porta.— Por Thor, Karvel! — Alyssa abaixou a arma cromada, seus cabelos bagunçados estavam com a pontinha por cima das sobrancelhas e o brinco de ouro pequeno com uma pérola reluziu ao lado dos piercings.09