Não consigo sentir meu corpo corretamente e parece que a minha alma saiu do corpo. Não é possível que a minha visão esteja certa e a minha mãe esteja aqui. Ela morreu, eu vi o corpo mutilado dela. Isso não existe. Não é real. É tudo uma fantasia da minha mente.– Nikola, você está bem? – a voz de Rayna me desperta do meu meio transe e eu olho ao redor. Felizmente, não sou o único desse jeito.– Não – respondo sinceramente e me aproximo. Olho para a mulher a minha frente e um suspiro escapa dos meus lábios sem que eu tenha controle.Sem sobra de dúvidas, ela se parece com a minha mãe, na verdade, é exatamente igual sem tirar nem pôr. Há tantas perguntas girando na minha cabeça que me sinto zonzo, mas ainda há algo errado aqui nessa situação.– Nikola, meu filho. Como você cresceu – ela diz levantando a mão para colocá-la no meu ombro e eu permito.– Você está aqui mesmo? Não estou alucinando? – murmuro olhando para ela e ela sorri, mas porque seu sorriso não parece seu sorriso?– Você n
SÓFIA, BULGÁRIA.– Por quanto tempo mais vou precisar passar por esse tipo de coisa? Esse trabalho maldito vai acabar me matando algum dia – resmungo para mim mesma enquanto ando apressada, os cliques do meu Saint Laurent no chão são como música para os ouvidos de qualquer um, inclusive para os meus, mas eu estou profundamente irritada na noite de hoje e não estou andando com a elegância que uso normalmente. Tudo que uma pessoa perceberia ao olhar para mim hoje é a pressa. Pressa de ficar longe do meu cliente.É a segunda vez que esse cliente me dá dor de cabeça e eu estou cheia dele. Mesmo que me pague 1 milhão de levs, ainda não vou aceitar sair com ele outra vez, vou deixar isso bem claro na minha agência.– Srta. Rayna! Srta. Rayna, espere! – ouço o Sr. Peev me chamando ao longe, mas não lhe dou atenção alguma. Aprendi a ignorar esse tipo de coisa com maestria. Se eu der atenção todas as vezes que eles me chamarem, vou acabar com um cachorrinho. Eu não sou um.Desço as escadas rap
– Quem era aquela? – questiono com curiosidade enquanto desço as escadas. Assim que a linda mulher saiu do estabelecimento, todas as portas foram fechadas e eu posso finalmente me relevar.Eu estava no andar de cima o tempo inteiro assistindo a cena interessante que se desenrolou entre o Sr. Peev e a senhorita. Se bem que eu não tenho certeza se devo chamá-la de senhorita.– Rayna Petrova, uma acompanhante. Ao que parece, o Sr. Peev queria usufruir mais do que havia pagado se é que o senhor me entende. Trabalha na Agency B. – meu guarda de confiança, Jeong, me esclarece. Dou um sorrisinho sacana ao perceber do que ele está falando. Ele sempre sabe de tudo, não importa o que seja, assim que pergunto ele sempre tem a resposta na ponta de sua língua e é por isso que é meu braço direito e está ao meu lado em cada passo dado.Então quer dizer que o maldito não tem dinheiro para me pagar, mas tem dinheiro para acompanhantes? Bem que ele mereceu aquela rasteira, o verme idoso.– Percebi pelo
A primeira coisa que faço assim que entro no apartamento depois de fechar a porta é retirar meus sapatos de salto alto, não é nada contra eles, eu particularmente amo saltos e me sinto poderosa com eles, mas eles poderiam ser menos dolorosos as vezes. Suspiro de alívio assim que meus pés tocam o chão frio e eu adentro o recinto.– Então, como foi sua noite? Conte-me tudo – Alietta Dobrev, minha melhor amiga e colega de apartamento questiona. Alietta está sentada no sofá em frente a TV, assim como todos os dias quando chego em casa.Eu a conheci no primeiro ano da faculdade de Literatura Inglesa, mas logo percebi que os estudos não eram bem a minha praia e acabei desistindo.Ela foi a única amiga que eu fiz e tive em toda a minha vida em todos os meus 24 anos. Sou grata pela vida dela e as vezes fico me perguntando como ainda somos amigas quando somos totalmente diferentes. Enquanto ela conseguiu se formar com honras na faculdade, iniciou sua pós-graduação e já pensando no mestrado, eu
– Casar? Você pode repetir? Eu tenho certeza que eu ouvi errado, não é possível – digo esfregando os olhos, minha cabeça ainda pesada de sono. Sento-me na cama com a maior preguiça do universo e olho para Jeong, que está sentado numa poltrona próxima a mim com seu tablet na mão.Aparentemente, há alguma coisa muito importante ali naquele tablet para o qual ele está olhando, é a única explicação para ele olhar com tanta atenção para a tela dele.– É exatamente o que você ouviu. Você vai se casar – ele diz baixando o tablet e finalmente olhando para mim.– Casar? Eu? Quem diabos tomou essa decisão? Eu nunca concordei em me casar. Por acaso tenho cara de quem quer se amarrar permanentemente a outro alguém? – pergunto sarcástico apontando para a minha face, uma dor de cabeça ameaçando aparecer.– Bem, seu pai deve achar que sim. Ele arranjou um casamento para você e eu sou apenas o mensageiro, então não desconte em mim.Esfrego as mãos no rosto e olho para a cidade pela janela antes de jo
Marggie continua olhando para mim com expectativa e eu sorrio, ponderando as minhas palavra. Inesperadamente, ela interpreta meu modo de agir de outra forma e abre um sorriso.– Eu sabia que podíamos negociar! Ah, tenho certeza de que você vai adorar a minha menina e…– Pareço um traficante de pessoas para você? – interrompo sua frase e me aproximo, o rosto tão próximo do dela que consigo ver cada ruga que há naquele rosto. O sorriso dela se desfaz e ela parece temerosa outra vez.Ah, Marggie, você nunca deveria ter baixado a guarda para mim.– E você ainda tem coragem de chamá-la de sua menina? – continuo e ela se encolhe. – Não acho que ela saiba que você está vendendo ela, do contrário, correria para as montanhas. Acho que é um grande azar o dela por ter uma mãe como você. Margarita, eu posso mexer com qualquer merda, mas eu não mexo com mulheres e crianças.– Eu sou uma mulher.– Você é uma viciada que me procurou por livre e espontânea vontade querendo iniciar um negócio. Você sa
Na segunda feira, assim que entro na Agency B. para discutir o contrato (ou a quebra dele) do Sr. Peev com os superiores, sou abordada pela recepcionista a caminho do elevador. Ela é nova, então eu ainda não a conheço muito bem, tampouco sei seu nome.– Bom dia – cumprimento.– Bom dia. Há um cliente esperando por você na sala de reuniões, ele disse que é urgente e não pode esperar – franzo a testa.– Cliente? Mas hoje é meu dia de folga – murmuro. – Não tenho ninguém marcado para hoje, muito menos uma reunião. Eu vim apenas relatar um furo no contrato.– Bem, ele chegou acompanhado da chefe e ela me pediu pessoalmente para te avisar. Agora que dei o recado, com licença, a recepção não pode ficar vazia – a garota sai e eu fico ao pé do elevador, pensativa.– Quem diabos deve ser? – questiono quando as portas se abrem e entro dentro. Se estava com a chefe, não é alguém pequeno.Lá no meu íntimo, fico animada. Clientes ricos sempre estão dispostos a pagar bem e nunca discutem os meus pr
– Marido e mulher? – Rayna repete debilmente como se estivesse experimentando as palavras em sua própria boca. – Não, ele não pode estar falando em casamento, a instituição do matrimônio e todas essas coisas. Isso não existe na minha vida e nunca vai existir.Será que ela sabe que está balbuciando e que estou ouvindo tudo? Acho que não.– Sim. Casamento. Viver a dois, felizes para sempre. Isso parece familiar? – cruzo as pernas e ela olha para mim ainda mais atônita.Adoro ver essa expressão no rosto das pessoas, elas fazem isso também quando estão prestes a serem torturadas.– Casa…mento – ela diz devagar e pausadamente. Então se levanta com pressa e bate na mesa, me assustando. – Não! De jeito nenhum! Não posso me casar!– Não pode? – questiono com uma sobrancelha arqueada. – Acaso já é casada? Está noiva ou algo assim?Não pensei nessa opção e isso me preocupa. Será que vou ter que me livrar de algum homem inconveniente? Eu realmente não gostaria de machucar ninguém além de quem me