Marggie continua olhando para mim com expectativa e eu sorrio, ponderando as minhas palavra. Inesperadamente, ela interpreta meu modo de agir de outra forma e abre um sorriso.
– Eu sabia que podíamos negociar! Ah, tenho certeza de que você vai adorar a minha menina e…– Pareço um traficante de pessoas para você? – interrompo sua frase e me aproximo, o rosto tão próximo do dela que consigo ver cada ruga que há naquele rosto. O sorriso dela se desfaz e ela parece temerosa outra vez.Ah, Marggie, você nunca deveria ter baixado a guarda para mim.– E você ainda tem coragem de chamá-la de sua menina? – continuo e ela se encolhe. – Não acho que ela saiba que você está vendendo ela, do contrário, correria para as montanhas. Acho que é um grande azar o dela por ter uma mãe como você. Margarita, eu posso mexer com qualquer merda, mas eu não mexo com mulheres e crianças.– Eu sou uma mulher.– Você é uma viciada que me procurou por livre e espontânea vontade querendo iniciar um negócio. Você sabia quem eu era, sabia das consequências e é por isso que estamos tendo essa conversa aqui e agora. Você me entende? – pergunto empurrando um dedo em seu peito e ela assente rapidamente. – Ótimo.– Mesmo assim, você jamais se arrependeria do nosso trato. Minha filha não é assim tão boa como você pensa, ela se vende por dinheiro e tem tanto valor quando eu. Ela se acha só porque mora numa cobertura e é uma acompanhante de luxo. Bobagem, para mim, puta é puta – Marggie diz amarga e eu percebo um certo rancor ali.Que seja, não é da minha conta.– Sua filha é acompanhante de luxo?– Sim. Ela devia me agradecer por ter puxado a minha beleza, mas em vez de fazer isso, ela faz de tudo para ficar longe de mim. Nem mesmo me ajuda a pagar as contas quando tem muito mais dinheiro que eu – arqueio a sobrancelha. Acho que Marggie e meu pai tem muito em comum, os dois se acham os donos da razão e querem que os filhos lidem com as merdas deles.Estou num impasse aqui. Não posso voltar para casa de mãos abanando e não vou dar mais tempo a ela. Ela não é merecedora desse tempo.– O que ela diria se soubesse que está sendo vendida?– Ah, não faço ideia. Ela já não espera nada de mim mesmo – em sua fala, percebo que ela não liga nem um pouco para a filha.Olho para Jeong com o meu melhor olhar de “o que você acha que eu devo fazer” nos afastamos um pouco de Margarita e ele se aproxima e me fala ao pé do ouvido, de modo que apenas eu sou capaz de ouvir.– A filha dela é Rayna Petrova, acompanhante na Agency B. – Jeong sempre tem a ficha familiar das pessoas que eu visito porque, normalmente usamos isso para chantagear. Dessa vez foi totalmente ao contrário.– Por que parece que já ouvi esse nome em algum lugar? – murmuro.– Ela é a mulher que o ajudou a capturar o Sr. Peev, Sr. – levanto as sobrancelhas.– Aquela é a filha dela? – questiono surpreso. Aquela mulher causou uma impressão ótima em mim, mas eu não pago para mulheres sairem comigo. – Eu nunca imaginaria.São dois tipos diferentes de mulher e eu jamais associaria uma a outra.– O que vai fazer? – Jeong pergunta.– Aceitar a proposta. Se ela não vai me pagar, a filha dela vai – não pretendo vendê-la, muito menos usá-la para prostituição.Tudo que eu quero é dinheiro.Me aproximo de Marggie e sorrio.– Vou preparar os papéis para que você assine e Jeong vira trazer. Assine – comunico e ela olha esperançosa para mim.– Vai aceitar minha proposta? Mesmo?– Sim e não. Vou negociar com a sua filha e se ela me pagar, voltarei e você mesma vai precisar dar um jeito, ou eu vou dar um jeito em você. Você bem sabe que não é nada difícil de te encontrarem em uma vala escura, certo? – falo angelicalmente e ela olha para mim com temor. Isso mesmo. É assim que eu gosto que me olhem.– Você me entendeu? – enfatizo e ela assente. – Ótimo. Até mais. Tenho um pressentimento de que vamos nos encontrar de novo.Vejo um pequeno tremor nela e lhe dou as costas, saindo da mesma forma que entrei.– Acha que foi a decisão certa, Sr? – Jeong pergunta assim que chegamos ao carro.– Você faria diferente?– Eu acho que a Srta. não é do tipo que gosta da mãe. Na verdade, pelo jeito que ela falou, eu duvido que se deem bem. Ela não vai pagar essa dívida.– Ah, vai sim. Alguém vai me pagar, ou alguém vai morrer. Elas vão decidir quem morre e quem vive – É minha última palavra e eu entro no carro. Jeong entende o recado e não toca mais no assunto, mas eu fico pensativo.Rayna Petrova. O nome combina bem com ela e seu olhar obstinado. A primeira coisa que pensei quando a vi foi que ela parecia um pouco comigo. Além de não ligar para os insultos do Sr. Peev, ela ainda lidou com toda a situação de uma forma bem fria e calculista assim como eu faria.– Está pensando na sua noiva, Sr? – Jeong pergunta subitamente, me tirando dos meus pensamentos.– Noiva? – pergunto.– Sim, sua noiva. A garota de bem com quem terá que se casar. Você tem algum palpite de que garota o seu pai gostaria?– Não, mas eu tenho vários palpites de garotas que ele não gostaria, mas… – tenho um insight e paro, minha mente acelerada, a melhor ideia de todos os tempos se formando na minha mente. Um sorriso se espalha lentamente pelo meu rosto.– Jeong, mudança de planos, vamos para a casa do meu advogado.– Agora? Mas você disse que ia jantar – ele questiona confuso.– Posso jantar enquanto discuto isso com Jamie. Tive a melhor ideia para o meu casamento e tenho certeza que meu pai vai adorar. Já até consigo ver a cara dele de felicidade quando souber.– O que você vai fazer? Não me parece nada bom – Jeong me conhece demais e sabe que não estou brincando.– Você vai ver.Na segunda feira, assim que entro na Agency B. para discutir o contrato (ou a quebra dele) do Sr. Peev com os superiores, sou abordada pela recepcionista a caminho do elevador. Ela é nova, então eu ainda não a conheço muito bem, tampouco sei seu nome.– Bom dia – cumprimento.– Bom dia. Há um cliente esperando por você na sala de reuniões, ele disse que é urgente e não pode esperar – franzo a testa.– Cliente? Mas hoje é meu dia de folga – murmuro. – Não tenho ninguém marcado para hoje, muito menos uma reunião. Eu vim apenas relatar um furo no contrato.– Bem, ele chegou acompanhado da chefe e ela me pediu pessoalmente para te avisar. Agora que dei o recado, com licença, a recepção não pode ficar vazia – a garota sai e eu fico ao pé do elevador, pensativa.– Quem diabos deve ser? – questiono quando as portas se abrem e entro dentro. Se estava com a chefe, não é alguém pequeno.Lá no meu íntimo, fico animada. Clientes ricos sempre estão dispostos a pagar bem e nunca discutem os meus pr
– Marido e mulher? – Rayna repete debilmente como se estivesse experimentando as palavras em sua própria boca. – Não, ele não pode estar falando em casamento, a instituição do matrimônio e todas essas coisas. Isso não existe na minha vida e nunca vai existir.Será que ela sabe que está balbuciando e que estou ouvindo tudo? Acho que não.– Sim. Casamento. Viver a dois, felizes para sempre. Isso parece familiar? – cruzo as pernas e ela olha para mim ainda mais atônita.Adoro ver essa expressão no rosto das pessoas, elas fazem isso também quando estão prestes a serem torturadas.– Casa…mento – ela diz devagar e pausadamente. Então se levanta com pressa e bate na mesa, me assustando. – Não! De jeito nenhum! Não posso me casar!– Não pode? – questiono com uma sobrancelha arqueada. – Acaso já é casada? Está noiva ou algo assim?Não pensei nessa opção e isso me preocupa. Será que vou ter que me livrar de algum homem inconveniente? Eu realmente não gostaria de machucar ninguém além de quem me
Volto para casa com uma névoa enorme no lugar dos pensamentos e não tenho pura certeza de como consegui chegar em casa. Minha mente está toda embaraçada e meu pensamento todo acelerado.Convenientemente, Alietta está passando quando eu chego e me saúda com o maior dos sorrisos– Ah, você já chegou? Eu acabei de chegar também, você acredita que o Sr… – pausa quando vê minha expressão. passo direto por ela até o quarto e ela me segue. — O que está errado?Alietta é sempre rápida em perceber o que está errado em mim e por isso eu a amo. São muitos anos de convivência.– Alietta, o que vou fazer? – murmuro finalmente olhando para ela. Seus olhos se arregalam e eu não fico surpresa.Pela expressão dela, eu devo estar um caco completo.– Rayna, você está me assustando! O que aconteceu? Você foi despedida? Te fizeram algum mal? Seu salário não vai cair? – Rayna me conhece tão bem que sabe o quanto eu fico abalada quando meu salário atrasa. Essa era umas das poucas coisas que conseguiam me de
Tenho tanto ódio dentro de mim enquanto faço as malas que nem mesmo me organizo como eu normalmente faria, chega um ponto que eu estou apenas jogando tudo lá dentro da mala sem cuidado algum, algo que eu nunca faria. Enquanto isso, Alietta fica olhando para mim com preocupação nítida em seu semblante.– Rayna, você não precisa fazer isso. Nós podemos pagar, posso talvez pegar um empréstimo e… – ela diz enquanto eu estou fechando a última mala, mas eu a interrompo.– Não precisa fazer isso, Alietta. Eu jamais a forçaria a me ajudar em algo assim mesmo sabendo que você faria de bom grado. É uma quantia exorbitante já que ela pegou para revender, nós duas sabemos que isso não é sua culpa, se tem alguém que deveria me ajudar é a minha mãe, mas ela só sabe me afundar. Mesmo com o meu trabalho e o seu, demoraria anos para que tudo fosse pago – digo sinceramente me virando para ela e volto ao closet, vendo o que estou esquecendo. Não pretendo levar tudo para a casa de Nikola, daria muito tr
A despedida entre Alietta e Rayna poderia ter amolecido meu coração, se eu tivesse algum, mas como não tenho eu apenas me concentrei em observar as duas se abraçando como se o mundo fosse acabar porque estão separadas.– Mulheres são muito dramáticas – murmuro para mim mesma.– Não concordo, senhor – Jeong diz quase que imediatamente e eu me viro. Não sabia que ele tinha ouvido, mas estou ainda mais surpreso por ele ter dado sua opinião.– Não concorda? – pergunto levantando as sobrancelhas.– Somos amigos também. Não sofreria com a minha ausência? – ele arqueia a sobrancelha e eu estreitos meus olhos. Não consigo imaginar minha vida sem ele, é ele que cuida de tudo, é meu braço direito e amigo acima de tudo.Eu certamente sentiria falta dele, mas ele não precisa saber disso.– Estou muito surpreso por dizer que somos amigos. Você sabe, não consigo te considerar meu amigo quando você me chama de senhor a cada segundo, me faz sentir velho – exponho meu ponto de vista e ele arqueia a so
Eu poderia ter saboreado muito mais o sabor do jantar na minha “casa” nova se não estivesse sob a tensão do olhar de Nikola e do seu irmão, Viktor, em cima de mim, sem falar nos pensamentos que estavam girando na minha cabeça o tempo inteiro.Em vários momentos, me peguei sendo analisada tanto por Viktor quanto por Nikola e tudo que eu podia fazer era demonstrar normalidade e sorrir como uma idiota apaixonada para o meu marido aparentemente caloroso, já que ele segurava minha mão em toda oportunidade, fato que Viktor ficava observando com curiosidade aparentemente. Felizmente, é um papel que eu já desempenhei muitas vezes, se não, eu estaria em maus lençóis. Não tive nem mesmo tempo de olhar ao redor da propriedade além do momento em que chegamos, tudo que sei é que é uma casa bonita e luxuosa, mas não consigo explorar porque estou presa aqui com esses dois homens.Fico aliviada quando o irmão de Nikola se despede logo após a sobremesa e diz que precisa resolver algumas coisas pessoai
Estou deitado na cama a algum tempo, esperando por Rayna. Eu nunca dividi minhas coisas antes e isso inclui o meu espaço, mas há uma sensação de conforto em tê-la por perto mesmo com tão pouco tempo de conhecimento. Talvez por causa do seu humor ácido e sua total imunidade ao meu charme. Talvez eu esteja precisando de alguém que não cai aos meus pés a cada palavra dita, para variar.Olho para a aliança no meu dedo e percebo o quanto ela é presente, tão presente que pode ser notada de longe.– Será que meu pai vai gostar? – questiono para mim mesmo e meu celular toca na mesa de cabeceira. Puxo-o para mim e olho no visor. – Falando no diabo. Alô?– Finalmente resolveu me atender – Teodor, meu pai, resmunga do outro lado da linha. Ele está sempre resmungando e reclamando, nunca é um tom ameno.– E você acabou de me lembrar o motivo pelo qual eu nunca atendo – rebato. Ele é um grande bundão, mas prefiro não dizer isso em sua frente.– Não tenho tempo para as suas birras. Amanhã teremos um
Minha cama está tão quentinha e confortável que eu não tenho vontade alguma de sair daqui. Estico os braços e solto um gemidinho de prazer.– Vejo que está confortável – quatro palavras são necessárias para me despertar quase que imediatamente. Abro os olhos e percebo que estou encostada em um corpo quente, e no corpo quente há uma cabeça que me olha de uma forma muito divertida. – Então, eu sempre quis saber, é bom ficar em cima de mim? Em minha defesa, você veio para cima de mim primeiro, eu só aceitei.Pulo da cama e paro longe dele, me cobrindo com a mão como se estivesse nua e Nikola ri.– Você é sempre tão divertida assim quando acorda? – ele pergunta encostando o queixo na mão como se estivesse prestes a ouvir algo muito importante.– Nikola, se você falar mais juro que vou te matar – ameaço passando os dedos entre os cabelos e jogando-os para o lado, largando a posição defensiva. Estamos de roupa, eu estou longe dele, está tudo certo e nada vai acontecer.Não há motivo para te