– Quem era aquela? – questiono com curiosidade enquanto desço as escadas. Assim que a linda mulher saiu do estabelecimento, todas as portas foram fechadas e eu posso finalmente me relevar.
Eu estava no andar de cima o tempo inteiro assistindo a cena interessante que se desenrolou entre o Sr. Peev e a senhorita. Se bem que eu não tenho certeza se devo chamá-la de senhorita.– Rayna Petrova, uma acompanhante. Ao que parece, o Sr. Peev queria usufruir mais do que havia pagado se é que o senhor me entende. Trabalha na Agency B. – meu guarda de confiança, Jeong, me esclarece. Dou um sorrisinho sacana ao perceber do que ele está falando. Ele sempre sabe de tudo, não importa o que seja, assim que pergunto ele sempre tem a resposta na ponta de sua língua e é por isso que é meu braço direito e está ao meu lado em cada passo dado.Então quer dizer que o maldito não tem dinheiro para me pagar, mas tem dinheiro para acompanhantes? Bem que ele mereceu aquela rasteira, o verme idoso.– Percebi pelo desenrolar da conversa – aponto enquanto observo os meus homens levando um muito cabisbaixo sr. Peev e me aproximo. Levanto a mão e os meus empregados entendem o recado, pois param e o colocam no chão novamente. Com o meu sapato, cutuco a coxa do velho e sorrio para seu rosto carrancudo – Ei, Sr. Peev. Como vai? Ou devo chamá-lo de Senhor Pervertido a partir de hoje?– Você armou com ela não é? Aquela puta barata se vende por qualquer um que der mais dinheiro, eu sempre soube disso – o velho está praticamente cuspindo de raiva na minha direção, mas não me incomodo com as suas palavras e apenas rio. Ainda bem que ela não está mais aqui, pelo que percebi, ela não é do tipo que aceita xingamentos gratuitos e revida os ataques.– Aquilo? Foi tudo um grande mal entendido. Eu não armei com ela, você sabe muito bem que eu não preciso desse tipo de coisa. O que aconteceu hoje foi tudo por sua causa, talvez se você não tivesse tentado passá-la para trás como me passou ela tivesse te ajudado a fugir – digo inocentemente e ele mostra os dentes para mim como um cachorro prestes a atacar. – Agora, que tal uma estadia em minhas adoráveis acomodações? Tenho certeza que vai dar um jeito de me pagar.Olho para o segurança e meu sorriso se vai, a postura fria tomando conta de mim novamente.– Leve – ordeno dando as costas para o Sr. Peev.– Não! Me dê mais tempo, prometo que vou te pagar com juros – ele grita as minhas costas enquanto é arrastado, mas eu não me viro para ouvir sua proposta.Eu que dou as cartas aqui, não ele.Desde o momento em que ele pisou os pés nesse estabelecimento, eu sabia da presença dele e estava disposto a capturá-lo. Ele me deve e tem fugido de sua dívida, mas ele deveria saber que não há como fugir de mim. Eu o caçaria até num buraco de formigas se possível, só para pegar o que é meu por direito. De certa forma, eu sabia, lá no meu íntimo que ele me daria trabalho quando emprestei dinheiro a ele, mas eu sempre estou disposto a me surpreender. Não foi o caso com ele.Eu sabia que ele tinha uma mesa reservada, mas não sabia que ele viria acompanhado. Quando ele subiu para o quarto, eu fui logo atrás com o plano de acabar com sua diversão na hora mais divertida, mas nem tive a oportunidade. Cinco minutos depois de ter entrado, a garota saiu e ele foi logo atrás.Como sou tido a diversões e fofocas, decidi observar o desenrolar da cena e não me arrependo. Ele teria fugido se não fosse a rasteira dela, e que rasteira! Ela parece ter muita prática no assunto, além de ser obstinada.– O que devemos fazer com ele? – Jeong pergunta.– Que tal decidirmos enquanto tomamos um drinque? – proponho, animado. Eu sempre estou animado para um drink.– Nikola! Tenho certeza que seu pai desaprovaria tal feito.– Não me chame de Nikola, fica parecendo um velho quando faz isso. E sério que meu pai desaprovaria? Você acabou de me convencer! Vamos beber, por minha conta! – a simples menção de desaprovar meu pai é como música para os meus ouvidos.Meu pai, Teodor Vladislav é o maior filho da puta que eu já conheci e eu o odeio. Sem mais. Minha missão de vida é fazê-lo infeliz e até agora estou obtendo muito êxito. Não consigo tirar o sorriso do meu rosto quando ele está bravo comigo.– Senhor, perdoe-me a intromissão, sei que posso levar um tiro pela minha insolência, mas…– Se sabe que pode levar um tiro – corto Jeong e o olho ameaçadoramente –, não acha que seria melhor não dizer?– Senhor, acho que deveria ouvir o seu pai. Ele está ficando velho e está quase na hora de assumir seu lugar de Don. Não acha que seria prudente ser um pouco mais… contido?– Defina contido.– Obedecer as ordens dele, sair menos, pensar um pouco antes de…– Pelo visto não tem mesmo medo de levar um tiro.– Não se eu achar que isso vai te beneficiar. Pode atirar em mim se acha que não tenho razão – consigo ver em seus olhos a ousadia cintilando, mas em vez de achar ruim, sorrio.Jeong Tate é meu amigo desde que eu me entendo por gente. Aprendemos a matar juntos, a usar a arma e a lutar. Não me lembro de uma vida onde ele não está ao meu lado e acima de chefe e subordinado, somos amigos, o que significa que ele tem permissão para me falar umas verdades as vezes.– Você tem razão, mas me recuso a mudar. Quando ele morrer, prometo que farei uma mudança e se isso não acontecer e eu morrer, Viktor assumirá no meu lugar. É o máximo que pode acontecer.Agora, será que podemos pular toda essa conversa chata? Tudo que eu quero é uma mulher no meu colo e uma garrafa na minha mão então vamos, siga-me.Assoviando, caminho até a porta e depois de algum tempo, ouço passos derrotados atrás de mim.Ele não tem opção a não ser me seguir.A primeira coisa que faço assim que entro no apartamento depois de fechar a porta é retirar meus sapatos de salto alto, não é nada contra eles, eu particularmente amo saltos e me sinto poderosa com eles, mas eles poderiam ser menos dolorosos as vezes. Suspiro de alívio assim que meus pés tocam o chão frio e eu adentro o recinto.– Então, como foi sua noite? Conte-me tudo – Alietta Dobrev, minha melhor amiga e colega de apartamento questiona. Alietta está sentada no sofá em frente a TV, assim como todos os dias quando chego em casa.Eu a conheci no primeiro ano da faculdade de Literatura Inglesa, mas logo percebi que os estudos não eram bem a minha praia e acabei desistindo.Ela foi a única amiga que eu fiz e tive em toda a minha vida em todos os meus 24 anos. Sou grata pela vida dela e as vezes fico me perguntando como ainda somos amigas quando somos totalmente diferentes. Enquanto ela conseguiu se formar com honras na faculdade, iniciou sua pós-graduação e já pensando no mestrado, eu
– Casar? Você pode repetir? Eu tenho certeza que eu ouvi errado, não é possível – digo esfregando os olhos, minha cabeça ainda pesada de sono. Sento-me na cama com a maior preguiça do universo e olho para Jeong, que está sentado numa poltrona próxima a mim com seu tablet na mão.Aparentemente, há alguma coisa muito importante ali naquele tablet para o qual ele está olhando, é a única explicação para ele olhar com tanta atenção para a tela dele.– É exatamente o que você ouviu. Você vai se casar – ele diz baixando o tablet e finalmente olhando para mim.– Casar? Eu? Quem diabos tomou essa decisão? Eu nunca concordei em me casar. Por acaso tenho cara de quem quer se amarrar permanentemente a outro alguém? – pergunto sarcástico apontando para a minha face, uma dor de cabeça ameaçando aparecer.– Bem, seu pai deve achar que sim. Ele arranjou um casamento para você e eu sou apenas o mensageiro, então não desconte em mim.Esfrego as mãos no rosto e olho para a cidade pela janela antes de jo
Marggie continua olhando para mim com expectativa e eu sorrio, ponderando as minhas palavra. Inesperadamente, ela interpreta meu modo de agir de outra forma e abre um sorriso.– Eu sabia que podíamos negociar! Ah, tenho certeza de que você vai adorar a minha menina e…– Pareço um traficante de pessoas para você? – interrompo sua frase e me aproximo, o rosto tão próximo do dela que consigo ver cada ruga que há naquele rosto. O sorriso dela se desfaz e ela parece temerosa outra vez.Ah, Marggie, você nunca deveria ter baixado a guarda para mim.– E você ainda tem coragem de chamá-la de sua menina? – continuo e ela se encolhe. – Não acho que ela saiba que você está vendendo ela, do contrário, correria para as montanhas. Acho que é um grande azar o dela por ter uma mãe como você. Margarita, eu posso mexer com qualquer merda, mas eu não mexo com mulheres e crianças.– Eu sou uma mulher.– Você é uma viciada que me procurou por livre e espontânea vontade querendo iniciar um negócio. Você sa
Na segunda feira, assim que entro na Agency B. para discutir o contrato (ou a quebra dele) do Sr. Peev com os superiores, sou abordada pela recepcionista a caminho do elevador. Ela é nova, então eu ainda não a conheço muito bem, tampouco sei seu nome.– Bom dia – cumprimento.– Bom dia. Há um cliente esperando por você na sala de reuniões, ele disse que é urgente e não pode esperar – franzo a testa.– Cliente? Mas hoje é meu dia de folga – murmuro. – Não tenho ninguém marcado para hoje, muito menos uma reunião. Eu vim apenas relatar um furo no contrato.– Bem, ele chegou acompanhado da chefe e ela me pediu pessoalmente para te avisar. Agora que dei o recado, com licença, a recepção não pode ficar vazia – a garota sai e eu fico ao pé do elevador, pensativa.– Quem diabos deve ser? – questiono quando as portas se abrem e entro dentro. Se estava com a chefe, não é alguém pequeno.Lá no meu íntimo, fico animada. Clientes ricos sempre estão dispostos a pagar bem e nunca discutem os meus pr
– Marido e mulher? – Rayna repete debilmente como se estivesse experimentando as palavras em sua própria boca. – Não, ele não pode estar falando em casamento, a instituição do matrimônio e todas essas coisas. Isso não existe na minha vida e nunca vai existir.Será que ela sabe que está balbuciando e que estou ouvindo tudo? Acho que não.– Sim. Casamento. Viver a dois, felizes para sempre. Isso parece familiar? – cruzo as pernas e ela olha para mim ainda mais atônita.Adoro ver essa expressão no rosto das pessoas, elas fazem isso também quando estão prestes a serem torturadas.– Casa…mento – ela diz devagar e pausadamente. Então se levanta com pressa e bate na mesa, me assustando. – Não! De jeito nenhum! Não posso me casar!– Não pode? – questiono com uma sobrancelha arqueada. – Acaso já é casada? Está noiva ou algo assim?Não pensei nessa opção e isso me preocupa. Será que vou ter que me livrar de algum homem inconveniente? Eu realmente não gostaria de machucar ninguém além de quem me
Volto para casa com uma névoa enorme no lugar dos pensamentos e não tenho pura certeza de como consegui chegar em casa. Minha mente está toda embaraçada e meu pensamento todo acelerado.Convenientemente, Alietta está passando quando eu chego e me saúda com o maior dos sorrisos– Ah, você já chegou? Eu acabei de chegar também, você acredita que o Sr… – pausa quando vê minha expressão. passo direto por ela até o quarto e ela me segue. — O que está errado?Alietta é sempre rápida em perceber o que está errado em mim e por isso eu a amo. São muitos anos de convivência.– Alietta, o que vou fazer? – murmuro finalmente olhando para ela. Seus olhos se arregalam e eu não fico surpresa.Pela expressão dela, eu devo estar um caco completo.– Rayna, você está me assustando! O que aconteceu? Você foi despedida? Te fizeram algum mal? Seu salário não vai cair? – Rayna me conhece tão bem que sabe o quanto eu fico abalada quando meu salário atrasa. Essa era umas das poucas coisas que conseguiam me de
Tenho tanto ódio dentro de mim enquanto faço as malas que nem mesmo me organizo como eu normalmente faria, chega um ponto que eu estou apenas jogando tudo lá dentro da mala sem cuidado algum, algo que eu nunca faria. Enquanto isso, Alietta fica olhando para mim com preocupação nítida em seu semblante.– Rayna, você não precisa fazer isso. Nós podemos pagar, posso talvez pegar um empréstimo e… – ela diz enquanto eu estou fechando a última mala, mas eu a interrompo.– Não precisa fazer isso, Alietta. Eu jamais a forçaria a me ajudar em algo assim mesmo sabendo que você faria de bom grado. É uma quantia exorbitante já que ela pegou para revender, nós duas sabemos que isso não é sua culpa, se tem alguém que deveria me ajudar é a minha mãe, mas ela só sabe me afundar. Mesmo com o meu trabalho e o seu, demoraria anos para que tudo fosse pago – digo sinceramente me virando para ela e volto ao closet, vendo o que estou esquecendo. Não pretendo levar tudo para a casa de Nikola, daria muito tr
A despedida entre Alietta e Rayna poderia ter amolecido meu coração, se eu tivesse algum, mas como não tenho eu apenas me concentrei em observar as duas se abraçando como se o mundo fosse acabar porque estão separadas.– Mulheres são muito dramáticas – murmuro para mim mesma.– Não concordo, senhor – Jeong diz quase que imediatamente e eu me viro. Não sabia que ele tinha ouvido, mas estou ainda mais surpreso por ele ter dado sua opinião.– Não concorda? – pergunto levantando as sobrancelhas.– Somos amigos também. Não sofreria com a minha ausência? – ele arqueia a sobrancelha e eu estreitos meus olhos. Não consigo imaginar minha vida sem ele, é ele que cuida de tudo, é meu braço direito e amigo acima de tudo.Eu certamente sentiria falta dele, mas ele não precisa saber disso.– Estou muito surpreso por dizer que somos amigos. Você sabe, não consigo te considerar meu amigo quando você me chama de senhor a cada segundo, me faz sentir velho – exponho meu ponto de vista e ele arqueia a so