SÓFIA, BULGÁRIA.
– Por quanto tempo mais vou precisar passar por esse tipo de coisa? Esse trabalho maldito vai acabar me matando algum dia – resmungo para mim mesma enquanto ando apressada, os cliques do meu Saint Laurent no chão são como música para os ouvidos de qualquer um, inclusive para os meus, mas eu estou profundamente irritada na noite de hoje e não estou andando com a elegância que uso normalmente. Tudo que uma pessoa perceberia ao olhar para mim hoje é a pressa. Pressa de ficar longe do meu cliente.É a segunda vez que esse cliente me dá dor de cabeça e eu estou cheia dele. Mesmo que me pague 1 milhão de levs, ainda não vou aceitar sair com ele outra vez, vou deixar isso bem claro na minha agência.– Srta. Rayna! Srta. Rayna, espere! – ouço o Sr. Peev me chamando ao longe, mas não lhe dou atenção alguma. Aprendi a ignorar esse tipo de coisa com maestria. Se eu der atenção todas as vezes que eles me chamarem, vou acabar com um cachorrinho. Eu não sou um.Desço as escadas rapidamente e já estou no salão do hotel quando ele finalmente me alcança, me segurando pelo braço.É claro que isso chama a atenção de todos os presentes, que nos fitam com curiosidade e alguns com censura por nosso barulho exagerado. Ou será que devo atribuir isso a minha beleza? Que seja, não me importa nesse momento.– Não pode ir embora agora, nós não acabamos – ele diz entredentes tentando disfarçar a ordem com um sorriso que ele dirige aos outros em forma de desculpa.– Está errado, eu posso e vou embora agora. Você me pagou por um jantar, se quiser que eu vá para a cama com você vai precisar me pagar muito mais, coisa que você não fez. Eu tenho um contrato assinado que prova que nosso acordo não inclui sexo, você quebrou as regras então eu estou totalmente livre para te deixar a nenhuma e ir embora. Alguma dúvida? – as palavras saem rapidamente da minha boca e eu não me importo em ser fria e calculista. – Se não tem, vou embora agora. Boa noite.Eu gostaria que as coisas fossem diferentes pelo menos uma vez na vida, mas não me surpreendo quando ele me segura pelo braço mais uma vez, antes que eu dê metade de um passo. Todos fazem isso, eles simplesmente não conseguem se tocar.– Escute aqui, você acha que eu pagaria para ter sexo com você? Só quem é maluco paga por algo que se pode conseguir de graça – eu já esperava que isso saísse da boca dele. É isso que todos os homens dizem quando percebem que não vão conseguir concluir seus planinhos em relação a mim.Sou uma acompanhante cara e a maioria dos homens que me procuram é apenas para ser exibida em um jantar de negócios ou uma ocasião formal, são poucos que querem sexo. O sr. Peev é um desses poucos, apesar de não ter dinheiro.Com um sorriso, jogo meu cabelo loiro para o lado e sorrio da forma mais meiga que consigo para ele.– Bem, não parece que você está conseguindo de graça, afinal me contratou para jantar com você e tentou comer muito mais do que a comida, não é mesmo? – tudo isso é dito no meu tom mais meigo e ele abre a boca, incrédulo.– Ora, sua… sua puta – ele grita em meio ao salão lotado. Para a sua surpresa, eu sorrio e dou de ombros.– Era para ser uma ofensa? – Questiono inocentemente. – Receio que não funcionou muito bem.Ele não tem tempo para me responder porque um tiro soa lá fora e as pessoas começam a correr para a saída. Olho ao redor e vejo que há homens se aproximando de nós enquanto todos os outros estão indo em direção a saída, eles estão entrando ainda mais no estabelecimento.O Sr. Peev olha ao redor e quando seus olhos batem nos homens que se aproximam, ele arregala os olhos e eu percebo o problema imediatamente. Ele é o procurado da vez.– Ele vai fugir! Rápido! – alguém grita e eu constato que estão certos. Eu normalmente não me meto em assuntos pessoais, mas o Sr. Peev realmente tirou minha paciência hoje.Rapidamente, antes que o sr. Peev consiga correr, coloco meu pé entre as suas pernas e lhe dou uma rasteira que o faz cair no chão como um saco de batatas.– O que está fazendo?! Não pode me entregar para eles, vou morrer se fizer isso – ele diz desesperado tentando se levantar e fugir, mas o Sr. Peev já não é mais tão novo e não tem mais a agilidade que pensava que tinha porque ele mal consegue ficar de joelhos quando se vê rodeado de homens.– Não estou te entregando, é o karma. Parece que não sou a única pessoa que você tenta passar para trás hoje – respondo simplesmente. – Esse é o seu castigo por querer algo que não consegue pagar.– Espero que morra entalada – ele diz e cospe no chão com desprezo. Pela sua expressão, consigo imaginar com o quê ele está desejando que eu me engasgue. Não parece uma morte tão ruim para mim.– Como se eu me importasse com o que você espera – faço pouco-caso e olho para os homens ao meu redor. – Posso ir embora?O que parece ser o líder deles assente, então com uma jogada de cabelo, eu saio andando para longe do Sr. Peev, pensando no meu apartamento e num banho relaxante na minha banheira.Pode parecer cruel o que acabei de fazer, mas é melhor que seja ele do que eu. Aprendi a não deixar meus sentimentos atrapalharem meu trabalho e esse é o segredo do meu sucesso.Enquanto andava para fora de um dos melhores hotéis de Sófia, Rayna não percebeu que estava sendo observada por um homem que estava no andar de cima, ao pé da escada, assistindo tudo que ela tinha feito desde que saiu do quarto onde estava com o Sr. Peev. Ela não sabia ainda, mas o encontro daquela noite estava destinado a acontecer.– Quem era aquela? – questiono com curiosidade enquanto desço as escadas. Assim que a linda mulher saiu do estabelecimento, todas as portas foram fechadas e eu posso finalmente me relevar.Eu estava no andar de cima o tempo inteiro assistindo a cena interessante que se desenrolou entre o Sr. Peev e a senhorita. Se bem que eu não tenho certeza se devo chamá-la de senhorita.– Rayna Petrova, uma acompanhante. Ao que parece, o Sr. Peev queria usufruir mais do que havia pagado se é que o senhor me entende. Trabalha na Agency B. – meu guarda de confiança, Jeong, me esclarece. Dou um sorrisinho sacana ao perceber do que ele está falando. Ele sempre sabe de tudo, não importa o que seja, assim que pergunto ele sempre tem a resposta na ponta de sua língua e é por isso que é meu braço direito e está ao meu lado em cada passo dado.Então quer dizer que o maldito não tem dinheiro para me pagar, mas tem dinheiro para acompanhantes? Bem que ele mereceu aquela rasteira, o verme idoso.– Percebi pelo
A primeira coisa que faço assim que entro no apartamento depois de fechar a porta é retirar meus sapatos de salto alto, não é nada contra eles, eu particularmente amo saltos e me sinto poderosa com eles, mas eles poderiam ser menos dolorosos as vezes. Suspiro de alívio assim que meus pés tocam o chão frio e eu adentro o recinto.– Então, como foi sua noite? Conte-me tudo – Alietta Dobrev, minha melhor amiga e colega de apartamento questiona. Alietta está sentada no sofá em frente a TV, assim como todos os dias quando chego em casa.Eu a conheci no primeiro ano da faculdade de Literatura Inglesa, mas logo percebi que os estudos não eram bem a minha praia e acabei desistindo.Ela foi a única amiga que eu fiz e tive em toda a minha vida em todos os meus 24 anos. Sou grata pela vida dela e as vezes fico me perguntando como ainda somos amigas quando somos totalmente diferentes. Enquanto ela conseguiu se formar com honras na faculdade, iniciou sua pós-graduação e já pensando no mestrado, eu
– Casar? Você pode repetir? Eu tenho certeza que eu ouvi errado, não é possível – digo esfregando os olhos, minha cabeça ainda pesada de sono. Sento-me na cama com a maior preguiça do universo e olho para Jeong, que está sentado numa poltrona próxima a mim com seu tablet na mão.Aparentemente, há alguma coisa muito importante ali naquele tablet para o qual ele está olhando, é a única explicação para ele olhar com tanta atenção para a tela dele.– É exatamente o que você ouviu. Você vai se casar – ele diz baixando o tablet e finalmente olhando para mim.– Casar? Eu? Quem diabos tomou essa decisão? Eu nunca concordei em me casar. Por acaso tenho cara de quem quer se amarrar permanentemente a outro alguém? – pergunto sarcástico apontando para a minha face, uma dor de cabeça ameaçando aparecer.– Bem, seu pai deve achar que sim. Ele arranjou um casamento para você e eu sou apenas o mensageiro, então não desconte em mim.Esfrego as mãos no rosto e olho para a cidade pela janela antes de jo
Marggie continua olhando para mim com expectativa e eu sorrio, ponderando as minhas palavra. Inesperadamente, ela interpreta meu modo de agir de outra forma e abre um sorriso.– Eu sabia que podíamos negociar! Ah, tenho certeza de que você vai adorar a minha menina e…– Pareço um traficante de pessoas para você? – interrompo sua frase e me aproximo, o rosto tão próximo do dela que consigo ver cada ruga que há naquele rosto. O sorriso dela se desfaz e ela parece temerosa outra vez.Ah, Marggie, você nunca deveria ter baixado a guarda para mim.– E você ainda tem coragem de chamá-la de sua menina? – continuo e ela se encolhe. – Não acho que ela saiba que você está vendendo ela, do contrário, correria para as montanhas. Acho que é um grande azar o dela por ter uma mãe como você. Margarita, eu posso mexer com qualquer merda, mas eu não mexo com mulheres e crianças.– Eu sou uma mulher.– Você é uma viciada que me procurou por livre e espontânea vontade querendo iniciar um negócio. Você sa
Na segunda feira, assim que entro na Agency B. para discutir o contrato (ou a quebra dele) do Sr. Peev com os superiores, sou abordada pela recepcionista a caminho do elevador. Ela é nova, então eu ainda não a conheço muito bem, tampouco sei seu nome.– Bom dia – cumprimento.– Bom dia. Há um cliente esperando por você na sala de reuniões, ele disse que é urgente e não pode esperar – franzo a testa.– Cliente? Mas hoje é meu dia de folga – murmuro. – Não tenho ninguém marcado para hoje, muito menos uma reunião. Eu vim apenas relatar um furo no contrato.– Bem, ele chegou acompanhado da chefe e ela me pediu pessoalmente para te avisar. Agora que dei o recado, com licença, a recepção não pode ficar vazia – a garota sai e eu fico ao pé do elevador, pensativa.– Quem diabos deve ser? – questiono quando as portas se abrem e entro dentro. Se estava com a chefe, não é alguém pequeno.Lá no meu íntimo, fico animada. Clientes ricos sempre estão dispostos a pagar bem e nunca discutem os meus pr
– Marido e mulher? – Rayna repete debilmente como se estivesse experimentando as palavras em sua própria boca. – Não, ele não pode estar falando em casamento, a instituição do matrimônio e todas essas coisas. Isso não existe na minha vida e nunca vai existir.Será que ela sabe que está balbuciando e que estou ouvindo tudo? Acho que não.– Sim. Casamento. Viver a dois, felizes para sempre. Isso parece familiar? – cruzo as pernas e ela olha para mim ainda mais atônita.Adoro ver essa expressão no rosto das pessoas, elas fazem isso também quando estão prestes a serem torturadas.– Casa…mento – ela diz devagar e pausadamente. Então se levanta com pressa e bate na mesa, me assustando. – Não! De jeito nenhum! Não posso me casar!– Não pode? – questiono com uma sobrancelha arqueada. – Acaso já é casada? Está noiva ou algo assim?Não pensei nessa opção e isso me preocupa. Será que vou ter que me livrar de algum homem inconveniente? Eu realmente não gostaria de machucar ninguém além de quem me
Volto para casa com uma névoa enorme no lugar dos pensamentos e não tenho pura certeza de como consegui chegar em casa. Minha mente está toda embaraçada e meu pensamento todo acelerado.Convenientemente, Alietta está passando quando eu chego e me saúda com o maior dos sorrisos– Ah, você já chegou? Eu acabei de chegar também, você acredita que o Sr… – pausa quando vê minha expressão. passo direto por ela até o quarto e ela me segue. — O que está errado?Alietta é sempre rápida em perceber o que está errado em mim e por isso eu a amo. São muitos anos de convivência.– Alietta, o que vou fazer? – murmuro finalmente olhando para ela. Seus olhos se arregalam e eu não fico surpresa.Pela expressão dela, eu devo estar um caco completo.– Rayna, você está me assustando! O que aconteceu? Você foi despedida? Te fizeram algum mal? Seu salário não vai cair? – Rayna me conhece tão bem que sabe o quanto eu fico abalada quando meu salário atrasa. Essa era umas das poucas coisas que conseguiam me de
Tenho tanto ódio dentro de mim enquanto faço as malas que nem mesmo me organizo como eu normalmente faria, chega um ponto que eu estou apenas jogando tudo lá dentro da mala sem cuidado algum, algo que eu nunca faria. Enquanto isso, Alietta fica olhando para mim com preocupação nítida em seu semblante.– Rayna, você não precisa fazer isso. Nós podemos pagar, posso talvez pegar um empréstimo e… – ela diz enquanto eu estou fechando a última mala, mas eu a interrompo.– Não precisa fazer isso, Alietta. Eu jamais a forçaria a me ajudar em algo assim mesmo sabendo que você faria de bom grado. É uma quantia exorbitante já que ela pegou para revender, nós duas sabemos que isso não é sua culpa, se tem alguém que deveria me ajudar é a minha mãe, mas ela só sabe me afundar. Mesmo com o meu trabalho e o seu, demoraria anos para que tudo fosse pago – digo sinceramente me virando para ela e volto ao closet, vendo o que estou esquecendo. Não pretendo levar tudo para a casa de Nikola, daria muito tr