L E I L A V A L L E N C E
Meus braços estavam carregados das recentes compras. Comprei diversas joias para Selina. Minha querida filha havia ficado tão triste com o presente que meu marido deu para Selen, precisava anima-la.
Sua festa de aniversário foi um sucesso e eu fiquei tão feliz por sua felicidade.
Deixo minhas sacolas no quarto e vou para o de Selina, as pousando na cama ao lado dela, como sempre ela estava com os fones nos ouvidos, ignorando minha presença, ainda irritada.
Me aproximo sutilmente e tiro seus fones, ignorando seus resmungos.
– Olhe o que comprei para você! – Digo animada, olhando para as sacolas, ela logo se levanta abrindo as mesmas e jogando as embalagens no chão.
– Mãe! Não acredito! Obrigada! – Apenas diz, fico feliz. Mas toda sua animação some quando ela escuta seu celular vibrar, com uma nova notificação.
Continuo o que ela estava fazendo e desembalo tudo.
– Olha só! – Ela me empurra seu celular. – Ele agora me mandou uma foto, isso não é a praia em frente ao prédio do meu pai? – Vejo nervosismo em seus olhos, assustada eu abro a imagem, era realmente a praia em frente.
– Não filha, não é – Tento acalma-lá.
– Mas se não é, por que ele me mandou essa mensagem também? – Aponta com o dedo e só então vejo.
"Estou mais perto de você, meu amor"
Mas o que que é isso?!
– Querida? – Olhamos assustadas para a porta, Thomás está apenas com o cabeça para dentro do quarto. Olho para Selina, pedindo com o olhar para que ela não conte nada a seu pai.
– Sim, meu amor? – Pergunto, entregando o celular para a nossa filha e me levantando.
– Preciso conversar com você. – Assinto com o cabeça e me viro para Selina.
– Daqui a pouco conversamos, ok? – Ela confirma com a cabeça, com os olhos arregalados.
– O que quer? – Pergunto a ele, o mesmo permanece em silêncio e segue em direção ao escritório. Contrariada, eu sigo.
Ele puxa a cadeira para mim e eu me sento.
– Recebi uma proposta de negócios – Abro o sorriso instantaneamente.
– Sim, mas por que está sério? – Confusa. Deveríamos estar comemorando.
– Tem uma condição – Suspira, passando a mão no rosto, ele faz isso quando está estressado.
– Sim, desembucha, homem! – Incentivo.
– O negociador quer nossa filha. – Sinto meu sangue congelar. O que?
– A Selina?!
– Quem mais? – Pergunta exasperado.
– Não sei o que fazer. – Continua.
– Ele tem propriedades? – Resolvo perguntar, se tivesse, eu não veria problema algum em um casamento.
– Sim, acredito que sim, se aceitarmos o casamento, ele investirá o dobro. – Fala pensativo.
– Temos que conversar com Selina, mas por mim, desde que ela tenha uma vida confortável, está tudo certo. – Resolvo dizer logo o que penso.
– Não sei, querida, ele não me pareceu muito confiável.
Após a nossa breve conversa, volto para o quarto de Selina e conversamos o resto do dia até a hora do jantar.
Thomás já estava á mesa quando desci as escadas.
Olho as horas no meu celular antes de sentar-me, em seguida a tela brilha com a chegada de uma menagem. Era Susan, a amiga mais próxima que tenho, ela não costuma mandar mensagem a essa hora.
"Você precisa ver isso!" É o que diz a mensagem, em seguida um link.
Abri o mesmo extremamente curiosa
Era uma notícia, uma nova polêmica envolvendo o nome da família, passo a mão no cabelo nervosa, novamente isso, não posso contar a Thomás.
– Minha vida é uma merda! – Selina entra no lugar chorando. – Mãe, por que eu só faço coisas ruins?! – Ela diz, olho para Thomás que rapidamente fecha o semblante, agora já era.
– O que aconteceu? – Pergunta. Em silêncio, entrego o celular para ele.
– Odeio minha vida! Gostaria de ter uma outra vida, começar do zero! – Soluça. E olha atordoada para nós.
– Eu perdi mais de 150 mil seguidores por conta dessa merda! – Diz. Olho para Thomás que está com a expressão completamente diferente. E penso no que ele pode estar pensando.
– Tenho uma ideia! – Fala sorrindo. E eu logo entendo.
S E L E N
Dou seta para parar no acostamento em frente a casa do meu melhor amigo. A última vez que nos vimos foi no meu aniversário. Por um curto tempo já que ele precisava voltar para o hospital.
Sua mãe estava com leucemia a já estava lutando a alguns anos, ela era como uma mãe pra mim assim como tinha ele como um irmão.
– Finalmente, estava vindo a 20km/h? – Zomba, reviro os olhos.
– Boa baliza – Se aproxima do carro, descendo da calçada e dando 3 passos até mim, reviro os olhos constatando que com certeza o carro está torto.
Victor abre a porta para mim e eu desço do carro pegando minha mochila.
– Vamos, fiz um bolinho de laranja – Ele pega a mochila de mim e a leva, caminhamos até o caminho curto de pedras até a casa.
Victor era meu amigo desde o ensino fundamental, ficamos inseparáveis desde então. Ele é um ano mais velho que eu, tem 20 anos. Bem desconstruído eu diria, fumava de vez em sempre seu cigarro de tabaco e me fazia refletir com curtas frases, eu o admirava por seus pensamentos evoluídos, sempre nos envolvíamos em conversas profundas quando estávamos juntos.
Mesmo não falando muito da minha vida pessoal, eu me sentia leve quando conversávamos.
– Como ela está? – Pergunto, me referindo a tia Nancy.
– Na mesma – Me responde em um tom triste na voz.
Entramos na casa e vejo ela senta no sofá.
– Minha flor – Me salda, sorrindo para mim.
– Olá, tia Nancy – Me aproximo, me inclinando e a abraçando e dando dois beijinhos no rosto.
– Como se sente hoje? – Pergunto.
Conversamos por alguns minutos até Victor me chamar para tomarmos café na varanda, já era fim do dia.
Tomamos em silêncio, discutindo sobre o início do verão.
– Você já viu na nova polêmica que sua irmã se meteu? – Reviro os olhos, não vi mesmo e nem queria.
– O que ela fez desta vez? – Pergunto forçadamente, odiava falar sobre ela.
– Foi racista com uma atendente no quiosque próximo aquela pista de skate. – Conta, pegando o isqueiro em cima da mesa e acendendo seu cigarro.
– Que droga – Apenas digo. – O que leva uma pessoa a fazer algo assim?
– Soberba, tudo o que compõe riquinhas mimadas como ela, acha que nada do que fazem tem alguma consequência e por isso nunca param.
A S L A N Me olho no espelho, apreciando o terno perfeitamente alinhado em meu corpo. Estava muito ansioso para ver Selina de perto.Thomás me ligou hoje mais cedo, confirmando um almoço. Mal me lembro do caminho que fiz até o restaurante, até vê-la jogando o cabelo para trás, enquanto conversava com o pai. Comprimento todos antes de sentar, logo Thomás fica sério, mas a sua esposa continua com um sorriso de orelha a orelha. – Olá querido, me chamo Leila – Em estica a mão, se levantando, faço o mesmo e aperto sua delicada mão, desvio o olhar para Selina que está com os olhos arregalados para mim. – Sou Aslan, e você deve ser Selina – Ela aperta minha mão.– Prazer em conhecê-lo, Senhor – Engole em seco, não tenho dúvidas de que ela se lembre de mim, a alguns meses atrás eu a presenteei com um vídeo meu em frente ao espelho, enquanto me tocava para ela. Ela olha para meu pescoço, com certeza reconhecendo as tatuagens. Falamos um pouco sobre negócios no decorrer o almoço, mas e
O caminho para casa nunca me pareceu tão longo, deixar Victor sozinho no hospital era algo que me partia o coração. Mas eu precisava ficar com a vovó.Paro o carro em frente a casa e procuro a capa dele que deixo na varanda, para evitar a chuva ácida e manchar a pintura. Minha avó sai na porta alegando que escutou o som do carro. Sorrio para ela, cobrindo o carro. – Fiz uma sopa deliciosa! – Ela toca minhas costas assim que chego na porta, Vovó mesmo com seus 68 anos, não parecia nunca ter essa idade, no máximo 50, eu diria, era magra e se importava demais com a aparência, principalmente com a moda. A casa só era simples de fora, mas por dentro se assemelhava um pouco a casa dos meus pais. Claro que ela arrumou tudo com o tempo. Não temos muito dinheiro para reformar tudo de uma vez. – Está realmente um delícia, vovó! – Elogio e ela sorrir, feliz, ela adora ser elogiada. Conversamos um pouco sobre meus pais e de como estão as coisas, sobre minha bolsa de estudos e como faremos
A vovó resmungava alto enquanto eu permanecia em silêncio. Faz dias desde meu acordo com papai e que Selina e eu tivemos que trocar os celulares. Eu tinha que ir até a casa de Victor explicar o que estava acontecendo, mas temia que a minha adorável irmã já tivesse feito antes de mim. Fui orientada a continuar postando nas redes sociais de Selina mesmo após ela ter feito um vídeo dizendo que iria se ausentar mais das redes sociais. Tiro uma foto do meu café e posto nos story dela, desejando um bom dia, enchendo a foto de efeitos que o próprio Instagram disponibiliza. Seguindo o que minha irmã fazia sempre. Exagerada. – Vovó! Está tudo bem – Digo mais uma vez. Ela não parava de reclamar. Ela para a minha frente e me olha tristemente. – Não quero isso, Selen! Me perdoa mas ela é um diabo, olha o tanto de coisas ruins que ela faz, é só procurar notícias da cidade no Google que aparece uma foto dela! – Passa a mão na cabeça. Era verdade. Torço o nariz, minha avó está certa.– Mas é
A S L A N Sempre tive a convicção de que a vida é curta demais para lamentações. Pensamentos de auto-critica e arrependimentos sem cabimentos como se no momento passado pudéssemos adivinhar o futuro. Uma grande e enorme perca de tempo. Mas agora eu estava mordendo minha própria língua, pensando no que eu poderia ter evitado para não estar nessa situação. E se eu tivesse resolvido ficar aquele dia em casa, almoçado com meus pais, invés de simplesmente arrumar minhas coisas e ir embora? Eu poderia ter ajudado meu pai a lavar o dinheiro o quanto antes, já que o plano dele antes de conhecer minha mãe, já era ir embora do país...– Não se martirize, meu filho, nada disso é culpa sua... – Minha mãe diz ao telefone. Decidi ligar para ela antes de ir para o almoço. Pretendia voltar ao Brasil novamente assim que marcar a data do casamento. O timbre da sua voz era pesado, carregado, forçado, isso me partia o coração. Eu podia ser o homem mais frio já existente, mas a família era meu ponto
S E L E N Silêncio, isso, apenas o... silêncio. Era tudo o que eu pensava e desejava estar apreciando, invés da voz estridente da minha irmã. Levanto minha cabeça que estava entre meus braços em cima da mesa, e olho incrivelmente entediada para a morena falsa que falava incansavelmente mais uma marca de seguidores no Instagram. Quantos eram mesmo? – 750 mil seguidores! – Selina exclama com um sorriso maior que a cara, ela era insuportável, jamais irei entender o porque meus pais sempre amaram mais ela que a mim. Mas algo me dizia que era porque ela era um reflexo fiel a ambição do meu pai e a maldade da minha mãe. E eu? Eu não sei nem quem eu sou. Mas eu me questionava a cada fim de semana que eu era obrigada a ficar aqui, em cada um deles minha irmã esfregava na minha cara que eu não tinha nada em comum com ela.– Ah, e você? Filha? Alguma novidade que queira nos contar? – A voz fina da minha mãe me chama a atenção, olho para ela que tem uma expressão de puro e genuíno desinter
A S L A N Embora eu procurasse uma solução incansavelmente, nenhuma ideia parecia boa o suficiente.Assim completados meus 18 anos, escolhi viver longe de toda a responsabilidade da organização e também da minha família. Saí do Brasil dedicado a continuar mantendo tudo assim: longe de mim. Mas o muro que criei ao meu redor, não me salvou da responsabilidade que eu acreditei ter conseguido escapar. Sendo filho de Benjamin Belvoir, eu já deveria saber que é impossível fugir do próprio sangue e do destino já traçado antes mesmo de dar meus primeiros passos, pronunciar a primeira sílaba ou a primeira palavra pronunciada corretamente. Agora eu estava no avião, voltando para o Brasil, ainda sem saber o que faria depois que visse os olhos angustiados da minha mãe. Ela teve que enterrar o próprio marido sozinha, sem direito a abrir o caixão ou velar o corpo. Sem nada e também sem mim. Minha mãe é italiana, meu pai a conheceu em uma das viagens a Itália. Lembro-me das várias histórias e
S E L E N Hoje é sábado, dia 25 de junho, meu aniversário assim como o de Selina. As vozes dos meus pais conversando era um som quase perturbador. Normalmente o motorista deles me deixam em casa após o café da manhã de domingo, mas espero que por ser também meu aniversário, eu poderia pedir para ir hoje mesmo, óbvio que isso faz com o que eu desça as escadas mais rápido.– Não estamos conseguindo nem manter a casa e ela quer uma nova Ferrari? – Paro, assim que escuto a voz do meu pai se dirigindo a minha mãe. – Eu entendo meu amor, tentarei conversar com ela – Minha mãe passa a mão nos ombros de papai e ele suspira pesado. Então eles estão falidos? Tapo minha boca para abafar a gargalhada. Que tristeza! Não poderão comprar a Ferrari rosa para minha querida irmã. Reviro os olhos entrando no lugar e sento-me na cadeira de sempre, ao lado da mamãe. Já que dava para a vista da enorme janela de vidro onde se podia ver o jardim. – Bom dia – Leila, minha mãe desejo, em um tom repreen
A S L A N Tento me despedir de minha mãe, sentindo meu coração apertar em meu peito. Nunca a vi chorando tanto quanto a alguns minutos atrás. Ela chamava meu pai como se ele pudesse ouvi-la, a sensação de impotência por não conseguir desta vez resolver o problema, me quebrava por dentro. – Filho, vamos para casa comigo – Pede mais uma vez. Suspiro pesado, não sabendo como dizer que não posso ficar. Pego suas mãos pálidas, vendo o anel dourado de casamento, tenho certeza que demorará muito tempo para que ela tire do dedo. Embora hoje fosse um dia quente, as suas mãos estavam frias como o gelo. Passo meu dedo por cima das suas veias e penso em uma forma de dizer que não posso ficar e que não doa tanto assim. – Você não pode ficar, não é? – Sua voz sai em tom baixo, como se não quisesse dizer em voz alta. – Não, mamãe – Respondo em um suspiro, baixando minha cabeça. Ela assente e tira suas mãos das minhas, virando as costas e indo em direção aos seguranças. Ela me olha por cim