S E L E N
Hoje é sábado, dia 25 de junho, meu aniversário assim como o de Selina.
As vozes dos meus pais conversando era um som quase perturbador. Normalmente o motorista deles me deixam em casa após o café da manhã de domingo, mas espero que por ser também meu aniversário, eu poderia pedir para ir hoje mesmo, óbvio que isso faz com o que eu desça as escadas mais rápido.
– Não estamos conseguindo nem manter a casa e ela quer uma nova Ferrari? – Paro, assim que escuto a voz do meu pai se dirigindo a minha mãe.
– Eu entendo meu amor, tentarei conversar com ela – Minha mãe passa a mão nos ombros de papai e ele suspira pesado. Então eles estão falidos? Tapo minha boca para abafar a gargalhada. Que tristeza! Não poderão comprar a Ferrari rosa para minha querida irmã.
Reviro os olhos entrando no lugar e sento-me na cadeira de sempre, ao lado da mamãe. Já que dava para a vista da enorme janela de vidro onde se podia ver o jardim.
– Bom dia – Leila, minha mãe desejo, em um tom repreendedor.
– Desculpe, Bom dia – Forço o sorriso mais falso do mundo, odiava estar aqui.
– Filha, por que você não vai chamar sua irmã para tomar café? – Eu já estava quase mordendo uma torrada.
– Sim, claro – Só queria ir logo para casa. Afasto a cadeira, me levantando.
Praticamente me arrasto escadas a cima para o quarto dela que ficava próximo ao meu.
Bato na porta mas ela parece não ouvir, então arrisco a girar a maçaneta.
– Por favor, meninas, não se atrasem! A festa começará às 10h da manhã até as 10h do dia seguinte! – Vejo-a com um fone enorme nos ouvidos. Lembro-me de já ter conversado com Victor sobre a moda desses fones caríssimos.
Seus olhos me encontram e ela tira os fones da cabeça, irritada.
– O que você quer?! – Exclama caminhando até mim, me afasto da porta, voltando para o corredor, e ela logo aparece segurando a mesma.
– Seus pais me mandaram te chamar para tomar café – Não queria, mas minha voz sai falha.
– Você queria escutar minha conversa, não é? – Debocha, me olhando de cima a baixo. Me sinto desconfortável com as roupas que estou usando.
Não respondo e ele fecha a porta na minha cara, fico um segundo olhando para a porta, até balançar a cabeça e girar os calcanhares para longe dali, mas em seguida a porta se abre e ela sai da mesma, finjo que não escutei nada e continuo andando.
– Aí! – Reclamo, quando sinto unhas afiadas no meu braço, me impedindo de andar.
– O que você ouviu? – Pergunta.
– Uma festa eu acho – Respondo sua pergunta ao mesmo tempo em que tento soltar meu braço.
– Hum... – É tudo o que diz, e em seguida me solta. Não digo nada e volto a andar em direção as escadas, que inferno.
– Você não está convidada para a minha festa de aniversário! – Só então me dou conta que a festa que ela estava falando era a de aniversário, quer dizer, nosso aniversário.
– Eu sei – Respondo sem olhar.
Sento-me na cadeira novamente e pergunto a minha mãe se era possível eu ir para casa após o café. Fiquei até que um pouco desapontada quando ela respondeu prontamente que sim.
– Feliz aniversário! Meu amor! – Meus pais desejam assim que minha irmã aparece na entrada da sala de jantar. Desvio o olhar, voltando a tomar meu café.
Olho para eles por breves segundos e eles já estão de pé, abraçando minha irmã e a enchendo de beijos. Sinto uma sensação esquisita, mas decido ignorar e focar no café da manhã.
– Aqui, filha, isso é seu – Thomás se aproxima de mim enquanto minha mãe ainda está com os braços em volta de Selina.
É uma pequena caixa.
– Feliz aniversário – Ele diz sorrindo, puxando a cadeira que minha mãe estava, e sentando ao meu lado.
– Obrigada, pai – Agradeço, completamente sem jeito, eles não costumam me presentear.
Abro a pequena caixa e arregalo os olhos. Havia uma chave com a logo da Jeep.
– Um carro?! – Exclamo com o sorriso mais largo do mundo, abraço meu pai que sorrir para mim.
– Assim você pode vir aqui quando quiser, além de ajudar sua avó, soube que o carro antigo dela, quebrou.
– Meu Deus, muito obrigada! – Agradeço, não me importando minimamente se Selina está me olhando com ódio mortal.
– Vá lá ver o carro! – Ele diz e eu me levanto afastando a cadeira.
– Thomás! O que é isso? Como você comprou sem me falar nada?! – A voz irritada da minha mãe soa, mas eu estava feliz demais para me importar. Meu pai ignora ela e me acompanha até a saída da casa, em seguida até a garagem.
O Jeep vermelho para mim, se destacava entre todos os carros que estavam ali, eu era apaixonada no modelo, é um Jeep Wrangler.
– É câmbio manual, espero que goste – Meu pai sorrir. Abraço ele rapidamente e me afasto, destrancando o carro e entrando. O interior era ainda mais linda. Sinto vontade de chorar.
Precisava muito de um carro para cuidar melhor da minha avó, e como seguimos uma pequena estrada de terra até chegar em casa, um Jeep era realmente muito útil.
Após admirar o carro, eu volto para dentro de casa, mas me dou de cara com uma discussão, eles estavam discutindo por causa do carro que papai me deu de presente, Selina estava vermelha de raiva.
Em silêncio, eu decido ir logo embora e subo as escadas para buscar minha mochila em que trouxe algumas roupas.
Desço as escadas e eles ainda estão discutindo.
– Você tem mais de 3 carros, Selina! – Thomás exclama, ainda em tom baixo.
– Não interessa, essa idiota não merece nada! – Selina reclama.
– E como você fez uma coisa dessas sem me consultar?! – Agora era minha mãe.
– Obrigada pelo carro, papai! – Exclamo, chamando a atenção de todos, balanço a chave no meu dedo e sorrio antes de caminhar em direção a porta, escutando os saltos de Selina ecoarem atrás de mim.
Já fazia algum tempo que eu havia tirado minha habilitação, mas me lembrava do que precisava fazer para chegar em casa.
Sinto minhas mãos suarem de nervosismo, assim que giro a chave na ignição e ponho na marcha ré.
– Para onde você pensa que vai?! – A voz de Selina, olho pelo retrovisor ela atrás do carro.
Não acredito.
– Se meus pais te deram esse carro, ele também é meu! E você não vai sair daqui com ele! – Rio, desligo o carro e desço dele, indo até ela.
– Então significa que esses carros aqui – Aponto para os outros 6. – São meus também?! – Indago vendo ela ficar sem expressão.
– Então acho que é justo eu pegar essa Porsche aqui – Toco no capô da Porsche negra que eu sabia que era dela. – Não acha? – Sorrio.
– Ah! – Grita de raiva. – Morre! – Após isso, ela se afasta. Dou de ombros e entro de novo no Jeep. Essa garota é uma piada.
A S L A N Tento me despedir de minha mãe, sentindo meu coração apertar em meu peito. Nunca a vi chorando tanto quanto a alguns minutos atrás. Ela chamava meu pai como se ele pudesse ouvi-la, a sensação de impotência por não conseguir desta vez resolver o problema, me quebrava por dentro. – Filho, vamos para casa comigo – Pede mais uma vez. Suspiro pesado, não sabendo como dizer que não posso ficar. Pego suas mãos pálidas, vendo o anel dourado de casamento, tenho certeza que demorará muito tempo para que ela tire do dedo. Embora hoje fosse um dia quente, as suas mãos estavam frias como o gelo. Passo meu dedo por cima das suas veias e penso em uma forma de dizer que não posso ficar e que não doa tanto assim. – Você não pode ficar, não é? – Sua voz sai em tom baixo, como se não quisesse dizer em voz alta. – Não, mamãe – Respondo em um suspiro, baixando minha cabeça. Ela assente e tira suas mãos das minhas, virando as costas e indo em direção aos seguranças. Ela me olha por cim
L E I L A V A L L E N C E Meus braços estavam carregados das recentes compras. Comprei diversas joias para Selina. Minha querida filha havia ficado tão triste com o presente que meu marido deu para Selen, precisava anima-la.Sua festa de aniversário foi um sucesso e eu fiquei tão feliz por sua felicidade.Deixo minhas sacolas no quarto e vou para o de Selina, as pousando na cama ao lado dela, como sempre ela estava com os fones nos ouvidos, ignorando minha presença, ainda irritada. Me aproximo sutilmente e tiro seus fones, ignorando seus resmungos.– Olhe o que comprei para você! – Digo animada, olhando para as sacolas, ela logo se levanta abrindo as mesmas e jogando as embalagens no chão.– Mãe! Não acredito! Obrigada! – Apenas diz, fico feliz. Mas toda sua animação some quando ela escuta seu celular vibrar, com uma nova notificação. Continuo o que ela estava fazendo e desembalo tudo. – Olha só! – Ela me empurra seu celular. – Ele agora me mandou uma foto, isso não é a praia
S E L E N Silêncio, isso, apenas o... silêncio. Era tudo o que eu pensava e desejava estar apreciando, invés da voz estridente da minha irmã. Levanto minha cabeça que estava entre meus braços em cima da mesa, e olho incrivelmente entediada para a morena falsa que falava incansavelmente mais uma marca de seguidores no Instagram. Quantos eram mesmo? – 750 mil seguidores! – Selina exclama com um sorriso maior que a cara, ela era insuportável, jamais irei entender o porque meus pais sempre amaram mais ela que a mim. Mas algo me dizia que era porque ela era um reflexo fiel a ambição do meu pai e a maldade da minha mãe. E eu? Eu não sei nem quem eu sou. Mas eu me questionava a cada fim de semana que eu era obrigada a ficar aqui, em cada um deles minha irmã esfregava na minha cara que eu não tinha nada em comum com ela.– Ah, e você? Filha? Alguma novidade que queira nos contar? – A voz fina da minha mãe me chama a atenção, olho para ela que tem uma expressão de puro e genuíno desinter
A S L A N Embora eu procurasse uma solução incansavelmente, nenhuma ideia parecia boa o suficiente.Assim completados meus 18 anos, escolhi viver longe de toda a responsabilidade da organização e também da minha família. Saí do Brasil dedicado a continuar mantendo tudo assim: longe de mim. Mas o muro que criei ao meu redor, não me salvou da responsabilidade que eu acreditei ter conseguido escapar. Sendo filho de Benjamin Belvoir, eu já deveria saber que é impossível fugir do próprio sangue e do destino já traçado antes mesmo de dar meus primeiros passos, pronunciar a primeira sílaba ou a primeira palavra pronunciada corretamente. Agora eu estava no avião, voltando para o Brasil, ainda sem saber o que faria depois que visse os olhos angustiados da minha mãe. Ela teve que enterrar o próprio marido sozinha, sem direito a abrir o caixão ou velar o corpo. Sem nada e também sem mim. Minha mãe é italiana, meu pai a conheceu em uma das viagens a Itália. Lembro-me das várias histórias e