A S L A N
Tento me despedir de minha mãe, sentindo meu coração apertar em meu peito. Nunca a vi chorando tanto quanto a alguns minutos atrás.
Ela chamava meu pai como se ele pudesse ouvi-la, a sensação de impotência por não conseguir desta vez resolver o problema, me quebrava por dentro.
– Filho, vamos para casa comigo – Pede mais uma vez. Suspiro pesado, não sabendo como dizer que não posso ficar. Pego suas mãos pálidas, vendo o anel dourado de casamento, tenho certeza que demorará muito tempo para que ela tire do dedo.
Embora hoje fosse um dia quente, as suas mãos estavam frias como o gelo.
Passo meu dedo por cima das suas veias e penso em uma forma de dizer que não posso ficar e que não doa tanto assim.
– Você não pode ficar, não é? – Sua voz sai em tom baixo, como se não quisesse dizer em voz alta.
– Não, mamãe – Respondo em um suspiro, baixando minha cabeça. Ela assente e tira suas mãos das minhas, virando as costas e indo em direção aos seguranças.
Ela me olha por cima dos ombros.
– Está tudo bem, filho. – Se vira novamente, caminhando para a saída do cemitério. Onde o carro preto já a esperava.
Sinto uma mão nas minhas costas e reprimo a vontade de ir até minha mãe e levava-la logo comigo, mas era muito arriscado.
– Vamos – Jonas diz, assinto, caminhando com ele para irmos embora, vejo o carro da minha mãe passar.
Preciso manter foco e fazer o que é preciso.
– Está bem? – Jonas pergunta, já estávamos a caminho do aeroporto.
Assinto com a cabeça.
– Tem mais algumas informações relevantes sobre os Vallence – Me entrega o tablet.
– Continue.
– É uma família que liga somente para status, como são de uma cidade relativamente pequena, são bastante conhecidos por lá, tem bastante influência. – Assinto a cabeça com a informação.
– Isso quer dizer que com toda certeza não irão recusar minha oferta – Sorrio. Geralmente homens como esse Thomás apenas querem manter seu império, não importando o que faça para conseguir isso. Exatamente o tipo de homem ganancioso, isso também que o fez chegar onde está, falido.
Conduzido pelo desejo de cobiça.
– Será mais fácil do que eu pensei. – Afirmo. – Marque uma reunião com esse homem o quanto antes.
...
Assim como pedi, alguns dias depois, desembarquei na cidade vizinha, a única por ter que tem um aeroporto, a viagem de carro foi tranquila e rápida.
Meus seguranças abrem as portas do grande prédio para mim, e eu rumo em direção recepção, me identificando.
– Aslan Belvoir, tenho uma reunião marcada com Thomás Vallence. – A mulher fica desconcertada com a minha voz, amava o efeito que tinha nessas putinhas.
– Sim senhor. – Após isso, ela me acompanha até o escritório dele, abrindo a porta para mim. Agradeço com um balançar de cabeça e atravesso a porta.
Os olhos azuis do homem me avaliam atentamente e me pede para sentar á sua frente. Me acomodo na cadeira confortável e sorrio falsamente para ele.
Minha proposta consistia em dar uma entrada generosa em dinheiro para pagar os funcionários que estavam com os salários atrasados e movimentar a capital de giro da empresa, contando com as filiais, além de virar sócio majoritário, já a proposta para ter sua cruel filha, daria no final, e aumentaria o valor do meu investimento inicial, assim que ele não irá resistir.
– Minha filha?! – O homem se levanta, exasperado. Franzo o cenho, confuso, mas ele não estava precisando de dinheiro?
– Sim, sua doce e cruel, filhinha – Arrumo meu terno, também me levantando. Isso o preocuparia o suficiente para que ele não lesse o contrato quando fosse assinar, ele jamais saberá que o usarei para lavar dinheiro e não poderá fazer nada a respeito quando descobrir, se não, perde todo o seu negócio.
– Eu... eu preciso pensar – Suspira, sentando-se novamente, ele baixa a cabeça pensativo.
– Aqui está meu cartão. – Tiro um do bolso e coloco em cima da mesa, empurrando com os dedos até ele. Ele observa meu movimento em choque com a minha proposta.
– Podemos marcar um almoço antes de tudo, entrarei em contato com o senhor – Diz, levanto as sobrancelhas, que rápido. – E levarei minha filha para que possa conhecê-la, talvez na sexta. – Murmura a última informação.
– Claro. – Confirmo, ansioso, hoje ainda é terça-feira. – Se aceitar minha condição, dobrarei o valor investido. – Com isso, deixo ele mudo.
Saio da empresa disposto a comemorar.
Ligo para Jonas, chamando-o para a o primeiro bar 5 estrelas que achei na avaliação do G****e. Ele prontamente confirmou e marcamos de nos encontrar lá.
Antes de entrar no carro, tiro foto da praia que ficava em frente, onde agora posso ter certeza que vi Selina nessas praias em diversos Storys seus.
Abri o chat da "nossa" conversa e envio a foto.
"Estou mais perto de você, meu amor" é o que escrevo antes de enviar.
Selina nunca respondeu minhas investidas mas quase sempre visualizava minhas mensagens, consigo imaginar seu interesse em lê-las e exibir para as amigas.
Alguns minutos depois eu já estou sentado no bar, estava pouco movimentado. Ótimo.
Vejo Jonas sentar ao meu lado e pedir uma bebida ao barman.
– Como foi? – Olho para ele, que está mais bronzeado que o normal, com certeza já estava farreando por aqui.
– Marcou um almoço para sexta-feira – Informo, tomando um gole do whisky.
– Sucesso! – Ele rir, virando o seu copo de uma vez.
– Logo logo estarei fodendo aquela linda mulher – Afirmo, passando a língua nos lábios e meu amigo rir.
– Que gosto péssimo para mulheres você tem, ela é toda problemática – Ele se sacode como se tivesse sentindo nojo. Fecho a cara para o seu pensamento, proferido de forma verbal.
– Não interessa o que você pensa. – Afirmo, decidindo ignorar ele.
– Fala sério! Caralho, a última polêmica dela foi sendo racista com uma empregada em um quiosque desses – Ele diz ao mesmo tempo que levanta a mão para o barman encher novamente seu copo. – Eu pareço branco para você? – Questiona apontando para seu antebraço.
– Não – Digo, não querendo me aprofundar onde ele quer chegar.
– Não sabia que ela também tinha esse defeito, a polêmica saiu a alguns minutos nos sites daqui, se fosse a algum tempo atrás, eu jamais teria dado a ideia do pai dela ser o laranja. – Afirma, ele já está começando a ficar alterado pela bebida.
– Quer mesmo se casar com alguém assim? Ela com toda certeza no primeiro surto de drama e eu estiver por perto, me insultará. – Nesse ponto ele está certo, mas eu não sabia se conseguiria resistir a essa diaba.
Ignoro ele e voltamos a beber em silêncio.
Curioso, pego meu celular procurando saber desse último feito dela.
Parece que no mesmo dia em que eu estava indo para o Brasil e vi seus story onde ela estava tomando drink com uma amiga, ela também insultou a garçonete que lhe atendeu. A mesma a acusou de injúria racial. E o processo só veio a público hoje pela manhã.
Com certeza isso fará com que seu pai aceite minha proposta o quanto antes, já que irá precisar de um bom advogado para salvar a pele da sua filhinha, uma delícia inconsequente.
L E I L A V A L L E N C E Meus braços estavam carregados das recentes compras. Comprei diversas joias para Selina. Minha querida filha havia ficado tão triste com o presente que meu marido deu para Selen, precisava anima-la.Sua festa de aniversário foi um sucesso e eu fiquei tão feliz por sua felicidade.Deixo minhas sacolas no quarto e vou para o de Selina, as pousando na cama ao lado dela, como sempre ela estava com os fones nos ouvidos, ignorando minha presença, ainda irritada. Me aproximo sutilmente e tiro seus fones, ignorando seus resmungos.– Olhe o que comprei para você! – Digo animada, olhando para as sacolas, ela logo se levanta abrindo as mesmas e jogando as embalagens no chão.– Mãe! Não acredito! Obrigada! – Apenas diz, fico feliz. Mas toda sua animação some quando ela escuta seu celular vibrar, com uma nova notificação. Continuo o que ela estava fazendo e desembalo tudo. – Olha só! – Ela me empurra seu celular. – Ele agora me mandou uma foto, isso não é a praia
A S L A N Me olho no espelho, apreciando o terno perfeitamente alinhado em meu corpo. Estava muito ansioso para ver Selina de perto.Thomás me ligou hoje mais cedo, confirmando um almoço. Mal me lembro do caminho que fiz até o restaurante, até vê-la jogando o cabelo para trás, enquanto conversava com o pai. Comprimento todos antes de sentar, logo Thomás fica sério, mas a sua esposa continua com um sorriso de orelha a orelha. – Olá querido, me chamo Leila – Em estica a mão, se levantando, faço o mesmo e aperto sua delicada mão, desvio o olhar para Selina que está com os olhos arregalados para mim. – Sou Aslan, e você deve ser Selina – Ela aperta minha mão.– Prazer em conhecê-lo, Senhor – Engole em seco, não tenho dúvidas de que ela se lembre de mim, a alguns meses atrás eu a presenteei com um vídeo meu em frente ao espelho, enquanto me tocava para ela. Ela olha para meu pescoço, com certeza reconhecendo as tatuagens. Falamos um pouco sobre negócios no decorrer o almoço, mas e
O caminho para casa nunca me pareceu tão longo, deixar Victor sozinho no hospital era algo que me partia o coração. Mas eu precisava ficar com a vovó.Paro o carro em frente a casa e procuro a capa dele que deixo na varanda, para evitar a chuva ácida e manchar a pintura. Minha avó sai na porta alegando que escutou o som do carro. Sorrio para ela, cobrindo o carro. – Fiz uma sopa deliciosa! – Ela toca minhas costas assim que chego na porta, Vovó mesmo com seus 68 anos, não parecia nunca ter essa idade, no máximo 50, eu diria, era magra e se importava demais com a aparência, principalmente com a moda. A casa só era simples de fora, mas por dentro se assemelhava um pouco a casa dos meus pais. Claro que ela arrumou tudo com o tempo. Não temos muito dinheiro para reformar tudo de uma vez. – Está realmente um delícia, vovó! – Elogio e ela sorrir, feliz, ela adora ser elogiada. Conversamos um pouco sobre meus pais e de como estão as coisas, sobre minha bolsa de estudos e como faremos
A vovó resmungava alto enquanto eu permanecia em silêncio. Faz dias desde meu acordo com papai e que Selina e eu tivemos que trocar os celulares. Eu tinha que ir até a casa de Victor explicar o que estava acontecendo, mas temia que a minha adorável irmã já tivesse feito antes de mim. Fui orientada a continuar postando nas redes sociais de Selina mesmo após ela ter feito um vídeo dizendo que iria se ausentar mais das redes sociais. Tiro uma foto do meu café e posto nos story dela, desejando um bom dia, enchendo a foto de efeitos que o próprio Instagram disponibiliza. Seguindo o que minha irmã fazia sempre. Exagerada. – Vovó! Está tudo bem – Digo mais uma vez. Ela não parava de reclamar. Ela para a minha frente e me olha tristemente. – Não quero isso, Selen! Me perdoa mas ela é um diabo, olha o tanto de coisas ruins que ela faz, é só procurar notícias da cidade no Google que aparece uma foto dela! – Passa a mão na cabeça. Era verdade. Torço o nariz, minha avó está certa.– Mas é
A S L A N Sempre tive a convicção de que a vida é curta demais para lamentações. Pensamentos de auto-critica e arrependimentos sem cabimentos como se no momento passado pudéssemos adivinhar o futuro. Uma grande e enorme perca de tempo. Mas agora eu estava mordendo minha própria língua, pensando no que eu poderia ter evitado para não estar nessa situação. E se eu tivesse resolvido ficar aquele dia em casa, almoçado com meus pais, invés de simplesmente arrumar minhas coisas e ir embora? Eu poderia ter ajudado meu pai a lavar o dinheiro o quanto antes, já que o plano dele antes de conhecer minha mãe, já era ir embora do país...– Não se martirize, meu filho, nada disso é culpa sua... – Minha mãe diz ao telefone. Decidi ligar para ela antes de ir para o almoço. Pretendia voltar ao Brasil novamente assim que marcar a data do casamento. O timbre da sua voz era pesado, carregado, forçado, isso me partia o coração. Eu podia ser o homem mais frio já existente, mas a família era meu ponto
S E L E N Silêncio, isso, apenas o... silêncio. Era tudo o que eu pensava e desejava estar apreciando, invés da voz estridente da minha irmã. Levanto minha cabeça que estava entre meus braços em cima da mesa, e olho incrivelmente entediada para a morena falsa que falava incansavelmente mais uma marca de seguidores no Instagram. Quantos eram mesmo? – 750 mil seguidores! – Selina exclama com um sorriso maior que a cara, ela era insuportável, jamais irei entender o porque meus pais sempre amaram mais ela que a mim. Mas algo me dizia que era porque ela era um reflexo fiel a ambição do meu pai e a maldade da minha mãe. E eu? Eu não sei nem quem eu sou. Mas eu me questionava a cada fim de semana que eu era obrigada a ficar aqui, em cada um deles minha irmã esfregava na minha cara que eu não tinha nada em comum com ela.– Ah, e você? Filha? Alguma novidade que queira nos contar? – A voz fina da minha mãe me chama a atenção, olho para ela que tem uma expressão de puro e genuíno desinter
A S L A N Embora eu procurasse uma solução incansavelmente, nenhuma ideia parecia boa o suficiente.Assim completados meus 18 anos, escolhi viver longe de toda a responsabilidade da organização e também da minha família. Saí do Brasil dedicado a continuar mantendo tudo assim: longe de mim. Mas o muro que criei ao meu redor, não me salvou da responsabilidade que eu acreditei ter conseguido escapar. Sendo filho de Benjamin Belvoir, eu já deveria saber que é impossível fugir do próprio sangue e do destino já traçado antes mesmo de dar meus primeiros passos, pronunciar a primeira sílaba ou a primeira palavra pronunciada corretamente. Agora eu estava no avião, voltando para o Brasil, ainda sem saber o que faria depois que visse os olhos angustiados da minha mãe. Ela teve que enterrar o próprio marido sozinha, sem direito a abrir o caixão ou velar o corpo. Sem nada e também sem mim. Minha mãe é italiana, meu pai a conheceu em uma das viagens a Itália. Lembro-me das várias histórias e
S E L E N Hoje é sábado, dia 25 de junho, meu aniversário assim como o de Selina. As vozes dos meus pais conversando era um som quase perturbador. Normalmente o motorista deles me deixam em casa após o café da manhã de domingo, mas espero que por ser também meu aniversário, eu poderia pedir para ir hoje mesmo, óbvio que isso faz com o que eu desça as escadas mais rápido.– Não estamos conseguindo nem manter a casa e ela quer uma nova Ferrari? – Paro, assim que escuto a voz do meu pai se dirigindo a minha mãe. – Eu entendo meu amor, tentarei conversar com ela – Minha mãe passa a mão nos ombros de papai e ele suspira pesado. Então eles estão falidos? Tapo minha boca para abafar a gargalhada. Que tristeza! Não poderão comprar a Ferrari rosa para minha querida irmã. Reviro os olhos entrando no lugar e sento-me na cadeira de sempre, ao lado da mamãe. Já que dava para a vista da enorme janela de vidro onde se podia ver o jardim. – Bom dia – Leila, minha mãe desejo, em um tom repreen