AONI ESTAVA EM UMA FLORESTA densa, parecia que olhos o espreitavam o tempo todo e de tempos em tempos surgiam trovões no céu, mesmo não chovendo, ele sabia que algo ruim estava para acontecer quando um grande veado, com olhos flamejantes surgiu à sua frente, sorriu e disse:
— Foi bom te encontrar novamente, grande guerreiro.
E um relâmpago explodiu ao seu redor, fazendo com que o monstro a sua frente desaparecesse e apenas uma leve voz disse indo embora:
Jurupari...
RAONI ACORDOU ASSUSTADO com a tempestade que caia e a saraivada de trovões que sucediam, quando a campainha de sua casa soou.
Quem será no meio da noite? – pensou o garoto que naquele dia estava completando dezesseis anos de idade.
Raoni viu sua mãe passar correndo.
— Quem é mãe?
— Continua deitado, querido – disse ela amavelmente – sua avó acabou de chegar.
Sua mãe, Tainá, era filha de uma indígena, chamada Sumé, ela causava arrepios em Raoni, sempre falava coisas estranhas das quais ele nunca entendia absolutamente nada, coincidentemente, sua avó aparecia sempre em noites um tanto quanto estranhas, e aquela noite em especial não foi diferente.
— Onde está Raoni, Tainá? – Disse a avó preocupada.
— Está no quarto, ay (mãe).
A velha assentiu e foi até o quarto do garoto.
— Diga–me o que viu, taria (filho), não me esconda absolutamente nada.
O garoto ficou assustado com a entrada repentina da velha senhora.
— Diga–me, taria, sei que viu algo.
Raoni, sentou–se na cama, fechou os olhos e viu a figura assustadora do animal que o fulminava com seus olhos flamejantes.
— Não vi nada, araya (avó).
— Você está mentindo, taria.
A velha senhora deu-lhe um tapa no rosto que o acordou de vez.
— Não vê que isso é importante? O futuro da tribo depende de você, você é o escolhido.
Tainá entrou no quarto, mas sua mãe a repreendeu.
— Se afaste, Tainá, Raoni viu, eu sei que viu.
Raoni se levantou e se afastou de sua avó, mas sua mãe o segurou pelos braços e disse amavelmente:
— Filho, você viu algo?
Ele abaixou a cabeça e assentiu:
— O que viu, taria?
— Um grande veado com olhos de fogo, me disse algo, só não me lembro o que.
— Suaçu-anhangá – disse a velha sussurrando completamente assustada – isso é mau... muito mau...
— O quê? – Perguntou o garoto completamente acordado dessa vez.
— O grande espírito do mal, Anhangá em sua forma de veado, isso é um mau agouro, precisamos agir imediatamente, se esforce, taria, o que mais ele disse? Todos nós dependemos disso.
— Me chamou de grande guerreiro e depois... Juru...pari, e... – Disse ele confuso – me disse que era bom me reencontrar, acho que foi isso.
— Eu sabia, Tainá, Raoni é o escolhido.
— Ay, está tarde, vamos todos dormir, pela manhã decidiremos o que fazer, tudo bem?
— Você não está entendendo, taria, pode não existir um amanhã se não agirmos imediatamente.
A velha tirou de seu bolso um talismã e jogou para seu neto, do qual habilmente o segurou sem deixar cair.
— Quando estiver em perigo, aperte que uma arma que precisa aparecerá, você é o grande guerreiro que veio nos salvar, e essa tempestade é a maior prova disso... precisamos ir imediatamente para a Grande Floresta.
Tainá disse ríspida:
— Nunca mais volto para lá, Ay, me expulsaram.
— Todo motivo fútil, acaba sendo honrado em uma vida futura, Tupã sabe disso, por isso escolheu seu filho para a grande missão.
Tainá deu de ombros.
A velha senhora colocou duas passagens em cima da mesa e disse:
— São para agora de manhã, se apresse, o ritual de iniciação é amanhã, seu tuba (pai) o espera.
Tainá fez sinal para que Raoni se aprontasse.
ELES EMBARCARAM NO AVIÃO e se assentaram.— Mãe, sei que não gosta de falar nisso.— Não me pergunte sobre seu pai. — Não entendo porque. — Não precisa entender tudo, Raoni, apenas siga o seu caminho, simples assim, você não precisa de alguém que nunca se importou com você... ele nunca se importa com ninguém. Raoni adormeceu após o avião decolar e teve um sonho.RAONI ESTAVA NA FLORESTA com seu corpo pintado para a guerra, ele não estava sozinho, tinha alguém com ele. — Siga-me, filho
A VIAGEM TRANSCORRIA sem maiores problemas, a não ser por uma visão um tanto quanto diferente. Raoni estava olhando a água, debruçado no parapeito deslumbrado com a inusitada viagem, quando viu uma sereia, e ouviu uma voz doce penetrar–lhe a cabeça: Venha grande guerreiro, seu lugar é ao meu lado... Era simplesmente a mulher mais bela que ele já tinha visto, cabelos ruivos brilhantes, seios enormes à mostra, olhos verdes e uma voz que encantaria o mais tolo dos homens, quiçá um garoto de quinze anos. Por um instante ele percebeu que iria cair, quando um homem o segurou e disse sorridente: &mdash
OS TRÊS CHEGARAM NA TRIBO e imediatamente o xamã os recebeu e foram para a sua tenda. O xamã o olhou atento. — Então sua avó estava certa, você é o grande guerreiro. Raoni bufou e tentou desvencilhar-se de seus olhares, mas o velho segurou seu queixo e o puxou de volta, dessa vez olhou profundamente em seus olhos. — Sabe que terá que cumprir uma grande missão, filho, a mais difícil de todas, recuperar a flauta de Jurupari, para que seu som traga a harmonia de volta para nosso lar, ela foi roubada por amazonas por muitos e muitos anos atrás, e só o grande guerreiro pode trazê-la de volta. 
RAONI CORREU POR TRÊS HORAS mata adentro, só então percebeu que tinha esquecido de comer algo. Droga... se não comer algo, não dá para continuar... Ele segurou seu talismã e disse: — Arco e flecha. Magicamente o talismã se transformou em um enorme arco, ele segurou na corda e automaticamente apareceu uma flecha. — Cara, isso aqui parece o arco do Erick da Caverna do Dragão, irado demais, cara. — Caverna do que? Raoni se virou e sem querer disparou a fl
- DROGA! ELE NOS ENGANOU DIREITINHO. — Não adianta ficarmos pensando nisso agora – disse Raoni – pelo menos estamos alimentados e cumprimos uma parte da profecia. — Que profecia? Ele se lembrou da parte em que tinha que desposar uma garota virgem e mudou rapidamente seus pensamentos. — Esquece isso, de qualquer forma temos que caçar um peixe e uma ave, o que vier primeiro será de bom tamanho. Eles andaram por mais de seis horas no meio da mata de noite ouviram os mais diversos sons de animais, apesar de assustador, Raoni estava adorando aquela aventura.&nb
O DIA ESTAVA AMANHECENDO, quando chegaram do outro lado do rio, tinha uma pequena fogueira com alguns peixes assando. — Louvado seja Guaraci, nos recompensou pela vitória. Eles comeram, descansaram um pouco e olharam para o rio e viram Iara se recompondo e indo embora. — Ela é ainda mais linda do que falavam as histórias. Pequena Princesa percebeu que Raoni estava olhando hipnotizado para Iara e lhe deu mais um tapa. — Cara, você não cansa de me bater não? Não percebeu que eu estava hipnotizado. — Só existe um jeito
ELES SE LEVANTARAM após descansar por meia-hora e continuaram.— Só temos mais dois dias para encontrarmos o fruto – disse Raoni triste.— Bem... já cumprimos boa parte da profecia. Ele olhou estranhamente para ela. — Mas você sabe qual a profecia? — Todos na tribo sabem que o grande herói tem que cumprir cinco etapas, é por isso que estou aqui. Raoni encostou a cabeça no tronco da árvore e bateu diversas vezes com a cabeça nela. — O que você está fazendo? — &
RAONI ESTAVA ABRAÇADO com Pequena Princesa, ainda estava muito escuro, porém, acordou sonolento com pelo menos doze lanças apontadas para ele.— Pequena Princesa – sussurrou ele. Ela se ajeitou em seu peito. — Acorde, por favor. Ela acordou lentamente e viu diversas mulheres ao redor deles. — Quem são vocês – disse a mais bonita entre elas. — Me chamo Pequena Princesa, e esse é Raoni. A mulher chegou perto dele, o segurou pelo queixo e disse: &m