CAPÍTULO 4

A VIAGEM TRANSCORRIA sem maiores problemas, a não ser por uma visão um tanto quanto diferente.

          Raoni estava olhando a água, debruçado no parapeito deslumbrado com a inusitada viagem, quando viu uma sereia, e ouviu uma voz doce penetrar–lhe a cabeça:

          Venha grande guerreiro, seu lugar é ao meu lado...

          Era simplesmente a mulher mais bela que ele já tinha visto, cabelos ruivos brilhantes, seios enormes à mostra, olhos verdes e uma voz que encantaria o mais tolo dos homens, quiçá um garoto de quinze anos.

          Por um instante ele percebeu que iria cair, quando um homem o segurou e disse sorridente:

          —  Cuidado, filho, nem sempre estarei aqui para e segurar.

          Raoni ficou atônito, de repente voltou à realidade, ele sentia que já o tinha visto em algum lugar, e sua voz era inconfundível, mas antes de pensar sobre o assunto, sua mãe chegou correndo e o abraçou.

          —  Filho, o que deu na sua cabeça?

          —  Eu...

          —  Nunca mais faça isso, está entendendo?

          Raoni tentou olhar para agradecer ao homem que o salvou, mas ele tinha desaparecido.

          —  Cadê ele?

          —  Ele quem?

          —  O homem que me salvou, ele me puxou para não cair.

          —  Não tinha ninguém aqui, Raoni, o vi se desequilibrando, mas conseguiu voltar para o barco sozinho, foi tudo o que aconteceu.

          Mas ele sabia que não tinha sido isso o que tinha acontecido...

          Ele olhou novamente para o rio, mas já não tinha mais ninguém ali, mas alguma coisa dizia em seu coração que aquela não seria a última vez que veria aquela mulher.

—  Mãe... tudo bem não falar sobre o meu pai, mas... porque então você foi expulsa da aldeia?

          Tainá pensou por alguns instantes.

          —  Porque acharam que eu tinha engravidado do Boto.

          Raoni fez cara de quem não tinha entendido absolutamente nada.

          —  Existe uma lenda que o boto sai durante as noites e engravida as mulheres, como eu era uma mulher solteira e fiquei grávida, disseram que eu caí nos encantos do boto, trazendo desonra para a nossa família.

          —  E eu não sou filho do Boto, certo?

          —  Claro que não, seu bobinho... Você teria que ter um nariz enorme se fosse filho dele.

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