AZRAEL ..Os dias seguintes depois que fomos à delegacia, se arrastaram como uma maldição.Acordar. Merendar. Trabalhar na banca de lanches.E tentar, sem sucesso, encontrá-la nos sonhos.Ayla.Eu fechava os olhos todas as noites esperando que ela estivesse lá. Mas não havia nada. Nenhuma imagem, nenhum som, nenhum resquício de sonho. Era como se, ao dormir, eu entrasse em um estado de hibernação forçada, um vazio absoluto, e eu não conseguia encontrar explicações pra ela simplesmente ter deixado de aparecer.Eu tentei de tudo, eu não sabia que espécie de jogo o destino havia me colocado, mas eu estava odiando.Ethan, com suas ideias excêntricas, continuou apostando as suas fichas em projeção astral novamente, mas nem isso foi capaz de me levar novamente até ela.Tentamos por várias noites. Ele falava sobre relaxamento, controle da respiração, desprendimento da mente.Nada.Era como se algo estivesse me prendendo.A frustração crescia dentro de mim, se misturando à raiva, à ansieda
AYLA..O silêncio veio de repente, como se o mundo tivesse prendido a respiração. O som do mar se calou, os estalos da madeira do barco desapareceram, e até mesmo o vento, que minutos antes assobiava entre as frestas da cabine, sumiu sem aviso.Caio se afastou, com os olhos arregalados presos à cama que, até instantes atrás, havia se movido sozinha. Eu me sentei devagar, puxando o vestido de volta para o lugar, o coração martelando tão forte que me senti tonta.— O que foi isso? A voz dele quebrou o silêncio como um trovão, carregada de confusão e um toque de medo.Não consegui encará-lo. Meus olhos estavam presos às tábuas do chão, onde as sombras dançavam sob a luz fraca da lamparina. Uma lágrima escorreu solitária pelo meu rosto, quente e pesada, e eu a enxuguei com a ponta dos dedos antes que ele percebesse.Mas Caio percebeu.— Ayla... Ele murmurou, dando um passo à frente. — O que aconteceu aqui?Engoli em seco. Eu sabia exatamente o que havia acontecido. Sentia o peso inv
AZRAEL..Acordei com o corpo trêmulo. O ódio ainda pulsava dentro de mim como brasas vivas espalhadas pelo peito. Minha respiração estava entrecortada, e meu coração batia tão forte que eu podia ouvi-lo ecoar no quarto silencioso.Levei alguns segundos para entender onde estava. O quarto. O colchão revirado. As paredes fechando-se ao meu redor.A imagem ainda queimava em minha mente.Ayla.Aquele homem.Tocando-a.Possuindo-a.O asco e a revolta me tomaram por completo, e antes que eu pudesse raciocinar, minhas pernas me levaram até a parede. Meu punho se ergueu sozinho.O impacto foi imediato.A dor explodiu pelos meus dedos, subindo pelo braço, mas eu não parei.Eu precisava expulsar aquilo de dentro de mim.Mais um golpe.Outro.Mais forte.Meu sangue sujou a parede branca. O som seco dos meus ossos contra o concreto se misturou ao barulho da minha respiração ofegante.A porta se escancarou de repente.— Azrael!Ethan atravessou o cômodo como um raio, agarrando meu braço no insta
AYLA..A sensação da hipocrisia estava me consumindo, afinal, na primeira oportunidade eu abri as minhas pernas pra um homem que eu conheci a pouco tempo, se eu fosse Azrael, também teria agido da mesma forma, porém a dúvida de não ser ele estava gritando dentro de mim, enquanto o silêncio externo continuava, denso como a névoa. A única coisa que eu conseguia ouvir era o som do meu próprio coração, martelando dentro do peito como um tambor em meio ao caos. Minha mente se recusava a se acalmar, rodopiando entre os acontecimentos das últimas horas e as palavras que Azrael havia dito antes de desaparecer naquele dia que deveria ser o melhor dia da minha vida, no entanto foi marcado pela dor de perdê-lo.Ele disse que deixaria de ser um anjo obsessor. Ele disse que estaria em algum lugar do mundo, sem memória.O tempo todo eu estava agindo como se fosse possível Azrael continuar sendo um anjo.Se o que ele disse naquele dia era verdade, então quem, ou o quê estava aqui comigo?O barco
AZRAEL ..O vento frio da manhã cortava minha pele enquanto eu caminhava sem rumo, até avistar uma trilha.A minha curiosidade não permitiu eu ignorá-la, na verdade aquilo chamou bastante a minha atenção, e eu entrei nela.Eu não sabia exatamente o que estava fazendo ali, mas algo dentro de mim me impulsionava para frente. Talvez fosse o desejo de me perder para me encontrar, ou talvez eu estivesse apenas tentando preencher o vazio que Ayla havia deixado em mim, talvez também em algum canto da minha cabeça haviam memórias como aquela, eu amava o cheiro do verde, o som dos pássaros, tudo aquilo me encheu os olhos.A trilha era estreita e ladeada por árvores altas, suas folhas filtrando os raios de sol que tentavam atravessar. O cheiro de terra molhada invadia minhas narinas, e por um breve momento, senti uma paz que há muito tempo não experimentava. Até que o chão traiçoeiro sob meus pés resolveu testar minha paciência.Escorreguei.Meus pés perderam o apoio e, antes que eu pudesse m
AYLA..Colocamos os pés na terra firme, e a imensidão dos Estados Unidos se desenrolava diante de mim como uma promessa silenciosa de recomeço. O porto estava cheio de movimentação, turistas e trabalhadores iam e vinham, mas para mim, era como se tudo estivesse em câmera lenta. O cheiro de sal ainda impregnava minhas roupas, e a brisa do mar bagunçava meus cabelos enquanto caminhávamos lado a lado.Caio suspirou fundo ao meu lado, com um meio sorriso nos lábios.— Finalmente acabou.Disse, aliviado. — Semanas em alto-mar não foram fáceis, mas valeu a pena. Se não fosse por isso, eu nunca teria te conhecido.Aquela confissão me fez desviar o olhar. Eu queria responder algo que correspondesse ao carinho dele, mas tudo que fiz foi esboçar um sorriso tímido.— Sim... foi uma experiência e tanto.Continuamos caminhando calmamente pelo porto. Meu coração tamborilava de ansiedade pelo que estava por vir. Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, Caio faria a pergunta que eu não sabia como r
AYLA..Meu nome é Ayla, e durante 18 anos, vivi sobre o manto das tradições da minha família.Fui ensinada desde pequena que a pureza era o meu maior tesouro, algo a ser protegido a todo custo.As mulheres da minha linhagem só podiam se casar aos 21 anos, e até lá, a virgindade deveria ser mantida como prova de honra e respeito, era uma regra inquestionável, e eu nunca pensei em desafiá-la.Havia muitos pretendentes à minha volta, todos de boas famílias, todos sabendo que, até os 21 anos, não poderiam me tocar.Para eles, era um privilégio poder esperar, uma prova de paciência e desejo. Para mim, era uma responsabilidade que eu carregava com orgulho.Eu acreditava plenamente no valor dessa tradição e no que ela representava para mim e para a minha família.Mas então, algo aconteceu. Algo que eu jamais poderia prever ou entender.Tudo começou em uma noite comum, como qualquer outra.Eu estava no meu quarto, pronta pra dormir, quando senti um frio estranho, que parecia emanar das pare
Desde que Azrael apareceu, eu dormia inquieta, mas no dia seguinte em que estive com a minha avó, durante a noite, caí num sono profundo, como se uma força invisível me puxasse para um mundo desconhecido. Eu estava em um campo, a grama alta balançando suavemente ao vento, a lua cheia iluminando tudo com um brilho prateado. O ar era fresco, e uma sensação de paz me envolveu, tão diferente do que eu vinha sentindo nas últimas semanas.De repente, senti uma presença atrás de mim, me virei e o vi. Azrael estava ali, ainda mais bonito e envolvente do que eu me lembrava. Suas asas se abriam lentamente, como se estivesse prestes a me abraçar. E, naquele momento, não senti medo, mas um desejo intenso e desconhecido que começou a queimar dentro de mim.Ele se aproximou lentamente, seus olhos fixos nos meus, me hipnotizando. Quando estava perto o suficiente, senti sua mão deslizar pelo meu braço, um toque leve que enviou uma onda de calor pelo meu corpo. Era como se cada célula minha responde