Na manhã seguinte, acordei com a mente pesada, o corpo ainda cansado da luta interna da noite anterior. Eu me arrastei para fora da cama, tentando ignorar as lembranças dos sonhos perturbadores e do toque de Azrael, mas era impossível afastá-los completamente.
Enquanto me preparava para o dia, um sentimento de inquietação persistia, como se algo sombrio estivesse à espreita. Minha mãe estava na cozinha quando desci para tomar café, e me lançou um sorriso caloroso assim que me viu. — Bom dia, Ayla. — Bom dia mãe. Respondi após beijá-la no rosto. — Sua cara não está boa, não dormiu bem? — Na verdade não. — Então acho que você vai se sentir melhor agora. Recebemos uma visita especial hoje. Ela disse, com uma ponta de entusiasmo na voz. Antes que eu pudesse perguntar quem era, ouvi passos firmes na entrada da casa. Ao me virar, vi Daniel, um dos pretendentes mais respeitáveis e conhecidos da nossa família. Ele era um jovem bonito, com cabelos castanhos claros e olhos azuis penetrantes, sempre impecavelmente vestido e educado, ele era o tipo de homem que qualquer mulher se renderia sem pestanejar. A família dele era próxima da nossa há muitos anos, e ele havia demonstrado interesse em mim alguns meses antes de completar 18 anos. — Ayla, como você está? Daniel sorriu, caminhando em minha direção. Ele segurava um pequeno buquê de flores que me ofereceu com um gesto gentil. — Estou bem, obrigada, Daniel. Respondi, forçando um sorriso, ainda sentindo o peso dos acontecimentos da noite passada. — Daniel tem algo para nos pedir. Disse meu pai, surgindo do corredor com um semblante satisfeito, claramente contente com a presença de Daniel, ele nem tentava esconder que o Daniel era o melhor pretendente até aquele momento. Daniel olhou para meus pais com respeito, e fez um pequeno aceno antes de falar suas intenções. — Senhor e senhora, eu gostaria de pedir permissão para levar Ayla para um passeio hoje. Um passeio simples, apenas para conversarmos e nos conhecermos melhor. Meus pais trocaram olhares cúmplices, um sorriso surgindo no rosto de ambos. Eles confiavam plenamente em Daniel, sabendo que ele vinha de uma boa família e respeitava nossas tradições. — É claro, Daniel. Você tem nossa total confiança. Meu pai respondeu com um aceno, enquanto minha mãe sorria para mim, claramente aprovando a ideia, mas eu não estava tão disposta pra fazer aquele passeio, porém fui obrigada a aceitar com um sorriso mentiroso no rosto. Eu sabia que, dentro dos limites da nossa tradição, esse tipo de encontro era permitido, e Daniel, sendo quem era, não me causava nenhuma preocupação. Mesmo assim, uma pontada de ansiedade tomou conta de mim. Mas mantive o meu teatro, balancei a cabeça concordando, e logo estávamos saindo juntos. O dia estava ensolarado, com o céu azul limpo, o tipo de clima perfeito para um passeio tranquilo. Daniel e eu caminhamos lado a lado, enquanto ele falava sobre diversos assuntos, sempre com um tom leve e educado. Ele era atencioso, sempre respeitador, e por um momento, consegui afastar os pensamentos perturbadores que Azrael havia plantado em minha mente. Mas à medida que nos afastávamos da casa, seguindo por um caminho mais isolado entre as árvores, senti uma mudança no ar. Daniel parou por um momento, virando-se para mim com um sorriso suave. — Ayla, eu... Ele começou, parecendo um pouco nervoso. — Eu gostaria de ser mais próximo de você. Sei que nossa tradição impõe limites, mas... Ele hesitou por um segundo, e então se aproximou mais, seus olhos fixos nos meus, prestes a me beijar. — Será que posso? Antes que eu pudesse reagir e dar minha resposta, Daniel se inclinou, mas no último segundo, meu corpo reagiu instintivamente, e me esquivei, virando o rosto. — Desculpa, Daniel, eu... Comecei a dizer, mas fui interrompida por algo muito mais intenso. Uma ventania forte surgiu do nada, varrendo as árvores ao nosso redor e fazendo as folhas voarem em todas as direções. Daniel olhou em volta, confuso, tentando entender o que estava acontecendo. — O que foi isso? Ele perguntou, os olhos se estreitando enquanto olhava para o céu, tentando localizar a origem da ventania. Mas então eu vi do que se tratava. Sobrevoando nossas cabeças, as asas abertas em toda a sua extensão, estava Azrael. Seus olhos estavam fixos em mim, e o rosto dele era uma máscara de fúria. A raiva que emanava dele era palpável, uma energia sombria que parecia se misturar com o vento ao nosso redor. Ele flutuava acima de nós, silencioso, mas com uma presença avassaladora que fez meu sangue gelar. Daniel não conseguia vê-lo, mas eu podia sentir o peso do olhar de Azrael, como se ele estivesse marcando território, deixando claro que eu era dele, e apenas dele. O medo apertou meu peito, mas também havia outra coisa: A lembrança do que ele havia feito comigo na noite anterior, a força do desejo que ele havia plantado em mim, que ainda ressoava em meu corpo. — Ayla? Daniel chamou, preocupado, vendo que eu estava paralisada, o rosto pálido. — Você está bem? Eu não conseguia responder. Tudo o que pude fazer foi olhar para Azrael, sentindo o conflito dentro de mim crescer. Eu sabia que ele estava me observando, esperando que eu cedesse, que eu fosse até ele. Mas não podia. Não na frente de Daniel, não com meus pais confiando em mim. Azrael finalmente afastou-se no ar, seus olhos ainda fixos nos meus, e com um último olhar carregado de promessas sombrias, ele desapareceu no horizonte, deixando-me abalada e confusa. — Ayla? Daniel chamou novamente, tocando meu braço suavemente. — O que aconteceu? Você está pálida. Eu balancei a cabeça, tentando me recompor, mas meu corpo ainda tremia, o impacto do encontro com Azrael pesando sobre mim. — Está tudo bem, Daniel. Acho que só estou um pouco cansada. Forcei um sorriso, tentando afastar a tensão. — Podemos voltar para casa? Ele assentiu, ainda preocupado, mas concordou em me levar de volta. Enquanto a gente caminhava, o silêncio entre nós era pesado, e eu mal podia pensar em outra coisa, além do olhar furioso de Azrael e o aviso silencioso que ele havia deixado. Eu sabia que essa luta estava longe de terminar, e que na próxima vez, ele não seria tão complacente.Assim que entramos pela porta, minha mãe nos recebeu com um sorriso, mas a expressão dela logo mudou ao perceber que havíamos voltado mais cedo do que o esperado.— Já estão de volta? Ela perguntou, surpresa, os olhos passando de Daniel para mim com uma leve curiosidade. — O passeio foi tão rápido assim?Meu pai também apareceu na sala, e havia uma leve preocupação em seu olhar.— Aconteceu alguma coisa, Daniel? Ele questionou, claramente querendo entender por que o passeio terminou tão abruptamente.Daniel, sempre educado e cortês, apressou-se em responder, tentando dissipar qualquer preocupação.— Não, senhor, senhora. Ayla mencionou que estava um pouco cansada, então achei melhor voltarmos mais cedo. Ele sorriu para mim, tentando me tranquilizar. — Foi um passeio muito agradável, mas acho que o calor do dia acabou nos deixando um pouco exaustos.Meus pais trocaram um olhar, ainda um pouco desconfiados, mas não pressionaram mais. — Entendo. Meu pai disse, finalmente assentind
A presença de Azrael era como uma sombra que pairava sobre mim, e a sensação de que ele podia aparecer a qualquer momento me deixava inquieta.Mas, enquanto eu estava ali, sozinha com meus pensamentos, uma coisa ficou clara: Eu não podia continuar assim, à mercê dos caprichos de um anjo obsessor. Não podia permitir que ele continuasse a me controlar, a me aterrorizar. Eu precisava reagir, descobrir mais sobre ele e, de alguma forma, encontrar uma maneira de impedi-lo.No dia seguinte, após uma noite de sono conturbada, decidi que precisava visitar minha avó novamente. Ela sempre foi uma mulher sábia, conhecedora das antigas tradições e lendas que cercavam nossa família. Se alguém pudesse me ajudar a entender o que estava acontecendo, seria ela.A caminhada até a casa da minha avó foi rápida, mas cada passo parecia ser guiado por uma determinação nova, como se o próprio ato de me mover em direção a ela já fosse um desafio contra Azrael. Ao chegar, ela me recebeu com um sorriso acol
Entrei no banheiro, ainda tremendo, com o coração disparado e a mente confusa. Precisava de um momento para mim, para tentar processar tudo o que havia acontecido. Liguei o chuveiro e deixei a água quente escorrer pelo meu corpo, fechando os olhos na tentativa de afastar o medo que Azrael havia deixado em mim. Cada gota que caía parecia levar embora um pouco da tensão, mas a sombra dele ainda pairava sobre mim, impossível de ignorar.Fiquei ali por um tempo que não consegui medir, deixando o calor da água acalmar meu corpo enquanto minha mente tentava encontrar alguma paz. Quando finalmente desliguei o chuveiro, me enrolei em uma toalha e respirei fundo, tentando reunir coragem para voltar ao quarto.Mas, ao abrir a porta do banheiro, meu coração quase parou.Azrael estava ali, parado no meio do quarto, seus olhos escuros fixos em mim. O susto me fez recuar, e meu corpo inteiro ficou tenso. Abri a boca, tentando dizer algo, qualquer coisa, mas a voz não saía como eu queria.— Por
Naquela noite, depois de tudo que havia acontecido, eu não conseguia mais ficar sozinha com meus pensamentos. Azrael estava em toda parte, em cada sombra, em cada suspiro do vento. Eu precisava falar com alguém, precisava que meus pais soubessem, porque eu não tinha mais forças para enfrentar isso sozinha. Meu coração batia rápido enquanto descia as escadas, cada passo pesado, como se uma mão invisível estivesse tentando me impedir.Quando cheguei à sala, meus pais estavam sentados no sofá, conversando em voz baixa. Ao me verem, seus rostos se encheram de preocupação imediata. Minha mãe se levantou primeiro, com seu olhar cheio de apreensão.— Ayla, querida, o que aconteceu? Você parece tão... assustada.Engoli em seco, tentando encontrar as palavras certas. Como explicar algo tão irreal, tão aterrorizante?— Eu... preciso falar com vocês. Algo muito estranho está acontecendo comigo. Algo que... me deixa com medo.Meu pai, que até então estava em silêncio, se inclinou para frente
Mesmo diante de um beco que parecia sem saída, eu precisava saber o que havia acontecido com Eliza, no fundo eu queria que o preço que ela havia pago, pudesse ser pago por mim também, mas quanto mais eu sabia da história, mais aterrorizada eu ficava.Respirei fundo e, com a voz trêmula, perguntei:— E o que aconteceu com Eliza depois que ela quebrou a tradição? O que realmente aconteceu com ela?Meus pais trocaram um olhar pesado, como se carregassem um segredo há muito tempo guardado. Meu pai foi o primeiro a responder, sua voz carregada de gravidade e tristeza.— Ayla, quebrar a tradição em nossa família não é algo simples. A virgindade é sagrada para nós, e a tradição é o pilar que nos mantém unidos. Eliza e seus pais fizeram a escolha de quebrar essa tradição para escapar do anjo que a assombrava, mas essa escolha teve um preço terrível.Minha mãe, com os olhos cheios de lágrimas, completou:— Quando uma jovem da nossa família quebra essa tradição, ela não pode mais fazer parte da
Depois da conversa tensa com meus pais, voltei para o meu quarto sentindo uma frustração enorme, uma mistura de desespero e impotência que parecia corroer meu peito. Como eu poderia viver sabendo que qualquer decisão que eu tomasse poderia trazer dor, seja para mim, para minha família, ou para as gerações futuras? As palavras dos meus pais ecoavam na minha mente, mas não conseguiam acalmar o tumulto de emoções que eu sentia.Eu me deitei na cama, mas o sono parecia uma promessa distante. A minha mente rodava, tentando encontrar uma saída, uma solução para o dilema que eu enfrentava. Mas por mais que eu tentasse, só encontrava mais dúvidas, mais medo. As horas se arrastaram, e só depois de muito tempo, quando a exaustão finalmente tomou conta, eu consegui adormecer.No entanto, o descanso que eu esperava foi rapidamente interrompido. O sonho começou com a mesma sensação opressora de todas as outras vezes, e eu soube imediatamente que ele estava lá. Azrael. O anjo que tinha transforma
AZRAEL ..Eu sou Azrael, descendente de uma linhagem antiga de anjos obsessores. Desde tempos memoriais, nós somos designados para uma única missão: Encontrar e corromper a pureza mais intocada, desafiando a luz e dobrando a vontade das almas puras à nossa escuridão. Não somos como os outros anjos caídos, que se contentam em espalhar caos indiscriminadamente. Nossa tarefa é mais refinada, mais específica. Somos caçadores, especializados em encontrar as vítimas mais raras e preciosas: Aquelas que nunca foram tocadas, que nunca cederam aos desejos carnais, que se mantêm puras em corpo e espírito.Eu fui forjado para essa missão. Minha essência foi moldada pelo desejo de subverter o que é considerado sagrado, de manchar o que é considerado intocável. Ao longo dos séculos, já quebrei muitas dessas almas. Com cada vitória, o meu poder e a minha fúria cresciam. Mas, como qualquer caçador experiente, sempre busquei uma presa que oferecesse um verdadeiro desafio, uma alma cuja pureza fos
Cada tentativa de Ayla de me afastar só fazia crescer uma fúria que eu não sabia ser capaz de sentir. Ela acreditava que poderia me repelir com suas rezas e com a fé ingênua de que sua pureza a protegeria. Mas a verdade era que cada vez que ela resistia, ela me atraía ainda mais. A força que ela mostrava, mesmo diante de um ser como eu, me instigava de uma maneira que nenhuma outra humana jamais conseguiu. Eu deveria ter destruído sua vontade no primeiro encontro, ter deixado claro que sua resistência era inútil. Mas, em vez disso, eu hesitava. E essa hesitação, que eu não conseguia explicar, só aumentava a raiva que eu sentia por ela e por mim mesmo.Quando Daniel, o pretendente imbecil, tentou beijá-la, o desejo de acabar com sua vida foi quase insuportável. Eu o odiei naquele momento mais do que qualquer outra criatura. A visão de seus lábios se aproximando de Ayla, da minha Ayla, fez meu sangue ferver com uma intensidade que eu não esperava. Minha vontade era de esmagá-lo, d