Assim que entramos pela porta, minha mãe nos recebeu com um sorriso, mas a expressão dela logo mudou ao perceber que havíamos voltado mais cedo do que o esperado.
— Já estão de volta? Ela perguntou, surpresa, os olhos passando de Daniel para mim com uma leve curiosidade. — O passeio foi tão rápido assim? Meu pai também apareceu na sala, e havia uma leve preocupação em seu olhar. — Aconteceu alguma coisa, Daniel? Ele questionou, claramente querendo entender por que o passeio terminou tão abruptamente. Daniel, sempre educado e cortês, apressou-se em responder, tentando dissipar qualquer preocupação. — Não, senhor, senhora. Ayla mencionou que estava um pouco cansada, então achei melhor voltarmos mais cedo. Ele sorriu para mim, tentando me tranquilizar. — Foi um passeio muito agradável, mas acho que o calor do dia acabou nos deixando um pouco exaustos. Meus pais trocaram um olhar, ainda um pouco desconfiados, mas não pressionaram mais. — Entendo. Meu pai disse, finalmente assentindo. — O importante é que vocês estão bem. Daniel se voltou para mim, com um sorriso gentil. — Eu espero que você se sinta melhor, Ayla. Foi um prazer passar esse tempo com você. Nos vemos em breve, sim? — Sim, obrigada, Daniel. Respondi, tentando soar o mais natural possível, mas meu coração ainda estava acelerado, a mente ainda presa na imagem de Azrael. Ele se despediu dos meus pais e saiu, deixando a casa em um silêncio incômodo. Eu sabia que meus pais ainda tinham perguntas, mas antes que pudessem dizer qualquer coisa, me adiantei. — Acho que vou para o meu quarto, estou realmente cansada. Disse rapidamente, subindo as escadas antes que pudessem me chamar de volta. Quando entrei no meu quarto e fechei a porta, senti o peso do dia desabar sobre mim. Mas antes que eu pudesse sequer tentar processar o que havia acontecido, senti uma presença. Levantei os olhos e meu coração disparou ao ver Azrael ali, parado no centro do quarto, me encarando com uma intensidade que fazia o ar parecer mais pesado. As asas dele estavam parcialmente abertas, e seus olhos brilhavam com uma possessividade que me deixou sem fôlego. Era como se ele estivesse marcando território, me avisando que eu não podia escapar dele. — O que você está fazendo aqui? Consegui perguntar, minha voz saindo mais firme do que eu esperava. Azrael deu um passo à frente, a distância entre nós diminuindo enquanto seus olhos continuavam a me prender. — Eu vim para te lembrar, Ayla. Ele começou, a voz baixa e carregada de um tom perigoso... — Que você é minha. Não quero te ver com ninguém. Nunca. Senti um arrepio percorrer minha espinha, mas me forcei a não recuar, a não deixar que ele visse o medo que tentava tomar conta de mim. — Você não é meu dono, Azrael. Disse, erguendo o queixo em desafio. — Eu não sou propriedade de ninguém, muito menos sua. Ele parou, os olhos estreitando-se enquanto me observava, uma chama de fúria e algo mais perigoso brilhando neles. — Ah, Ayla, você ainda não entendeu? A voz dele era um sussurro venenoso, e ele deu mais um passo em minha direção, seu rosto agora a poucos centímetros do meu. — Eu posso não ser seu dono, mas tenho poder sobre você que nenhum outro homem jamais terá. Você pode lutar contra isso, contra mim, mas no fundo, você sabe que é inútil. A proximidade dele, o calor que emanava de seu corpo, me deixava atordoada, e eu lutei para manter a clareza de pensamento. — Eu não vou ceder a você, Azrael. Minha voz saiu trêmula, mas determinada. — Você não vai conseguir me controlar. Ele sorriu, um sorriso que não trouxe conforto, mas sim um aviso. — Veremos, Ayla. Veremos até onde sua resistência vai. Mas eu te aviso: Nenhum homem poderá chegar perto de você sem que eu saiba, sem que eu sinta. E nenhum deles poderá te satisfazer como eu posso. Eu me senti dividida entre o medo e a indignação, mas também sabia que havia uma parte de mim, aquela parte que ele havia despertado na noite anterior, que ainda reagia ao que ele dizia. Antes que eu pudesse responder, ele se afastou, com seus olhos ainda fixos nos meus. — Eu vou garantir que ninguém toque em você além de mim. Com essas palavras, ele desapareceu, me deixando sozinha no quarto, o único som existente naquele momento, eram os das batidas do meu coração que estavam descontroladas. Logo após a saída abrupta de Azrael, meu quarto ficou envolto em um silêncio pesado. Meu coração ainda batia forte, e eu tentava desesperadamente recompor meus pensamentos. Foi então que ouvi uma leve batida na porta, seguido pela voz preocupada da minha mãe. — Ayla, posso entrar? Antes que eu pudesse responder, a porta se abriu lentamente e meus pais entraram, seus rostos carregando expressões de preocupação. Eles olharam ao redor do quarto, como se estivessem procurando por algo ou alguém. — Com quem você estava falando, filha? Minha mãe perguntou, a voz suave, mas com uma pontada de desconfiança. Eu sabia que precisava pensar rápido. Não podia contar a verdade sobre Azrael, nem mesmo insinuar o que estava realmente acontecendo. Respirei fundo, tentando manter a calma. — Eu estava rezando, mãe. Respondi, minha voz baixa, mas firme. Desde que voltei do passeio, estou me sentindo estranha, um pouco assustada, e decidi rezar para tentar me acalmar. Meus pais se entre olharam, ainda um pouco desconfiados, mas a explicação pareceu fazer sentido para eles. Minha mãe se aproximou, tocando meu ombro com carinho. — Eu entendo, querida. Às vezes, quando estamos confusos ou com medo, a oração é a melhor maneira de buscar conforto. Ela sorriu suavemente, embora ainda houvesse uma leve preocupação em seus olhos. Meu pai assentiu, parecendo mais convencido com a justificativa. — Você sabe que pode contar conosco para o que precisar, não é, Ayla? Se algo estiver te incomodando, estamos aqui para te ajudar. Assenti, tentando não deixar transparecer a tempestade de emoções que ainda fervilhava dentro de mim. — Eu sei, pai. Obrigada. Eu só... preciso de um pouco de tempo sozinha agora, para colocar meus pensamentos em ordem. Eles pareceram entender e, após mais algumas palavras de conforto, minha mãe deu um beijo em minha testa, e ambos se dirigiram à porta. — Vamos deixar você descansar, então. Disse minha mãe antes de sair, fechando a porta suavemente atrás de si. Assim que fiquei sozinha novamente, soltei o ar que nem percebi que estava prendendo. — Isso está cada vez mais difícil. Admiti pra mim mesma.A presença de Azrael era como uma sombra que pairava sobre mim, e a sensação de que ele podia aparecer a qualquer momento me deixava inquieta.Mas, enquanto eu estava ali, sozinha com meus pensamentos, uma coisa ficou clara: Eu não podia continuar assim, à mercê dos caprichos de um anjo obsessor. Não podia permitir que ele continuasse a me controlar, a me aterrorizar. Eu precisava reagir, descobrir mais sobre ele e, de alguma forma, encontrar uma maneira de impedi-lo.No dia seguinte, após uma noite de sono conturbada, decidi que precisava visitar minha avó novamente. Ela sempre foi uma mulher sábia, conhecedora das antigas tradições e lendas que cercavam nossa família. Se alguém pudesse me ajudar a entender o que estava acontecendo, seria ela.A caminhada até a casa da minha avó foi rápida, mas cada passo parecia ser guiado por uma determinação nova, como se o próprio ato de me mover em direção a ela já fosse um desafio contra Azrael. Ao chegar, ela me recebeu com um sorriso acol
Entrei no banheiro, ainda tremendo, com o coração disparado e a mente confusa. Precisava de um momento para mim, para tentar processar tudo o que havia acontecido. Liguei o chuveiro e deixei a água quente escorrer pelo meu corpo, fechando os olhos na tentativa de afastar o medo que Azrael havia deixado em mim. Cada gota que caía parecia levar embora um pouco da tensão, mas a sombra dele ainda pairava sobre mim, impossível de ignorar.Fiquei ali por um tempo que não consegui medir, deixando o calor da água acalmar meu corpo enquanto minha mente tentava encontrar alguma paz. Quando finalmente desliguei o chuveiro, me enrolei em uma toalha e respirei fundo, tentando reunir coragem para voltar ao quarto.Mas, ao abrir a porta do banheiro, meu coração quase parou.Azrael estava ali, parado no meio do quarto, seus olhos escuros fixos em mim. O susto me fez recuar, e meu corpo inteiro ficou tenso. Abri a boca, tentando dizer algo, qualquer coisa, mas a voz não saía como eu queria.— Por
Naquela noite, depois de tudo que havia acontecido, eu não conseguia mais ficar sozinha com meus pensamentos. Azrael estava em toda parte, em cada sombra, em cada suspiro do vento. Eu precisava falar com alguém, precisava que meus pais soubessem, porque eu não tinha mais forças para enfrentar isso sozinha. Meu coração batia rápido enquanto descia as escadas, cada passo pesado, como se uma mão invisível estivesse tentando me impedir.Quando cheguei à sala, meus pais estavam sentados no sofá, conversando em voz baixa. Ao me verem, seus rostos se encheram de preocupação imediata. Minha mãe se levantou primeiro, com seu olhar cheio de apreensão.— Ayla, querida, o que aconteceu? Você parece tão... assustada.Engoli em seco, tentando encontrar as palavras certas. Como explicar algo tão irreal, tão aterrorizante?— Eu... preciso falar com vocês. Algo muito estranho está acontecendo comigo. Algo que... me deixa com medo.Meu pai, que até então estava em silêncio, se inclinou para frente
Mesmo diante de um beco que parecia sem saída, eu precisava saber o que havia acontecido com Eliza, no fundo eu queria que o preço que ela havia pago, pudesse ser pago por mim também, mas quanto mais eu sabia da história, mais aterrorizada eu ficava.Respirei fundo e, com a voz trêmula, perguntei:— E o que aconteceu com Eliza depois que ela quebrou a tradição? O que realmente aconteceu com ela?Meus pais trocaram um olhar pesado, como se carregassem um segredo há muito tempo guardado. Meu pai foi o primeiro a responder, sua voz carregada de gravidade e tristeza.— Ayla, quebrar a tradição em nossa família não é algo simples. A virgindade é sagrada para nós, e a tradição é o pilar que nos mantém unidos. Eliza e seus pais fizeram a escolha de quebrar essa tradição para escapar do anjo que a assombrava, mas essa escolha teve um preço terrível.Minha mãe, com os olhos cheios de lágrimas, completou:— Quando uma jovem da nossa família quebra essa tradição, ela não pode mais fazer parte da
Depois da conversa tensa com meus pais, voltei para o meu quarto sentindo uma frustração enorme, uma mistura de desespero e impotência que parecia corroer meu peito. Como eu poderia viver sabendo que qualquer decisão que eu tomasse poderia trazer dor, seja para mim, para minha família, ou para as gerações futuras? As palavras dos meus pais ecoavam na minha mente, mas não conseguiam acalmar o tumulto de emoções que eu sentia.Eu me deitei na cama, mas o sono parecia uma promessa distante. A minha mente rodava, tentando encontrar uma saída, uma solução para o dilema que eu enfrentava. Mas por mais que eu tentasse, só encontrava mais dúvidas, mais medo. As horas se arrastaram, e só depois de muito tempo, quando a exaustão finalmente tomou conta, eu consegui adormecer.No entanto, o descanso que eu esperava foi rapidamente interrompido. O sonho começou com a mesma sensação opressora de todas as outras vezes, e eu soube imediatamente que ele estava lá. Azrael. O anjo que tinha transforma
AZRAEL ..Eu sou Azrael, descendente de uma linhagem antiga de anjos obsessores. Desde tempos memoriais, nós somos designados para uma única missão: Encontrar e corromper a pureza mais intocada, desafiando a luz e dobrando a vontade das almas puras à nossa escuridão. Não somos como os outros anjos caídos, que se contentam em espalhar caos indiscriminadamente. Nossa tarefa é mais refinada, mais específica. Somos caçadores, especializados em encontrar as vítimas mais raras e preciosas: Aquelas que nunca foram tocadas, que nunca cederam aos desejos carnais, que se mantêm puras em corpo e espírito.Eu fui forjado para essa missão. Minha essência foi moldada pelo desejo de subverter o que é considerado sagrado, de manchar o que é considerado intocável. Ao longo dos séculos, já quebrei muitas dessas almas. Com cada vitória, o meu poder e a minha fúria cresciam. Mas, como qualquer caçador experiente, sempre busquei uma presa que oferecesse um verdadeiro desafio, uma alma cuja pureza fos
AYLA..Meu nome é Ayla, e durante 18 anos, vivi sobre o manto das tradições da minha família.Fui ensinada desde pequena que a pureza era o meu maior tesouro, algo a ser protegido a todo custo.As mulheres da minha linhagem só podiam se casar aos 21 anos, e até lá, a virgindade deveria ser mantida como prova de honra e respeito, era uma regra inquestionável, e eu nunca pensei em desafiá-la.Havia muitos pretendentes à minha volta, todos de boas famílias, todos sabendo que, até os 21 anos, não poderiam me tocar.Para eles, era um privilégio poder esperar, uma prova de paciência e desejo. Para mim, era uma responsabilidade que eu carregava com orgulho.Eu acreditava plenamente no valor dessa tradição e no que ela representava para mim e para a minha família.Mas então, algo aconteceu. Algo que eu jamais poderia prever ou entender.Tudo começou em uma noite comum, como qualquer outra.Eu estava no meu quarto, pronta pra dormir, quando senti um frio estranho, que parecia emanar das pare
Desde que Azrael apareceu, eu dormia inquieta, mas no dia seguinte em que estive com a minha avó, durante a noite, caí num sono profundo, como se uma força invisível me puxasse para um mundo desconhecido. Eu estava em um campo, a grama alta balançando suavemente ao vento, a lua cheia iluminando tudo com um brilho prateado. O ar era fresco, e uma sensação de paz me envolveu, tão diferente do que eu vinha sentindo nas últimas semanas.De repente, senti uma presença atrás de mim, me virei e o vi. Azrael estava ali, ainda mais bonito e envolvente do que eu me lembrava. Suas asas se abriam lentamente, como se estivesse prestes a me abraçar. E, naquele momento, não senti medo, mas um desejo intenso e desconhecido que começou a queimar dentro de mim.Ele se aproximou lentamente, seus olhos fixos nos meus, me hipnotizando. Quando estava perto o suficiente, senti sua mão deslizar pelo meu braço, um toque leve que enviou uma onda de calor pelo meu corpo. Era como se cada célula minha responde