AliceEnfim, em paz, ou tentando ficar, fomos jantar. Durante todo o tempo ficamos conversando sobre diversos assuntos, menos a respeito do que houve a pouco, pois tudo o que nós menos precisávamos era relembrar o momento conturbado e todo o alvoroço que PG causou. A comida ainda estava morna, então preparei outro suco e tudo estava correndo super bem, até o momento de Damares colocar uma garfada de comida na boca e enjoar mais uma vez.— Damares, o que está acontecendo com você? — dona Olga pergunta ao notar o desconforto de Damares— Nada. Eu devo ter comido algo que não me fez bem, foi só isso. — Damares tentou desviar do assunto, mas dona Olga era muito esperta, e logo perceberia que esse mal estar era por outro motivo muito diferente.Eu finjo que não sei de nada, e trato logo de levantar para buscar a sobremesa, que era pudim de pão que eu havia comprado mais cedo na padaria.— Hum... Que delícia! Assim vou ficar mal acostumada. — sorrio do que dona Olga dizia enquanto se servia
Alice Os dias passaram rápido, sem nenhuma novidade, e enfim chegou sábado. Era para ser motivo de alegria, afinal era o dia que Joel e eu íamos até o cinema, mas era nítido que nada disso aconteceria, pois fazem muitos dias que não o vejo e ele sequer me procurou para se desculpar pela sua grosseria. Confesso que até cogitei a possibilidade de procurá-lo para resolver aquela situação desagradável que só existia dentro da cabeça dele, mas preferi ficar no meu canto, trabalhar, viver a minha vida como Deus permitia e ficar o mais longe de problemas que eu pudesse. Continuo com o pensamento de encontrar um novo lugar para morar, mas Damares me fez prometer que esperaria mais um pouco, até porque a situação que ela está passando é muito mais complicada do que a minha, e nada mais correto do que ficar ao lado dela nesse momento delicado. PG também havia desaparecido, não o vi em nenhum dos locais que ele costumava ficar, e isso era muito bom, assim esse sentimento errado que existia den
AliceSeguimos até a entrada do morro, e o motorista já estava nos aguardando. Abre a porta, entrei e logo em seguida Damares faria o mesmo se não fosse por um louco enviado do inferno chamado Jamal impedir.— Me solta, Jamal. Ficou louco? — Damares dizia enquanto tentava se desvencilhar daquele brutamontes que a segurava com força pelo braço — Onde tu pensa que vai vestida desse jeito? — Jamal fala fitando Damares de cima abaixo— Isso não é da tua conta. Sou uma mulher livre e faço o que eu quiser da minha vida. — Damares grita e o desgraçado a aperta com mais força, e aquilo só fazia aumentar o meu ódio por aquele monstro— Você é minha mulher, e só faz o que eu mando. Agora sobe na minha moto que vou te levar de volta pro teu barraco, tu vai tirar essa porra do corpo e vestir uma roupa de verdade. Ouviu? — o monstro do Jamal esbraveja — Eu já disse que sou livre e não vou contigo a nenhum lugar. Tá surdo porra? — Damares grita chamando a atenção de todos na rua e o desgraçado do
Alice O restante do percurso, graças a Deus, foi bastante tranquilo, com direito a várias histórias da Damares que arrancaram muitas gargalhadas até do motorista que não aguentou e após ouvir tantas bobagens acabou se contagiando com a nossa loucura. Algum tempo depois, agora muito mais tranquilas, enfim chegamos ao nosso destino, a praia do Leme. Antes de sair do carro fico boquiaberta com aquele lugar, era simplesmente perfeito, uma verdadeira dádiva de Deus. É a segunda vez que estou na praia, mas para mim é sempre como se fosse a primeira, não me canso de sorrir e apreciar tamanha beleza. O céu estava limpo, sem uma nuvem sequer, e o sol brilhante deixava tudo cada vez mais lindo e iluminado. "É... Damares tinha mesmo razão quando disse que eu precisava desabrochar e pôr para fora a mulher incrível que existe dentro de mim. Eu preciso e mereço ser feliz. Já passou da hora de deixar toda a tristeza e as coisas ruins no passado para trás, e viver intensamente como se não houvesse
Alice— Como você consegue? — pergunto baixo sem conseguir olhar para frente porque o tal homem desconhecido estava cada vez mais perto— Consigo o quê? Viver? — Damares me encara rapidamente e volta a olhar para o homem que tinha um olhar sedutor, mas ao mesmo tempo cafajeste, pelo visto minha amiga curte esses tipos. — Como você consegue pensar em outro cara depois do que aconteceu com o monstro do Jamal na descida do morro? — pergunto incrédula e ao mesmo tempo tentando fazer o impossível, esconder o meu corpo que estava mais exposto do que frango de padaria.— Alice, aprende uma coisa, nessa vida você tem duas opções: viver ou deixar que os problemas te devore. Eu fico sempre com a primeira opção, e você precisa agir da mesma maneira, caso contrário, se arrependerá pelo tempo perdido e por não ter se permitido viver enquanto teve a oportunidade. Meu sangue ferve porque eu sabia muito bem sobre o que Damares se referia. E só de pensar eu já me sentia fora dos trilhos.— Eu sei mu
Itabirito | Minas Gerais | BrasilFevereiro/2023Na rádio 97.3 FM"Resista as artimanhas do inimigo e ele fugirá de vós. O tempo da tua liberdade está chegando. Aquieta a tua alma que estou tomando providência e dando ordem aos meus anjos para te libertar desse cárcere que tens vivido por esses longos anos. Eu Sou contigo e quando falo Basta é porque assim será. Mas prevaleça na tua fé e mesmo quando sentires que estás no deserto, e que estás sozinha, não acredite, pois essa já não é a minha voz e sim daquele que já perdeu o direito a salvação e tenta a todo custo fazer o mesmo com os meus escolhidos nessa Terra. Tu és a minha escolhida, então fique em paz, tu és a menina dos meus olhos e a tua coroa ninguém vai conseguir tirar. O tempo da colheita chegou e já estou a caminho para te dar o teu galardão. Mesmo que pareca estar nas trevas, contudo, o brilho do Sol tornará a clarear na tua vida. Somente creia filha minha e assim não perecereis."O locutor fala: — Que Deus vos abençoe nes
PAULO GUERRA "PG"Chego soltando fogo pelas ventas. Odeio ter que sair pra fazer cobrança e menos ainda quando alguém me liga enchendo a minha paciência que já não existe. É uma porra mesmo ter que ser responsável e babá de uma irmã doida como a Patricia Guerra. Mas o que posso fazer se desde que saímos daquele orfanato eu tive que suprir a missão e o papel de homem da casa? Patricia sempre foi uma sequelada do caralho# e pra piorar me arranjou um filho ou melhor filha, de um mauricinho noiado dos infernos. Porra#! Se não fosse pela minha sobrinha, que tenho o maior apego, eu já tinha dado um fim nesse play dos infernos. Mas sei na pele o que é crescer sem saber quem é o nosso pai e te falo que a sensação é ruim pra caralho#.Me chamo Paulo Guerra, tenho vinte e sete anos, sou chefe do movimento no morro da Fé, uma das comunidades do Complexo da Penha que fica na Zona Norte do Rio de Janeiro. Nome estranho para uma favela, né!? Mas se parar pra pensar deram foi o nome certo, porque
AliceAs horas passaram rápido, a noite chegou e nada do meu pai voltar. Estou morrendo de fome, o único alimento que coloquei na boca foi um pão velho com água quente da torneira, que além de tá duro feito uma pedra ainda tinha um pouco de mofo em volta. E isso foi ontem, as quatro horas da madrugada, quando meu pai chegou caindo de bêbado e me chutando para eu acordar. Eu imaginava que nada poderia ser pior do que ele fazia comigo durante todo esse tempo, mas bastou ele abrir a boca para eu perceber que o pior ainda estava por vir.Algumas horas atrás...— Acorda! Acorda logo garota! — meu pai dá vários chutes nas minhas pernas, me fazendo acordar e gemer de dor — Ai! Ai! O que foi pai? — respondo já de pé e me afastando dele— O que foi pai? O que foi? — ele fala embolado, mas cheio de ironia — Eu lá sou pai de um bicho como você? Anda, levanta logo sua merda e vá colocar a minha comida. — ele grita e se afasta sentando em uma cadeira velha que tinha no canto da cozinha perto da p