---PGAlgumas horas depoisO tempo passou, e mais uma vez eu apaguei. Não posso continuar morgado desse jeito. Preciso reagir, ou muito rápido algum desgraçado pode me passar a perna. Daqui a alguns dias, tenho uma nova carga de armamento para chegar, e como vou recebê-la destruído desse jeito? Não tenho opção de escolha: é levantar ou levantar. Não posso deixar os negócios nas mãos do Nocaute. É muito trabalho e responsabilidade para uma pessoa só. Ele é meu homem de confiança, mas não se dá com o Jamal, nunca confiou nele. Sinceramente, depois do que ele fez tempos atrás, também tenho minhas desconfianças sobre a honestidade e fidelidade dele.Posso até estar errado, mas algo dentro de mim diz que o grande causador dessa tocaia para me aniquilar está mais próximo do que imagino. Enquanto não chegar ao filho da puta que me traiu, todos aqui no Morro da Fé são culpados. Mas isso eu vou resolver depois. Primeiro, preciso me recuperar, comer alguma coisa e voltar a ser gente mais uma
---PGDepois daquele papo com Jamal continuei de olho no celular afim de ter mais informações sobre aquele verme. Quando eu menos esperar esse desgraçado vai mostrar as unhas e vai me levar direto na boca do lobo, e aí sim, vai ser o fim dele e de todos que estiverem tentando me derrubar. Tô de volta à atividade, e agora vou aniquilar todos que armaram contra mim.O tempo passou, não tirei os olhos daquela tela, mas tudo o que consegui foi saber que Jamal estava entocado no barraco dele e não saiu de lá pra nada. Pelo visto a ficha caiu e o fodido se tocou que toda armação que fez contra mim já foi ou está prestes a ser descoberta. Eu preciso ficar na atividade com esse merda, do jeito que ele é rasteiro pode desaparecer da comunidade sem dá tempo de receber o castigo merecido. Com esse pensamento passo a mão no rádio que estava em cima do móvel, dou uma chamada no Nocaute e passo por alto a visão das coisas.— PG? O que houve, parceiro? Aconteceu alguma coisa contigo? — ele atende
---AliceSaímos como um foguete daquele restaurante, sem olhar para trás. Damares até tentou puxar conversa comigo durante todo o tempo, mas, do jeito que eu estava irritada com ela, se abrisse a boca seria unicamente para soltar todos os cachorros em cima dela. Então, compreendendo perfeitamente o que estava acontecendo, ela se calou e me deixou em paz, para que eu pudesse, enfim, colocar as ideias no lugar. Ainda por cima, havia o fato de que eu sentia que estávamos sendo seguidas, mas, ao olhar para todos os lados, não via nada — nenhum rosto conhecido, apenas carros e pessoas indo e vindo da praia. Obviamente, não revelei minhas suspeitas, porque, do jeito que ela é, faria um escândalo e tentaria me arrastar até uma delegacia para pedir proteção. Aí sim tudo desmoronaria de vez, e nossas vidas se transformariam em um verdadeiro inferno.Droga!Eu só tinha aceitado vir a esse lugar porque imaginei que, enfim, me divertiria um pouco e esqueceria dos meus problemas. Mas tudo o que c
--- Alice Enfim, chegamos ao Morro da Fé. E era essa palavra, fé, que ainda me mantinha de pé diante de tantas provações que enfrentei nos últimos meses. Enquanto subíamos a ladeira, olhares curiosos nos acompanhavam. Talvez pela roupa — ou melhor, pelos micro pedaços de pano que usávamos no corpo. Mas quem sabe nos observavam pelo que aconteceu entre Damares e o monstro do Jamal antes de irmos à praia. E por falar naquele louco, pelo visto ele percebeu o papel ridículo que estava fazendo e decidiu desaparecer. Graças a Deus. Até que enfim, um momento de paz em meio a tantas tribulações. — Alice, vamos passar na padaria? Tô cheia de fome. — A voz de Damares me tirou do transe. — Novidade. Você vive com fome. — Revirei os olhos. — Agora tô comendo por dois, esqueceu? — Damares falou baixo para que ninguém ouvisse a novidade sobre o bebê e passasse o telefone sem fio direto para aquele bicho do Jamal. — Quem esqueceu disso foi você, quando decidiu nos meter naquela encrenca. — Fui
---Alice— E aí, professora... Satisfação! — disse o homem me encarando, como se tivesse alguma intimidade comigo, com um sorriso carregado de ironia enquanto se aproximava.Maldição!Quando terei paz?— Satisfação? Santo Deus, era só o que me faltava para fechar o dia com chave de ouro — respondi quase num sussurro, enquanto passava a mão no cabelo, tentando parecer indiferente. Mas meu corpo inteiro estava em alerta. — Vem cá, eu te conheço? — questionei, e o sujeito apertou os olhos, abrindo um sorrisinho de canto, como se quisesse me intimidar.Damares, ao meu lado, apertava o copo vazio de suco como se fosse sua âncora. Mas eu sabia que ela estava tão apavorada quanto eu. Mal saímos de uma situação difícil, e a vida nos joga em outra ainda pior. Que sina, viu!— Geral do quadro te conhece... Tu é famosa nessa favela. Sabia disso, não? — Ele estreitou os olhos, me avaliando como um predador faz com a presa. — Mas, pra deixar as paradas nos conformes, eu me apresento: Renato... Vu
---AliceTerminamos o nosso lanche e seguimos direto para casa. Eu me sentia exausta, não fisicamente, mas mentalmente, e principalmente, emocionalmente. Minha vida não tem sido nada fácil, mas parece que depois que cheguei no Rio de Janeiro tudo piorou, e tudo virou de ponta a cabeça. Até Joel, que sempre foi um grande amigo, se afastou de mim. Sinto tanta falta dele, das nossas conversas e de como ele me compreendia... Aí meu Deus, até quando vou viver nessa situação? Parece que quanto mais o tempo passa, maiores são as provações. Permaneço em silêncio, e Damares da mesma forma. No caminho continuo pensativa, ainda sem compreender como consigo me envolver em tantos problemas em um curto espaço de tempo. — O que houve, amiga? — Damares pergunta-me observando — Nada. Só estou um pouco cansada, só isso. — suspiro desanimada — O dia de hoje foi pesado mesmo. — ela dizia também desanimada— Não falo apenas por hoje, mas por tudo o que tenho vivido desde a morte da minha mãe. Só tenh
---PGTinha um tumulto do caralho acontecendo uma quadra depois da padaria do seu Geraldo, praticamente no meio da rua. Se tem uma coisa que eu odeio é confusão na minha área, e geral estava ciente disso, mas parece que algum otário teve amnésia e está precisando de um bom esfrega para as ideias voltarem pro lugar. Assim, entenderia de uma vez por todas que uma ordem dada por PG tem que ser cumprida. Principalmente, que no meu espaço não admito desordem.Parece que a lição que Jamal recebeu tempos atrás não foi de muita serventia, porque, por muito menos que isso, ele ficou marcado para sempre. Mas estou aqui, de pé, firme e forte, para mais uma vez pôr as coisas no seu devido lugar. E agora será definitivo.Não é só porque fiquei acamado por alguns dias que a comunidade estava largada. Quem pensou isso está muito errado. Estou de pé, sem paciência e muito pior do que antes com quem vacila comigo.Ainda não sei como Nocaute não viu uma porra dessas acontecendo, mas com ele eu levo um
---PGContinuo parado por algum tempo, com uma dor forte pra caralho no peito, observando Alice desaparecer da minha visão. Ela estava magoada, eu sabia disso. Mais uma vez errei tentando acertar. Tudo o que eu queria era protegê-la, mas consegui exatamente o contrário: coloquei-a em risco confiando nessas merdas que se diziam meus soldados fiéis. Por muito pouco, ela foi agredida, e, se isso acontecesse, eu não me perdoaria. Ela já sofreu muito nas mãos daquele velho nojento do Filadélfio, que já foi tarde para a terra dos pés juntos. Depois de tudo o que passamos, eu fiz uma jura: enquanto eu respirasse, nunca mais a deixaria passar aperto ou sofrer. Eu falhei. E vou ter que consertar essa situação o mais rápido possível, antes que a perca para sempre. Ela é muito importante pra mim e, se eu não a tiver ao meu lado, pra que viver? Eu preciso dar um jeito nisso e, enfim, conquistar o coração dela e trazer para o meu lado a mulher que tanto amo.Sim.Eu a amo. Não posso mais negar a