---AliceEstou trancada no quarto. Não quero ver, ouvir ou conversar com ninguém. Minha cabeça está a ponto de explodir, e ainda não consigo acreditar no que acabou de acontecer. A imagem do Laranjinha caído no chão, com a mão sangrando, está martelando na minha mente. Mas, por outro lado, a sua mão erguida, disposta a acertar o meu rosto, também está grudada em minhas lembranças. Se PG não tivesse aparecido e me livrado daquele sujeito, sabe lá Deus o que teria acontecido comigo. Eu poderia ter recebido apenas um tapa, que, vindo de um homem, já seria algo desesperador, mas também poderia ter sido espancada violentamente, tendo um fim muito pior.E tudo isso aconteceu no meio da rua, diante de várias pessoas, que simplesmente se omitiram, ficaram caladas e não esboçaram nenhuma reação. Se Laranjinha tivesse chegado às vias de fato, ninguém tomaria partido ao meu favor. Só de imaginar isso, sinto um vazio. Um sentimento de impunidade me domina, e a vontade de chorar se apossa de mim.
AliceAlgumas horas depois...Depois de tanto chorar, acredito que minhas lágrimas até secaram, porque, por mais que eu tentasse, nenhuma gotícula caía dos meus olhos. E também, se chorar resolvesse alguma coisa, hoje minha situação seria muito diferente, e, ao invés de me sentir tão sufocada, estaria feliz ao lado do homem que amo. Novamente me pego suspirando e pensando no PG. Ele até agiu de maneira intempestiva, mas, agora, parando para pensar friamente na situação, devo ser grata por ele ter me livrado de mais uma situação difícil.— É, por mais que eu tente esquecê-lo, já percebi que não seria possível, porque em cada lugar que vou, tudo o que vejo e o que penso me levam diretamente a ele: o meu amor impossível. — Suspiro desanimada.Agora, muito mais calma, terminava de tomar o chá que Damares trouxe, enquanto conversávamos um pouco sobre o que aconteceu.— Está mais tranquila? — Damares pergunta, me observando atentamente.— Estou, amiga. — Dou a última golada no chá. — Obriga
PGAs horas passavam devagar e, para piorar, eu não conseguia me concentrar em nada. A imagem do rosto dela e, principalmente, a tristeza em seu olhar não saía da minha cabeça. Alice estava grudada em mim de um jeito inexplicável. Nunca senti ou passei por nada igual. Essa mina tem uma parada diferente e me domina sem fazer nada para isso.Caralho!Tudo que eu menos esperava aconteceu. Aquilo que eu jurei a mim mesmo que nunca sentiria, estou sentindo. Tô gamado nessa garota e não tô conseguindo mais esconder. Eu preciso conversar com ela e abrir meu coração, que eu nem sabia que tinha, ou vou enlouquecer.Sentado de frente para uma mesa, eu folheava o caderno da contabilidade. Mas quem disse que minha mente estava ali? O corpo até estava, todo ruim, mas firme. Agora, a mente estava ligada na mina mais firmeza, a mais linda e, ao mesmo tempo, mais estressada que já conheci nessa vida de meu Deus. Meu alicerce sempre foi a minha família, mas desde que meu caminho cruzou com o da Alice,
ALICEVê-lo tão próximo e com aquele olhar intenso faz toda a raiva que sinto horas atrás desmoronar, tornando impossível resistir. Por mais que esteja magoada, o sentimento dentro de mim sempre fala mais alto e me empurra diretamente para ele. PG é meu ponto fraco, mas isso precisa mudar. Não sei quando ou como, mas preciso encontrar uma maneira de me fortalecer.Assim que o beijo termina, ele sorri de lado, como se soubesse exatamente o efeito que causa em mim, e isso me irrita. Tento desviar o olhar, focar em qualquer outra coisa, mas ele se aproxima ainda mais, e meu coração dispara.— Você pode fingir o quanto quiser, mas sei que sente algo forte por mim, assim como eu por você — diz ele, a voz baixa e rouca, me arrepiando dos pés à cabeça.Engulo em seco. Não quero dar razão a ele, mas meu corpo me trai. Meu peito sobe e desce rápido, minha respiração fica irregular, e minha vontade de fugir briga com o desejo de me jogar em seus braços.— Isso não muda nada — murmuro, tentando
AliceO peso do dia turbulento ainda prende meu corpo ao colchão, mas a inquietação cresce dentro de mim. Damares não hesitaria tanto se fosse algo sem importância. Algo me diz que a visita lá embaixo tem o poder de complicar ainda mais minha vida – como se isso fosse possível.Solto um suspiro pesado antes de finalmente me levantar. Meus passos são lentos, arrastados pelo cansaço emocional que PG deixou para trás. Inconscientemente, meus dedos pousam em meus lábios; ainda sinto o gosto do beijo, tão intenso quanto o que sinto por ele. Confesso que gostaria de senti-lo novamente, tão perto quanto instantes atrás.— Ai, Deus, preciso urgentemente resolver essa situação, ou corro o sério risco de surtar — murmuro, exausta.Faço um coque no cabelo e, vagarosamente, desço para ver quem chegou para falar comigo. Só espero que não seja nenhuma brincadeira da Damares, porque, se for, eu juro que estrangulo essa garota. Acabei de passar por uma situação complicada, por assim dizer, e ainda te
AliceA tensão piora. Todos se entreolham, mas nenhuma palavra é dita. E eu fico ali, parada entre Laranjinha e Joel, sem saber o que fazer. Confesso que esperava de tudo nesta noite, menos a chegada inesperada do Joel. Depois da discussão sem sentido que tivemos, imaginei que ele não quisesse me ver.Permaneço em silêncio, observando atentamente os gestos de ambos. O ar na sala fica ainda mais pesado. Se antes minha cabeça já estava um caos, agora sinto que posso explodir a qualquer momento.Joel está aqui. Depois de dias sem notícias, sem sequer uma ligação, ele simplesmente aparece na minha porta com essa expressão indecifrável. O que ele quer? Me enlouquecer?Laranjinha se remexe ao meu lado, claramente desconfortável com a presença de mais alguém. Já Damares cruza os braços, observando a cena com interesse. Essa daí nunca perde uma oportunidade de fofocar.— Bom, já que apareceu mais gente, acho que minha parte aqui está feita — Laranjinha diz, ajeitando a jaqueta. — Só queria cu
Itabirito | Minas Gerais | BrasilFevereiro/2023Na rádio 97.3 FM"Resista as artimanhas do inimigo e ele fugirá de vós. O tempo da tua liberdade está chegando. Aquieta a tua alma que estou tomando providência e dando ordem aos meus anjos para te libertar desse cárcere que tens vivido por esses longos anos. Eu Sou contigo e quando falo Basta é porque assim será. Mas prevaleça na tua fé e mesmo quando sentires que estás no deserto, e que estás sozinha, não acredite, pois essa já não é a minha voz e sim daquele que já perdeu o direito a salvação e tenta a todo custo fazer o mesmo com os meus escolhidos nessa Terra. Tu és a minha escolhida, então fique em paz, tu és a menina dos meus olhos e a tua coroa ninguém vai conseguir tirar. O tempo da colheita chegou e já estou a caminho para te dar o teu galardão. Mesmo que pareca estar nas trevas, contudo, o brilho do Sol tornará a clarear na tua vida. Somente creia filha minha e assim não perecereis."O locutor fala: — Que Deus vos abençoe nes
PAULO GUERRA "PG"Chego soltando fogo pelas ventas. Odeio ter que sair pra fazer cobrança e menos ainda quando alguém me liga enchendo a minha paciência que já não existe. É uma porra mesmo ter que ser responsável e babá de uma irmã doida como a Patricia Guerra. Mas o que posso fazer se desde que saímos daquele orfanato eu tive que suprir a missão e o papel de homem da casa? Patricia sempre foi uma sequelada do caralho# e pra piorar me arranjou um filho ou melhor filha, de um mauricinho noiado dos infernos. Porra#! Se não fosse pela minha sobrinha, que tenho o maior apego, eu já tinha dado um fim nesse play dos infernos. Mas sei na pele o que é crescer sem saber quem é o nosso pai e te falo que a sensação é ruim pra caralho#.Me chamo Paulo Guerra, tenho vinte e sete anos, sou chefe do movimento no morro da Fé, uma das comunidades do Complexo da Penha que fica na Zona Norte do Rio de Janeiro. Nome estranho para uma favela, né!? Mas se parar pra pensar deram foi o nome certo, porque