AliceDesvio meu olhar da direção daquele maldito sujeito. O sorriso nojento dele me causava náuseas, sem tirar o fato de que ele me lembrava o monstro do Filadélfio, não fisicamente, óbvio, até porque Salgom era um homem bem afeiçoado, com um porte atlético, muito bem vestido e, sem falar, uma aparência bonita que chamaria a atenção de qualquer mulher, menos eu. Porque eu sentia repulsa daquele homem, não só pelo que fez comigo, mas pela maneira grosseira como trata a própria filha.Inferno!Por que tenho que passar por tudo isso? Por que esse sujeito tinha que estar justamente hoje nesse restaurante?Droga!Preciso me livrar dessa enrascada, mas como fazer isso sem chamar a atenção das pessoas? Apesar de estarmos em um local público e, aqui, esse sujeito não poderia fazer nada contra mim. Estou em vantagem, e pode estar certa de que usarei isso a meu favor.Rapidamente, cumprimento Rubens com um aperto de mão e volto minha atenção para Sophia, que agarra meu pescoço e parece não que
PG---Depois daquela situação na casa da tia Olga, caí de cama legal, parceiro. Não me pergunte como essa porra aconteceu, mas o negócio ficou sinistro pro meu lado, e a mentira que eu criei pra descolar um beijo daquela marrenta da professorinha virou verdade. Isso que dá inventar merda: uma hora ou outra, tudo volta pra cima de nós — e bem pior. Se bem que eu sempre inventei e aprontei muita merda nessa vida e nunca me aconteceu porra nenhuma, mas com essa garota a parada é diferente. Desde que nossos caminhos se cruzaram, só tenho levado pedrada atrás de pedrada.Porra! O que essa mina tem pra me deixar assim feito um otário?Pareço um tonto e mais louco do que nunca depois daquele beijo. Nem preciso fechar os olhos para vê-la, porque, pra todo lado que eu olho, só vejo ela: com seu sorriso, aquela marra que me deixa louco e, sem falar, naquele corpo perfeito que me faz ficar em transe. Por mais que eu tente negar, essa garota mexeu pra caralho comigo desde o primeiro momento e co
---PGDepois daquele papo estranho com a tia Cremilda, não lembro de absolutamente nada. Simplesmente apaguei. Não sei o que aquela velha me deu, mas foi um sossega-leão daqueles, porque, quando consegui abrir os olhos, já passavam das duas da tarde. E, pra variar, a Cachinhos já chegou invadindo meu quarto, correndo e chorando sem parar.Eu já sabia que alguma merda a Patrícia tinha aprontado, porque toda vez que essa louca fica perto da Emilie é pra fazer mal à menina. Não sei o que rolou, mas, de uns dias pra cá, ela resolveu que tem uma filha e agora enfiou na cabeça que é uma mãe exemplar. Ainda se acha no direito de mandar e desmandar na garota. Não saquei ainda qual é a jogada dela, mas, se for o que estou imaginando, ela tá fodida. Se pensa que vou arregar e afrouxar as rédeas, tá muito enganada. Patrícia já fez muita covardia e colocou a Emilie em perigo várias vezes. Essa última, que aconteceu em Minas, foi a gota d’água pra minha paciência transbordar. Então é bom ela fica
---PGAlgumas horas depoisO tempo passou, e mais uma vez eu apaguei. Não posso continuar morgado desse jeito. Preciso reagir, ou muito rápido algum desgraçado pode me passar a perna. Daqui a alguns dias, tenho uma nova carga de armamento para chegar, e como vou recebê-la destruído desse jeito? Não tenho opção de escolha: é levantar ou levantar. Não posso deixar os negócios nas mãos do Nocaute. É muito trabalho e responsabilidade para uma pessoa só. Ele é meu homem de confiança, mas não se dá com o Jamal, nunca confiou nele. Sinceramente, depois do que ele fez tempos atrás, também tenho minhas desconfianças sobre a honestidade e fidelidade dele.Posso até estar errado, mas algo dentro de mim diz que o grande causador dessa tocaia para me aniquilar está mais próximo do que imagino. Enquanto não chegar ao filho da puta que me traiu, todos aqui no Morro da Fé são culpados. Mas isso eu vou resolver depois. Primeiro, preciso me recuperar, comer alguma coisa e voltar a ser gente mais uma
---PGDepois daquele papo com Jamal continuei de olho no celular afim de ter mais informações sobre aquele verme. Quando eu menos esperar esse desgraçado vai mostrar as unhas e vai me levar direto na boca do lobo, e aí sim, vai ser o fim dele e de todos que estiverem tentando me derrubar. Tô de volta à atividade, e agora vou aniquilar todos que armaram contra mim.O tempo passou, não tirei os olhos daquela tela, mas tudo o que consegui foi saber que Jamal estava entocado no barraco dele e não saiu de lá pra nada. Pelo visto a ficha caiu e o fodido se tocou que toda armação que fez contra mim já foi ou está prestes a ser descoberta. Eu preciso ficar na atividade com esse merda, do jeito que ele é rasteiro pode desaparecer da comunidade sem dá tempo de receber o castigo merecido. Com esse pensamento passo a mão no rádio que estava em cima do móvel, dou uma chamada no Nocaute e passo por alto a visão das coisas.— PG? O que houve, parceiro? Aconteceu alguma coisa contigo? — ele atende
---AliceSaímos como um foguete daquele restaurante, sem olhar para trás. Damares até tentou puxar conversa comigo durante todo o tempo, mas, do jeito que eu estava irritada com ela, se abrisse a boca seria unicamente para soltar todos os cachorros em cima dela. Então, compreendendo perfeitamente o que estava acontecendo, ela se calou e me deixou em paz, para que eu pudesse, enfim, colocar as ideias no lugar. Ainda por cima, havia o fato de que eu sentia que estávamos sendo seguidas, mas, ao olhar para todos os lados, não via nada — nenhum rosto conhecido, apenas carros e pessoas indo e vindo da praia. Obviamente, não revelei minhas suspeitas, porque, do jeito que ela é, faria um escândalo e tentaria me arrastar até uma delegacia para pedir proteção. Aí sim tudo desmoronaria de vez, e nossas vidas se transformariam em um verdadeiro inferno.Droga!Eu só tinha aceitado vir a esse lugar porque imaginei que, enfim, me divertiria um pouco e esqueceria dos meus problemas. Mas tudo o que c
--- Alice Enfim, chegamos ao Morro da Fé. E era essa palavra, fé, que ainda me mantinha de pé diante de tantas provações que enfrentei nos últimos meses. Enquanto subíamos a ladeira, olhares curiosos nos acompanhavam. Talvez pela roupa — ou melhor, pelos micro pedaços de pano que usávamos no corpo. Mas quem sabe nos observavam pelo que aconteceu entre Damares e o monstro do Jamal antes de irmos à praia. E por falar naquele louco, pelo visto ele percebeu o papel ridículo que estava fazendo e decidiu desaparecer. Graças a Deus. Até que enfim, um momento de paz em meio a tantas tribulações. — Alice, vamos passar na padaria? Tô cheia de fome. — A voz de Damares me tirou do transe. — Novidade. Você vive com fome. — Revirei os olhos. — Agora tô comendo por dois, esqueceu? — Damares falou baixo para que ninguém ouvisse a novidade sobre o bebê e passasse o telefone sem fio direto para aquele bicho do Jamal. — Quem esqueceu disso foi você, quando decidiu nos meter naquela encrenca. — Fui
---Alice— E aí, professora... Satisfação! — disse o homem me encarando, como se tivesse alguma intimidade comigo, com um sorriso carregado de ironia enquanto se aproximava.Maldição!Quando terei paz?— Satisfação? Santo Deus, era só o que me faltava para fechar o dia com chave de ouro — respondi quase num sussurro, enquanto passava a mão no cabelo, tentando parecer indiferente. Mas meu corpo inteiro estava em alerta. — Vem cá, eu te conheço? — questionei, e o sujeito apertou os olhos, abrindo um sorrisinho de canto, como se quisesse me intimidar.Damares, ao meu lado, apertava o copo vazio de suco como se fosse sua âncora. Mas eu sabia que ela estava tão apavorada quanto eu. Mal saímos de uma situação difícil, e a vida nos joga em outra ainda pior. Que sina, viu!— Geral do quadro te conhece... Tu é famosa nessa favela. Sabia disso, não? — Ele estreitou os olhos, me avaliando como um predador faz com a presa. — Mas, pra deixar as paradas nos conformes, eu me apresento: Renato... Vu