PG Com a decisão tomada, subo os degraus da escada e sigo direto para o meu quarto. Preciso tomar banho, trocar de roupa e relaxar um pouco antes de enlouquecer de vez. Dessa vez, Patrícia extrapolou, e, se não me afastar dela, sou capaz de estrangular aquela desgraçada. Minha cabeça está a mil por hora—chegada de armamento, fortalecimento das biqueiras, contabilidade—sem falar que já passou da hora de dar um fim no traidor do Jamal. Estou me descuidando dos negócios e das minhas responsabilidades. Sou o chefe, o cabeça, e, se continuar do jeito que está, é mais do que certo que minha queda chegue antes que eu consiga revidar. Nocaute passou a visão de que viram Jamal outra vez rondando a área do Salgom. Pois é, esse pela-saco teve a ousadia de me trair e entregar minha cabeça para aquele miliciano de merda. Mas isso não vai ficar assim. Essa semana mesmo, dou um ponto final nessa situação. Já pronto, vou até o quarto da Cachinhos. Meu peito aperta ao vê-la deitada no colo de Noca
PG Falta pouco mais de meia hora para deixar Emilie e Alice na creche. Então levo as duas para tomar café da manhã na tia Célia. À noite, lá é o fervo, mas durante o dia é tranquilo, só tem família e trabalhador passando antes de pegar no batente. — O que vai querer hoje, PG? — Tia Célia se aproxima, segurando um bloquinho de anotações e uma caneta. Antes que eu abra a boca, Emilie toma a frente da situação. — Pra mim, queijo quente, suco de laranja e frutinha com iogurte de morango e cereal. Automaticamente, Alice e eu encaramos ela, que já responde na ponta da língua: — Que foi? Tô em fase de crescimento. Tia Alice fala isso todo dia na creche. — Emilie dá de ombros, cruza as pernas e faz pose, se achando a dona do pedaço. Geral segura o riso ao ouvir aquilo. — E você, princesa, o que vai querer? — pergunto, segurando a mão de Alice. Tia Célia observa a cena e solta um suspiro. Pelo visto, geral aqui tá ciente do nosso lance e tem uma certa desconfiança se isso vai dar certo
Alguns dias depois...AliceO tempo passa rápido demais. Parece que foi ontem que perdi minha mãe e descobri a possibilidade de ser filha de um médico conceituado. Agora, estou a poucos dias de confirmar se Filipe Belmonte é ou não meu pai biológico.PG e eu estamos mais firmes e apaixonados do que nunca. Todos os dias, ele me leva e me busca no trabalho. Mesmo dizendo que não há necessidade, ele bate o pé e insiste que é pela minha segurança e pela da Emilie. Mas eu sei que, por trás da preocupação, há algo maior. Para evitar discussões constantes, prefiro me calar e aceitar a carona.Desde a noite em que Joel esteve na casa da dona Olga e descobriu sobre meu namoro com PG, ele desapareceu. Soube que pediu transferência para uma creche no interior do estado, e até agora não conversamos. É uma pena, porque o amo como um irmão, e sua ausência me entristece. Mas essa foi sua decisão, e quem sou eu para questionar? Só desejo que, algum dia, ele volte e possamos zerar tudo, e que, em seu
Alice Dias Depois... As coisas não poderiam estar melhores. Graças a Deus, tudo está dando certo, e eu não poderia estar mais feliz. Após aquele jantar, fomos caminhar um pouco no calçadão. Ficamos sentados de frente para o mar, conversando, fazendo planos e descobrindo um ao outro. PG e eu estamos cada vez mais grudados. Ainda me pego lembrando daquela noite em que oficialmente nos tornamos namorados. Vejo a aliança no meu dedo anelar direito e sorrio feito uma boba. É inacreditável como um homem tão difícil de lidar como PG consegue, ao mesmo tempo, ser tão irresistível. A cada dia, conheço ainda mais seu lado romântico, divertido e família. E tudo isso só serve para uma coisa: amá-lo cada vez mais. — Alice! Já está pronta? — Volto a mim com a voz de Damares dentro do quarto. — Tô quase. Só falta colocar um pouco de perfume — falo, borrifando no pescoço o perfume maravilhoso que ganhei do PG, junto com um celular que, segundo ele, é mil vezes melhor do que o que ganhei do Joel
AliceTodos os olhares se voltam para mim. Permaneço encarando aquele papel que muda meu destino no exato momento em que descubro o que está escrito nele. Um turbilhão de emoções ecoa dentro de mim, e não sei se sorrio ou choro. Minha ficha ainda não cai, e processar toda essa informação de uma só vez é difícil.Meu coração dispara. Minhas mãos tremem. A única reação que consigo ter é correr para os braços de Filipe e abraçá-lo. Sem conseguir controlar a emoção, lágrimas brotam dos meus olhos. Ainda não acredito que isso está acontecendo. É surreal o que está escrito nessa folha de papel.Durante toda a minha vida, tentei compreender algumas coisas e por que certas situações aconteceram justamente comigo. Agora, com o resultado desse exame nas mãos, sei que tudo o que passei foi para receber algo maior hoje: uma família.Fico ali, afundada no abraço de Filipe, sentindo o calor do corpo dele contra o meu. É como se, pela primeira vez, eu estivesse em casa. Meu peito sobe e desce descon
Alice O abraço de Emilie aperta meu peito de um jeito que nenhuma palavra consegue descrever. Sinto o soluço dela contra meu ombro, seu corpinho tremendo, o desespero silencioso de uma criança que carrega dores grandes demais para sua idade. Meu olhar encontra o de Filipe. Ele entende. Todos ali entendem. Mas ninguém sabe o que dizer. — Você não está sozinha, meu amor — sussurro, deslizando a mão pelos seus cachinhos castanhos. Ela não responde. Apenas esconde o rosto em mim, como se fugir do mundo fosse possível ali, nos meus braços. PG se inclina sobre a mesa, encarando Emilie com aquela expressão séria, mas carregada de cuidado. — Cachinhos, quem te disse que seu pai te abandonou porque não te ama? Ela balança a cabeça. — Ninguém. Mas se ele me amasse, ele estaria aqui, né? — sua voz sai embargada. Silêncio. Um silêncio cruel. Daqueles que fazem os segundos parecerem horas. Olho para meu pai. Ele engole em seco, claramente afetado pelas palavras de Emilie. — Nem sempre é
AliceA noite chega, e junto com ela, minha ansiedade cresce de forma avassaladora. Diante do espelho, admiro o vestido que ganhei do meu pai. Ele se ajusta perfeitamente ao meu corpo. Um sorriso brota em meu rosto. Depois de tantas lutas, finalmente tenho um momento de paz. A única coisa que me entristece um pouco é a ausência de Joel. Ele sempre esteve ao meu lado nos momentos difíceis, mas agora, justamente quando tudo parece bem, ele não está aqui.Minha vida sempre foi guiada pela fé, e é por ela que continuo trilhando o caminho que, certamente, Deus preparou para mim.Estou sentada na borda da cama, calçando minhas sandálias plataforma, quando Emilie empurra a porta abruptamente e invade meu quarto.— Tia... Tia... — diz ela, ofegante, com Patrícia logo atrás.— Emilie! Não diga nada! — Patrícia a adverte.Emilie se joga na cama e, com um sorriso sapeca, me encara.— O que houve dessa vez? — pergunto.— Nada, Alice. É só a Emilie e essa língua grande dela. — Patrícia resmunga, e
AliceTrês Meses DepoisDepois de aceitar aquele pedido maravilhoso e inesquecível do PG, minha vida dá um giro de 360°. Jamais imagino encontrar um homem como ele, muito menos me apaixonar, noivar e casar.Tudo se encaixa no seu devido lugar. Damares e Nocaute são um casal de verdade. Enfim, assumem publicamente que são loucos um pelo outro. É surreal como se entendem e resolvem tudo com tanta facilidade. Já moram juntos na casa do Nocaute, que assume o bebê como se fosse o verdadeiro pai. Fico muito feliz por eles. Depois de tantas lutas e decepções com as pessoas erradas, enfim, encontram o encaixe perfeito.Jamal desaparece do morro, mas isso só acontece depois de Damares implorar para que não matem o pai biológico do filho dela. Óbvio que Nocaute surta, mas depois entende os motivos dela. Damares não quer ser cúmplice da morte de Jamal e depois ser culpada eternamente pelo próprio filho. E, graças a Deus, até hoje aquele monstro não dá as caras por aqui.Patrícia volta para a cas