PGChego em casa soltando fogo pelas ventas, com um ódio tão grande que seria capaz de matar o primeiro imbecil que surgisse no meu caminho. Patrícia sempre foi a pedra no meu sapato, mas hoje ela extrapola.Ainda segurando o braço dela, invado a sala, e antes que eu faça alguma merda da qual vá me arrepender depois, jogo-a com força no sofá reclinável de três lugares. Patrícia me encara afrontosa. Seu olhar está diferente, como se tivesse sido fortalecida por alguém, mas não diz uma única palavra. Estranho. Alguma coisa acontece para ela estar agindo desse jeito. Bebida não é, até porque ela tá zerada, e nenhum comerciante vai fortalecer alguma coisa sem o meu aval. Tem merda aí, e eu vou descobrir.Com as mãos cruzadas acima da cabeça, caminho de um lado para o outro, nervoso. Não é a primeira vez que Patrícia me tira do sério, mas desta vez ela vai longe demais ao meter a Alice no meio dessa porra toda — justamente a mulher por quem estou vidrado e que sempre nos fortaleceu.Sei qu
PG Com a decisão tomada, subo os degraus da escada e sigo direto para o meu quarto. Preciso tomar banho, trocar de roupa e relaxar um pouco antes de enlouquecer de vez. Dessa vez, Patrícia extrapolou, e, se não me afastar dela, sou capaz de estrangular aquela desgraçada. Minha cabeça está a mil por hora—chegada de armamento, fortalecimento das biqueiras, contabilidade—sem falar que já passou da hora de dar um fim no traidor do Jamal. Estou me descuidando dos negócios e das minhas responsabilidades. Sou o chefe, o cabeça, e, se continuar do jeito que está, é mais do que certo que minha queda chegue antes que eu consiga revidar. Nocaute passou a visão de que viram Jamal outra vez rondando a área do Salgom. Pois é, esse pela-saco teve a ousadia de me trair e entregar minha cabeça para aquele miliciano de merda. Mas isso não vai ficar assim. Essa semana mesmo, dou um ponto final nessa situação. Já pronto, vou até o quarto da Cachinhos. Meu peito aperta ao vê-la deitada no colo de Noca
Alguns dias depois...AliceO tempo passa rápido demais. Parece que foi ontem que perdi minha mãe e descobri a possibilidade de ser filha de um médico conceituado. Agora, estou a poucos dias de confirmar se Filipe Belmonte é ou não meu pai biológico.PG e eu estamos mais firmes e apaixonados do que nunca. Todos os dias, ele me leva e me busca no trabalho. Mesmo dizendo que não há necessidade, ele bate o pé e insiste que é pela minha segurança e pela da Emilie. Mas eu sei que, por trás da preocupação, há algo maior. Para evitar discussões constantes, prefiro me calar e aceitar a carona.Desde a noite em que Joel esteve na casa da dona Olga e descobriu sobre meu namoro com PG, ele desapareceu. Soube que pediu transferência para uma creche no interior do estado, e até agora não conversamos. É uma pena, porque o amo como um irmão, e sua ausência me entristece. Mas essa foi sua decisão, e quem sou eu para questionar? Só desejo que, algum dia, ele volte e possamos zerar tudo, e que, em seu
Itabirito | Minas Gerais | BrasilFevereiro/2023Na rádio 97.3 FM"Resista as artimanhas do inimigo e ele fugirá de vós. O tempo da tua liberdade está chegando. Aquieta a tua alma que estou tomando providência e dando ordem aos meus anjos para te libertar desse cárcere que tens vivido por esses longos anos. Eu Sou contigo e quando falo Basta é porque assim será. Mas prevaleça na tua fé e mesmo quando sentires que estás no deserto, e que estás sozinha, não acredite, pois essa já não é a minha voz e sim daquele que já perdeu o direito a salvação e tenta a todo custo fazer o mesmo com os meus escolhidos nessa Terra. Tu és a minha escolhida, então fique em paz, tu és a menina dos meus olhos e a tua coroa ninguém vai conseguir tirar. O tempo da colheita chegou e já estou a caminho para te dar o teu galardão. Mesmo que pareca estar nas trevas, contudo, o brilho do Sol tornará a clarear na tua vida. Somente creia filha minha e assim não perecereis."O locutor fala: — Que Deus vos abençoe nes
PAULO GUERRA "PG"Chego soltando fogo pelas ventas. Odeio ter que sair pra fazer cobrança e menos ainda quando alguém me liga enchendo a minha paciência que já não existe. É uma porra mesmo ter que ser responsável e babá de uma irmã doida como a Patricia Guerra. Mas o que posso fazer se desde que saímos daquele orfanato eu tive que suprir a missão e o papel de homem da casa? Patricia sempre foi uma sequelada do caralho# e pra piorar me arranjou um filho ou melhor filha, de um mauricinho noiado dos infernos. Porra#! Se não fosse pela minha sobrinha, que tenho o maior apego, eu já tinha dado um fim nesse play dos infernos. Mas sei na pele o que é crescer sem saber quem é o nosso pai e te falo que a sensação é ruim pra caralho#.Me chamo Paulo Guerra, tenho vinte e sete anos, sou chefe do movimento no morro da Fé, uma das comunidades do Complexo da Penha que fica na Zona Norte do Rio de Janeiro. Nome estranho para uma favela, né!? Mas se parar pra pensar deram foi o nome certo, porque
AliceAs horas passaram rápido, a noite chegou e nada do meu pai voltar. Estou morrendo de fome, o único alimento que coloquei na boca foi um pão velho com água quente da torneira, que além de tá duro feito uma pedra ainda tinha um pouco de mofo em volta. E isso foi ontem, as quatro horas da madrugada, quando meu pai chegou caindo de bêbado e me chutando para eu acordar. Eu imaginava que nada poderia ser pior do que ele fazia comigo durante todo esse tempo, mas bastou ele abrir a boca para eu perceber que o pior ainda estava por vir.Algumas horas atrás...— Acorda! Acorda logo garota! — meu pai dá vários chutes nas minhas pernas, me fazendo acordar e gemer de dor — Ai! Ai! O que foi pai? — respondo já de pé e me afastando dele— O que foi pai? O que foi? — ele fala embolado, mas cheio de ironia — Eu lá sou pai de um bicho como você? Anda, levanta logo sua merda e vá colocar a minha comida. — ele grita e se afasta sentando em uma cadeira velha que tinha no canto da cozinha perto da p
AliceMe levanto com dificuldade, meu corpo doia muito e minha cabeça estava a ponto de explodir. Abro e fecho os olhos várias vezes na tentativa de enxergar. Lágrimas continuam brotando em meus olhos quando lembro de tudo o que me disse na noite passada. Ainda não conseguia acreditar em nada daquilo.Como assim, minha mãe o traiu? Como eu não posso ser filha dele?Afinal, quem é o meu verdadeiro pai?Dúvidas e perguntas não paravam de surgir na minha cabeça. Mas eu sabia que não teria respostas e o pior foi lembrar que esse velho monstruoso assassinou a minha própria mãe. Não é possível que eu tenha que passar por tudo isso em vão, Deus nunca me desamparou e sempre fez promessas em minha vida. Será que tudo não passava de coisa da minha cabeça?Continuo varrendo cada canto daquele lugar que agora se tornou o meu cativeiro, o meu cárcere e só hoje compreendo o motivo. Ele me odeia por eu ser fruto de uma traição e segundo ele, o senhor Filafelpio, esse mal deve ser cortado pela raiz
PGCheguei no hospital e fui ligeiro buscar informação da minha sobrinha. Tinha uma coroa toda nojenta atrás de um balcão e estava no telefone falando sei lá com quem. Com a educação que nunca existiu dentro de mim pergunto pela cachinhos, mas a porra# da coroa queria era dificultar as paradas e devia me achar com cara de relógio pra aguardar o tempo dela bater o ponto pra querer olhar pra nós. Outra vez tento contato, mas a porra# estava difícil pra caralho, até parecia fila do INSS. Apoiei as mãos no balcão, baixo à cabeça, conto até três e quando levanto dei um murro naquela merda de tábua branca que era mais encardida do que as parede do barraco da boca. A coroa se estremeceu inteira e até consigo afirmar que ela se mijou todinha com o susto, mas ficou ainda pior quando puxei o telefone da mão dela e falei com a sequelada do outro lado da linha, que depois eu descobri que era a vizinha da filha dela que queria receita de bolo e saber qual era a boa da novela das dez. Puta# que pa