PGChego em casa soltando fogo pelas ventas, com um ódio tão grande que seria capaz de matar o primeiro imbecil que surgisse no meu caminho. Patrícia sempre foi a pedra no meu sapato, mas hoje ela extrapola.Ainda segurando o braço dela, invado a sala, e antes que eu faça alguma merda da qual vá me arrepender depois, jogo-a com força no sofá reclinável de três lugares. Patrícia me encara afrontosa. Seu olhar está diferente, como se tivesse sido fortalecida por alguém, mas não diz uma única palavra. Estranho. Alguma coisa acontece para ela estar agindo desse jeito. Bebida não é, até porque ela tá zerada, e nenhum comerciante vai fortalecer alguma coisa sem o meu aval. Tem merda aí, e eu vou descobrir.Com as mãos cruzadas acima da cabeça, caminho de um lado para o outro, nervoso. Não é a primeira vez que Patrícia me tira do sério, mas desta vez ela vai longe demais ao meter a Alice no meio dessa porra toda — justamente a mulher por quem estou vidrado e que sempre nos fortaleceu.Sei qu
PG Com a decisão tomada, subo os degraus da escada e sigo direto para o meu quarto. Preciso tomar banho, trocar de roupa e relaxar um pouco antes de enlouquecer de vez. Dessa vez, Patrícia extrapolou, e, se não me afastar dela, sou capaz de estrangular aquela desgraçada. Minha cabeça está a mil por hora—chegada de armamento, fortalecimento das biqueiras, contabilidade—sem falar que já passou da hora de dar um fim no traidor do Jamal. Estou me descuidando dos negócios e das minhas responsabilidades. Sou o chefe, o cabeça, e, se continuar do jeito que está, é mais do que certo que minha queda chegue antes que eu consiga revidar. Nocaute passou a visão de que viram Jamal outra vez rondando a área do Salgom. Pois é, esse pela-saco teve a ousadia de me trair e entregar minha cabeça para aquele miliciano de merda. Mas isso não vai ficar assim. Essa semana mesmo, dou um ponto final nessa situação. Já pronto, vou até o quarto da Cachinhos. Meu peito aperta ao vê-la deitada no colo de Noca
PG Falta pouco mais de meia hora para deixar Emilie e Alice na creche. Então levo as duas para tomar café da manhã na tia Célia. À noite, lá é o fervo, mas durante o dia é tranquilo, só tem família e trabalhador passando antes de pegar no batente. — O que vai querer hoje, PG? — Tia Célia se aproxima, segurando um bloquinho de anotações e uma caneta. Antes que eu abra a boca, Emilie toma a frente da situação. — Pra mim, queijo quente, suco de laranja e frutinha com iogurte de morango e cereal. Automaticamente, Alice e eu encaramos ela, que já responde na ponta da língua: — Que foi? Tô em fase de crescimento. Tia Alice fala isso todo dia na creche. — Emilie dá de ombros, cruza as pernas e faz pose, se achando a dona do pedaço. Geral segura o riso ao ouvir aquilo. — E você, princesa, o que vai querer? — pergunto, segurando a mão de Alice. Tia Célia observa a cena e solta um suspiro. Pelo visto, geral aqui tá ciente do nosso lance e tem uma certa desconfiança se isso vai dar certo
Alguns dias depois...AliceO tempo passa rápido demais. Parece que foi ontem que perdi minha mãe e descobri a possibilidade de ser filha de um médico conceituado. Agora, estou a poucos dias de confirmar se Filipe Belmonte é ou não meu pai biológico.PG e eu estamos mais firmes e apaixonados do que nunca. Todos os dias, ele me leva e me busca no trabalho. Mesmo dizendo que não há necessidade, ele bate o pé e insiste que é pela minha segurança e pela da Emilie. Mas eu sei que, por trás da preocupação, há algo maior. Para evitar discussões constantes, prefiro me calar e aceitar a carona.Desde a noite em que Joel esteve na casa da dona Olga e descobriu sobre meu namoro com PG, ele desapareceu. Soube que pediu transferência para uma creche no interior do estado, e até agora não conversamos. É uma pena, porque o amo como um irmão, e sua ausência me entristece. Mas essa foi sua decisão, e quem sou eu para questionar? Só desejo que, algum dia, ele volte e possamos zerar tudo, e que, em seu
Alice Dias Depois... As coisas não poderiam estar melhores. Graças a Deus, tudo está dando certo, e eu não poderia estar mais feliz. Após aquele jantar, fomos caminhar um pouco no calçadão. Ficamos sentados de frente para o mar, conversando, fazendo planos e descobrindo um ao outro. PG e eu estamos cada vez mais grudados. Ainda me pego lembrando daquela noite em que oficialmente nos tornamos namorados. Vejo a aliança no meu dedo anelar direito e sorrio feito uma boba. É inacreditável como um homem tão difícil de lidar como PG consegue, ao mesmo tempo, ser tão irresistível. A cada dia, conheço ainda mais seu lado romântico, divertido e família. E tudo isso só serve para uma coisa: amá-lo cada vez mais. — Alice! Já está pronta? — Volto a mim com a voz de Damares dentro do quarto. — Tô quase. Só falta colocar um pouco de perfume — falo, borrifando no pescoço o perfume maravilhoso que ganhei do PG, junto com um celular que, segundo ele, é mil vezes melhor do que o que ganhei do Joel
AliceTodos os olhares se voltam para mim. Permaneço encarando aquele papel que muda meu destino no exato momento em que descubro o que está escrito nele. Um turbilhão de emoções ecoa dentro de mim, e não sei se sorrio ou choro. Minha ficha ainda não cai, e processar toda essa informação de uma só vez é difícil.Meu coração dispara. Minhas mãos tremem. A única reação que consigo ter é correr para os braços de Filipe e abraçá-lo. Sem conseguir controlar a emoção, lágrimas brotam dos meus olhos. Ainda não acredito que isso está acontecendo. É surreal o que está escrito nessa folha de papel.Durante toda a minha vida, tentei compreender algumas coisas e por que certas situações aconteceram justamente comigo. Agora, com o resultado desse exame nas mãos, sei que tudo o que passei foi para receber algo maior hoje: uma família.Fico ali, afundada no abraço de Filipe, sentindo o calor do corpo dele contra o meu. É como se, pela primeira vez, eu estivesse em casa. Meu peito sobe e desce descon
Alice O abraço de Emilie aperta meu peito de um jeito que nenhuma palavra consegue descrever. Sinto o soluço dela contra meu ombro, seu corpinho tremendo, o desespero silencioso de uma criança que carrega dores grandes demais para sua idade. Meu olhar encontra o de Filipe. Ele entende. Todos ali entendem. Mas ninguém sabe o que dizer. — Você não está sozinha, meu amor — sussurro, deslizando a mão pelos seus cachinhos castanhos. Ela não responde. Apenas esconde o rosto em mim, como se fugir do mundo fosse possível ali, nos meus braços. PG se inclina sobre a mesa, encarando Emilie com aquela expressão séria, mas carregada de cuidado. — Cachinhos, quem te disse que seu pai te abandonou porque não te ama? Ela balança a cabeça. — Ninguém. Mas se ele me amasse, ele estaria aqui, né? — sua voz sai embargada. Silêncio. Um silêncio cruel. Daqueles que fazem os segundos parecerem horas. Olho para meu pai. Ele engole em seco, claramente afetado pelas palavras de Emilie. — Nem sempre é
AliceA noite chega, e junto com ela, minha ansiedade cresce de forma avassaladora. Diante do espelho, admiro o vestido que ganhei do meu pai. Ele se ajusta perfeitamente ao meu corpo. Um sorriso brota em meu rosto. Depois de tantas lutas, finalmente tenho um momento de paz. A única coisa que me entristece um pouco é a ausência de Joel. Ele sempre esteve ao meu lado nos momentos difíceis, mas agora, justamente quando tudo parece bem, ele não está aqui.Minha vida sempre foi guiada pela fé, e é por ela que continuo trilhando o caminho que, certamente, Deus preparou para mim.Estou sentada na borda da cama, calçando minhas sandálias plataforma, quando Emilie empurra a porta abruptamente e invade meu quarto.— Tia... Tia... — diz ela, ofegante, com Patrícia logo atrás.— Emilie! Não diga nada! — Patrícia a adverte.Emilie se joga na cama e, com um sorriso sapeca, me encara.— O que houve dessa vez? — pergunto.— Nada, Alice. É só a Emilie e essa língua grande dela. — Patrícia resmunga, e