AliceO corredor estreito parece se fechar ao meu redor conforme seguimos a enfermeira. Meus pés se movem rápido, mas minha mente já está um passo à frente, imaginando mil cenários, nenhum deles bom.Dona Olga não pode... Não agora.PG permanece ao meu lado, silencioso. Seguro sua mão com mais força, e ele percebe meu temor. É como se conseguisse ouvir meus pensamentos.— Fique tranquila. Estarei sempre com você em todos os momentos. Enquanto eu respirar, te protegerei. Lembra? — Sua voz firme e confiante nos meus ouvidos me faz sentir protegida. Mas não impede que um resquício de medo tente invadir meu coração. O medo da perda. Isso é incontrolável. Sufocante. Já senti isso uma vez, e ainda dói. Não quero sentir essa dor novamente. Não quero.Seguro firme no braço de PG e sussurro:— Eu sei que posso confiar em você. Mas eu... — Minha voz embarga.PG para no meio do corredor. De frente para mim, segura meu queixo e, com uma certeza gigantesca, fala:— Você tem medo. Eu sei. Eu também
Alice Bastou ouvir o nome de Filipe para que, como num passe de mágica, a enfermeira mudasse de humor e começasse a facilitar as coisas. Ao meu pedido, PG segura a onda e fica do lado de fora. Ele aproveita para resolver o assunto da assinatura. Óbvio que ele não sairia do meu lado, então liga para Nocaute, pedindo para ele ir buscar Filipe lá em casa e avisar Damares sobre o que está acontecendo. Enquanto isso, peço à enfermeira que me leve até onde dona Olga está, e, óbvio, toda solícita, ela concorda de imediato. Então, sigo até a ala vermelha, mas antes me despeço de PG com um breve beijo e acompanho a enfermeira. Já diante da porta, sinto um tremor no corpo, e as recordações dos momentos difíceis ao lado da minha mãe ressurgem com força dentro da minha cabeça. Respiro fundo e volto minha atenção para a enfermeira, que diz: — Pode ficar com ela por uns vinte minutos. Tente falar o menos possível para evitar que a paciente se emocione e o quadro de saúde dela se agrave. As
PGConhecer Alice é a melhor coisa que acontece nessa vida de merda e erros que levo há anos. Apesar do jeito difícil como tudo aconteceu, ela, com toda certeza, sempre será a melhor parte da minha história. Afinal, nem todas as histórias de amor acontecem de forma fácil ou convencional. Algumas surgem no pior momento, naquele menos provável, e se tornam o maior presente de nossas vidas. E é isso que minha garota significa para mim: um presente, minha tábua de salvação, capaz de me resgatar do mundo sombrio e do inferno em que vivo há tanto tempo.Ao ingressar no tráfico, nesse mundo paralelo e muitas vezes sem volta, tenho tudo o que o dinheiro sujo pode comprar. Carros velozes, as melhores roupas, perfumes importados, joias, mulheres, bebidas caras e até o melhor pó que se pode imaginar. Mas tudo isso serve pra quê? Apenas para me tornar um ser insaciável e, ao mesmo tempo, vazio, seco de sentimentos e compaixão. A única mudança razoável que acontece comigo é o nascimento da minha s
Algumas horas depois Alice Depois daquela visita, dona Olga tem uma leve alteração na pressão. Mas, graças a Deus, tudo se normaliza. Ela é transferida para um hospital particular, onde fazem todos os exames necessários para avaliar seu verdadeiro estado de saúde. Filipe cuida de tudo e, como sempre, é prestativo e gentil com todos nós. Agora estou na lanchonete do hospital com Damares, enquanto PG e Filipe conversam do lado de fora. Estou nervosa. Sei que PG compreendeu que tudo não passou de um mal-entendido e que Filipe não era nada daquilo que ele imaginava. Mas nunca se sabe o que pode acontecer, ainda mais com um homem tão explosivo e imprevisível como PG. — Você não acha que eles estão demorando muito para voltar? — pergunto, apreensiva. — Eles saíram daqui há menos de cinco minutos. Não acha que é pouco tempo para pôr o papo em dia? — Damares responde, mastigando um pedaço do seu segundo sanduíche natural. — E você, não acha que está comendo rápido demais? Isso pode fa
Alice— Segura essa bomba, amiga. — Damares fala baixo e se afasta em direção à cozinha.— Joel? Que surpresa! — falo, olhando para a porta onde ele está, mas logo desvio para PG ao meu lado, que trinca o maxilar e aperta o punho.Era só o que me faltava: uma guerra justamente agora. Ainda bem que as visitas já foram embora e dona Olga subiu para descansar em seu quarto. O único inconveniente é que Filipe não está aqui, porque, caso aconteça uma confusão, ele é o único capaz de apaziguar.Socorro, Deus!— Oi, Lice! Estou ligando para você desde ontem, mas só cai na caixa postal, e como você não foi trabalhar hoje, fiquei preocupado e decidi aparecer. — Joel fala, e sinto a proximidade de PG, que segura minha cintura como uma fera marcando território.— É que... — hesito, olhando para PG, que parece um iceberg, tão frio e silencioso. — Aconteceu uma série de problemas depois que nos despedimos, e um deles foi com o celular que você me deu... Ele desapareceu. — falo sem jeito, e de repe
Alice Com os olhos marejados e o coração batendo a mil por hora, com toda a verdade que existe dentro de mim, encaro PG e digo: — Eu não sei como te ensinar algo que sinto pela primeira vez na vida. — Dou uma pausa, tentando segurar a emoção que transborda dentro de mim. — Mas, se quiser, podemos aprender juntos. PG não diz nada. Apenas fica de pé, segura minha mão e me puxa para mais perto. Seu olhar brilha, intenso e profundo, tão diferente do dia em que nos conhecemos. Naquele dia, seus olhos estavam sombrios, vazios e perdidos. Agora, estamos ambos emocionados. Esperamos tanto, e agora, inacreditavelmente, estamos aqui, silenciosos, dizendo o que sentimos sem precisar de uma única palavra. Não há como negar: assim como dona Olga disse, estamos destinados um ao outro. Já passamos por tantas coisas para estarmos juntos, e parece que tudo isso serviu unicamente para nos fortalecer e blindar nosso amor. "Meu Deus, como eu o amo." Agora, com nossos corpos colados e os olhos
PGA ficha ainda não cai, e até agora estou tentando acreditar que Alice me aceita na vida dela. Nestes trinta anos de vida, nunca me sinto tão vivo como hoje. Agora, sinto que tenho um coração dentro do peito que bate numa frequência louca sempre que minha garota está ao meu lado. Ela, com sua pureza, inocência e garra, faz renascer dentro de mim uma vontade monstruosa de viver e conquistar o que chamam por aí de verdadeira felicidade. Com Alice ao meu lado, sinto-me livre, mesmo inconscientemente sabendo que minha vida continua presa no erro do tráfico. A certeza de que preciso ser um homem melhor e mudar para ser merecedor do seu amor queima meu peito. E o pior é que tenho certeza de que conseguir essa mudança significa trilhar um caminho difícil e, principalmente, destruir os demônios que existem dentro de mim.Enfim... Meu objetivo é tornar Alice a mulher mais feliz deste mundo, mas para isso, uma grande transformação precisa acontecer primeiro dentro de mim.Fico pensando em tud
PG Geral fica sem saber o que dizer até ouvir Patrícia abrir a boca e soltar uma das merdas dela. — Eu te disse que era melhor pedir nosso lanche pelo aplicativo, Emilie. Assim, não veríamos essa cena ridícula. — Patrícia fala, e eu já estou levantando quando Alice segura meu braço, me impedindo. — Por favor, se acalma. A Emilie está aqui. — Alice diz baixo, próximo ao meu ouvido. — Essa sequelada dos infernos encheu a cabeça da garota. Olha como a Emilie tá olhando pra gente. — Falo, e Alice abre um sorriso para Emilie, que continua do mesmo jeito. — Oi, minha princesa! Não vai dar um abraço na tia? — Alice sorri, de braços abertos. — Não sou tua princesa, e você não é mais minha tia preferida. Eu não gosto de gente mentirosa. — Emilie fala com raiva, e sua voz sai embargada. — Meu Deus! Por que ela te tratou assim, amiga? — Damares pergunta, tão confusa quanto todos nós, e vejo Alice paralisada. — Amor... tá tudo bem? — Pergunto, preocupado. — É que... eu não sei o que fiz