3

Jurava que seu pai não tinha tanta coisa, mas depois que encher o quarto com caixas lotadas de roupa e outras coisas, teve que mudar de ideia. O cheiro peculiar de alecrim de seu pai era inconfundível, o quarto estava dominado. Já era quase dez horas da manhã, não havia ido trabalhar já que se encontrava de luto pelo falecimento do patriarca. Mesmo que viver fosse necessário, Dafne não queria. Algo a instigava a se deitar no chão em meio a tantas roupas, fotos e chorar lembrando de cada uma das lições que seu pai sempre havia passado com maestria. Abandonado por sua mãe logo após o nascimento de Elain, Blake criou as duas da melhor forma que pode, tendo ajudado a mais velha a se formar em Filosofia enquanto Elain só o dava desgosto depois de ter largado o ensino médio assim que descobriram a doença de seu pai.

Nunca houve visto o pai se beneficiário de algo errado, ao contrário sempre o via batalhando duro para dar as filhas, o pouco que pode e o pouco que para Dafne sempre fora muito. Seu pai não merecia. Depois que se invalidou pela doença agressiva, ela tivera de trabalhar duro para que pudesse de alguma forma ajudar o pai. Não vivera desde então. Terminou a faculdade tendo que arrumar o primeiro emprego que visse pela frente para tratar do pai infermo.

Seu telefone tocou, específico, tão impaciente.

- Menina de ouro, como vai? Você desapareceu! - Era Alex, seu patrão, dono da lanchonete em que trabalhava. - Meus pêsames pelo seu pai.

Ela se deitou no chão fechando os olhos enquanto algumas lágrimas caiam.

- Estou tentando superar, mas vai tudo ficar bem - Exclamou fanha, com as vias aéreas obstruídas.

Aelx tinha uma personalidade difícil de lidar, picos de humor e regras cheias de dificuldade para serem seguidas, para uma pena que na vaga que adicionou para eles não continha essas descrições pois havia pensado duas vezes na hora de aceitar. Se bem que servido servido para algo quando seu pai se tornou enfermo.

- Queria que viesse trazer seu uniforme - Ele tossiu azedo - Estamos substituindo você.

Ela se aproxima de supetão, em um tremendo susto.

- Demissão? Como assim? - Disse assustada.

- Pois é gatinha, você sumiu então tiva que por outra em seu lugar.

Quando achava já estar no fundo do poço, a vida mostrava que o fim era ainda mais abaixo.

- Meu pai morreu. Eu liguei para avisar, Alex. Eu fui um único familiar responsável para poder enterrá-lo.

Ele riu do outro lado da linha.

Babaca.

- Qual é gata? Quem morreu foi seu pai e não você - Ele exclamou mais uma vez enquanto tossia um pouco - A pessoa com quem você falou também já não trabalha mais aqui.

- Por favor ... - murmurou - eu preciso desse emprego - Ela suplicava - Eu faço hora extra para compensar.

- Vem tirar suas coisas amanhã, todos estão sendo obrigados a sentir esse cheiro de perfume barato que tá saindo do seu armário, Isso está empesteando meu corredor. Minha cozinha está com cheiro de álcool doce, então te espero aqui amanhã ... aliás, meus pêsames - e desligou sem tornar possível uma contestação mínima.

Não tinha nem sequer terminado de pagar o enterro de seu pai. Havia usado sua reserva financeira para pagar também o hospital na qual a dívida ainda era alta, mesmo que viesse pagando uma quantia todo mês. A solução seria voltar a entregar currículos e rezar para que arrumasse algo, nem que fosse auxiliar de serviços gerais, necessária de grana.

A luz fraca de seu telefone tornou a chamar sua atenção enquanto vibrava.

"Ei, está por ai? Posso te ligar?"

Ela respondeu positivamente.

Entretanto, havia uma única chamada perdida, era a escolinha de música onde era professora de piano aos sábados, um trabalho voluntário encantador que fazia com crianças que aguardavam um lar adotivo e podia se divertir enquanto aprendia algo. Mas fora forçada a se afastar quando Blake adoeceu, mesmo que muitos vissem aquilo como válvula de escape, Dafne ainda não estava bem o suficiente para conversar com outras pessoas e ouvi-las desejando os pêsames a cada cinco minutos, seria na verdade aterrorizante.

Atendeu ao telefone.

- Oi ... - Ela atendeu, o Cassiel sabia que ela estava na pior, afinal, havia perdido o pai. Estranho seria se ela estivesse feliz.

- Me perdoa por não ter ido no velório do seu pa, daf , fui resolver uma situação séria e a mãe de um amigo foi hospitalizada e acabei me atrasando - Se explicou. ele, era um amigo que havia conhecido na faculdade enquanto cursava filosofia, Cassiel Nova fazer sua pós-administração, nutriu um amor por ele no início, para depois concluir que era apenas um carinho fraternal. - Como você está? E Elian-

- O mundo parece estar desmoronando, Cas . E Elain..ela estava alucinada em algum canto e me lá lá sozinha - Sussurrou para que a mesma não ouvisse caso existindo em casa ouvindo - Estou digerindo, de forma lenta, mas estou.

- Eu sinto muito, não vou te desejar os pêsames por aqui - Ele anunciou - Que tal me encontrar amanhã, te pago um almoço e então podemos conversar!

- Você nunca foi bom em consolar.

- Mas posso tentar, não posso?

Ela sorriu pela primeira vez desde que Blake partira.

- Você sempre me ganha.

- Sempre! - Ele confirmou e ela pode jurar que ele estava sorrindo, afinal, era um dos melhores amigos que tinha, talvez o único. Mesmo que ele esteja mantendo longe por quase todo tempo, ela o conhecia tanto quanto ele a conhecia. - às onze e meia no lugar de sempre.

Mesmo que tudo parecesse declinar de uma maneira desastrosa, havia momentos em que ela por um segundo se esquecia do caos, mas logo era lembrada com um bombardeio de tristeza que ela não sabia de onde poderia vir. Sua tristeza era como uma maldição, Não importa onde ela estava sempre a alcançaria. 

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo