Adentrou a casa de sua mãe sem mesmo bater, visto que era apenas ela e faxineira, não havia problemas em chegar de supetão.Amara tinha conhecimento da doença de seu filho e acompanhava cada exame de perto. Depois de um ano de quimioterapia e transfusões de sangue dolorosas deixando marcas já quase invisíveis em seus braços, havia chegado a hora de novos exames que infelizmente para uma mulher relatavam seu maior pesadelo, mas para Alaric, seria seu descanso eterno, paz pela primeira vez em muito tempo.
Chegou na cozinha espaçosa com Cassiel que vinha logo atrás. Não saberia a reação de Amara ao dar a notícia, então qualquer ajuda seria bem vinda caso precisasse ampará-la, afinal, sua mãe não era mais uma adolescente. A chamou aguardando que ela descesse, bateu os dedos na mármore de forma insistente e sabia que sua começava a atacar. Não gostava de dar notícias ruínas, mais era sua mãe, e o dever era seu. Passou os olhos pela
cozinha limpa e logo pôde ouvir os passos no porcelanato vindo do segundo andar em direção a escada lateral do corredor.
Amara desceu as escadas com um sorriso imenso cobrindo o rosto, as rasteirinhas de couro marrom causavam um barulho consideravelmente alto. Talvez o eco ajudasse, mas aquilo de certa forma incomodava Alaric, quanto mais alto, mas perto, e quanto mais perto, mais cedo ele teria que contar a ela. Queria que o tempo estagnasse, pois no momento que ela lhe apertou com um abraço, ele pode ter um vislumbre em suas memórias da destruição que causaram a sua mãe quando ela teve ciência que perderá o marido, o filho e a nora com um neto e sabia que dessa vez o estrago seria ainda maior, pois ela também perderia ele, que de certa forma era um pedaço de Dylan e David ..
Era péssimo em mentir, por isso nunca o profissional, nem para benefício próprio. Nem mesmo suas expressões mentiam.
- Meu bem, estava esperando você! - Ela lhe apertou com força, sua mãe tinha um cheiro atípico que a acompanhava por anos e que toda vez que inalava, o levava até os primórdios de sua infância - Você está lindo!
Cassiel era sempre uma maritaca, mas diante de algumas condições inviáveis sua boca se tornava um túmulo, não havia clima para contar uma piada para que Amara desse risadas e logo depois Alaric lhe dar uma notícia para que ela se desfalecesse diante de seus olhos, o loiro simplesmente a comprimentou com o sorriso que já era sua marca registrada.
- Desculpa o atraso mãe, você também está linda - Ela a elogiou, mas ainda sim Amara soube, ele escondia algo.
Ela pôs as mãos na sua e como se pudessem passar informações um para o outro ela entendeu, sem que seu filho pudesse transmitir uma sequer palavra.
- E como foi la? Esta tudo bem? - Ela indagou curiosa, uma mulher virou para Cassiel que mantinha a cabeça baixa, sem sequer fita-la. Os lábios comprimidos de Alaric e seu peito que subia e descia detectando nervosismo - Que caras são essas? O que houve lá?
E então o sorriso morreu em seu rosto.
- Não gosto de rodeios e nem mesmo de mentir, mesmo que eu ache que pela primeira vez você não merecesse a verdade ... - Ele começou enquanto ela dava um passo pra trás tocando como costas na bancada de marmore. - Mesmo seguindo a risca tudo ... os glóbulos brancos aumentam ... de forma real-
- Não, de novo não ... - Sua resposta se tornou escassa, é o choque tomou seu corpo, a mesma notícia se repetindo, pela terceira vez. Uma corrente elétrica subiu por sua pele e o mundo se transformava em um funil de tristeza que a consumia lentamente.
- Mãe, eu sinto muito ... eu ... - Ele sussurrou. E então ele viu, mesma a dor que viu nos olhos de sua mãe quando seu pai e seu irmão se foram. Diferente de agora, pois quando ele partisse só sobrariam como fotos, e como memórias. Alaric seria somente tinta impressa em papéis.
- De novo não ... - Os olhos negros da matriarca Rowen percorreram o espaço como se pudesse obter alguma resposta ou solução. - Eu não vou ligar mais uma vez ...
Mesmo que não deixasse transparecer Alaric estava oco por dentro, era a casca de uma borboleta que não voaria mais, não havia asas e caso ele tentasse por um minuto pular, falharia se espatifando no chão.
- Eu preciso que fique calma, por favor - Outra ironia. Havia perdido tanta gente em sua vida, um número menor que sua mãe e ele nem sequer atenuado ficar calmo, pois toda vez que tentava a ansiedade o atacava sem pena. - Por favor, por mim.
A Face de Cassiel seguia sofrida. Era amigo de Alaric desde a infância e assistir de camarote sua família cair um a um era um pesadelo, porém jamais abandonaria o melhor amigo numa situação tão precária de atenção.
- Eu vou ficar sozinha, eu vou ficar sozinha - Amara parecia uma criança, daquelas bem pequenas que quando se perdiam da mãe no mercado se sentiam solitárias, como se o mundo pudesse ser sido arrancado de suas mãos. - Eu não quero ficar sozinha, os exames estavam pp-positivos, deve ter algo errado, os exames estão errados, eu sei ...
Sabia que uma ordem estava errada, devia ver sua mãe falecer e depois ele finalmente poderia morrer em paz. Mas como a vida não costumava ser fácil, havia invertido como ordens de uma forma sem sentido na qual nem mesmo um homem de fé inabalável seria capaz de entender. Amara caiu de joelhos com as mãos no rosto. Sentiu os sentimentos jorrarem sobre ele como uma onda gigante da escuridão. Olivia estava certa, ele era um egoísta, um tremendo egoísta.
- Vai ficar tudo bem, eu prometo que vai! - ele a abraçou - Me desculpa, me desculpa, você não merece isso ...
Sua mãe ficaria sozinha, com os fantasmas do passado que a assolariam e talvez fariam ela dúvidar que já tivera filhos, que já for polarizada pelos homens que tanto amou e agora a deixavam na beira da tristeza.
E depois de tanto tempo ele sente raiva de si mesmo por desejar seu próprio fim.
(...)
Fora necessário uma ambulância, havia sido um tolo de dar uma notícia tão complexa para Amara em casa. Agora sua mãe se encontrava em uma cama de hospital enquanto os médicos tentavam normalizar a pressão alta, devido a uma notícia que para fora como uma pancada sem pena. Embora fosse sábado, estava cansado, os pensamentos que tinha eram cansativos, exaustivos e drenavam as energias que ainda restava de uma forma severa ... talvez fosse só a leucemia.
Acordou com as fungadas intensas. Estava largado em uma mini poltrona enquanto a esperava a acordar. Ela o olhava fixamente. Alaric encostou o cotovelo no joel esfregando o rosto, ainda estava com sono, mesmo depois de ter dormido por 10hs consecutivas como mandou a médica da família ..
Ele se oferece um abraço em sua mãe, sentindo um misto de culpa uma das únicas pessoas que ficam restantes em sua vida além de Cassiel. Sentiu a camisa molhar, Amara já vivia o pré-luto.
- Quanto tempo ? - Ela sussurrou abafado enquanto ainda inalava o cheiro amadeirado do único que filho que até então havia lhe sobrado.
- O suficiente pra usarmos - Alaric sussurrou de volta - Acordou a muito tempo?
- Tempo o suficiente para pensar em muita coisa.
Riu, tinha mais de sua mãe em sí do que Imaginava.
- Sabíamos desde o início que haveria essa possibilidade, não é o fim do mundo mãe, sei que meu pai se foi com Dylan e vai ser difícil se reinventar depois de tanto tempo, mas você precisa, por mim, por eles .
Ela sabia que seu filho era um gênio, mas nem todo conhecimento se aprendia estudando, somente vivendo.
- Ric, a lei da vida se encaixa onde um filho enterra os pais, e não ao contrário - Ela exclamou ainda limpando a corisa do nariz - Quer que eu reinventa minha vida depois de velar um a um?
- Me desculpe .... eu-
- Quer mesmo que eu me reinvente? - O moreno retirou a cabeça dos ombros de sua mãe o suficiente para olhar seu rosto e concluir que para as lágrimas terem cessado, ela havia pensado em algo.
- O que está pensando?
Era tão direto quanto sua mãe.
- Em um filho - Ela responde de forma simples e sem rodeio.
Alaric pigarreou enquanto andou um pouco para trás, ouvindo os aparelhos ligados à ela apitarem baixo.
- Mãe, você não tem idade pra isso mais, seria perigos-
- Um filho seu, Ric . - Ela se corrigiu. Piscou uma, duas vezes, um silêncio assunto se instalou na sala, os batimentos agitados de sua mãe se formalizaram. A pressão sanguínea agora se encontrava estável, como se aquele adicionado sido um sinal.
A ideia era estranha. Depois que sua noiva partiu carregando o sonho de ser mãe ou de lhe presentear com um sucessor um dia, ele riscou de seu caderno a ideia de que poderia ter um filho um dia. Não podia botar um filho no mundo para ter um pai que conjurasse a morte a cada segundo do momento em que acordasse, ao momento que fosse dormir. Mas por um segundo ele sabia que não era justo com Amara, não depois de tudo. Ela ficaria sozinha de verdade. Somente ela, a empregada e a velha poltrona de couro azul de David, ela estava perdendo um a um e no fim acabaria se perdendo em si mesmo .
- De onde exatamente tirou essa ideia?
- Do neto que nunca tive quando Dylan e Denise ... - A senhora engoliu a saliva molhando a garganta já seca - Ele seria um pedaço seu que estava sempre comigo e eu jamais ficaria sozinha. Podemos procurar uma clínica de fertilização, uma barriga de aluguel. Há tantas maneiras ...
Ele suspirou fundo se encostando na parede abaixo da TV suspensa na quina do quarto.
Sua mente era um borrão, lembranças aceleradas de todos os sorrisos que deu aos céus quando achou que a vida lhe era grata, quando por um segundo cogitou envelhecer no interior pintando como paredes de um celeiro qualquer ou galopando em um sítio sem ter que se preocupar com o sereno ou com sua saúde frágil, em algum lugar sem preocupações, pensando no hoje sem querer saber do passado e preparado para o amanhã.
- Isso nunca daria certo, nem mesmo sabemos se seria possivel.
Sua voz soava rude, mesmo não querendo.
- Nunca daria certo ou você não quer que dê certo? - Amara o encarou.
- Como pode ter certeza que daria certo? Se não desse tempo?
- Você disse tempo o suficiente lembra? - Via em seus olhos que a ideia de um neto por fertilização a enchia de esperança, uma esperança de talvez vislumbrar o renascimento de Alaric através de um possível filho. E de fato seria, sua extensão nessa vida, enquanto ele partiria pra sempre.
- Eu não sei - Sibilou - Esses processos são demorados ...
Os olhos da mulher a sua frente voltaram a lacrimejar.
- Estou lhe pedindo como uma mãe que já perdeu o marido, vai enterrar o segundo filho para então ficar sozinha. Não estou solicitando que viva, estou solicitando um pedaço de você, ric . - Os batimentos cardíacos voltavam a se intensificar enquanto ela abraçava o próprio corpo - É o meu último pedido.
Jurava que seu pai não tinha tanta coisa, mas depois que encher o quarto com caixas lotadas de roupa e outras coisas, teve que mudar de ideia.O cheiro peculiar de alecrim de seu pai era inconfundível, o quarto estava dominado.Já era quase dez horas da manhã, não havia ido trabalhar já que se encontrava de luto pelo falecimento do patriarca.Mesmo que viver fosse necessário, Dafne não queria.Algo a instigava a se deitar no chão em meio a tantas roupas, fotos e chorar lembrando de cada uma das lições que seu pai sempre havia passado com maestria.Abandonado por sua mãe logo após o nascimento de Elain, Blake criou as duas da melhor forma que pode, tendo ajudado a mais velha a se formar em Filosofia enquanto Elain só o dava desgosto depois de ter largado o ensino médio assim que descobriram a doença de seu pai.Nunca houve visto o pai se bene
— E você aceitou ? — Cassiel definitivamente estava surpreso, e isso não era algo que Alaric conseguia com facilidade.O Rowen esfregou os olhos ainda cansado pela manhã, apoiando o cotovelo na mesa de mármore dando pequenos goles no copo de café que já estava quase no final.— E o que mais eu diria pra ela ? — Indagou olhando os carros que aguardavam no sinal do outro lado da rua — "Não mãe, você vai ficar sozinha porque eu sou egoista".As tentativas de Alaric de ser irônico sempre se tornavam cômicas.— Acha que ainda vai dar certo mesmo depois das quimioterapias… — Seu melhor amigo, senta
(...)O sol estava quente e Dafne atrasada. Seu telefone só dava desligado e ele não fazia o tipo de pessoa que insistia ligando o tempo inteiro, atraso não era do feitio dela. Teria levantado para bater em retirada, se a inconfundível cabeleira negra presa em um coque não tivesse surgido em meio a multidão na calçada do outro lado da rua.O sorriso inevitável da morena toda vez que o via estava ausente agora, Cassiel não julgava, ela havia acabado de perder o pai. Mas ainda sim, ele sabia que a confortava com sua companhia, afinal, eram amigos há tantos anos.&nbs
O caminho pra casa foi ainda mais rápido. Se despediu de Cassiel antes de passar pelo seu antigo trabalho, lugar cujo lhe dava asco somente de lembrar. Mesmo que fosse seu emprego, ela agradecia internamente por ter deixado aquele asco de lugar, ela não voltaria nem mesmo que Alex beijasse seus pequenos pés.Barriga de aluguel, mal havia se relacionado com homens em sua vida e já estava aceitando gerar um filho para alguém que ela sequer conhecia. O desespero de estar desempregada havia gritado em sua cabeça, antes tinha seu pai para lhe ajudar no que fosse preciso. Agora era só ela e Elain, mas infelizmente era impossível contar com a irmã até para trancar a casa ao sair. A idealização infantil d
2 semanas dias depois...Detestava agulha, isso sim era um fato. Desde criança, desde que se entendia por gente. Cassiel não havia sido claro quando se referiu a entrevista, havia esquecido que seria furada o dia inteiro para exames toxicológicos, hemogramas e muitas outras coisas. Chegou a cogitar que talvez seria filho de um alguém muito mais influente do que ela havia pensado, ou provavelmente um futuro pai muito preocupado com o tipo de mãe que iria gerar seu futuro filho.Concerteza a última alternativa.A entrevista foi a primeira etapa e Dafne não se lembrava de ter respondido coisas tão estranhas em toda sua vida. Seria c
Ainda que estivesse triste pelos últimos acontecimentos, precisava confessar que resquícios de felicidade começavam a brotar em si.Em sinal de alegria, Dafne soltou os longos cabelos que a deixavam mais jovial do que já era, o vestido preto cobria o corpo formoso, deixando-a com um aspecto mais formal. Assim deveria ser, conheceria o provavel único pai do filho que estava estava prestes a gerar e precisava ser formal, aquele não deixava de ser um trabalho mesmo que fosse algo novo. O dinheiro acordado durante a entrevista seria mais que o suficiente para reformar a casa e vendê-la. O bairro de Atlantic era um tanto perigoso ao redor de Osaka, as guerras de milícias locais eram constantes, o que tornava cada vez mais inviável viver por ali. E
De maneira alguma queria parecer uma aproveitadora, mas se Cassiel fosse tão amigo dele quanto ela achava, provavelmente deveria ter posto ele a parte de sua situação, ou melhor, de quase toda a situação. Já que ela havia mentido sobre ter algum outro parente durante a entrevista. Depois da partida de seu pai, aquela seria sua chance de se reerguer em um mundo que parecia ter fechado as portas para ela, mas agora, conseguia olhar pela fechadura e só ela tinha a chave para voltar a abrir os caminhos do sucesso em vida. Talvez um bom emprego, talvez um mestrado, alguns cursos, precisava de uma vida tranquila, já havia passado por problemas demais para alguém tão nova, em tão pouco tempo. Tudo estava quase perfeito.Quase.Poderia estar de forma completa, se Elain
Tinha vários motivos para acordar feliz, mas havia alguns que ainda a acorrentaram ao fragilizado sentimento de tristeza: Elain. Também tinha seu pai, mas ela sabia que mesmo doente, desejar a vida por ele, era egoísmo de sua parte.A morte às vezes vinha de escolhas, e como toda escolha, era acompanhada de algumas consequências.As vitaminas para preparar seu corpo para uma iminente gestação lhe davam um sono que antes jamais imaginou que poderia ter, agora ela até mesmo sonhava. Acordava disposta, mas o grande problema era acordar no horário certo.Despertou assustada quando seu cérebro entendeu que algo atrapalhava seu sono, o toque incessante do telefone a assustou o suficiente para o procurar ain